Herança escrita por Janus


Capítulo 4
Capítulo 4




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     A cidade estava condenada. As explosões ocorriam em toda parte, praticamente impedindo que as cápsulas de fuga pudessem ser usadas. Os alarmes gritavam incessantemente, e só tinham seu som irritante abafado por uma explosão próxima. Ele olhou para cima e viu a Amazona estelar do Sol tentando manter as naves oponentes a distância. Ela já estava muito ferida, e não iria suportar por muito mais tempo.
     Seu pai já tinha perdido. Tinha-o visto ser engolido por uma explosão alguns minutos antes. Só tinha a sua mãe e seu irmão agora, ao menos, enquanto a cidade não caísse no planeta. Tinham que tentar impedir aquilo, nem que tivesse de explodir a cidade antes. Se ela caísse, tudo estaria acabado.
     - Atrás de você!
     Ele saltou e se esquivou dos dardos metálicos. Estes atingiram o chão sob os seus pés, e o despedaçaram, revelando o piso inferior, com várias pessoas correndo desesperadas para tentar escapar da cidade condenada. Ele se voltou para o oponente e, unindo as duas mãos em uma concha, comandou:
     - LABAREDA SOLAR!
     Um jato de plasma incandescente saiu de suas mãos, calcinando a criatura e mais dezenas de outras mais atrás. Seu irmão pulou para o seu lado, para deter outra criatura que tentava ataca-lo pelas costas. Ele retribuiu o favor, salvando-o de alguns destroços de edifícios que estavam caindo.
     - Crianças – chamou a Amazona Estelar do alto – fujam agora.
     - Não vamos deixar você! – gritaram de volta – ou vamos juntos, ou ninguém vai.
     - Desculpem crianças – disse ela com lágrimas nos olhos – mas meu tempo aqui acabou.
     Ela arrancou o broche que estava em seu peito e atirou na direção deles. Solaris o pegou, e olhou sem acreditar para ela.
     - Mãe... – murmurou ele.
     - Guarde até que minha sucessora apareça. Agora, VÃO!
     O cetro solar se materializou em suas mãos, e suas asas de fogo brilharam com grande intensidade. Logo em seguida, ele e seu irmão se viram envolvidos por um tipo de bolha, que os carregava para fora da cidade. Ambos tentaram rompe-la, sem sucesso. Nenhum deles tinha poder para superar a mãe.
     Sem ação, os dois viram ela ser agarrada pelas criaturas aladas, e cair lentamente em direção a cidade em chamas. A mesma cidade que, momentos depois, colidia com o planeta Klarta e causava uma explosão gigantesca. No meio das chamas, ambos tiveram a nítida sensação de ver seus pais, abraçados, se despedindo deles.
     Eles não disseram nada na hora. Mal repararam nas poucas cápsulas de fuga que tinham conseguido escapar da cidade condenada. Eles tinham perdido. Não só eles, mas todo aquele planeta. Milhões de seres mortos em uma guerra insana, cuja causa nunca foi descoberta. Quando estavam começando a verter algumas lágrimas, entre eles surgiu um forte brilho, e o cetro solar e lunar apareceram. Uma vez que seus donos estavam mortos, eles eram os herdeiros destes, a prova final de que, desta vez, eles nunca mais veriam seus pais novamente.
     - Não.. – murmurou ele soltando lágrimas – não... não pode ser... pai... mãe... NÃOOOOOO!
     - Querido! Acorde, por favor.
     Sohar abriu os olhos e viu sua esposa em cima dele, mostrando uma incrível preocupação. Ele piscou os olhos várias vezes, para confirmar onde estava. Era o quarto deles, dele e de sua esposa. Ele não estava na cidade dourada.
     - Você está bem?
     - Sim – respondeu lentamente – estou. Foi só um pesadel...
     - Pai! – gritou Allete abrindo a porta – ouvimos... opa!
     Suas três filhas estavam lá. provavelmente tinham acordado com o seu grito – o que quer dizer que deve ter sido bem alto e desesperado – elas tinham entrado no quarto sem bater, provavelmente pensando que alguma coisa tinha acontecido. Só que agora elas estavam... encabuladas?
