Duas, três, quatro semanas. Estava vivendo no automático, tanto que nem percebi o quanto havia emagrecido e que meus pais estavam de volta de viagem. Estava me cortando com mais frequência e ficando mais descuidada. 

Isso foi até ontem de manhã na escola. 

Eu estava sentada no banco da praça da escola quando Daniel se sentou ao meu lado. Fingi que não vi, continuei lendo meu livro. Na verdade, eu realmente continuei lendo meu livro. Carlos Ruiz Zafón é um ótimo escritor e A Sombra Do Vento realmente prendeu minha atenção. 

Ouvi um suspiro desanimado de Daniel ao meu lado, e com isso ele se levantou mas deixou um envelope no banco. Li meu nome no envelope bege. Relutante, peguei-o e guardei na mochila. Prometi a mim mesma que não leria, mas sabia que não iria resistir e acabaria lendo antes do fim do dia. 

E, infelizmente, foi o que fiz. 

Na carta ele dizia:

"Esther. Sinto muito pelo que a fiz passar; nunca foi minha intenção magoá-la. Desde o primeiro dia em que te vi te achei linda. Comentei de você com uns amigos e eles me fizeram apostar... Quer dizer, não fizeram, eu apenas aceitei a aposta. Não te conhecia, que mal teria? Bom, mal saba eu que todo o mal. 

"Enfim, só queria te pedir perdão. E não precisa me desculpar, eu sei que não mereço. Prometo não te perturbar novamente. -D."

Amassei a carta e fui atrás dele. 

Daniel estava em uma das mesas da cantina com alguns amigos. Eu o puxei pelo braço e joguei a carta amassada nele. 

- Não preciso das suas desculpas falsas. - eu disse. 

- Esther, vamos conversar? Aqui na frente de todo mundo não fica legal e... 

- Não fica legal? - eu o interrompi - Não fica legal você me beijar na frente de todo mundo, depois me tratar feito uma idiota e depois de um mês vir me pedir desculpa. Não é legal você tratar uma garota como lixo, sem nem querer saber dela depois... Você me deu meu primeiro beijo... - essa última parte foi quase inaldível. 

Ele olhou para mim e sorriu. 

- Seu primeiro beijo foi aquele?

- Sim, e não me olha com essa cara. Sim, eu tenho 17 anos e só beijei uma vez na vida toda.

- Desculpa... - ele disse, e parecia bem arrependido. 

- Agora já é muito tarde... - e fui para a sala enquanto o sino tocava.