I'm Never Changing Who I Am escrita por Moça aleatoria


Capítulo 33
Uma parada em Paradise


Notas iniciais do capítulo

Adivinhem quem está adiantada e escrevendo vomo um fucarão por explosoes de criatividade? Isso ai, sou eu!
Sei que ningume esperava que eu aparecesse com um capítulo hoje, admito, nem eu esperava. Dai eu notei como a fanfic está longa e como eu estou adiantando isso e como eu amo voces e acho que voces merecem esse capítulo adintado. E, é claro, tem aquele pequena crise existencial de quando eu comeco a ler uma fanfic e a autora demora pra postar (ela tambem posta 15 em 15 dias, estou tendo a vingaça da minha demora) (resumindo, esotu tomando no cu).
É o seguinte, estou em depressão por olhar para a minha pilha de apostulas e só duas cosinhas me deixaria muitoooo feliz 1-uma panela de brigadeiro, que não vai rolar por que não tenho ingredientes. 2-uma linda recomendação. Alguém quer me fazer brigadeiro ou uma recomendação? Eu amaria os dois! Estou sendo tão boazinha!
Voltamos agora apara a missão de Nico, Will e Thalia. Se eu fosse voces arranjaria um mapa dos EUA por que teremos referencias de estados pelo trajeto deles. Se eu precisei arranjar um mapa para escrever? Sim, eu precisei. Santo google maps! Mas a cidade que o proprio nome do capítulo denuncia eu não sei se de fato existe, por que eu peguei emprestado como referia da serie OS LEGADOS DE LORIEN do fabuloso livro EU SOU O NUMERO QUATRO em que eu estou aguardando anciniosamente a maldita continuação. Alguem já leu isso? Não? Esse fandom é pequeno demais pela fodalidade da historia.
Okay, Okay, podem ler o capítulo adaiantado! Mas não se acostumem! Eu adoraria poder dizer que vou fazer isso sempre, mas não posso. E olha só, é um capítulo adiantado E GRANDE. Vai eu mereço um premio! Enfim, até!



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POV Nico

Estendi minhas mãos para Will e Thalia assim que os deuses se dissiparam a nossa frente. Não havia tempo a perder, a meu ver. Tínhamos quatro dias para cruzar o país, o que não seria tão difícil com as viagens pela sombra. A diferença é que eu definitivamente nunca tinha feito uma viagem tão longa. Eu poderia pular de estado por estado? Poderia. Mas cada viagem pudesse me custar uma longa noite de sono, ou pior. Viajar pelas sombras, sozinho? Era simples, mesmo que cansativo. Mas meus dois acompanhantes tornariam a viagem mais complicada. Estava acostumado a viagens solitárias.

Mas não poderíamos parar em todos os estados. Uma viagem de sombra por dia era exaustivo e mesmo assim não chegaríamos a tempo, precisaríamos de pelo menos duas semanas. Não sabia como faria, mas daríamos um jeito.

Thalia me deu sua mão sem questionar. Já Will demorou um pouco mais, desconfiado de meu modo de viagem sombrio.

–Segure-se, filho do sol. –sorri sarcástico para Will. –você com certeza não vai gostar da viagem.

No entanto, Will não pareceu se intimidar como pensei que faria. Não fez gesto nenhum para soltar minha mão, nem se quer piscou.

O sol da tarde estava em seu ponto máximo, mas estávamos em meio as árvores, então havia sombras por ali. Fechei os olhos e me concentrei, e no segundo seguinte as sombras embaixo das arvores escaparam delas, todas atraídas para mim como um imã de geladeira. Em um milésimo de segundo todas elas nos abraçavam, e nos transportavam com elas. Senti meu próprio corpo fazer parte das sombras pelo tempo que essas nos transportavam. Naquele momento, não passávamos de um punhado de escuridão.

Acho que a pior parte da viagem nas sombras é quando enfim chego ao destino. Fazer parte das sombras é frio e sombrio, admito, mas também e leve, rápido e passageiro. Não é confortável, é claro, mas estava longe de ser a pior parte. Ter seu corpo se materializando novamente, sim, é terrível, ainda mais em grupo. Por um momento, somos apenas uma massa escura, uma coisa só. Ser remontado faz seu estomago se contorcer e girar, como se fosse a ultima parte do corpo a deixar que ser uma sombra, e a escuridão ainda estivesse viajando por seu corpo.