     - Não é o que vocês estão pensando! – disse sua esposa de forma séria.
     Só então ele percebeu que ela estava ajoelhada em cima dele, com uma mão em seu rosto, tentando acalma-lo. Sem dúvida, quem visse a cena, iria pensar tudo, menos que ela estava preocupada com um grito desesperado dele.
     - Bom, se você diz...
     As três saíram do quarto, e ela voltou a olha-lo preocupada.
     - O que foi? Você nunca teve pesadelos antes.
     - Eu já tive sim – disse ele olhando para o teto – mas, já faz muito tempo que eles me deixam em paz – ele suspirou – eu sonhei com a morte de meus pais.
     Ela ficou em silêncio, obviamente imaginando que deveria ter sido uma experiência terrível.
     - Quer falar sobre isso?
     - Bem – ele sorriu – acho que a culpa foi da rainha, perguntando sobre o planeta Klarta. Eu disse que a cidade dourada caiu neste.
     - Sim, e destruiu toda a população.
     - É... mas eu não disse que eu estava nesta cidade.
     - Sério?
     - Eu era um adolescente então. As criaturas estavam atacando de todos os lados e conseguiram danificar os motores estabilizadores da cidade. Daí para ela cair no planeta foi rápido. Minha mãe me salvou, sacrificando a si própria no processo, me enviando para a Terra. Por muitos anos, tive pesadelos com isso. Acho que, com o que tive de lembrar hoje, os velhos fantasmas resolveram me fazer uma visita.
     Ela não disse nada, apenas se deitou ao seu lado e o abraçou, carinhosamente.
     - Lita... eu nunca te disse muito sobre o meu passado...
     - Eu nunca perguntei detalhes – disse ela – e não quero que você me conte sem que eu pergunte antes.
     - Não quer nem mesmo saber qual o grau de parentesco que eu tenho com a rainha?
     - Outro dia – ela sorriu – agora durma. Eu estarei aqui para protege-lo de seus fantasmas. Eu sempre estarei aqui...
     - Fô... – disse ele pegando no braço que ela tinha deixado em seu peito – eu... eu sou...
     - Quieto... – ela colocou o dedo em seus lábios – só vai contar quando eu perguntar. e eu não estou curiosa ainda. Agora, vá dormir.
     - Você sabe o que é um guerreiro estelar?
     - Apenas o que Amy e Anne andaram me contando – disse ela com voz sonolenta - Foram nossos antecessores na defesa deste sistema.
     - Eu fui um deles.
     Silêncio. Ela não disse nada, e ele ficou aguardando. Podia sentir que a respiração dela estava mais lenta, e que seu coração estava batendo um pouco mais forte. Alguns momentos depois, sentiu que a mão dela em seu peito estava sendo tencionada.
     - Qual... deles?
     Ele virou de lado para ela, para poder olha-la nos olhos.
     - Eu fui o cavaleiro estelar do Sol.
     Ela olhou para o lado, seu cenho ficou franzido por alguns instantes.
     - O mesmo que...
     - Sim – respondeu ele, com um fraco sorriso – o mesmo do qual as meninas viram uma estátua na Lua.
     Ela começou a sorrir. Logo depois, lhe deu um beijo.
     - O que foi?
     - Bem... eu gostei de saber isto de seu passado. Pelo menos, agora sei onde conseguiu seus poderes, e também agora tenho certeza de que não sou a única culpada de Joynah ter nascido assim.
     - É... acho que também tive minha participação nisto.
     - Vamos dormir... meu... cavaleiro.
     Eles se abraçaram e ficaram quietos, esperando o sono chegar. Sohar finalmente teve coragem de contar uma pequena parte de seu passado. Agora era esperar Anne continuar investigando sobre os guerreiros estelares para descobrir mais alguma coisa, pois Lita já tinha deixado claro que não era muito curiosa com isso.
     Meia hora depois, os dois já estavam dormindo.

