Os Cavaleiros do Tempo escrita por Goldfield
Capítulo Quinto
A morte de Cronos.
Amanhecia mais um dia nas terras gélidas de Plucto. James, Lisa e Wolfgang acordaram cedo e foram conversar com Cronos. A megatopiana usava o colar dado pelo filho de Gerald Grey.
– De pé tão cedo? – perguntou Cronos. – O que querem?
– Por que não saímos daqui um pouco? – perguntou Lisa. – O dia está tão lindo lá fora.
– E sairemos. Hoje coletaremos cristais.
– Onde? – perguntou James, curioso.
– Na Montanha Branca – respondeu o Mago do Tempo, apontando para uma alta montanha coberta de neve. – Lá coletaremos Griksu... Por falar nisso, cara Lisa, quem lhe deu esse colar?
– Foi um presente de uma pessoa muito especial – respondeu a megatopiana. – Por quê? Há algo errado?
– De modo algum. Eis um conselho: sempre use esse colar.
Lisa sorriu para James. Cronos, vendo isso, disse:
– Um presente de uma pessoa que lhe quer bem vale mais do que ouro. Mesmo se for a mais insignificante das coisas, o presenteado deve guardar o presente consigo, se possível, até o fim da vida, pois será uma forma de se lembrar dessa pessoa.
– Eu sei disso... – disse Lisa, sorrindo.
– Vamos! O caminho até a Montanha Branca é longo!
Enquanto isso, já na Montanha Branca, uma nave de transporte Skull Raider pousava dentro de uma caverna. De dentro dela saíram Clavícula, Set e mais doze soldados.
– É aqui? – perguntou o líder dos Skull Raiders.
– Sim – respondeu Set. – Vamos coletar os cristais.
Seguiram caverna adentro, e esta ficava cada vez mais escura conforme prosseguiam.
– Fale mais sobre o poder do Griksu! – pediu Clavícula a Set.
– São cristais esféricos do tamanho de uma uva, que, entrando em estado de fusão, se transformam num líquido branco. Da Vinci já projetou um canhão para podermos usar o poder dos cristais contra os planetas que não se renderem a nós.
– Poderemos mesmo encolher planetas?
– Sim, meu caro. Atingindo a atmosfera do planeta, o laser reduzirá este e tudo o que há nele ao tamanho que desejar.
– Há como reverter o processo?
– Creio que não, meu caro. Os próprios Magos do Tempo nunca conseguiram tal coisa. Mas podemos descobrir um jeito!
De repente, todo o ambiente foi iluminado por uma forte luz branca. Logo Clavícula percebeu que o fenômeno era provocado por uma parede de Griksu no final da caverna.
– Magnífico! – exclamou o líder dos Skull Raiders. – Os cristais brilham como uma estrela!
– Toda essa luminosidade é provocada pela radiação dos cristais – explicou Set. – Agora, vamos coletá-los!
O Mago do Tempo, Clavícula e os soldados começaram a pegar os cristais, colocando-os em sacos.
– Quantos cristais são necessários para o canhão? – perguntou Clavícula.
– Setenta ou oitenta – respondeu Set.
– Poderemos construir dezenas, até centenas de canhões e dominar o Universo!
– Sim, meu caro.
Em duas horas, Clavícula e seus homens coletaram milhares de cristais, e naquela caverna havia milhões.
– Por enquanto, só caberá na nave a quantidade de cristais que coletamos – disse Clavícula. – Vamos deixá-los na nave de comando e depois voltaremos para pegar mais.
– Vai deixar esta caverna desguarnecida? – perguntou Set.
– É claro que não. Oito homens ficarão aqui guardando os cristais.
– Também ficarei aqui – disse Set.
– Faça como quiser. Eu partirei com mais quatro soldados. Nos vemos em algumas horas.
Clavícula, após certificar-se de que todos os cristais coletados estavam na nave, partiu nesta com mais quatro soldados.
Cronos, James, Lisa e Wolfgang subiam pelas encostas da Montanha Branca, agasalhados e fatigados.