Consegui fincar bem meus pés no chão, já estava acostumado com a sensação. Soltei a mão de Thalia primeiro, ainda zangado com a menina depois de nossa discussão, logo depois soltei a de Solance. Thalia vacilou, dando um passo em falso, ainda tonta, e Will apoiou-se em seus joelhos, com o olhar fixo no chão. Talvez tentando se acostumar com a sensação de tontura que a viagem causava, principalmente em viajantes iniciantes.

Eu estava acostumado a todas aquelas sensações, mas me acostumar com a dor que me invadia depois dela era impossível. Meu mundo girava como os de Thalia e Will, mas pontos pretos invadiam minha visão com violência. Meu estomago continuava a girar e a se contrair. Sentia a fraqueza tomar conta de mim.

Fui obrigado a me apoiar no ombro de Will para não cair. Fechei os olhos com força e respirei fundo.

–Nico? –ouvi Will chamar, e senti sua mão em meu ombro. –Nico, você está bem?

Abri meus olhos e minha visão voltou a clarear. Soltei-o e esperava que o garoto fizesse o mesmo, mas ele tinha um olhar preocupado.

–Estou bem. Acontece quando viajo pelas sombras. Gasta bastante energia. Só isso. –garanti, e o garoto se afastou.

–Tem certeza que vai conseguir chegar ao Arizona a tempo? Você não parece muito bem. –Thalia perguntou.

Ela esticou a mão para me tocar nas costas, mas eu me desviei. Não precisava de Will e Thalia cuidando de mim. Thalia me conhecia, sabia que não seria contato físico que me faria melhorar. E, bem, nessa viagem Will também aprenderia isso.

E, é claro, definitivamente, ainda estava zangado com Thalia.

–Já disse que estou bem, Grace. –disse, dando um passo a frente. Thalia não pareceu se ofender, apenas mudou de assunto.

–Onde estámos, afinal? –Ela perguntou.

Olhei em volta e notei um ambiente calmo a meu redor. Estávamos ao lado de um cercado com um bando de vacas.

–É, acho que estamos em Ohio. –torci o nariz, não satisfeito nem com o estado nem com o cheiro que as vacas passavam.

–MÚ! –uma vaca fez.

–“Mú” pra você também. –resmunguei para o animal.

–Passamos direto pela Pensilvânia? –Will comentou. –Legal.

–Não. Não é legal. –bufei e me virei para o garoto que tinha um sorriso fascinado no rosto, mas esse morria aos poucos enquanto eu falava. –Tinha mirado em Indiana. Nunca vamos conseguir se não formos mais rápido.

–Está tudo bem. Acho que podemos ir andando. Deve ter uma ferroviária por aqui. –Thalia disse, arrumando a mochila em seu ombro.

–Não, eu vou tentar de novo. –estiquei as mãos para meus colegas de viagem. –Pelo menos quero estar em um estado com menos civilização bovina.

A vaca continuava a comer capim.

Thalia e Will trocaram um olhar preocupado.

–Concordo com Thalia, vamos achar um metro. –Will sugeriu. –Podemos viajar amanha de manha, certo?

Dei um passo para traz quando Will tentou tocar meu ombro.

–Amanha bem cedo. –ele sorriu, satisfeito.

Não demorou muito para que encontrássemos a estrada, uma estrada com o mesmo tanto de sinalização quanto de civilização, isso é, nenhuma. Então demorou um pouco até que avistássemos a primeira placa, que apontava para uma cidade chamada Paradise.

–Eu sei onde estamos. –Afirmou Will.

–Sabe? Como? –Thalia questionou.

–Minha mãe se casou com um mortal depois de Apolo, eles se mudavam bastante. –explicou Will. –passei alguns meses aqui antes de fugir para o Acampamento Meio Sangue. Mas isso não importa. –De repente, após a história, o sorriso constante do filho de Apolo foi substituído por uma expressão séria. Como a maioria dos semideuses, Will também não tinha um passado atraente. - O que importa é que próximo a Paradise tem uma ferroviária.

–Há quanto tempo fica essa ferroviária? –pergunto.

Will me oferece um sorriso sem jeito.

–A pé? Muito. –ele suspirou. –Já está escurecendo, só conseguiremos chegar lá a tempo de pegar um trem se conseguíssemos um carro.

Estava prestes a gritar com o garoto. Por um acaso ele estava vendo alguma droga de carro nesse lugar? Então, quase na linha do horizonte, um vulto negro começou a surgir.

–Aquilo... É um carro? –Thalia perguntou.