 

-x-

 

     O Sol brilhava com força no dia seguinte a chegada da sailor "desaparecida", como os noticiários afirmavam. Para a irritação das sailors, agora, toda a cidade sabia do fato. E era bem possível também que os seus misteriosos inimigos, também o soubessem.
     - Bom dia Orion.
     - Bom dia, Zuninha...
     - O que... do que você me chamou?
     - De Zuninha... espero não ter cometido nenhuma gafe. Mas é que Setsuna apesar de ser bonito, é um tanto complicado de se falar. Tudo bem?
     Setsuna estava apática, olhando para ele da entrada do seu laboratório. Parecia em choque. Orion se levantou e foi até ela, pegando-a pelos ombros.
     - Setsuna?
     - Desculpe – disse ela gaguejando – é que... nada não. Nada mesmo.
     - Me pareceu que você viu um fantasma... foi o que eu disse?
     - Orion, você é um doce... continue assim e não insista, tá?
     - Tudo bem – disse ele dando de ombros e voltando a sua mesa cheia de parafernálias.
     - O que está inventando agora? E porque não atendeu os meus chamados desta semana?
     - Me desculpe, eu estava ocupado com um novo projeto... sabe como eu fico quando sinto que tenho um desafio. Estou criando uma nova geração de comunicadores para as sailors. Estes vão obedecer comandos mentais.
     - Interessante – disse ela casualmente – o que é isso?
     Era uma pequena caixa largada no canto da mesa, entre dezenas de peças eletrônicas e chips neurais. Chamava a atenção por parecer estar completa, sem nenhuma abertura ou pontas soltas, como as coisas ao redor. Ela o pegou e ficou olhando perto dos olhos.
     - Isso o que? – perguntou ele ainda concentrado em algo que tinha nas mãos.
     - Essa caixinha aqui... o que ela faz?
     - Ah... não mexa nisso. É um dispositivo de imobilização que estou fazendo para os guardas da cidade. O departamento de polícia me pediu para desenvolver algo menos doloroso que as algemas de força para deter os delinqüentes, já que a maioria destes ultimamente tem sido de adolescentes sem muita responsabilidade. Mas ainda há alguns problemas para resolver.
     - Orion... SOCORRO!
     Vários feixes luminosos saíram da caixa, envolvendo suas mãos, torso e pernas, e até a sua cabeça. Apertavam com força e não a deixavam se mover. Logo depois, ela perdeu o equilíbrio e estava caindo no chão. Teria quebrado o nariz se Orion não a segurasse.
     - Eu disse para não mexer. Acho que você anda muito com a nossa soberana...
     - Agora é tarde – disse ela com dificuldade. Até a sua mandíbula estava sendo apertada por aqueles fios de luz – TIRA ISSO DE MIM!
     - Bem... eu disse que ainda havia uns problemas...
     - Problemas? Essa coisa não sai?
     - Sai sim... só que... só daqui a quinze minutos...
     - Eu vou ficar aqui enrolada feito salsicha por quinze minutos?
     - Hum... sim. Que tal me contar o que veio fazer aqui enquanto isso?
     - Toda amarrada assim? Você está brincando.. Ai! está apertando mais!
     - Esse é um dos outros problemas...
     - Orion... me... tire... daqui!
     - Tá bom...
     Ele a deixou no chão e, respirando profundamente, pisou em cima da caixa que emitia aqueles fios de luz, esmagando-a. As fios de luz desapareceram imediatamente.
     - Por que não fez isso antes? – bufou ela.
     - Eu só tinha este protótipo. Agora... vou levar um mês para fazer outro...
     Ele estava visivelmente chateado. Setsuna, apesar de um pouco ultrajada pela experiência, ficou com pena dele. Ela tinha sido a culpada de mexer naquilo, mas tinha sido ele quem deixou a caixa largada por ai.
     - Desculpe – disse ela tocando a mão no seu ombro – que tal um jantar para compensar?
     - Com uma condição...
     - Qual?
     - Me diga porque ficou incomodada de eu tê-la chamado de Zuninha...
     De novo, ela sentiu um aperto dentro de seu peito. Não sabia como explicar para ele. Nem sabia se devia. Não estava pronta para falar de certos assuntos, em especial aquele. Apesar de já terem um tipo de relacionamento que durava já alguns anos, ela ainda se mantinha distante, usando aquilo mais como uma fuga do que como um objetivo. Sentia que ele sabia disto, e que estava respeitando. Mas não seria justo manter ilusões assim. Ele não merecia isso. Talvez fosse melhor pararem com tudo agora, enquanto iria doer menos.
     - Um... antigo namorado chegou a me chamar assim. Mas eu gostaria de esquece-lo, se não se importa.
     - Tudo bem... me perdoe.
     - Não... você não tinha como saber. Eu nunca tinha lhe contado isso. E... nem pretendia. Orion... talvez...
     - Se vai falar para darmos um tempo, eu vou te prensar na parede de novo. Ainda não sinto nenhuma necessidade de aumentarmos a nossa aproximação. Você tem sua vida, eu tenho a minha, e a gente sai de vez em quando. A não ser que já tenha encontrado um bom partido.
     - Você sabe que não...
     Porque ele tinha que ser tão compreensivo? Até parecia o Sohar.
     - Então, me diga. O que veio fazer na minha humilde casa de bagunça?
     - Queria que você estudasse aquela nave que sailor Saturno usou para chegar. Pode ser útil descobrirmos mais sobre ela.
     - Ela está no depósito do exército, não?
     - Sim. Sailor Vênus já cuidou para que você tenha autorização para entrar lá.
     - Tudo bem. Vou lá depois do almoço. E, quanto ao jantar... pode ser comida italiana?
     - Claro! As sete... na minha casa – terminou sussurrando.
    