– Falta muito, amigo Cronos? – perguntou James.
– Antecipação é um mal, meu caro – respondeu o Mago do Tempo. – Apenas tenha paciência. Espere pelos acontecimentos. Você já entrou em combate alguma vez?
– Para falar a verdade, não – respondeu o filho de Gerald Grey. – Poderia ter salvado a vida de Pedro...
– Você não pode mudar o destino!
– Esse negócio de destino é besteira!
– O destino é o futuro, meu caro! Ele pode ser mudado a qualquer ação, mas, às vezes, nem um Mago do Tempo pode alterá-lo.
– E o presente?
– Não temos poder sobre ele. Apenas os seres vivos, com suas ações e decisões, podem escrevê-lo.
– Mas isso não se aplica também para o futuro?
– Pense e entenda. Reflita.
– Uma vez, Cérbero me disse que o passado não pode ser alterado – disse Wolfgang. – Pelo que vocês dizem, isso não é verdade.
– Há muito tempo atrás, no planeta Terra, existiam, entre as sociedades célticas, membros da Irmandade chamados Druidas – explicou Cronos.
– Os Druidas eram Magos do Tempo? – surpreendeu-se James.
– Sim, caro James Grey. Eles dominavam a arte da cura, da reflexão e da guerra.
– Da guerra?
– Sim. Eles auxiliaram os gauleses em muitas das batalhas contra os romanos, que, no mesmo período, seriam dominados pelos descendentes de Maximus Patrick.
– E o que os Druidas têm a ver com o que Wolfgang disse?
– Eles pertenciam a um grupo de membros da Irmandade que considerava o passado inalterável. Eles não o modificavam de modo algum.
– Sendo assim, quem está com a razão? Vocês ou eles?
– Nós, meu caro. O passado é alterável, mas nós não podemos modificar certas coisas...
– Como o quê?
– Não posso revelar tal coisa.
Nisso, os quatro aventureiros ganharam a entrada da caverna onde coletariam Griksu, mas Cronos, sentindo grande energia negativa dentro desta, não prosseguiu.
– O que está esperando, Cronos? – perguntou Lisa.
– Não entrem na caverna! – exclamou o Mago do Tempo.
– Por quê?
Antes que Cronos pudesse responder, os quatro foram atingidos por uma esfera de energia, sendo transportados para dentro da caverna.
– O que houve? – perguntou James, confuso.
– Olá, Cronos! – exclamou Set, rindo. – Não esperava uma recepção como esta?
Cronos e seus protegidos estavam cercados por Set e os oito soldados de Clavícula.
– Não vai conseguir o que quer, Set! – exclamou Cronos.
– Ah, é? – riu o traidor. – Vamos ver!
Set, com um gesto, fez Cronos levitar.
– Pare com isso! – exclamou Lisa.
– Você me irrita, embaixadora! – exclamou Set. – Mas será útil.
Com um outro gesto, o traidor fez com que Lisa aparecesse num canto da caverna, amarrada e amordaçada.
– Lisa! – exclamou James. – Desgraçado!
– Não me insulte! – exclamou Set. – Veja que destino aguarda Cronos!
Com um gesto, Set fez com que Cronos, voando, batesse a cabeça com toda a força contra uma das paredes da caverna.
– Desgraçado! – exclamou James.
– Seu protetor está morto! – exclamou Set. – Vamos embora!
Estalando os dedos, Set, Lisa e os soldados de Clavícula desapareceram.
James e Wolfgang foram socorrer Cronos, mas não podiam fazer nada: a cabeça do Mago do Tempo sangrava e seu coração não mais batia.
– Droga! – exclamou James, com lágrimas nos olhos. – Set vai pagar! Todos vão pagar!
– Acalme-se – disse Wolfgang. – Vamos até o refúgio informar o ocorrido. Leve o corpo de Cronos.
James, carregando o corpo de Cronos, saiu da caverna seguido por Wolfgang.
Na nave de comando Skull Raider, Clavícula conversava, em sua sala, com um oficial zamuriano:
– Como viu, o projeto não é nada mau – disse Clavícula. – E então?
