Herança escrita por Janus


Capítulo 73
Capítulo 73




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/43095/chapter/73

     Sempre achou maravilhoso voar a noite, tanto que o fez muitas vezes escondida antes. Antes de ser uma sailor, antes de suas amigas e irmãs descobrirem suas habilidades e poderes. Bom, ela ainda fazia isso algumas vezes, mas voar agora a noite carregando a sua mãe em direção ao céu escuro procurando por algo que simplesmente não conseguia ver não era propriamente maravilhoso.
     Além disso, era a sua missão. Sua e de sua mãe: Localizar o que estava acima da cidade cortando as comunicações e destruí-lo ou pelo menos desativá-lo.
     Ainda estava um pouco confusa a respeito de quando Ray tinha entrado na sua cabeça, mesmo com as explicações de sua mãe sobre aquilo. Ela desenvolvera a telapatia muito tempo atrás, mas desde que tinham decidido esconderem das filhas suas identidades de sailors ela também manteve isso em sigilo. Lógico, acabaram esquecendo este detalhe quando as filhas viraram sailors. Também não contaram que tinham boa parte de seus poderes quando não transformadas, e que se elas treinassem corretamente, a transformação apenas iria lhes dar roupas de sailors, mais nada.
     Bom, quanto a isso ela tinha vantagem. Sempre teve seus poderes em sua forma normal, pelo menos até a rainha mexer no broche da sailor Terra e este arrancar estes dela. Ainda não entendia como podia ter uma semente estelar sendo humana e não sendo sailor. Ou os poderes dela na verdade estavam ocultando o brilho desta?
     - Vamos mais alto – disse sailor Júpiter que estava agarrada em sua cintura. Ela podia flutuar usando campos eletromagnéticos, mas não podia igualar sua agilidade ou controle de vôo. Talvez sua mãe precisasse treinar algumas coisas também.
     Conforme ela subia mais, ficava um pouco preocupada. Uma das suas limitações era que não podia usar suas asas e disparar energia ao mesmo tempo. E só conseguia fazer aquelas asas surgirem quando estava no solo. Se tivesse que fazer algo nessa altura, seria um belo tombo até chegar ao chão. E tinha certas dúvidas se poderia sair andando caso caísse. Alem disso, apesar de não duvidar que iria sobreviver – tinha sobrevivido àquela general que pelo que lhe contaram a atingiu com toda a força e não parecia ter feito danos letais – com certeza iria doer muito.
     - Será que é aquilo? – disse ela observando três brilhos a sua direta, um pouco acima de onde estava.
     - Aquilo o que? – Perguntou sua mãe olhando na mesma direção.
     - Aqueles brilhos alaranjados – ela apontou com a mão – não esta vendo?
     Ela estreitou os olhos olhando na direção indicada, mas não parecia estar vendo nada.
     - Não, filha... não estou vendo. Chegue mais perto.
     Achou estranho isso. Os brilhos eram claramente visíveis para ela. Ela foi voando na direção destes e conforme se aproximavam, eles se afastavam uns dos outros. Na verdade pareciam que giravam lentamente ao redor de um centro comum.
     - Ainda não vejo nada – disse sua mãe com o rosto intrigado.
     - Nossa! Estou vendo claramente três brilhos na nossa frente, e parecem que estão girando ao redor de alguma coisa.
     Ela aumentou a velocidade ao máximo e agora já podia ver que os brilhos pertenciam a uma estrutura que mais se parecia a uma estação espacial. Havia uma grande bola no centro e ligado por três hastes a algo que se pareciam com motores antigravidade. Os brilhos deviam ser destes motores.
     - Não esta vendo aquilo? – disse ela impressionada.
     - Aquilo o que?– ela olhava ao redor, mas parecia que não estava vendo. Será que estava vendo coisas? Acionou o seu visor e, surpresa, viu que ele não aparecia no visor. Mas... como? - Só estou sentindo mais eletricidade no ar, então estamos na direção certa. Continue.
     Quando chegou mais perto ela diminuiu a velocidade, foi quando sua mãe exclamou:
     - Meu Deus! Estou vendo agora.. mas... como isso estava escondido?
