Os Cavaleiros do Tempo escrita por Goldfield
Capítulo Quarto
A busca pelos heróis.
Naquela manhã, James Grey acordou entusiasmado. Saiu do dormitório e foi procurar Cronos, com quem queria muito conversar.
O Mago do Tempo estava numa sala de formato triangular, com uma espécie de trono no centro. James entrou e, após admirar o ambiente, perguntou:
– O que fazem nesta sala?
– Invocamos espíritos – respondeu Cronos. – Aqui invocaremos Yuk.
– Como?
Cronos, usando seus poderes, acendeu três tochas que se encontravam nas extremidades da sala. Depois, sentou-se no trono e começou a pronunciar palavras em uma misteriosa língua.
Logo uma densa fumaça tomou conta do ambiente, fazendo com que James tossisse. Súbito, surge do chão um homenzinho magro, rude e sorridente.
– O que quer, Cronos? – perguntou o homenzinho, voando ao redor do trono. – Quer saber onde estão os Cavaleiros?
– Sim, Yuk – respondeu Cronos, levantando-se. – Como sempre, quero saber tal coisa.
– Quem é o terráqueo? – perguntou Yuk, se aproximando de James. – É algum aprendiz de feiticeiro?
– Ele é o único que pode derrotar Clavícula – explicou Cronos. – É lógico que, como sempre, você não acredita em nada do que digo.
– Bem, se você quer saber onde estão os Cavaleiros, terá que me dar dez mil carpos. E aí, como fico nessa história?
– Eu tenho o dinheiro.
Yuk veio ao chão com tal resposta.
– Você tem os carpos? – surpreendeu-se o espírito, recuperando-se da queda.
– Estão ali – respondeu Cronos, apontando para uma pilha de sacos ao lado da entrada da sala. – Pegue o que quiser e me revele o seu segredo.
– Como quiser, chapa!
Segurando os sacos, Yuk revelou:
– Os Cavaleiros estão refugiados no Vale da Caveira, em Arcádia, desde o fim da Guerra dos Guardiões. Os encontrará se procurar dentro da caverna mais escura. Satisfeito?
– Obrigado, Yuk.
O homenzinho rodopiou no ar e desapareceu.
– Vamos para Arcádia? – perguntou James.
– Acorde seus amigos e arrume suas coisas – disse Cronos. – Partiremos em uma hora.
Uma espécie de aeronave espacial invisível cruzava os céus daquela bela tarde arcadiana: o céu estava azul e não havia quase nenhuma nuvem.
Após cruzar a Garganta do Crânio, a estranha nave invisível ganhou o Vale da Caveira, pousando na frente de uma escura caverna.
De repente, a nave tornou-se visível e de dentro dela saíram James Grey, Lisa Werner, Wolfgang e Cronos.
– Aqui estamos! – exclamou o Mago do Tempo. – E pensar que os Cavaleiros estavam bem debaixo do nosso nariz o tempo todo.
– Que ironia... – murmurou James. – Os próprios Magos do Tempo demoraram milênios para encontrar uma simples caverna neste desértico planeta...
– Não subestime nosso poder, James Grey... – murmurou Cronos, entrando na caverna.
A caverna era escura como breu. Se não fosse uma tocha acendida por Cronos, os quatro aventureiros não enxergariam nada. De repente, Lisa, assustada, gritou:
– Vejam!
Cronos iluminou um dos cantos da caverna, onde havia vários esqueletos humanos.
– O que houve aqui? – perguntou Lisa, recompondo-se do susto.
– Há dez anos, quando Clavícula depôs o governo da Aliança Estelar neste planeta, os Skull Raiders executaram vários opositores nesta região – explicou Wolfgang. – Estes devem ter sido fuzilados.
– Deus...
A marcha prosseguiu, cada vez mais lenta. As sombras dos quatro desenhavam horríveis criaturas nas paredes da caverna, que mexiam com a imaginação daqueles aventureiros.
– Quando tudo isto acabar, escreverei um livro! – disse Lisa.
– Ah, é? – perguntou James. – E como se chamará?
– “A Embaixadora Aventureira”.
– Interessante.
Os dois riram, enquanto Cronos, como se estivesse hipnotizado, continuava iluminando o caminho.
Súbito, os quatro aventureiros depararam-se com um jovem soldado que usava uma antiga armadura e empunhava uma enferrujada espada.
– Quem são vocês? – perguntou o guerreiro. – O que querem aqui?
– Viemos em paz – disse Cronos. – Sou um Mago do Tempo e estes são os meus protegidos.
– Um Mago do Tempo? – surpreendeu-se o jovem.
– Sim, meu caro Aníbal. Você sempre protege o resto do grupo... Não nos vemos há mais de três mil anos.
– É verdade! Yuk lhes revelou a localização de nosso refúgio?
– Sim, em troca de dez mil carpos. Até que ele é um bom negociador.
– Sigam-me!