– Poderemos mesmo encolher planetas com a arma principal da estação?
– Mas é claro! O Griksu é infalível!
– Vocês têm permissão do Imperador para construir essa arma na órbita de Zamuria. Nossas naves-caça protegerão a construção. Mas o Imperador também poderá usar a arma como bem entender!
– Claro. Sempre admirei o Império Zamuriano e suas conquistas. Uma aliança será a forma de nós conquistarmos a Galáxia. A partir de hoje, dividiremos com vocês as riquezas que pilharmos. Os Skull Raiders e os zamurianos, juntos, formarão o maior império que já existiu!
– Ótimo. Queira assinar aqui.
Clavícula, com uma pena, assinou a ata de aliança.
– Quero ver o poder do Griksu – disse o oficial zamuriano.
– Siga-me!
Os dois seguiram até uma espécie de laboratório onde Set, Da Vinci e mais seis soldados pareciam aguardar algo.
– Onde está nossa cobaia? – perguntou Clavícula.
– Já está chegando – respondeu Set.
Logo dois soldados entraram trazendo a embaixadora Lisa Werner.
– É a filha do Chanceler da República de Dutch! – surpreendeu-se o oficial zamuriano. – Como conseguiram capturá-la?
– É uma longa história... – respondeu Clavícula. – Tudo está pronto?
– Antes, queria lhe pedir uma coisa, Lorde Clavícula – disse Da Vinci.
– O que é?
– Já projetei a arma que tanto queria. Poderia me enviar de volta à minha época?
– O quê? – surpreendeu-se o líder dos Skull Raiders. – Ainda projetará muitas armas para mim!
– Mas...
– Que iniciemos a experiência!
– Adaptei esta pistola laser para o poder do Griksu – disse Set, entregando a arma a Clavícula. – Pode começar.
– Cara Lisa... – murmurou o tirano. – Nunca devia ter se tornado embaixadora...
– O que vai fazer comigo? – perguntou a megatopiana.
– Você vai ver...
Clavícula apontou a arma para Lisa, e, após um instante, puxou o gatilho. Um laser branco foi disparado pela pistola e, logo que atingiu Lisa, fez com que esta aparentemente desaparecesse.
– Ela desapareceu! – exclamou o oficial zamuriano.
– Não exatamente! – riu Clavícula. – Olhe para o chão!
De fato, no chão da sala, Lisa, reduzida a meros seis centímetros de altura, olhava, caída, para o alto, admirando os enormes inimigos.
Clavícula abaixou-se para pegá-la e a primeira atitude da megatopiana foi correr. Esta, porém, tropeçou numa fresta no chão e caiu, sendo, então, pega pela mão direita do líder dos Skull Raiders.
– Ponha-me no chão, seu monstro! – exclamou Lisa, na palma da mão de Clavícula.
– Esplêndido! – exclamou o oficial zamuriano.
– Com esse tamanho, você não poderá fugir! – riu Clavícula.
– Seu monstro! – gritou Lisa. – Ponha-me no chão!
O líder dos Skull Raiders colocou a megatopiana dentro de uma espécie de aquário vazio sobre uma mesa.
– Aí terá o oxigênio necessário para respirar e será alimentada com pó de pílulas de proteína, bebendo água – disse Clavícula, tampando o cativeiro. – Como podem ver, o poder do Griksu é imenso!
– Vocês terão proteção completa! – exclamou o oficial zamuriano. – Ajudaremos a construir a arma!
– Ótimo. Set, por favor, faça o favor de alimentar a embaixadora a cada duas horas.
– Certo.
Clavícula e o zamuriano deixaram a sala enquanto Da Vinci, desolado, observava Lisa, desesperada, bater nas paredes de vidro do cativeiro gritando “Tirem-me daqui!”, sem parar. Depois, a embaixadora sentou-se e, desnorteada, começou a chorar.