     Era o que queria saber. Na hora que ela disse aquilo, objeto tornou-se visível no seu visor, e este já tinha feito algumas analises. Tinha uns cinqüenta metros de raio, havia uma grande interferência elétrica na região e o visor identificou três motores de inércia que o mantinham ali.
     - Eu devia ter desconfiado que estavam usando algum dispositivo para camuflar essa coisa – murmurou sua mãe – ainda bem que parece que você não pode ser enganada por isso.
     Mal prestou atenção no que ela disse. Estava imaginando o que deviam fazer agora. Se destruíssem aquilo, um monte de destroços iriam cair na cidade.
     - E agora?
     - Agora, minha cara sailor Terra – ela sorriu – me solte e vamos pousar nesta coisa e ver o que podemos fazer.
     - Não posso deixar minhas asas sumirem – disse ela olhando para baixo, para as luzes da cidade – só posso fazer elas aparecerem quando estou no chão.
     - Não se preocupe, conheço esta sua limitação. Fique vigiando enquanto eu vou ver como podemos desligar essa coisa.
     Sua mãe a soltou e flutuou até a grande bola central do aparelho. Era grande, talvez uns dez metros de diâmetro. Agora via que abaixo desta esfera havia um tipo de antena parabólica apontada para baixo. Devia ser aquilo que estava gerando a interferência. Talvez fosse apenas o caso de arrancar algum fio fora e pronto.
     Assim que viu sua mãe pousar na esfera central, um raio elétrico a atingiu vindo do extremo de uma daquelas hastes que pareciam se ligar aos motores que mantinham aquilo no ar. Sua mãe foi arremessada um pouco a distancia, mas agarrou nas placas metálicas da esfera impedindo a sua queda. Olhando para a origem daquele disparo ela viu aquela criatura que atacara Diana.
     O malviano!
     Ele tinha poderes elétricos, como desconfiavam.
     - Ache um jeito de desativar isso – gritou sua mãe enquanto se lançava contra o oponente.
     Desativar aquilo? Como ia fazer isso? Não era nenhuma especialista em desligar dispositivos estranhos, alienígenas e há quilômetros de altura. Bom, talvez ela pudesse simplesmente usar sua força e arrancar peças daquilo até ele parar de funcionar. Mas... Se os motores parassem também, iria cair na cidade. E uma coisa deste tamanho não só ia fazer um belo estrago, como mataria pessoas também.
     Voltou a pensar em sua primeira idéia, a de arrancar a fiação da antena. Voou na direção da base desta e sentiu alguns impactos. Eram ondas de choque de sua mãe atingindo o malviano, ou melhor, atingindo o escudo de raios que ele tinha formado. Ambos estavam flutuando e afastando-se da estrutura naquela luta. Sua mãe devia estar fazendo isso para que ela tivesse tempo de desativá-la. Portanto iria tentar manter o malviano a distância e ocupado.
     Não imaginava isso em sua primeira missão como inner, mas... apesar de não parecer glamorosa ou épica como enfrentar um general, era vital ser cumprida. Sem comunicações e apenas contando com Sume e Ray para manter um contato telepático, estavam em grande desvantagem. A melhor opção que tinham era utilizar a guarda robô para cuidar das criaturas que invadiam a cidade, deixando as sailors livres para enfrentar os generais.
     Assim que chegou a base da antena, observou se havia algum fio por ali, mas não havia. A fiação devia estar embutida dentro da haste que conectava a antena a esfera. Bom, era hora de estragar suas unhas...
     Ela abriu a mão e movendo-a com força atingiu as placas da esfera, conseguindo cravar seus dedos nesta. Usando a outra como apoio tentou arrancar essa placa, para abrir a mesma e ver o que podia estragar do lado de dentro.
     Quando a placa foi curvada dando uma abertura para os seus olhos, raios começaram a sair desta. Como ela estava voando e não em contato com o solo, sentiu um choque muito fraco, mas foi o bastante para instintivamente soltar a mão daquilo.
     - Destruir propriedade privada não me parece o que uma sailor deveria fazer.