–Não. Nós não teríamos tanta sorte. -Eu disse, assim que vi um vulto se transformar em três ao se aproximar de nós. –Merda, não. São cães infernais.

–Nico, me diga que são lindos filhotes do submundo como a Senhora O´Leary que vieram aqui jogar bola com você, daqueles que voce pode controlar, e que não vão nos devorar.

Não respondi a Thalia, ela sabia a resposta. Peguei minha espada negra do cinto, e Thalia tirou seu spray do cinto, o chacoalhando até que virasse sua arma. Will logo colocou a primeira flecha em seu arco.

Dei um passo à frente quando as feras se aproximavam. Eram cães enormes, muito maiores do que qualquer um do mundo inferior, mais aterrorizantes que o próprio Cérebro, o cão de três cabeças. Durante as férias eu quase chagara a adotar o animal. Em um geral, criaturas do submundo em amavam.

Aqueles com certeza não vinham do submundo.

–Nenhuma chance de serem seus amigos, Nico? –Will perguntou.

–Deuses! –exclamei. –Se preparem, são cães infernais direto do Tártaro. Não obedecerão a mim.

–Eros não é irmão do Tártaro? –Will questionou.

Ninguém respondeu, até por que os cães infernais já estavam perto demais.

Cada um rolou para um lado quando os cães atacaram. Três, uma para cada um.

Will começou a atirar logo a principio. Sua arma não adiantaria de nada se ele deixasse que a besta se aproximasse. Não era uma arma para batalhas de curta distancia. Mas as flechas do garoto pareceram apenas irritar o cão infernal.

Thalia atacou com sua lança quando o animal começou a avançar para Will. E, dessa forma, atraindo a atenção dos outros dois para si.

Concentrei-me no solo. Um solo calmo de Ohaio, ninguém nunca, jamais, havia morrido ali. Se convocasse os mortos, o que surgiriam? Vitimas de acidentes de carro? Mortais gritando e se debatendo pelo airbag que não funcionou não assustariam os cães infernais.

Mas eu tinha que tentar.

Respirei fundo, e concentrei-me e ergui as mãos em direção ao chão. Senti minha energia ser sugada no momento em que os guerreiros esqueléticos brotaram do chão, escalando suas próprias covas. Aqueles guerreiros vestiam armaduras gregas e tinham armas em punhos. Era pelo menos uma dúzia deles. Eles gritavam a brandiam suas armas em direção aos cães.

Minha visão se tornara negra, e quando ela voltou ao normal, já estava ajoelhado no chão. Só então notei que aqueles guerreiros não haviam sido convocados de suas covas, e sim diretamente do mundo inferior. Havia sido uma viagem bem longa, que usara muito de mim.

–Nico! –Thalia chamou.

Os guerreiros estavam dando conta apenas de segurar os cães, já que eram estraçalhados com muita mais rapidez do que conseguiam se reconstruir. Precisávamos mata-los nós mesmos.

Nesse momento, Thalia estava montada nas costas de um dos cães, e Will se revezava em atirar flechas nos outros dois. Mas nenhum dos dois parecia minimamente próximo de matar um deles.

Thalia cravou sua lança no animal e convocou um raio dos céus. A primeira besta cai, mas dificilmente morta. Consigo sentir sua energia vital ali, está apenas atordoada. No entanto, Thalia também está. Dá alguns passos em falso, mas se mantém em pé, já fora das costas do animal.

Vou até um dos cães e ataco suas patas. Ele rosna e empina para traz, quando tem suas patas dianteiras novamente no chão, ele pula em minha direção.

Por pouco não viro comida de cachorro. Graças a Will, que atira uma onda de flechas no animal, consigo ataca-lo no focinho. O seguro pela pelagem e subo em seu pescoço assim como Thalia. Procuro por ela e vejo Thalia convocar outro raio no terceiro cão, mas o primeiro que ela derrotara estava voltando a consciência.

Enterro minha lamina no pescoço do animal, o que faria qualquer mostro comum virar cinzas. Mas ele persiste, seu corte se cicatriza rapidamente. Por isso estamos com tanta dificuldade em derrota-los. Tártaro está fortalecendo seus monstros em favor a Eros.

Meus guerreiros esqueléticos foram massacrados, e eu me esforço para trazer mais deles a tona. Caio da besta assim que tento. Ouço Will gritar quando atinjo o chão. Por muito pouco não sou pisoteado. Mesmo assim, nenhum guerreiro zumbi aparece a nosso socorro.