Os aventureiros seguiram Aníbal até uma ampla caverna onde havia várias plataformas pelas quais, atarefados, circulavam vários Cavaleiros do Tempo. Dentro de uma espécie de hangar estavam estacionadas várias estranhas naves-caça.
– Onde está Alexandre? – perguntou Cronos.
– Está treinando combate corpo-a-corpo – respondeu Aníbal. – Nunca deixamos de nos preparar para uma eventual guerra.
– E agora haverá uma mesmo! – exclamou James.
– Como assim?
– Já ouviram falar dos Skull Raiders? – perguntou Cronos.
– Sim. Eles são os inimigos?
– Exatamente, e Set, o traidor, está do lado deles.
– Oh, Ser Supremo...
– Ora, Aníbal! – exclamou um Cavaleiro de meia-idade, em cima de uma plataforma. – Por que não me informou que temos visitantes?
– O senhor sempre diz que não gosta que lhe perturbem durante o treinamento.
– Mas neste caso é diferente! Ouvi tudo daqui de cima!
Num pulo, o Cavaleiro ganhou a plataforma em que Cronos e os outros se encontravam.
– Alexandre – disse Cronos. – Há quanto tempo...
– De fato, já faz muito tempo desde a Guerra dos Guardiões...
– Por que passaram tanto tempo escondidos? – perguntou Lisa.
– Temos medo...
– Medo do quê? – surpreendeu-se James. – Vocês são tão poderosos!
– Temos medo dos seres maldosos da Galáxia, meu caro! Cronos deve ter dito a vocês que a energia negativa pode destruir os Cavaleiros!
– Ele não nos disse isso... – murmurou James.
– Você não muda, Alexandre! – exclamou Cronos. – Sempre revelando os segredos da Irmandade...
– Eu e minha grande boca! – exclamou o líder dos Cavaleiros do Tempo. – Perdoe a minha gafe.
– Está perdoado, Alexandre Asturiano.
– Estourou uma guerra entre vocês e os Skull Raiders?
– Ainda não, mas isso acontecerá em questão de dias. Clavícula, com a ajuda de Set e um sábio que raptou, construirá um poderoso engenho bélico que permitirá a conquista de toda a Galáxia, além da...
– Além da?
– Reunião dos Cristais dos Elementos!
– Meu Ser Supremo! Isso é muito grave!
– Por isso precisamos da ajuda de vocês. Juntos, poderemos vencer Clavícula e evitar a destruição do Universo!
– Conte conosco, caro Cronos! Vou preparar as tropas!
– Em quanto tempo estarão prontos para uma ofensiva?
– Dê-nos três dias.
– Certo. Estaremos esperando.
– Seus protegidos não querem conhecer o refúgio?
– Seria muito interessante, senhor Alexandre – disse Lisa.
– Ótimo. Sigam-me. E você, Aníbal, volte para o seu posto.
– Sim senhor! – disse o Cavaleiro, retirando-se.
Alexandre, Cronos e os três protegidos seguiram até o fim da plataforma, onde, através de um elevador, ganharam o hangar onde estavam as naves-caça. James, olhando para o líder dos Cavaleiros, percebeu que este tinha uma horrível cicatriz na nuca.
– Essa cicatriz é uma marca da guerra? – perguntou o filho de Gerald Grey.
– Sim, meu caro – respondeu Alexandre. – É uma marca da única batalha que perdemos...
– E por que perderam essa batalha?
– Um Cavaleiro nunca deve amar uma mulher... Principalmente uma sacerdotisa...
– Cale-se, Alexandre – disse Cronos, sorrindo. – Vai acabar falando demais...
Wolfgang, que conhecia engenhos bélicos como ninguém, nunca havia visto naves-caça como aquelas: eram pequenas, aparentemente rápidas e possuíam apenas um canhão laser como arma.
– Como essas naves funcionam? – perguntou o lobisomem.
– Usam cristais como combustível – explicou Alexandre. – Elas assemelham-se muito aos Sabres que vocês usam.
– São muito mais fortes do que as Tíbias – disse Cronos. – Costumavam ser construídas em Andrômeda, no planeta Barsus.
– Roxana gostava de andar numa dessas! – disse Alexandre.
– Quem é Roxana? – perguntou Lisa.
Cronos franziu as sobrancelhas para Alexandre, que, sem outra opção, respondeu:
– Roxana é o nome da sacerdotisa de Andrômeda que conheci durante a guerra.
– E por que se separaram?
– Ela fugiu com um soldado de Háspedes... Ainda penso nela todos os dias...
– Cale-se, Alexandre Asturiano! – disse Cronos em tom severo.
– Mudando de assunto, vou lhes mostrar o centro de treinamento!
Os cinco seguiram até uma espécie de quartel subterrâneo onde vários jovens treinavam as mais variadas técnicas de combate.
– Um dia eles estarão lutando contra as forças do mal – disse Alexandre. – Antes, precisam aprender todas as nossas técnicas e táticas de combate.