     Ela sentiu um arrepio na nuca quando ouviu aquilo. Vinha de cima, e ao olhar nesta direção viu um homem sentando no topo da esfera olhando na sua direção. Nunca o tinha visto antes, mas considerando onde ela estava e o que estava acontecendo, tinha uma boa idéia de quem ele seria. Especialmente devido aos braceletes que via nos pulsos dele.
     - Se você se afastar – disse ele lentamente, mas com uma expressão decidida no olhar – não terei motivos para atacá-la. Mas se for metade do que imagino que seja... – ele parecia estar alegre – vai ignorar meu aviso totalmente, estou correto?
     Ela não respondeu, em vez disso novamente cravou os dedos na placa de metal e a arrancou, voando em direção dele com a placa na mão e usando-a como um porrete para acertá-lo. Ele ergueu o braço para bloquear e a sailor atingiu-o em cheio. A placa se dobrou no impacto, mas ele foi lançado para trás. Esperava que tivesse sido uma clara resposta a pergunta dele.
     Ele apenas sorriu para ela, e então um brilho surgiu nas suas costas. Eram asas! Não asas de borboleta como as dela, mas asas com forma de pássaro, mas eram alaranjadas e translúcidas como as dela, como se fossem feitas de energia. Só a cor era diferente. Teria ele o mesmo poder que o dela?
     Ele se ergueu voando e lançou duas bolas alaranjadas contra ela. Pelo jeito, ele tinha sim o mesmo poder. Da primeira ela desviou, mas a segunda a acertou em cheio no peito, logo abaixo do seio direito. Sentiu uma queimação muito forte ali, bem como uma grande dor. Mas ao contrario das suas bolas de energia, as dele não a empurraram para trás e nem explodiram. Pelo jeito não era exatamente o mesmo poder.
     Levando a mão a área atingida, percebeu que sua roupa de sailor no local estava queimada. Na verdade havia um buraco ali, sendo que as bordas estavam enegrecidas e ainda soltando fumaça. Sua pele estava muito avermelhada e sentia-se estranha. Desde que seus poderes foram unidos ao broche de sailor Terra, ela descobriu coisas que nunca tinha sentido antes, como se queimar. Só tinha se queimado uma vez em uma tocha de plasma, mas não chegou a ser grave. Claro que ela tinha o instinto de evitar o fogo, e agia como qualquer pessoa caso uma brasa caísse na sua mão - apesar de isso não ser capaz de queimá-la. Isso e outras coisas que nunca aconteceram quando tinha seus poderes em tempo integral. Agora que estava transformada, devia ser igual a antes. Então... como se queimou? Seria aquela bola de energia na verdade uma bola de fogo? Mas o fogo de Herochi nunca conseguiu fazer nada contra ela... pelo contrario, ela se sentia na verdade fortalecida quando este a atingia.
     Então o que ele tinha lançado que a queimou? E queimou gravemente. Nem sua roupa de sailor resistiu, e já tinha ouvido de sua mãe que àquela roupa apesar de ser um tanto curta e sexy, era mais resistente que aço.
     Precisou voar para trás para se esquivar dele que vinha na sua direção. Por pouco seu punho não a acertou. Parecia que ele estava acostumado a lutar voando, coisa da qual ela não tinha a menor experiência.
     Assim que passou por ela, ele lançou mais daquelas bolas alaranjadas. Desta vez a sua perna foi atingida, e a dor pela queimadura foi tão forte que ela gritou por uns instantes. Não era o mesmo poder, mas a forma de manifestá-lo era praticamente idêntica. Mas como ele podia voar e lançar aquelas bolas ao mesmo tempo e ela não? Que injustiça!
     Tudo o que podia fazer no momento era voar e usar sua força. E já achava que a vantagem era toda dele. Ou... talvez não.
     Ela moveu-se para o lado, em direção a esfera central da estrutura, sendo que ele – como esperava – a seguiu lançando aquelas bolas. Ela girou o corpo como um parafuso e foi para baixo. As bolas atingiram a esfera, fazendo buracos nesta derretendo as placas metálicas. Por estes buracos uma fumaça acinzentada começou a sair.
