Não quero falar sobre o que aconteceu no jardim da escola. Prefiro esquecer aquele garoto. Porque? Bom, apenas porque ele me beijou na frente da escola toda e gritou: "Pronto, cumpri a aposta idiota. Cadê meu dinheiro?"

Eu fiquei vermelha, mas dessa vez não era de vergonha, era de raiva. Dei um tapa na cara dele e fui embora, correndo, sem nem olhar para trás. Corri até chegar em casa. Para a minha sorte ela fica apenas 3 quadras do colégio e com isso matei apenas o último horário, que era de história geral. 

Peguei a chave na mochila, tremendo. Nunca me senti tão humilhada como estava me sentindo naquele momento. Abri a porta e a fechei em silêncio. Fui para meu quarto e ali fiquei até o dia seguinte. 

Nunca chorei tanto na minha vida toda. Eu tinha 17 anos e nunca tinha beijado ninguém. Agora, meu primeiro beijo havia se tornado uma piada. Grande porcaria. 

Já às cinco da manhã os raios de sol passavam pela minha janela. Depois de horas rolando na cama, ainda de uniforme, peguei meu velho amigo na cômoda e olhei para meu braço. Minhas duas marcas já estavam quase sumindo, no mesmo tom da pele. Investi o estilete contra a pele e me senti melhor. Tomei meus precauções para que ninguém visse, como sempre, porque ninguém nunca vê minhas coisas.

 Tomei um banho e já estava me preparando para dormir, mesmo que de manhã cedo. "Que bom que hoje é sexta", pensei. Mamãe e papai estavam viajando, então eu estava sozinha em casa. Eles não saberiam que eu havia faltado aula. 

Sábado de manhã me levantei da cama num pulo e fui preparar meu café da manhã. Senti falta da companhia de meus pais, mas ainda assim, era melhor que eles estivessem viajando e aproveitando o pouco tempo que tem juntos. 

Dormi o dia todo. E no domingo também. Chorei segunda-feira, porque tinha que ir para a escola. Chorei muito e nem me importei em limpar as lágrimas. Estava cansada demais para isso.