-x-

 

     - Nada mal... impressionante, mesmo para uma sailor... bem, acho que vou ter que lhe dar alta hoje.
     - Que bom – disse Hotaru pegando as roupas que Michiru tinha lhe trazido – estou louca para esticar as pernas, e matar a saudade de como é bonito este lugar, e, principalmente, a minha casa.
     Elas estavam em um outro quarto, que Saturno usou para se transformar de volta ao normal. Sua recuperação realmente tinha sido muito rápida, uma vez que, assim que conseguiram tirar aquelas bactérias de seu corpo, este pode se recuperar sem problemas.
     - Preciso falar com a rainha Serena – disse ela enquanto se vestia – os generais são muito poderosos. Eu nunca consegui enfrentar mais de um ao mesmo tempo. E eles sempre enviam aqueles fantasmas negros para atrapalhar nossa concentração. Não viram mesmo nenhum deles?
     - Não – disse Netuno – apenas um grupo de seis a dez destes fantasmas... Eles não aparecem em locais muito povoados e quase sempre agem discretamente. Normalmente apenas achamos os buracos que eles deixam para trás.
     - Buracos?
     - Sim, sempre há um buraco claramente escavado por alguém que tem garras nos locais em que foi vista alguma atividade suspeita. No entanto, fora os fantasmas, nenhuma testemunha viu mais nada. O curioso é que os fantasmas raramente atacam as pessoas, caso elas estejam próximas. Apenas as assustam.
     - Que estranho... – murmurou ela – parece que não querem chamar a atenção. Mas... porque?
     - Talvez nos temam – respondeu Amy dando de ombros – temos dezesseis guerreiros poderosos defendendo este planeta, e, agora mais oito juniores que não ficam muito atrás.
     - "Juniores"?
     - As novas sailors e os cavaleiros de Marte – disse Netuno sorrindo – e ainda não contamos com os dois governantes, o rei e a rainha, que, são mais poderosos que todos nós juntos.
     - E eles aceitaram ser chamados assim?
     - Até uns dias atrás sim... agora querem ser chamadas de lunar senshi. Até que faz sentido, mas ainda precisam passar no torneio que a rainha estipulou, daqui há algumas semanas.
     - Bom, chega de conversa sobre trabalho – disse Amy – vá para casa relaxar um pouco. Agora que voltou ao normal, acho que aquele general que você mencionou não poderá fareja-la.
     Hotaru olhou estranhamente para Amy, como se ela tivesse mencionado algo que não deveria saber, o que a deixou preocupada.
     - Algum problema?
     - Sim... como sabe que ele podia me farejar?
     - Sohar disse isso – respondeu Netuno não entendendo o motivo de sua pergunta – ele conheceu a raça dele. Klartiano, não é?
     - Sim... – murmurou ela surpresa – mas... pelo que Torguer me disse, a raça dele está praticamente extinta desde antes de surgir o Reino da Terra... como Sohar podia saber disto?
     - Ele mencionou algo sobre uma cidade dourada... – Netuno percebeu o assombro de Hotaru – o que foi?
     - Nada... – disse ela ainda demonstrando surpresa – apenas que... nunca pensei que ele fosse tão velho assim.
     - Ele tem mais de três mil anos – disse Amy com um sorriso compreensivo.
     - A cidade dourada atingiu o planeta Klarta há seis mil anos atrás – comentou Hotaru a encarando, com uma estranha expressão determinada – a única maneira dele saber a respeito é ser descendente de um dos sobreviventes. A não ser que tenha mentido sobre sua real idade.
     - Olha... eu mentiria – disse Amy – depois dos quinhentos, eu fico sem jeito de mencionar minha real idade.
     - Pode ser – disse Hotaru sem muito convicção – pode ser...
     Segundo ela se lembrava do que Torguer tinha lhe dito, aquela tragédia em Klarta deixou apenas umas poucas dúzias de sobreviventes. E, pelo que ele sabia, apenas dois destes vieram parar na Terra. Os dois filhos dos soberanos da cidade. Se Sohar era descendente de um deles... então, Joynah deveria ser... não.. não faz sentido. Joynah foi escolhida para ser a sailor Terra. Se fosse herdeira daqueles soberanos, a estrela guia de seu poder deveria ser a Lua ou o Sol. Mas Serena já era a sailor Moon. Isso quer dizer que ela ainda poderia ser a sailor Sol... apesar de já ser escolhida para ser sailor Terra.
     Ou não?
     Talvez seja melhor descobrir mais sobre os poderes dela, antes de tomar decisões precipitadas.
     - Hotaru? – chamou Amy – está acordada?
     - Estou sim, me desculpe. Vamos! Vamos para casa, Michiru-mama! – disse sorrindo.


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