– A Espada de Astor é a arma mais poderosa que existe – disse Cronos.
– Depois da Excalibur! – exclamou Alexandre.
– Alexandre Asturiano, se não quiser ter a língua arrancada, é melhor parar de falar! – exclamou Cronos, arregalando os olhos.
– Está bem...
– Como os Cavaleiros são treinados? – perguntou James.
– São cem anos de treinamento, o que não é nada perto dos milhares de anos que nós vivemos – explicou Alexandre. – Esse período é dividido em quatro menores, de vinte e cinco. Para cada um há uma arma específica.
– O treinamento é difícil – disse Cronos. – Alguns levaram mais de quinhentos anos para se tornarem vigias!
– Querem conhecer o hospital? – perguntou Alexandre.
– Não sei... – murmurou Lisa. – Nunca gostei de visitar doentes...
– Será muito interessante – disse Cronos. – Conhecerão nossos métodos de cura.
– Está bem.
Os cinco subiram num elevador até o hospital, uma espécie de grande dormitório.
– Nós somos vulneráveis às mesmas doenças que qualquer ser está sujeito a pegar – explicou Cronos. – Somos atacados por vírus, bactérias e fungos.
– O que é isto? – exclamou Lisa, assustada. – Um esqueleto!
De fato, havia numa cama um esqueleto humano.
– Pobre Akun... – murmurou Alexandre. – Não resistiu...
– O que ele tinha? – perguntou James.
– Ele desenvolveu o vírus “H” – respondeu Cronos.
– Vírus “H”?
– É a conhecida “praga do espaço”. Durante a Guerra dos Guardiões, Háspedes construiu num planeta da galáxia de Tarso uma grande fábrica de armamentos. Lá ele desenvolveu devastadoras armas biológicas. O vírus “H” é uma delas. O agente causador destrói as células do corpo e se reproduz rapidamente. Aos poucos, os órgãos, tecidos e sistemas são “devorados”, ou seja, desaparecem. No final resta apenas a estrutura óssea, pois Háspedes, eterno sádico, queria que as carcaças de seus inimigos ficassem no campo de batalha.
– Então é um vírus que destrói todas as células do corpo?
– Exatamente. Após a guerra, o vírus se dispersou pelas quatro galáxias principais e atacou alguns pobres infelizes como Akun.
– Existe cura? – perguntou Wolfgang.
– Até hoje, nós conseguimos apenas retardar a ação do vírus por um curto período de tempo, o que é inútil.
– Compreendo...
– E estes cristais? – perguntou Lisa, se aproximando de uma balança repleta de brilhantes cristais esféricos do tamanho de uma uva.
– Griksu – respondeu Cronos. – Usamos para tratar tumores.
– Interessante.
James, sem que os outros percebessem, apanhou um dos cristais e o escondeu num dos bolsos da calça.
– Já vamos indo – disse Cronos. – Prepare suas tropas, Alexandre.
– Pode deixar! – exclamou o Cavaleiro.
– Vamos.
Pouco depois, Cronos e seus três protegidos deixavam Arcádia.
Naquela noite, no refúgio da Irmandade em Plucto, Lisa e Wolfgang conversavam no dormitório:
– Onde estará James? – perguntou a megatopiana. – Não o vejo desde que chegamos.
– Aí vem ele!
James entrou com um embrulho nas mãos.
– Para quem é esse presente? – perguntou Lisa.
– Para você! – respondeu James.
– Para mim?
– Hoje, na Terra, os cristãos comemoram a véspera de Natal. Nessa data costuma-se presentear os entes queridos. Como os meus morreram ou estão desaparecidos, resolvi presentear uma pessoa especial: você.
– Obrigada – disse Lisa, sorrindo. – Você é muito gentil!
– Abra!
Lisa abriu o embrulho e de dentro dele retirou um lindo colar com o cristal que James pegara no refúgio dos Cavaleiros em Arcádia.
– Griksu! – disse Lisa. – É lindo!
– Foi tudo o que arranjei – disse James. – Passei a tarde inteira na oficina fazendo esse colar.
– Obrigada! – agradeceu a megatopiana. – Você também é especial para mim!
E, colocando o colar no pescoço, beijou-lhe o rosto.
Enquanto isso, na nave de comando Skull Raider, um dos generais de Clavícula informou-lhe:
– Já temos um projeto!
– Ótimo – disse o líder dos Skull Raiders. – Onde está?
– Aqui – respondeu o general, lhe entregando algumas folhas de papel. – Pelo que vi, me parece uma boa arma.
Clavícula examinou o projeto e concordou com um gesto.
– Amanhã cedo coletaremos os cristais em Plucto – disse o líder dos Skull Raiders. – Onde está Set?
– Conversando com Da Vinci.
– Ótimo. Prepare uma nave de transporte.
– Sim, senhor.
O general retirou-se, enquanto Clavícula examinava novamente o projeto.
Continua...
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