I'm Never Changing Who I Am escrita por Moça aleatoria


Capítulo 45
As pessoas quebram.


Notas iniciais do capítulo

Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo. Mas isso não é capítulo de I am Never Changing Who I am. Eu sei que o Nyah! proíbe anuncios e comunicados em forma de capítulos, mas isso não é um comunicado, no entanto, tão pouco é um capítulo.
Isso é um relato. Isso é um gênero narrativo, um relato. Um cronica se preferir chama-la assim, Um texto de opinião? Chame do que quiser. é um texto, é uma narração.
Não é um capítulo, e eu sinto muito. Mas coisas muito sérias aconteceram essa semana, e no fundo do meu peito e da minha alma eu precisei escrever, e eu preciso ser ouvida. Isso é importante. Eu juro, é mesmo.
Talvez eu poste o capítulo de verdade ainda essa semana, talvez até mesmo amanha. Não sei. Só sei que hoje preciso postar isso, e teria postado antes se conseguisse.
Apenas leia.



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“Naquele sábado de janeiro Catarina descobriu que as pessoas quebram” –A Menina Quebrada, de Eliane Brum.

Minha professora de redação postou essa citação a alguns dias. Não era janeiro nem se quer era sábado. E não havia nenhuma Catarina. A frase acima pertence a uma crônica, uma ficção de uma grande escritora. E a história abaixo é um relato de uma autora amadora, mas é verídico, infelizmente.

Na verdade, era segunda feira. Era segunda feira quando um garoto foi à aula pela manha, cumprimentou os amigos, assistiu às aulas e foi embora quando o sinal tocou. Ele foi ao basquete e sorriu ao se despedir dos amigos. Ele ainda vestia o uniforme da escola quando foi até a casa da avó, subiu até o décimo primeiro andar e se atirou da janela.

Não havia sangue algum em seu corpo. Só após três paradas cardíacas conquistou seu objetivo.

Ele tinha apenas 16 anos.

A citação foi postada por minha professora, também à mesma que a do garoto. Foi postada na terça pela manha, no mesmo dia que vi minha escola de luto.

Não era sua amiga, nem se quer o conhecia, e não vou fingir que era. Não. Nunca nem lhe dei bom dia, eu estudo à tarde, e ele, de manha. Mas pela manha, a escola que nunca permitiu que um aluno adentrasse a escola nem se quer com um agasalho que não estampasse o símbolo da escola, nada disse quando seus alunos vestiram preto. Salas vazias e coredores cheios, alunos que soluçavam demais para assistir a aula. Professores que entravam nas salas e passavam seus olhos por nos, contorciam os rostos em dor e saiam novamente, incapazes de dar aula, incapazes de qualquer coisa. Os alunos foram liberados mais cedo para o funeral. Boa parte dos professores também foi, por esse motivo muito não deram aula durante a tarde.

No período da tarde, nem todos os conheciam tão bem, eu admito. No entanto, minha diretora adentrou a sala de aula, e com olhos rasos ela fizera o discurso que tornara meus olhos iguais aos seus. Eu olhava para os lados, amigos de olhos rasos desviavam os olhos da diretora, tentando não derramar suas lagrimas. Todos tentando evitar o olhar choroso e dolorido de uma diretora tão séria e rígida.

A meu lado, vi os ombros de uma amiga tremer, até notar que chorava em silencio com os soluções abafados pelos dedos que tampavam a boca. Toquei seu ombro e a puxei pelo pulso para leva-la ao banheiro. E eu a segurei nos braços naquele dia, quando ela soluçou alto e me abraçou em meio a aula de física. Alguns desviaram o olhar para conter o choro, outros deixaram que esse fluísse. E então eu a levei para fora da sala, em direção ao banheiro, onde a diretora nos encontrou a levou para sua sala, e ligou para seus pais virem busca-la. Minhas mãos e lábios tremeram durante toda a aula.

Vi meu professor de física encarar o quadro por tempo demais, por longos minutos esperou mesmo que a muito tivéssemos terminado de copiar o exercício. Vi seus olhos úmidos enquanto ele esperava, não para que nos terminássemos, mas para que seus olhos não vazassem. Esperando que seu peito parasse de tremer.

Meu professor de filosofia tem uma voz grossa, costuma passar aulas falando durante todo o tempo, explicando, brincando, discutindo e argumentando como todo bom filósofo. Mas, naquela terça feira, ele abaixou a cabeça e pediu para que copiássemos o quadro, que explicaria na aula seguinte, em um outro dia. Nos o fizemos, ele não voltou a falar.

Então veio a aula de redação. Baixa e pequena, de olhos inchados e vermelhos, a professora leu o texto de onde tirei a citação no inicio. Alguns garotos pediram para ir sair com olhos inchados, outros desviaram os olhos, alguns como eu apenas olharam para o quadro, deixando os olhos molharem enquanto ela lia o texto com a voz que mantinha a firmeza quando toda ela era fragilidade.

Durante o intervalo, todos os quatro andares tinham alunos que olhavam para baixo, com os olhos no pátio, e todo ele com alunos de mãos dadas, rezando. Não sou religiosa, mas acompanhei as preces. Acompanhei o ritmo quase cantarolado das orações que a muito tempo não fazia. Não era sua amiga, mas senti a dor dos que eram. Não choro com facilidade, mas me derramei em lagrimas e tremedeira.

Não vou fingir que o conhecia, mas não acho que alguém de fato o conhecia. Não vou dizer que o entendia, por que também não acho que alguém de fato o entendia. Ou talvez conhecesse, ou talvez entendesse. Mas também não vou fingir que não chorei por ele, mesmo sabendo que menos do que tantos outros. Menos que seus amigos, muito menos que sua família.