Ponho-me de pé, e Thalia levanta sua lança ao ar, tentando convocar outro raio, mas parece que sua cota diária se esgotou. Ele precisaria pedir um aumento a seu pai mais tarde. Mas no momento, estávamos ainda com os três cães infernais sob nós, e agora já sem mais raios nem magia do submundo. E, aparentemente, as flechas de Will estavam acabando.

Estávamos encurralados, sinto Thalia e Will as minhas costas quando os cães infernais nos cercam. Pego as mãos de Thalia e Will quando, em conjunto, as bestas atacam.

Novamente nos transporto pelas sombras, meu estomago se encolhe novamente, mas, dessa vez, não por muito tempo.

Quando pisamos em terra firme, Thalia e Will me seguram pelos braços para que eu não caia em direção dos trilhos. Novamente minha visão escurece, e meus ouvidos apitam. Apenas após alguns segundos consigo ouvir o que dizem. E, como de costume, me perguntam se estou bem.

Nunca estive melhor.

–Vou comprar as passagens. –Thalia avisa quando encosto minhas costas na parede.

Não tem ninguém envolta, o sol já se punha e o lugar está vazio. Não há ninguém para notar adolescentes surgindo do nada, ninguém para notar quando Thalia caminhou para comprar os bilhetes, nem para se perguntar como ela havia chegado ali. Ninguém além de um senhor no balcão vendendo bilhetes, e alguns mortais mórbidos e entediados que mal nos dão atenção. Eles apenas olham o relógio, esperando a hora de seu trem chegar. Calmo, mórbido e tedioso, como os mortais gostam.

–Quantos dedos têm aqui? –Will pergunta quando finalmente abro os olhos.

Contenho o impulso de segurar o pulso de Will, para ver se assim ele e seus dedos parem de girar. Sei que é apenas um truque de minha mente embaralhada, mas preciso fazer um esforço para não pedir para que ele pare de girar o pulso.

–Eu estou bem. Só gastei muita energia ao convocar os zumbis.

–Você não respondeu. –o olhar de Will se fechou, ele estava estranhamente serio. Ele nunca parecia muito preocupado, nem durante lutas, nem quando eu o desafiava, mas ele parecia levar a cura extremamente a sério. Seu olhar era tão duro que eu respondi sua pergunta.

–Quatro. –eu disse, e Will apenas concordou com a cabeça. Como se dissesse que, agora sim, ele me deixaria em paz.

Penso se Apolo colocou um curandeiro em nossa missão justamente pensando que talvez ele pudesse me ajudar quando minhas energias se esgotassem. Mas, na verdade, duvido que Will Solance fosse fazer muita diferença se, uma hora dessas, eu entrasse nas sombras e não conseguisse mais sair delas.

Thalia logo estava de volta com punhos cerrados e uma feição irritada.

–Acho que os deuses se esqueceram que os mortais não aceitam malditos dracmas! –Thalia bufou, estendendo as mãos cheias de dracmas e os dando com raiva para mim.

–Eu posso...

–Não você não pode. –Will me interrompeu. Tive uma vontade imensa de gritar com o garoto. Quem ele pensava que era para me interromper, ou me dizer o que posso ou não fazer? –Vamos dar um jeito de entrar sem usar magia do submundo. Só precisamos de uma distração.

Um sorriso travesso se formou nos lábios de Thalia.

–Você já esteve nessa ferroviária com seus pais, Will? –ele concordou com a cabeça. –se preparem para correr quando eu der o sinal.

Thalia caminhou calmamente até a parede próxima ao senhor da banca, e sacou sua lata de spray. Por um momento pensei que Thalia atacaria o pobre velinho com sua lança, mas a menina destampou seu spray, e começou a pintar a parede.

Não imaginava que o spray de fato tivesse tinta.

–Ei! Mocinha! O que pensa que está fazendo? –o senhor, aflito, saiu se sua banca, já gritando pelos seguranças.

Eu observava a situação, ainda inconformado e ainda abatido pela ultima viagem nas sombras. Só notei o plano de Thalia quando Will me puxou pela barra da camisa em direção à banca que o senhor havia deixado. Só então notei que aquele deveria ser o sinal. Eu o segui até a banca, onde Will rapidamente pegou os bilhetes certos.

–Espere! –chamei quando ele já se preparava para ir embora.

Abri a caixa registradora e peguei cinquenta dólares, e deixei o punhado de dracmas em seu lugar.

–O que está fazendo? –Passei por Will e sai da banca antes de respondê-lo. –você acabou de roubar uma banca!