     Olhou para ele e percebeu duas coisas. Uma era que tinha ficado tonta com aquele rodopio – ela devia ter feito aquelas aulas de balé – a outra era que ele estava claramente irritado com o que houve. Se ela o mantivesse próximo dali, ela estaria em vantagem devido a ele precisar se conter para não danificar o aparelho. Ela não tinha esta restrição.
     Mas logo ela percebeu que sua vantagem não era assim tão boa. Ele disparou na sua direção com os punhos ao longo do corpo, uma expressão dura no olhar e a clara intenção de que ia atingi-la. Tentou desviar para que ele acertasse a esfera, mas ele a acompanhou – ele sabia mesmo lutar voando – e a poucos centímetros dela moveu seu punho contra a sua cabeça, em um movimento ascendente.
     Ela viu estrelas na hora. Sentiu mesmo que pelo menos dois de seus dentes se partiram dentro da boca, e confusa, percebia um uivo nos ouvidos e uma sensação de estar sendo comprimida.
     Não demorou para ela perceber que foi arremessada para cima com aquele soco, e que a sensação de compressão se devia a estar rodopiando sem controle. Ela parou de rodopiar e de subir conforme recuperava o controle de seu vôo. Massageou a área atingida do rosto e sentiu que faltava alguns dentes ali. Ainda não sentia dor devido ao impacto ter sido muito forte e ter amortecido metade de sua cabeça, mas sentia algo estranho também.
     Sentia que algo roçava ali na sua gengiva, onde os dentes foram arrancados. Mas agora não tinha tempo para se preocupar com isto. Se só com um soco tinha feito aquilo com ela, esse cara era perigoso. Na verdade, apesar de seu poder não ser igual ao dela, não podia deixar de fazer comparações. Podia criar asas – aparentemente de energia – como ela, podia lançar bolas de fogo – ou alguma outra coisa que queimava – e tinha uma força enorme, assim como ela – na verdade como sua mãe.
     Era como enfrentar a si mesma, mas bem mais velha e no máximo de desenvolvimento. Um dos generais era um malviano, outro tinha os mesmos poderes de seu pai. Orion tinha comentado que talvez houvesse outro que seria nativo do mesmo mundo que o dele. Será que esse daí tinha alguma relação com ela?
     Ela voou direto para baixo, na direção dele. Tinha de fazer algo para parar com a interrupção das comunicações, e ele a estava impedindo. Na verdade sentia que podia fazer pouco contra ele – era claro que sua experiência era muito superior – mas ela era uma sailor. E não iria simplesmente desistir.
     Apertou os lábios quando viu ele voando na direção dela, e se preparando para acertar um novo soco. Desta vez ela cruzou os braços na frente do corpo para bloquear e novamente gritou de dor quando ele a atingiu. Sentiu algo estalar do seu braço, mas desta vez ela não foi muito para traz. Pelo contrário, ele é quem acabou indo para baixo na direção em que ela estava indo.
     Ela sorriu apesar da dor. Ele podia ter poderes similares, mas não a sua densidade. Pela primeira vez estava contente de ser quase três vezes mais pesada que uma pessoa comum. Para ele deve ter sido como socar uma pedra bem pesada. Infelizmente ele conseguiu rachar esta pedra – seu braço esquerdo estava quebrado – e agora ele teria muito mais vantagem.
     Mas ao invés de continuar a atacá-la, ele se afastou, voltando para o objeto flutuante acima da cidade. Parecia estar segurando a mão perto do peito. Pelo jeito ele também tinha ficado ferido com o golpe.
     Estava sem alguns dentes e com o braço quebrado. E ele aparentemente apenas com a mão machucada. O que podia fazer agora?
     - É uma injustiça que você tenha tanto potencial mas esteja negada de utilizar toda a extensão do mesmo – disse ele olhando-a com um leve sorriso – mas mesmo assim você está me surpreendendo. Seu pai deve ter muito orgulho de você, joviana.
     Ficou em silencio enquanto segurava o seu braço quebrado com a outra mão e usava a língua para avaliar melhor o estrago de sua boca. Ficou surpresa por notar que seus dentes na verdade estavam lá, mas faltando alguns pedaços. Tinha percebido nitidamente com os dedos que havia um buraco ali. Pelo jeito tinha se enganado. E não estava doendo tanto quanto seria de se esperar.
