Eu sou louca. Definitivamente. Eu não sei como uma pessoa pode ser tão burra! Sabe, tem um ditado que se aplica perfeitamente agora: "Errar é humano, mas persistir no erro é burrice. " Como eu posso ainda querer ser amiga do Cebola ? Depois de tudo que um e outro fez, disse e agiu! O problema é que quando ele me propôs "Vamos ser amigos ? " eu não estava esperando nenhuma dessas palavras. Ai meu Deus. Da última vez que cometi esse erro nós acabamos desenrolando os fios da nossa amizade e transformando em outra coisa. E agora ? O que vamos fazer dessa vez ?

Resolvi ocupar minha cabeça com o meu encontro com o Felipe. Estava bastante animada, mas antes tive que olhar o meu guarda roupa já que não tinha a menor ideia do que usar. Nada. Quando havia sido a última vez que eu tinha feito compras ?

Só Deus sabe.

Resolvi pedir ajuda para alguém, mesmo que não tivesse feito nenhuma amiga intima e a Magali não estava aqui, então pensei em Karen. Afinal ela tinha sido a primeira pessoa que foi legal comigo quando cheguei na empresa. Karen estava tão animada quanto eu. Ela conhecia Felipe e sabia o quanto ele valia a pena ( em todos os sentidos ) , acho que foi uma boa ideia chamá-la. Pensei nisso até entrarmos na loja.

_ Meu Deus!! Você tem que experimentar todas essas roupas! -- ela disse animada--

Tudo bem, não foi uma boa ideia.

Sempre gostei de entrar em uma loja e experimentar e comprar. Mas quando eu já tinha uma roupa em mente. Detesto ficar enrolando e olhando toda a loja para no final comprar uma roupa ou não levar nada. Ridículo.

_ Ai este vai ficar perfeito! E...-- ela disse me empurrando mais uma roupa--

_ Karen...-- eu disse a interrompendo-- Eu sei que está fazendo isso de boa intenção mas não tenho tanto pique assim pra...

_ Ai meu Deus! -- ela também me interrompeu-- Você... Vai ter que vestir isso.

Olhei para o lado e vi um vestido vermelho justo e com decote na frente e atrás. Era um tomara que caia. E era perfeito. Concordei em vesti-lo e quando saí do provador o escândalo foi geral. Ela insistiu tanto que acabei levando. Foi nessa hora que senti falta da Magali. Ela poderia até fazer escândalo, mas só quando fosse a roupa perfeita. Antes disso seria só caretas.

A noite chegou e meu nervosismo aumentou. E se Felipe me levasse a um lugar chique de mais ? E se o vestido fosse chique de mais ? E se esse encontro não fosse o que eu pensei ? E se for mais perfeito do que imaginei ? Não sei o que pensar.

Quando já estava pronta, Felipe chegou as 19:00. Bem pontual. Eu iria abrir a porta, mas meu celular tocou.

_ Alô ? -- atendi mal humorada--

_ E aí ? Como está o encontro ?

_ Cebola ? O que... Por que você ta me ligando agora ?

_ Ué, para saber como está indo.

Eu podia sentir o seu sorriso. Ele estava querendo me deixar louca.

_ Olha, o Felipe acabou de chegar então não me incomodo se me ligar assim que o encontro acabar. Tchau!

Inacreditável!

_ Oi! -- eu disse sorrindo assim que abri a porta--

_ Oi...-- ele começou antes de ficar me olhando de cima a baixo-- Nossa! Você está... Linda!

_ Obrigada! -- eu disse rindo-- Vamos ?

_ Claro! -- ele disse pegando meu braço e envolvendo- o com o seu--

O encontro a cada segundo parecia mais perfeito! O restaurante era enorme e muito chique! No começo fiquei desconcertada, porém depois fui me sentindo mais a vontade. Ele era educado, divertido, engraçado e completamente sedutor. Eu estava gostando cada vez mais de ter aceitado sair com ele.

_ Sabe... Esse encontro está perfeito! -- eu disse sorrindo--

_ Que bom que está gostando, porque eu estou amando! Fala sério, você é engraçada, divertida e linda! -- ele disse fazendo gestos enquanto eu ria-- Por que esteve perdida por Nova York esse tempo todo ? -- ele perguntou de modo brincalhão --

_ Bom, pra ser sincera, estava esperando me encontrar. -- eu disse com o mesmo tom de brincadeira--

Eles sorriu satisfeito.

_ Mas e então... O que rola entre você e o Cebola ? -- ele me perguntou --

A pergunta foi tão repentina que fiquei sem reação com a sua mudança de assunto.

_ Q-que ? Eu e o Cebola ? Nada! Puf! De onde tirou isso ? -- eu disse fazendo gestos com a mão enquanto ria forçado --

_ Eu percebi o modo como ele te olha e como ele ficou quando te chamei pra sair.

Pronto. Essa é a hora em que eu vou ter que me abrir pra ele sobre o meu passado amoroso. Ninguém merece.

_ Olha, eu e o Cebola namoramos no passado mas será que da pra não falar dele agora ? -- eu disse passando a mão na testa de dor de cabeça. Só ele pra me dar essa porcaria!