–Roubar bilhetes também não é roubo?

–Sim, mas nós precisamos dos bilhetes. –revirei os olhos.

–Também precisamos de dinheiro. Afinal, você não quer magia do submundo e tenho certeza que as outras ferroviárias do país não vão aceitar nossos dracmas. –conclui. –além disso, o tanto de dracmas que deixei valem pelo menos seis bilhetes e 200 dólares.

Voltei minha atenção a Thalia, que tinha escrito com seu spray que, alias, era de tinta azul, na parede da ferroviária “O PUNK NÃO MORREU!”. A frase de efeito somada à maquiagem pesada e a calça de exercito de Thalia davam a ela um aspecto perfeito de vândala rebelde perigosa. Ainda por cima suja de lama da ultima luta. Parecia uma verdadeira fugitiva. E ela tinha a atenção de todos.

–Solte essa lata de spray, mocinha! –três guardas a cercavam. Thalia apenas sorriu, antes de correr a direção oposta aos guardas.

Will me puxou novamente pela barra da camisa, mas ele corria ao lado aposto de Thalia.

–Pra onde você está...

–Eu sei pra onde vou, Di Angelo.

Ele continuou correndo comigo a seus calcanhares, adentrou diversos corredores, como um labirinto, até que encontrou Thalia virando um deles, quase derrapando. Ele a puxou pelo braço e mergulhou em um segundo corredor. Quando o barulho dos passos dos seguranças que denunciava que estavam prestes a virar o corredor onde estávamos, Will nos empurrou por uma porta e a fechou atrás de si.

–Estamos... No banheiro feminino? –perguntei após ver as cabines, pias e decoração rosa desbotada nas paredes desgastadas e trincadas.

Eu estava sem fôlego, assim como os dois, mas todos tínhamos sorrisos nos rostos. Tinha sido divertido, uma adrenalina sem corrermos perigo de vida.

–Não tínhamos muitas opções. –Will respondeu, e colou o arco na maçaneta das portas duplas, impedindo a entrada de qualquer um. –alem do mais, quem é que usa o banheiro de uma ferroviária? Ninguém, muito menos as garotas.

Will tinha razão, o banheiro estava vazio, sujo e abandonado.

–Eu amei! –Thalia exclamou, estralando os dedos na frente do corpo. –preciso me lavar. Primeiro as damas. De costas, os dois!

Nenhum de nós protestou, até por que Thalia não esperou para tirar a blusa justa e negra do corpo. Ela tinha razão, todos nos estávamos sujos e suados depois da briga com os cães infernais. Olhei para mim mesmo pelo espelho. Minhas roupas estavam sujas de lama, mais ainda do que Will e Thalia, até por que fui eu quem rolou na lama ao cair do cão infernal. Meu rosto estava pálido e sujo, com olheiras intensas.

Ouvi a torneira sendo ligada, estava tão perdido em pensamentos de batalha que foi instintivo olhar para a torneira pelo reflexo do espelho.

Thalia estava sem a blusa, apenas um top negro a cobria, estava lavando os braços sujos na torneira. Ela tinha um corpo magro, mas muito forte. Não era como as garotas magrelas de Afrodite, ela tinha os músculos de uma guerreira.

Não haviam se passado dois segundos quando Thalia me viu observando pelo espelho, e sorriu com desdém. Eu desviei os olhos, mas ela não se incomodou. Fiquei zangado comigo mesmo por isso. Eu e ela sabíamos que, definitivamente, ela não era o meu tipo. Nem ela nem qualquer garota.

Nem hetero nem bissexual, Nico. Apenas gay.

Minha mente parecia zombar de mim.

Provavelmente, se fossemos apenas eu e ela, ela se sentiria confortável em até nos lavarmos juntos. Afinal, eu não me interessaria em garota alguma, e ela não poderia estar com garoto algum. Alem do mais, mesmo que Thalia pudesse se interessar por garotos, eu com certeza estaria fora de sua lista. Ela provavelmente havia nos mandado virar por causa de Will. Pelo menos estava sendo discreta, como havia prometido.

Thalia voltou a se lavar, e eu senti uma cotovelada forte em minhas costelas. Will me olhava de cara fechada, em uma bronca silenciosa. Deveria ter notado a cena anterior. Por que nos últimos dois segundos os dois resolveram olhar para mim? Que merda.

Fechei a cara também e olhei para a porta onde seu arco estava preso, evitando o olhar de Thalia e Will. Há pouco tempo ele estava preocupado comigo, agora aprecia querer me matar pelo olhar.