     - Infelizmente você terá de decidir se será uma valorosa joviana ou se irá tentar a quase impossível tarefa de assumir o manto da antiga sailor Terra... Eu gostaria que você optasse em ser uma joviana. Mas considerando como você manipula seus poderes – seu sorriso estava mais largo agora – talvez até exista uma fraca chance de despertar a herança solariana de seu sangue. Sua avó ficaria muito alegre, se ainda estivesse viva.
     Estava surpresa e confusa. Ele falava com se a conhecesse muito bem, mas ela não entendia nada disso sobre jovianos. Sabia que sua mãe era a sailor Júpiter, mas era uma terráquea. Hum... não tinha alguma coisa que Anne lhe tinha dito como eram as coisas no antigo Milênio de Prata? E o que ele estava querendo dizer com a forma como manipula os seus poderes? Era isso o que ele era? Um... solariano? Ontem tinha ouvido falar que Prismey era uma solariana. Ele também seria um?
     A forma de manipular aquela energia alaranjada – se é que era isso – era praticamente idêntica a sua, exceto que ela não manipulava suas asas, elas simplesmente apareciam nesta forma nas suas costas quando ela queria fazer isso.
     - O que vocês querem aqui? – gritou ela com raiva.
     - Aquilo que nos foi tomado – respondeu ele agora sem sorrir mais – queremos viver para finalmente termos paz.
     Não entendeu muito bem, mas percebeu uma coisa...
     Os dentes de sua boca... eles estavam totalmente inteiros agora. E o seu braço... já quase não doía e podia novamente mover os dedos. Sua recuperação rápida estava funcionando, mas ela não tinha comido nada... então como conseguiu isto? Talvez pelo fato de não estar usando sua energia para atacar. Consumia-se muito quando lançava as bolas de energia ou o megaraio. Como não estava fazendo isso, seu corpo estava usando sua energia para se recuperar. Isso também explicava a sua forme não a estar incomodando ainda.
     - Quero saber porque estão fazendo este ataque na cidade!
     - Oh, isso? – ele parecia um pouco desiludido com a pergunta – bem minha cara, inicialmente queríamos apenas criar distrações menores para chamar a atenção das sailors, das sailors planetárias. Mas não esperávamos que o legado das sailors lunares se manifestasse agora, de forma tão rápida. Assim acabamos precisando criar uma distração muito maior do que tinham imaginado no começo.
     Ela ouvia as palavras, mas não prestava muita atenção. Aguardava seu corpo estar plenamente recuperado.
     - Pensei que você seria mais...
     Ele ficou em silencio quando a viu voando com o máximo de velocidade na sua direção. Primeiro tentou desviar, mas então viu que se o fizesse, ela atingiria o aparelho diretamente, sem dúvida destruindo o seu gerador de interferência. Assim, ele preferiu ficar ali e bloquear o ataque dela.
     Cruzando as mãos sobre o peito, ele fez surgir um escudo de cor alaranjada ao redor de seus braços – isso ela nunca tinha imaginado tentar fazer com suas bolas de energia – e aguardou os décimos de segundo que faltavam para o impacto.
     Assim que chegou perto, ela lançou o seu punho contra ele. O impacto foi tão grande que gerou uma onda de choque que abalou a estrutura do aparelho que flutuava ali perto de ambos, e ele foi arremessado violentamente contra este, atingindo a parte onde ficava a esfera central, sendo que seu corpo chegou a dobrar e a entrar quase até a metade daquelas placas de metal de que era composto.
     O escudo dele não conseguiu resistir, mas conteve a maior parte do soco. Sem duvida foi inesperado para ele. Assim que se recuperou, lançou-se de volta na direção de uma sailor Terra que segurava o braço direito que ardia devido ao impacto que tinha dado nele. Talvez estivesse até com os dedos quebrados.
