Resident Evil: Experimento X escrita por Goldfield


Capítulo 2
Capítulos 4 a 6




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Capítulo 4

Problemas para a Umbrella.

O helicóptero tocou o chão, enquanto mais homens armados e outros usando jaleco saíam de dentro do elevador que levava ao laboratório, entre eles Bison.

–         Lá está o desgraçado! – exclamou Guile, observando seu inimigo por uma das janelas da aeronave.

Hunk, que comandava as tropas da segurança, se aproximou do helicóptero, exclamando:

–         O que faz aqui, Menezes?

–         Bem, eu... – oscilou o piloto, inseguro.

Guile, Nash e Barry estavam escondidos atrás de uma caixa de madeira no helicóptero. Hunk, aparentando impaciência, disse:

–         Bem, já que está aqui, leve o senhor Bison para Manaus! Houve contratempos e será melhor que ele fique lá por algum tempo até pegarmos a criatura...

–         Eu ficarei aqui! – exclamou Bison, sempre frio e sinistro. – Confesso que a demonstração de força do experimento me satisfez enormemente! Quero participar de qualquer operação para capturá-lo!

Hunk tirou sua máscara, revelando um rosto intimidador. Após encarar Menezes por alguns instantes, o chefe da segurança exclamou:

–         Vamos, saia daqui! Você está atrapalhando!

Sem opção, Diego ligou o motor do helicóptero. A aeronave decolou pouco depois, enquanto Deller e Vincent também chegavam ao lado de fora.

–         Ele fugiu? – perguntou o chefe de pesquisas.

–         Receio que sim... – murmurou Wesker.

–         Droga! Hunk, venha até aqui!

Hunk se aproximou, junto com alguns de seus comandados.

–         Quero que contate o quartel-general e solicite reforços! Precisamos isolar rapidamente a área se quisermos reaver nossa cobaia! Faça isso o mais rápido possível e me encontre em minha sala!

–         Sim senhor!

–         Quanto a vocês, Wesker e Vincent, quero que descubram o que deu errado durante a experiência!

–         OK! – respondeu Wesker, ajeitando os óculos escuros.

Deller voltou para dentro junto com Bison, que sorria com grande satisfação, e alguns pesquisadores. Em seguida entraram Wesker e Vincent e, por último, Hunk e seus homens.

–         Droga! – exclamou Guile, dando um soco na parede do helicóptero. – Ele estava ali, podíamos tê-lo pego!

–         Encare os fatos, Guile! – disse Nash. – Havia vários homens armados lá, provavelmente sob o comando do Bison! Se tentássemos pegá-lo, estaríamos mortos ou capturados!

–         Eles estavam falando de um experimento ou coisa assim... – murmurou Barry. – Deve ter algo a ver com aquele estranho homem verde que vimos atacar aqueles homens e fugir... Creio que não estamos lidando com um simples laboratório de drogas, vocês viram todas aquelas pessoas vestidas como cientistas!

–         Então o Bison está fazendo experiências genéticas com humanos... – riu Guile. – Mais uma atrocidade para a lista daquele assassino!

–         O que faremos? – perguntou Nash.

–         Por enquanto, voltaremos para Manaus. Lá pensaremos em como agir!

Deller entrou apressado em sua sala. Tudo estava dando errado, mas ele possuía uma carta na manga. Aproximando-se de uma gaveta em sua mesa, tirou de dentro dela uma espécie de caixa de metal, sob a qual havia uma carta recente. Deller apanhou-a e leu o que estava escrito pela vigésima vez:

Caro amigo Emanuel Deller,

Estou lhe enviando minha maior conquista. Enquanto aquele imbecil do Spencer ainda está desenvolvendo um vírus capaz de reviver células mortas, eu creio que consegui algo bem maior que isso... Mas minha invenção não está totalmente segura em minhas mãos, e por isso preciso compartilhar este segredo contra outra pessoa.

Deller, você é um dos mais notáveis pesquisadores da Umbrella. Estou enviando a você uma amostra da minha criação. A eficiência dela ainda não foi totalmente comprovada, portanto use-a por sua conta e risco em alguma cobaia no momento propício. Mas lembre-se: nem Albert Wesker ou ninguém que trabalhe para Spencer pode saber disso. Eles não souberam valorizar meu trabalho.

Atenciosamente,

William Birkin, Raccoon City, abril de 1986.

Terminando de ler a carta, Deller colocou-a de volta na gaveta e fechou-a, enquanto abria a caixa de metal sobre sua mesa. Dentro, no meio de pedras de gelo, havia uma seringa contendo um líquido branco. O chefe de pesquisas ficou admirando o objeto, com mil pensamentos em mente, quando a porta da sala se abriu, fazendo com que instintivamente fechasse a caixa. Era Hunk:

–         O senhor pediu que eu viesse até aqui e...

–         Sim, sim, entre!

O chefe da segurança sentou-se numa cadeira de frente para Deller, que perguntou:

–         Fez o que eu pedi?

–         Sim, os reforços já estão a caminho!

–         Ótimo! Nós vamos pegar nosso mutante, vivo! Mas há outra coisa que quero lhe falar, caro Hunk...

–         Do que se trata, senhor?

Deller abriu a caixa de metal e pegou a seringa, aproximando-se de Hunk.