Ótimo, agora Will pensava que eu era um pervertido. Pobre garoto, nem desconfiava.

Após mais alguns segundos, Thalia comunicou.

–Pronto, podem virar. –quando me virei, vi Thalia de uma maneira eu nunca tinha visto.

Seu cabelo não estava mais espetado. Ela o havia lavado na pia, e ele agora estava liso e descia até seus ombros. Thalia também havia tirado a maquiagem negra, o que, estranhamente, apenas destacava ainda mais seus olhos. Eles pareciam mais azuis ainda. A lama havia saído de sua pele, e as roupas estavam levemente molhadas, mas nada de mais.

Thalia, com os grandes olhos azuis, agora poderia se passar por uma adolescente inocente em uma excursão escolar.

–Com certeza eles não vão te reconhecer agora. –eu disse, e então tirei meu casaco e a estendi. –use isso. Se te reconhecerem no embarque estaremos ferrados.

Thalia aceitou, e vestiu o casado por cima da regata. O casaco ficara largo nela, mas também ficava em mim. Thalia era pouco mais baixa que eu, apenas.

Will forçou uma toçe, e apontou para as pias e para Thalia. Ela ergueu as mãos para o alto.

–Você poderia ser tão lindo quanto seu pai, Will, e não faria a mínima diferença. Caçadora, lembra? –Thalia zombou do menino.

Então ela se virou, arrancando uma risada dele. Will tirou a blusa assim que Thalia se virou e começou a lavar-se na pia. Desviei o olhar do garoto e comecei a lavar-me também. Estava cheio de terra.

Joguei água no rosto para tirar a sujeira, quando chequei o espelho, para ver se a sujeira havia saído, Will me olhava pelo reflexo, ainda com feições serias. Provavelmente ainda me repreendendo por olhar Thalia. Então Will simplesmente se abaixou e lavou o rosto também. Desviei meu olhar do garoto. Era injusto que Will estivesse sem camisa pensando que eu estava interessando em ver Thalia sem a dela.

Quando terminei, vesti a camisa negra novamente. Estava agora limpo, mas as olheiras e a palidez continuavam em mim, não era nada que a água pudesse resolver.

Olhei novamente para Will, e ele também estava se vestindo novamente. Seus cabelos estavam molhados assim como a barriga, fazendo com que a blusa grudasse em seu corpo.

–Pode virar, senhorita “o punk não morreu” –chamei, e Thalia virou-se sorrindo.

–Eles iriam achar estranho se eu escrevesse “EROS É UM GRANDE FILHO DA PUTA QUE SEQUESTROU MEUS AMIGOS”. Que, bem, era o que eu tinha em mente. –ela disse como uma brincadeira, mas aquilo era a mais pura verdade. Nos dois estávamos abalados por aquilo, e era difícil fingir que não estávamos.

Foi Will quem quebrou o silencio.

–De acordo com os bilhetes, nosso trem é as oito. –ele checou o relógio. –Yep, é melhor irmos indo.

...

Will e eu ficamos em volta de Thalia o tempo todo. Colocando-nos a sua frente quando um policial passava, bloqueando sua visão dela. Minha jaqueta também ajudava a disfarçar. Mas agora Thalia parecia tão inofensiva sem a maquiagem e os cabelos espetados que achava difícil alguém nos parar.

Por fim, entramos no trem sem maiores problemas. Encontramos acentos facilmente, tudo estava vazio. Poucos olhares se cruzavam com os nossos. Os passageiros eram poucos e desinteressados, preocupados apenas em pegar no sono rápido ou em seus celulares ou livros.

–Vou dar uma volta. –Thalia disse já se levantando. –quero ter certeza que estamos seguros, não quero ser atacada por nenhum monstro aqui dentro. Já volto.

Ela saiu, e eu pensei em para-la, para que não fosse reconhecida, mas não havia mais seguranças no trem. Paradise era uma cidade calma, não dispunham de muitos seguranças. Os poucos que tinham apreciam lesados e poucamente treinados, provavelmente ainda deveriam estar a procura de Thalia na estação ferroviária.

Olhei para Will após alguns segundos, ele aprecia estar extremamente concentrado no panfleto de primeiros socorros em caos de emergência do trem. Ele poderia ser um curandeiro, mas ninguém fica tão interessado nos cinco passos para não morrer em acidentes de trem. Se alguém saberia como tratar todos os feridos desse maldito trem se acontecesse um acidente, esse alguém seria Will. Não nenhum possível médico no trem, mas Will.

