A hora do jogo tinha chegado mais rápido do que eu queria, se eu pudesse postar um vídeo fazendo os aquecimentos dentro do quarto, o YouTube teria um novo recorde de audiência. Quase que eu quebrei o abajur da escrivaninha e quase ganho 7 anos de azar ao quase quebrar o espelho, como se fosse fazer diferença...

Quando estava indo para o carro uma mensagem chegou:

"RoPaz: Leva a câmera? Preciso ver o desastre..."

Essa era boa, além de pagar mico, eu teria que pagar mico na frente do cara que eu gosto? Hera, me dê forças...

A quadra da competição era enorme, e logo que cheguei "meus" parceiros vieram me cumprimentar, algo como: "Boa sorte" ou "Cuidado com o saque" ou até mesmo "Contamos com você!".

O clima parecia pelo menos agradável, poderia chover a qualquer hora...

Posicionei a câmera com um bom ângulo de visão, e fiz uma nota mental para que no meio da partida eu passasse bem longe dela.

1º set: Sem comentários, eu escorreguei uma 3 vezes, mas como o corpo dele é resistente, acho que não ficará marcas. Marquei pontos? Não, quase acertei o bandeirinha (ou o que quer que ele seja) se é o que quer saber... Meu time está ganhando? Digamos que está empate...

O técnico me abordou para saber o motivo dessa distração toda, não era possível que alguém tão bom quanto Rodrigo fizesse uma palhaçada daquelas! Mal sabe ele que aqui dentro habita uma garotinha...

2º set: Perfeito! O toró começou do lado de fora, a Marina está torcendo feito uma louca, o técnico está me xingando, e tem uma goteira na quadra. Essa palhaçada não acaba mais nunca? Acho que o ser Divino lá em cima não percebeu que não tem como eu ficar boa nisso! Cadê aquele raio que me atingiu no começo da história?

No intervalo eu meio que fui engolida de reclamações de todas as pessoas que Rodrigo provavelmente conheça. Vou ter que informá-lo sobre o fato de ninguém mais querer conversar com ele...

Se eu estava achando que o dia não tinha como piorar eu me enganei. Saindo do vestiário uma pequena garota loira estava me esperando. Marina.

– Amor... O que ouve? Você não é assim! A gente precisa ganhar!

– Olha, eu não estou bem hoje, e corta essa de papo furado, não se ligou que eu já te dei um fora antes?

– Falando sério agora. Ou você arranja um jeito de ganhar essa merda de jogo, ou eu vou espalhar as coisas de quando a gente estava juntos.

– Que seriam...? Se esqueceu que você me traiu?

– Se esqueceu que ninguém sabe disso? E do jeito que você é, mudar a história a meu favor vai ser moleza. Principalmente se comentarmos que seu "brinquedo" é muito pequeno. Fica a dica, ok?

Vadia! Safada! Cachorra! Puta que pariu! Estou ferrada!

São Longuinho, São Longuinho, se o senhor me ajudar a ganhar esse jogo dou 1000 pulinhos!

Tá certo, eu sei que São Longuinho não vai ajudar, mas não custa tentar...

3º set: Isso! Maravilha! Obrigada Senhor! Por mais que eu queira expressar minha alegria, essas linhas não dariam conta do recado. Gostaria de dizer que ganhei poderes mágicos, e comecei a jogar como uma profissional da seleção, mas a realidade é melhor. Faltou luz! Isso mesmo! A energia caiu e o jogo foi adiado!

Sei que eu passei o caminho de volta para casa agradecendo com tudo que eu podia para os céus. O jogo tinha sido adiado para o fim de semana seguinte, e como prometido, quando cheguei em casa comecei a dar os pulhinhos feito uma louca...

Liguei o Skype, ligamos a câmera:

– Como foi o jogo?

– Adivinha?

– Ganhamos?! É sério?! Você é foda!

– Hm... Quase lá. A luz caiu, o jogo foi adiado. É quase a mesma coisa, fique feliz...

– Meu Deus! Vai ser sortuda em outro canto... De qualquer jeito eu sabia que ia dar certo. Parabéns.

– Obrigada, eu sei que meu anjinho da guarda está me protegendo...

– Você já informou para seu anjo que mudou de corpo? Acho que não... Era o MEU anjinho da guarda que estava te protegendo...

Eu virei instantaneamente, eu adorava quando ele dava um de protetor, pena que não dura muito tempo, ele sempre muda para o modo ofensivo.

– Cadê a filmagem?

– Tem certeza que quer ver?

– Claro! Não tem como ser tão ruim assim...

Ele quase me deu tiro quando viu! Ele estava estupefato enquanto olhava a gravação.

– Mano! Como você pode ser tão ruim? Tá de brincadeira com minha cara, só pode! Sabe quantos anos eu jogo vôlei? 7 anos! Você não podia simplesmente chegar lá e foder com minha reputação!

– Me desculpa! O meu forte é natação, esqueceu ou quer que eu soletre? N-A-T-A-Ç-Ã-O!

– Foda-se se você faz natação, até minha vó tem mais agilidade do que isso, e olha que ela é uma senhora de 90 anos! Querida, em dois tempos você caiu exatas 6 vezes. É um recorde! Meu corpo deve estar todo quebrado, acho que vou quebrar o seu aqui também para compensar...

– Calma! Você não estuda biologia não? Seu corpo está acostumado com a dor, então aquete o facho.

– Sim, meu bem, eu estou acostumado com a dor, não com tortura!

– Ok, tá esquece. Eu estive pensando quando a gente voltava...

– O que é que a santa sapiência estava pensando?

– Olha o palavreado! Bem, eu estava pensando se não tinha como a gente pegar um avião, se encontrar e acabar com tudo isso...

– Veja bem, ter até que tem, mas se eu não me engano, ou melhor, tenho certeza que tava um toró. E hoje foi o último dia da temporada de chuvas ai em São Paulo, o que fazemos?

– Nossa, tinha esquecido desse detalhe. Vamos procurar no Google então o local que esteja chovendo o tempo todo...

– Hello... Esse lugar se chama Amazônia, querida...

– Beleza então, está disposto a pagar 3000 reais de passagem? Ou melhor, claro que está, eu estou com seu cartão!

– E eu estou com o seu, pronto.

– Não tem lugar melhor não? Se eu não me engano, Poço de Caldas - MG também chove razoavelmente, ano passado na competição estava um clima agradável.

– Qualquer local que chova mais do que 0 milímetros de água por dia é agradável. Sua cidade é um inferno!

– Obrigada pela parte que me toca, mas Petrolina é ótima. Agradeça que pelo menos você tem um rio para ver, aqui eu só vejo poeira e fumaça o tempo todo...

– Beleza, vamos parar de nos comer por palavras, vamos nos comer de um jeito melhor...

Meu coração não aguentou o peripaque, eu não acredito naquilo que meus ouvidos estavam ouvindo. Não sei se eu sorrio ou se eu choro pela palavra de baixo escalão que vulgarmente ele me disse, falar sexo doía?

– Entenda, não sei se seu "brinquedinho" caberia em mim...

– Mano! Eu não acredito que você está entrando na onda! Vai se tratar, sua tarada virjona.

Eu não acredito que por apenas 1 segundo eu realmente acreditei que ele me queria, é óbvio que não! Estúpida!

– Então tá, procure quando vai chover bastante lá, compre as passagens e me avise. Tchau.

Não esperei ele responder, desliguei. Estava com muita vergonha, poxa vida, ele era o cara que eu queria/quero. Brincar com os sentimentos de uma garota não é legal.

Só espero que amanhã seja um bom dia...