_ Você quem manda! -- ele disse fazendo um sinal de rendimento com as mãos--

Pedi licença para o Felipe e disse que ia ao banheiro. Enquanto ia, ouvi um " psiu!". Ok, não deve ser comigo. "Psiu!" De novo eu ouvi! Olhei para todos os lados e não via ninguém. Fixei meu olhar em uma planta na porta do banheiro e quem eu vi ?

O Cebola. Sim, isso é um pesadelo.

_ O que você está fazendo aqui ? -- eu perguntei com raiva mas discretamente para ninguém ver essa cena.

_ Estou com a minha acompanhante, Daniela. -- ele disse se gabando.

_ Não, não está! Você está atrás de uma planta fazendo eu não sei o quê!! -- eu disse quase gritando de frustração--

_ Ata, isso. -- ele disse se fazendo de bobo-- É porque ela disse que tinha perdido o brinco e pediu pra mim procurar aqui. Olha! Achei! -- ele disse mostrando com tom vitorioso.

Bem, ele parecia estar falando a verdade. Mas não me convenceu ainda.

_ Sério ? E o que você está fazendo no mesmo restaurante que eu ? Na mesma hora, local e data.

_ Não podia querer ir aqui também ? Afinal, é um ótimo lugar. -- ele disse com um sorriso sarcástico--

_ Ora seu...-- eu disse começando a me irritar mas fui me acalmando aos poucos. --

Ele ficou sério de repente e começou a me encarar.

_ Eu quero que venha comigo! -- ele disse se levantando--

_ Como ? Aonde ? Por quê ? -- perguntei confusa--

_ Shiu! Vai estragar a surpresa! -- ele disse me conduzindo pela mão--

Fiquei calada até sairmos do restaurante. Não entendi porque eu estava indo com ele, porém algo me dizia que eu devia ir. Chegamos até o jardim do restaurante que era lindo e enorme. Havia várias luzes ao redor e uma fonte no meio. Era simplesmente lindo.

_ Nossa Cê! Que lindo! -- eu disse encantada--

Ele riu e olhou para mim.

_ Cê... Há muito tempo alguém não me chama assim.

Seu olhar parecia de uma criança carente e minha vontade de pular em seus braços tomou conta.

_ Por que me trouxe aqui ? -- perguntei sem pensar--

_ Esse jardim me faz lembrar aquela primeira vez que fomos ao parque.

Realmente fazia lembrar. E eu odiei isso por um segundo.

_ Quer dançar ? -- ele perguntou estendendo a mão--

Estava tocando uma música lenta e bonita.

_ Dançar ? -- perguntei descrente--

_ Anda logo! -- ele disse me puxando pela mão até os seus braços. Ele me envolveu em seus braços definidos e me colocou em cima dos seus pés já que eu era mais baixa que ele. Apoiei de vagar minha cabeça em seu ombro enquanto dançávamos lentamente. Podia sentir sua respiração de sintonia com a minha. Eu detesto admitir, mas poderia ficar daquele jeito pra sempre. Sempre e sempre. A realidade me acordou no entanto.

_ Cebola... Não acho justo nós... Deixarmos o Felipe e a Daniela esperando. Vamos. -- eu disse saindo dos seus braços e entrando no restaurante--

Ele veio atrás de mim sem dizer nada. Minha vontade era de dizer: Deixem eles! Que se foda o mundo! Vamos ser felizes! Porém a vida é outra. Nós terminamos por um motivo : não demos certo juntos. Por que daríamos agora ? Não quero repetir a dose de decepção.

_ Nossa! Você demorou! -- Felipe disse assim que me sentei-- Achei que havia pulado a janela do banheiro e me deixado sozinho aqui. -- seu tom brincalhão nunca saía.

_ Eu nunca faria isso. -- eu disse olhando em seus olhos azuis. O

lhei ao redor e não vi o Cebola. Talvez tivesse ido embora. Apesar de continuar conversando com Felipe, o Cê não me escapava da cabeça. Fechei os olhos e respirei fundo.

_ Felipe não quero que me ache ousada. -- eu disse nervosa--

_ Mas por que eu...

Eu o interrompi com um beijo. Sim, eu o beijei. Eu sei que isso foi errado, mas eu queria tirar o Cebola da minha cabeça e achei que o beijo poderia ser perfeito para isso. Droga! Ele beijava bem! Quando parei de beijá-lo ele sorriu, enquanto eu estava desconcertada.

_ Isso foi ótimo! E nem um pouco ousado. _

Foi bom mesmo. -- eu disse tentando parecer convincente --

Fomos embora do restaurante e Felipe fez questão de me deixar em casa, apesar de eu insistir que não precisava.

_ Obrigada. A noite foi perfeita! -- eu disse abrindo a porta do meu apartamento--

_ Foi sim. Precisamos repetir. E quem sabe...-- ele disse colocando os braços em volta da minha cintura-- Isso mais vezes.

Depois disso ele começou a me beijar de modo feroz. Eu poderia simplesmente empurrá-lo e dizer que não tava afim. Mas eu estava.

_ Vamos parar por aqui. Afinal hoje é o nosso primeiro encontro.

Ele foi embora me deixando completamente confusa. Por que eu deixei o beijo fluir ? Por que eu fui pro jardim com o Cê ? Aquilo foi real ? Tomei um banho quente tentando manter minhas ideias certas por um tempo. Após ter colocado meu pijama, fui dormir, pensando no Felipe. E o pior...

No Cê.