Choramos por que o motivo ninguém nunca saberá, a única coisa que deixou para traz foram mensagens mandadas paras os pais, irmãos, amigos próximos e a namorada. Não era culpa deles. Era isso que ele dizia.

Tudo isso para dizer apenas que concordo com minha professora. As pessoas quebram. Não são apenas em janeiros, ou em maios, não apenas nos sábados ou nas segundas feiras, nem se quer apenas durante as terças enlutadas. Nem são apenas as Catarinas que sabem disso. Agora eu sei, agora toda a escola sabe, e queria que cada um de vocês soubesse. As pessoas quebram o tempo todo, e é preciso juntar os pedaços, juntar os cacos. Às vezes, esses cacos se toram poeira. Mas até mesmo a poeira pode ser reparada.

Mas alguns simplesmente assopram.

Não irei dizer que está tudo bem, que está tudo bem estar em cacos. Nós vivemos nos arrastando nos próprios cacos, vivemos sangrando sobre eles. Não está tudo bem, mas um dia ficará.

Por quê? Por que somos humanos, nos somos feitos de vidro. E até o vidro pode ser concertado, mesmo que não sem rachaduras, mesmo que não seja fácil.

Se você está em cacos, se está em poeira, procure ajuda. Muitas vezes, é possível ver ajuda ver luz em si mesmo, mas quando não puder a procure nos outros. Nos familiares, nos amigos, nos conhecidos. Eu não conhecia aquele garoto, mas teria lhe fornecido ajuda se soubesse, se pudesse ver seus cacos.

Talvez esse seja o problema, talvez o problema seja a transparência dos cacos. Tão reis, tão dolorosos, e ao mesmo tempo tão invisíveis aos olhos daqueles que não sentem a dor de pisa-los. Infelizmente, muitas vezes não conseguimos ver os cacos dos outros, não conseguimos ver que os outros estão sofrendo com eles. Então apenas peça ajuda.

E estou escrevendo isso apenas para dizer a vocês, a cada um de vocês, aos que leem e não comentam, aos que comentam, aos que nem se quer leem e de alguma maneira está lendo isso, a cada um de vocês, eu só queria dizer que você tem alguém. Talvez esse alguém não veja seus cacos, suas dores, mas se disser se contar terá ajuda e terá apoio. Apoio de sua família, de seus amigos, de seus conhecidos.

Talvez esse garoto pensasse que não tinha ninguém, mesmo cercado de amigos e de sua família. E eu sei pela dor que vi nos olhos daqueles que nem se quer o conheciam, como eu mesma, que o ouviria que o ajudaria sem nem mesmo nunca tê-lo visto antes. E eu digo a você que ainda está lendo este texto, eu lhe digo que se parecer que não você não tem ninguém, eu lhe garanto que tem. Se não forem amigos, se não forem familiares, lhe garanto a minha ajuda. Se precisar dela, mesmo se não precisar, se apenas quiser, se sentir vontade, se se sentir quebrado, fale comigo. Eu não psicóloga, mas posso ter sua amiga.

Lembre-se disso quando ouvir ma noticia sobre algum suicídio. Não julgue essas pessoas, não as chame de fracas. Elas não são fracas, são apenas feitas de vidro como todos nos. Alguns vidros são mais fortes, outros mais fracos, quebram com mais ou menos facilidade, mas eventualmente quebram. E estou oferecendo ao menos a minha ajuda para colar os pedacinhos, se isso for o que você tiver.

Se algum dia você subir em um prédio e sentir vontade de... Pular. Não pule. Por favor, apenas não pule. Se alguns dia você ver uma lamina e sentir vontade de se ferir, não se fira. Não assopre a poeira que seus cacos se tornaram. Lembre-se que até os mais fracos tem reparo, e até os mais fortes quebram.

Apenas não assopre a poeira.


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Notas finais do capítulo

Esse é o link do texto citado-- http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/01/menina-quebrada.html
Essa é a foto das orações feitas durante o intervalo ---- https://www.facebook.com/photo.php?fbid=804592389623463&set=a.334827319933308.74293.100002181278450&type=1

Isso é verdade. Isso é serio. Não direi o nome do garoto, por que acredito que talvez ele pudesse não gostar. Talvez ele nem se importasse, mas nunca saberei.
No entanto, escrever faz parte de mim, eu poderia chorar por ele, eu poderia discursar por ele, mas nada me tornou mais leve comigo mesmo depois de escrever isso. E eu compartilhei com vocês por que esse garoto não é uma história triste, não é uma história que vai passar, que será esquecida. Eu tirarei algo disso, tirarei algo bom. Talvez esse texto ajude alguém, talvez ajude voce, talvez ajude voce e ajudar alguem. Não sei. Talvez não ajude, talvez não mude a visão de ninguem, talvez não mude a opinião de ninguem. Talvez seja mais um texto que na verdade ninguém leu ou que ninguem prestou atenção.
Mas isso não importa.
O que importa é que eu falo sério. Se voce achar que não tem mais ninguem, eu lhe garanto que tem. Esse garoto pensava que não tinha ninguem, e teve toda uma escola por ele. E se mesmo assim que voce ainda achar que não tem ninguém, fale comigo. Talvez eu não consiga te ajudar, mas serei sua amiga.
Talvez eu saiba como voce está se sentindo, talvez não. Mas eu já estive quebrada, já estive muito quebrada, e encontrei ajuda em mim mesma e em meus amigos. Talvez eu possa te ajudar.
Talvez eu poste o proximo capítulo real da fanfic logo, talvez no final do fim de semana. Talvez eu acabe apagando esse capítulo, talvez não.Sinceramente eu não sei.
Só desejo a você uma ótima semana, e uma menos triste que a minha. E eu só desejo que voce não assopre seus cacos, sua poeira.






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