Bufei, ele estava apenas me ignorando, ainda zangado pelo banheiro. Não ficaria uma missão inteira com Solance me ignorando. Isso era ridículo.

–Voce está zangado por causa de Thalia. –eu afirmei ao em vez de perguntar. Will tirou sua atenção do panfleto.

–Por que estaria?

–Olha, eu sinto muito, não era minha intenção.

–Não era sua intenção observar uma garota, ou melhor, uma caçadora, enquanto ela se lavava? –ele disse com amargura.

Suspirei.

–Eu não estava observando. Olha, eu sou... –parei no meio da frase. O que eu estava pensando? Contaria meu segredo a Will só para que ele não pensasse besteira? Não devia explicações a ele. –eu sou como um irmão para Thalia. Ela é como uma irmã pra mim. Qual é! Eu conheço ela desde os dez anos!

– E isso lhe da direito de observar enquanto ela se troca? –ele contestou.

–Desculpe, ok?

–Talvez devesse dizer isso a Thalia. –ele voltou seu olha ao panfleto.

–Ótimo.

–Ótimo.

–Certo.

–Certo.

–Isso é ridículo! Até mais. –dessa vez, ele não repetiu.

–Nico? –Will chamou, e eu me virei. Seu olhar agora não tinha mais raiva, e sim uma certa preocupação. –você errou.

–Eu errei o que?

–Não eram quatro dedos que eu apontei. –ele explicou. –era apenas um. –ele vez uma pausa antes de continuar. –Podemos ter nossas diferenças, mas se meu trabalho nessa missão for tentar te trazer de volta quando você virar um punhado de sombras por exaustão, meu pai está muito enganado. Eu não capaz disso, ninguém será se isso acontecer. Apenas se cuide, tudo bem?

–Tudo bem. –respondi em um sussurro e sai pelo trem à procura de Thalia.

Ela estava no vagão seguinte, tinha a lateral do corpo encostada na parede do trem, assim como sua cabeça. Parei a seu lado, Thalia tinha uma expressão triste estampada a seu rosto. Segui seu olhar, ela olhava para uma garota mais velha, devia ter mais de vinte anos, ela lia um livro grosso e tinha um lápis atrás da orelha. Provavelmente estava na faculdade. A seu lado, uma mulher já idosa fazia tricô, provavelmente estava viajando com a avó. Estávamos em período de férias para faculdade, mas a garota parecia empenhada em seu livro.

–O que ouve? –perguntei.

Thalia fungou, e notei que ela estava realmente chateada.

–Eu deveria ter aquela idade. –ela apontou a menina com o queixo. –deveria estar na faculdade, quase terminando uma, na verdade. E então eu iria me formar, arranjar um emprego, ter filhos, netos, me aposentar e chegar a idade daquela senhora. Mas, se tiver sorte, vou apenas passar alguns séculos com dezesseis anos.

–Se arrepende de entrar na caçada?

–Não, não de verdade. –ela diz. –mesmo que não estivesse na caçada, ainda não seria minha idade real. Perdi alguns anos de vida enquanto era um pinheiro. Não chegaria a idade daquela senhora nem se pudesse. Todos nos vamos morrer muito antes disso.

Ela faz uma pausa, talvez refletindo sobre o que disse, talvez apenas esperando que eu diga algo.

–Se eu tivesse minha idade real, voce provavelmente staria empurrando minha cadeira de rodas. –arranquei um sorriso de Thalia. -Se fosse fazer faculdade, o que faria?

–Estou aqui reclamando, mas na verdade não sei. Provavelmente, se tivesse mesmo que trabalhar, iria arranjar um emprego de meio período em uma longa de CDs ou discos antigos.

Seu sorriso morre em seu rosto, então ela prossegue.

–Eu não me arrependo de minhas escolhas, Nico. Mas Annabeth se arrepende. Ela gostaria de chegar aos vinte e dois anos, ela gostaria de fazer faculdade de arquitetura. Ela gostaria de se casar, ter filhos... –ela fala, e então se interrompe. Thalia olha para mim com solidariedade. –Sinto muito. Eu esqueci. –eu acenei para que ela continuasse. –O fato, é que sendo caçadora, ela nunca poderá fazer nenhuma dessas coisas. E, de fato, não poderá fazer se ela estiver morta.

–Ela não esta morta, Thalia. Eu posso sentir. –digo, com minha mão em seu ombro. –eles vão ficar bem. Vamos chegar a tempo.