Enquanto isso, no refúgio da Irmandade em Plucto, James e Wolfgang explicavam o ocorrido a Malek:
– Cronos foi morto e Lisa foi capturada! – exclamou James. – Temos que fazer alguma coisa!
– Nós já sabemos – respondeu Malek. – E há mais notícias ruins!
– Quais?
– Os Skull Raiders se aliaram aos zamurianos e, com a ajuda de Set, logo iniciarão a construção da arma na órbita de Zamuria.
– E Lisa? Sabem alguma coisa?
– Infelizmente, não.
– Em quanto tempo a arma ficará pronta? – perguntou Wolfgang.
– Dois dias ou até menos. Teremos que atacar antes que possa ser usada. Com a frota zamuriana protegendo o alvo, precisaremos de mais combatentes, pois os Cavaleiros, apesar de fortes, não são invencíveis.
– E onde poderemos encontrar combatentes?
– Em Arcádia.
– Como?
– Quando Clavícula depôs o governo da Aliança Estelar no planeta, o Exército arcadiano dispersou-se por ele. Se ao menos pudéssemos encontrar esses soldados, teríamos grande chance de vitória.
– Eu e Wolfgang cuidaremos disso!
– Mesmo?
– Sim! Já estivemos duas vezes naquele planeta em poucos dias e já o conhecemos bem!
– Ótimo. Partam o mais rápido possível.
A nave de transporte pilotada por James Grey e Wolfgang pousou no centro da cidade arcadiana de Gomorra.
– Temos que encontrar os soldados do Exército arcadiano! – disse James. – Onde podemos começar a procurar?
– Talvez num hospital – respondeu Wolfgang. – Muitos desses soldados foram feridos durante a guerra contra os Skull Raiders.
– Mas isso foi há anos! Acha que eles ainda estão num hospital?
– Certamente. Algumas feridas de guerra levam anos para cicatrizar.
– OK. Vamos procurar no hospital desta cidade.
Os dois aventureiros entraram no Hospital de Gomorra: um prédio velho e maltratado. Os médicos não eram qualificados e a maioria das enfermeiras era de prostitutas que tiveram uma segunda chance na vida.
James e Wolfgang se aproximaram da recepcionista: uma zamuriana alta, de longos cabelos negros e corpo cheio de cicatrizes.
– A senhorita poderia nos informar se há soldados da Aliança Estelar neste hospital? – perguntou James.
– Quem quer saber? – perguntou, grosseiramente, a zamuriana.
– Bem... Nós...
– Respondam!
– Berta! – exclamou um arcadiano, se aproximando. – Para onde devo levar este soro?
– Para o quarto daquele globônio que foi atingido por um disparo laser – respondeu a recepcionista. – Creio que se chama Edgar.
– Em que quarto Edgar está? – perguntou James.
– Ala três, quarto vinte e dois.
– Muito obrigado.
O filho de Gerald Grey, acompanhado por Wolfgang, seguiu para o quarto onde Edgar, numa cama, se encontrava num estado de debilitação lamentável.
– Edgar! – exclamou James, se aproximando da cama. – Não nos reconhece?
– James e Wolfgang... – oscilou o globônio, confuso. – Onde está a jovem?
– Lisa foi capturada pelos Skull Raiders.
– Que coisa triste...
– Você tem que nos ajudar!
– Como?
– Há soldados do antigo governo da Aliança Estelar neste hospital?
– Sim, mas estão praticamente mortos... Por quê?
– Precisamos organizar uma força de combate – explicou Wolfgang.
– Conheço um homem chamado Jânio, que vive numa casa perto da cidade de Medina, a uns vinte e cinco quilômetros daqui... Ele foi o último Ministro da Defesa deste planeta durante o domínio da Aliança... Talvez possa ajudar vocês...
– Onde exatamente fica essa casa? – perguntou James.
– Num oásis, ao lado de uma hospedaria, com os muros de Medina à vista...
– OK. Obrigado.
Os dois saíram do hospital. Wolfgang perguntou:
– Vamos procurar esse tal Jânio?
– Sim. Vamos pegar uma lotação e seguir até a casa dele.
Continua...
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