     De qualquer forma ela se distraiu, e isto em qualquer combate podia ser fatal. Tinha imaginado que seu oponente também tinha sentido o soco – ele sentiu, mas não tanto quanto ela devido ao escudo que tinha criado – e que podia se afastar para se recuperar novamente. Quando o notou próximo a ela era tarde demais. Tentou fugir mas ele envolveu os braços por debaixo dos seus e juntou as mãos na sua nuca, a imobilizando assim.
     Ela tentou escapar, mas nem quando sua irmã conseguia fazer isso era possível. Presa daquela forma por alguém maior que ela e sendo comprimida de forma a ser obrigada a manter os braços longe do corpo era uma forma de imobilização muito eficiente.
     - Que decepção – disse perto de seu ouvido – cheguei mesmo a pensar que a tinha subestimado demais e que eu seria destruído. Agora pelo jeito sua irmã ruiva vai acabar se tornando a primogênita da linhagem... Talvez ela venha a ser a "ultima primogênita da casa solar que se tornara a sailor Júpiter..."
     Ele tinha dito aquilo em um tom meio de sarcasmo, dando uma entonação bem diferenciada. Ela sentia ele pressionando os braços cada vez mais, forçando os seus ombros a serem puxados para fora, quase como se alguém estivesse arrancando-os. A dor era terrível nas costas, na nuca e nos ombros. Fora pega distraída e agora talvez pagasse com a vida por isso. Presa daquela forma não havia como lançar suas bolas de energia nele. E mesmo que o fizesse, como estava voando não iria poder continuar depois.
     Voando... ela estava voando, não presa ao chão. Parou de se contorcer e movimentou o seu vôo para ver onde estava o aparelho que ele tentava defender. Assim que o viu, virou de costas para este – com ele ainda a prendendo – e voou na direção do mesmo, de forma que ele iria acertá-lo junto com ela.
     - Acho que a subestimei de novo – disse ele aumentando a pressão fazendo-a grunhir de dor. Mas ela continuava a mover ambos em alta velocidade para o aparelho.
     Ele usou seu próprio poder de vôo para desviá-los da trajetória, exatamente como ela tinha previsto. Apenas aguardou para sentir em que direção ele estava indo para seguir em uma direção a noventa graus de trajetória. Isso fez ambos rodopiarem violentamente, pegando-o de surpresa – talvez ele não possuísse muita experiência em lutar em vôo afinal de contas – de forma que ele afrouxou levemente a pressão a permitindo se libertar. Ela agarrou a perna dele e girou-o três vezes antes de arremessá-lo em direção ao aparelho. Ele tinha conseguido frear a alguns metros de distancia, e praguejou algo quando viu sua oponente novamente indo a toda velocidade na sua direção. Cruzou novamente os braços para bloquear o golpe, mas não teve tempo agora de criar um novo escudo ao redor destes. Joynah sorriu – apesar da dor – ao ouvir e sentir que agora o braço dele tinha estalado.
     Ele foi lançado contra a esfera, desta vez atravessando as placas de metal e caindo em seu já estava saindo segundos depois para pegar sua oponente quando com os olhos arregalados viu que a mesma agora lançava o megaraio.
     Ele foi atingido no peito e caiu para dentro do buraco que tinha feito quando atravessou a fuselagem anteriormente. Poucos instantes depois ondas de fogo e faiscais saíram pela abertura e por outros pontos. A estrutura permaneceu intacta de forma que poucos destroços caíram ao solo.
     Sem suas asas agora por ter tido de usar seu poder, sailor Terra tentava com o impulso que tinha quando estava voando alcançar uma das hastes daquele aparelho. Usando sua mão boa – a outra estava novamente com os dedos quebrados após o soco que tinha dado nele – ela crava os dedos no metal e evita de cair na cidade que estava quilômetros abaixo. Ela usa sua perna para fazer um outro furo para apóio então arrisca a soltar sua mão e cravá-la um pouco mais acima. Fazendo isso ela consegue subir pela haste até conseguir uma posição onde podia se manter de pé.
     Olhou para os danos que tinha feito e imaginou se as comunicações ainda estavam paralisadas. Uma rápida consulta no seu visor lhe mostrou que as comunicações estavam retornando. Tinha conseguido!