Thalia me oferece um meio sorriso.

–E, Nico, eu realmente sinto muito pelo que disse, ok? Eu não deveria ter dito, não importa as circunstâncias.

–Eu sei, Thalia. Está tudo bem. Acho que eu só estava procurando alguém com quem ficar zangado. Alguém além de mim. –Thalia me oferece um sorriso triste.

–E, por mais que eu queira salvar Percy e Annabeth, não quero que você morra tentando nos transportar pelas sombras.

–Eu sei. –ela se vira totalmente para mim.

–E você, por que veio até aqui? Parece meio tristonho também.

Eu suspiro, irritado e impressionado o quanto à situação e ridícula e engraçada ao mesmo tempo.

–Will está zangado por que acha que eu sou um pervertido que obervou você enquanto se trocava. Então vim me desculpar para ver se o infeliz cala a boca.

Thalia sorri, e da um tapa em minha barriga com as costas das mãos. Ela tira minha blusa de seus ombros e me devolve.

–Estava fazendo um teste. –ela admite. –queria descobrir se você podia gostar de meninos e meninas. A resposta é não.

–Foi de propósito? Thalia! –eu reclamei, e escondi o rosto, na parede do trem, virando-o. –não tem graça!

Thalia começa a rir, mas então para. Me olha preocupada antes de perguntar.

–Você não está bravo, está? –tiro a cara da parede do trem e mostro a língua para Thalia.

Ela apenas volta a rir da minha cara. Não de uma forma maldosa, mas como uma amiga, tão natural como se estivesse tirando sarro da estampa da minha camisa.

Acho que eu precisava disso, precisava de Thalia. Precisava de alguém que me aceitasse mais do que eu próprio me aceitava. Alguém que tratasse minha preferência entre homens e mulheres como tratava a preferência entre sorvete de chocolate ou baunilha. Alguém como Thalia.

–Vamos, Cara de Pinheiro, antes que Will pense que estou te assediando aqui atrás.

Thalia me um soco leve em meu braço.

–Relaxa. Will é um bom garoto. Se você o visse fazendo o que ele te viu fazendo também não iria ficar feliz.

–Mas é completamente diferente!

–Mas ele não sabe disso. –Thalia garantiu.

Então me puxou pelo pulso em direção a Will.

–Ah, meninos! Sempre procurando uma dama em perigo para salvar e defender. –ela gira os olhos. -mas você está errado. Will não acha que você está me assediando. Ele sabe que nem você, nem qualquer um que tentasse, continuaria respirando depois da tentativa.

E, como sempre, Thalia está certa. Ela poderia ser qualquer coisa, caçadora, semideusa, punk, o que quisesse. Mas Thalia, com certeza, não era uma dama em perigo. Ela jamais, nunca precisaria ser salva por ninguém. Nem por mim, nem por Will, nem por ninguém.


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Notas finais do capítulo

Eu amo escrever cenas de ação. Tenho a impressão que passam mais rapido, mesmo que me deem mais trabalho. Mudei a cena do ataque dos cães infernais muitas vezes, mas ficou do jeito que eu queria.
Eu acho que eu vou encher o saco de voces com esses tres. Todo mundo ai ama o Nico, certo? Por que os proximos POVs serão dele!
Apenas lembrando que eles estão em uma missão para achar tres semideuses muito poderosos que supostamente devem ajudar Percy e Annabeth. Só lembrando já que isso faz um tempinho. Olha só, ninguém chutou ainda.
O que nos leva para a SESSÃO ORACULO: quem são so tres semideuses? TAN TAN TAN TAN não é tão dificil! Sou previsivel!
Destrui muitas esperanças de Thalico? Sorry. Nico is gay. Não me matem. Thalico continua como bromance (ou sismance. Tem um nome melhor pra isso?). Para quem está me odiando por isso peço para lembrar de duas coisas 1-Keep Calm and keep reading 2-eu postei um capítulo gigante adiantado!
Eu pessoalemtne tenho pena do Will que só leva chute tanto de Thalia quanto de Nico. Dois autosuficientes fodasticos e rabugentos com um filho de Apolo prestativo e sorridente. Proximos capítulos vão dar o que falar.
Sobre o Nico, ainda da SESSÃO ORACULO: Acham que ele consegue fazer a viajem intacto? Muitas viagens pelas sombras....
Tuuuudooooo bem. Até daqui duas semaninhas gente do meu coração!



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