     Do alto da esfera agora soltando fumaça e faíscas por varias aberturas, o general saiu voando e olhou para ela. Ela por sua vez colocou-se em guarda – sua mão já estava melhor, mas já estava demorando mais para se recuperar agora – para o que ia vir a seguir. Ela não podia mais voar, mas se ele a agarrasse novamente, iria lançar tudo o que tinha de energia nele.
     Ela esperava uma luta desesperada agora, especialmente porque tinha feito o general falhar na missão dele, a de proteger o aparelho, mas o que ele disse a deixou surpresa.
     - Estou orgulhoso de você – disse ele com um sorriso – e só por isso não irei matá-la. Mas para garantir que fique ocupada... – ele abriu a mão direita em direção a um dos motores que mantinham a estrutura no ar e lançou um raio brilhante na direção dele. Este também se parecia com o seu megaraio, mas de cor laranja. Um buraco foi derretido e o motor parou de funcionar, o que fez imediatamente todo o objeto começar a cair – você deve ter uns cinco minutos antes que isto atinja o solo. Boa sorte... – ele sorriu para ela antes de completar – primogênita da cada solar...
     Ela podia sentir o orgulho com o qual ele tinha proferido àquelas palavras, mas não conseguia entender o porquê dele fazer isso. Aquelas asas brilhantes surgiram nas costas dele e o mesmo voou em direção ao castelo. Ela não podia segui-lo agora. E apesar de na velocidade com que estava caindo provavelmente não se machucar muito, duvidava que o mesmo iria ocorrer com a cidade.
     Olhou para baixo e imaginou que devia estar bem em cima do distrito violeta. Um bairro residencial cheio de casas que seriam facilmente esmagadas com o peso daquela coisa. E sem poder invocar suas asas não tinha como tentar empurrar aquilo para longe.
     - Mãe? – ela acionou o seu visor – Sailor Júpiter?
     Não houve resposta. Ela ainda devia estar ocupada com o malviano.
     - Venus? – tentou ela.
     "- Joynah! Parabéns, as comunicações voltaram. Já estamos enviando a guarda robô para cuidar das criaturas. Tenho uma missão para você agora..."
     - Espere! – clamou ela – a coisa que estava cortando as comunicações está caindo na cidade, e não tenho como segurar ou desviar. E vai cair em cima de um bairro cheio de gente. Além disso, tem um general indo para o castelo.
     Houve silencio por alguns instantes.
     "- Não pode empurrar esse objeto?"
     - Só posso fazer minhas asas surgirem no chão, e sem elas não posso fazer nada aqui, só danificar ele mais ainda e fazê-lo cair mais rápido.
     "- Onde você está?"
     - De pé em cima dele.
     "- Certo... vou pedir para Orion seguir a localização de seu visor e usar a guarda robô para evacuar o local de queda. Saia daí quando ele tiver a informação"
     - Se eu pular agora vou me machucar e muito, e nessa velocidade de queda não deverei sentir quase nada. Mas não há como evacuar o local nos poucos minutos que faltam.
     "- Temos que fazer o que podemos – ela podia sentir tristeza na sua voz."
     - Talvez a rainha possa...
     "- Se tem um general vindo para cá – cortou ela – precisaremos da rainha aqui."
     Apertou os lábios. Tinha que ter outra solução.
     - Espere... Serena! Peça para ela vir aqui. Ela pode me levar ao chão e ai poderei voar e tentar empurrar isso para o parque do lago.
     "- Vou pedir para ela – respondeu – boa sorte... sailor Terra"
     Porque o general teria ido até o castelo se com certeza sabia que a rainha devia estar lá? E o que foi mesmo que ele tinha dito antes? Não esperávamos que o legado das sailors lunares se manifestasse agora. O que ele quis dizer com isso?
     Enquanto aguardava sailor Moon chegar, percebeu o que tinha feito.
     Ela tinha enfrentado um dos generais...
     Ela não só estava viva, mas tinha cumprido com sua missão.
     Apesar de tudo, sentia-se satisfeita consigo mesma. E já fazia uma anotação mental: Dedicar-se a aprender com mais afinco luta corporal. Usar apenas força bruta não era a melhor opção em um combate.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Herança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.