–         Hunk, estique o braço por favor!

–         Posso saber do que se trata, senhor? – perguntou Hunk, desconfiado, olhando para a seringa nas mãos de Deller.

–         Confie em mim e estique seu braço!

Hunk hesitou por um instante, olhando dentro dos olhos ambiciosos e insanos de Deller, mas acabou cedendo. O chefe de pesquisas injetou o líquido branco na corrente sangüínea do soldado, que apesar de tudo aparentava calma.

–         Isso é tudo, senhor? – perguntou Hunk, levantando-se.

–         Sim, pode ir!

Confuso, o chefe da segurança deixou a sala, enquanto Deller murmurava, sorrindo:

–         Estou fazendo minha parte, caro Birkin...

Blanka corria sem parar, numa velocidade incrível, desviando dos troncos das árvores enquanto suas folhas batiam em seu rosto. Aqueles homens eram maus, muito maus...

Uma enorme fúria havia tomado sua mente. Agora ele só pensava em vingança, vingança contra os homens que lhe haviam feito aquilo...

Logo Blanka parou, às margens de um rio. A luz do luar iluminou seu rosto, e lágrimas começaram a escorrer por sua face, misturando-se à água do rio...

Amanheceu o dia. Mas não era uma manhã comum. Logo nas primeiras horas após o sol nascer, a população ribeirinha pôde ver dezenas de helicópteros militares cruzando o céu, para o espanto e fascínio de muitos. O som das aeronaves não era familiar para eles, que ficavam olhando para cima, assustados e surpresos.

Naqueles helicópteros havia o símbolo de um guarda-chuva vermelho e branco. Pertenciam à multinacional Umbrella. Após o pedido de ajuda de Hunk, responsável pela segurança do complexo amazônico, os manda-chuvas da companhia, na Europa, ficaram preocupados em perder um experimento tão importante e ao mesmo tempo correr o risco de terem suas atividades ilegais expostas à mídia. Por isso era necessário agir rápido e agilmente.

Num dos helicópteros, que comandava o resto da frota, estava um homem vestindo roupa tática preta, cabelos grisalhos. Seu nome era Turner, veterano no Vietnã, herói no Líbano e que também havia participado da invasão de Granada. Era o responsável pela segurança em toda a Umbrella da América Latina.

Apanhando um rádio, Turner comunicou-se com alguém que aguardava no complexo, enquanto os outros soldados da Umbrella dentro do helicóptero preparavam seu equipamento.

–         Hunk! – exclamou Turner pelo aparelho. – Você está aí?

–         Ouvindo alto e claro! – respondeu Hunk, que aguardava pela chegada dos helicópteros no heliporto do complexo. – Tudo OK?

–         Sim, mas ele veio! Ordens do quartel-general! Ele me dá medo!

–         Ele quem?

Turner olhou para o fundo do helicóptero. Ali, sentado, estava um homem de uniforme militar tailandês, careca e com um tapa-olho no rosto. Seu nome era Sagat, um indivíduo misterioso e assustador.

–         Sagat, o tal capanga do Bison! – respondeu Turner. – Política da empresa, segundo os manda-chuvas!

–         Bem, ouvi falar que ele é um ótimo estrategista. Será útil em nossa empreitada para capturar a fera!

–         Com o que estamos lidando exatamente, Hunk?

–         Uma arma bio-orgânica, resultado da infecção de um ser humano pelo Vírus Ômega. O corpo inteiro do mutante é como uma pilha alcalina. Há tanta energia nele que é possível até desperdiçar... E matar!

–         Eu entendo... Um “soldado-elétrico”, assim como vocês queriam!

–         Assim como Deller queria. Aquele homem é maluco. Não mede as conseqüências do que faz. Mas sou obrigado a seguir suas ordens sem questioná-lo. Ontem, inclusive, ocorreu algo estranho quando fui até o escritório dele...

–         O quê?

–         Conto aqui na base. Desligo!

A comunicação foi encerrada, enquanto Turner olhava mais uma vez para a figura de Sagat no fundo da aeronave e depois para seus homens, exclamando:

–         Preparem-se, homens! Pousaremos em cinco minutos!

Wesker digitou apressado o número no telefone que havia sobre a mesa de Deller em seu escritório. Após duas chamadas, alguém atendeu do outro lado da linha:

–         Sim?

–         Aqui é o Wesker! – disse Albert. – Más notícias sobre o experimento de Deller!

–         Eu já estou ciente do que ocorreu. Notícias ruins correm rápido!

–         A Umbrella vai vasculhar a selva inteira à procura desse mutante. Estão enviando dezenas de helicópteros com tropas para cá!

–         Isso já era de se esperar. Talvez consigam pegar essa coisa, mas se isso acontecer, nosso T-Virus perderá todo o brilho que ganhou... Talvez o quartel-general reduza nossas verbas para pesquisa, enquanto Deller ganhará cada vez mais espaço dentro da companhia...

–         O que devo fazer, Spencer?

–         Deller é um grande amigo meu. Nós estudamos juntos, dividimos as mesmas namoradas na universidade... Mas quando se trata de pesquisas, é cada um por si!

–         Como assim?

–         Wesker, ouça bem: quero que você atrapalhe ao máximo esse plano para capturar o mutante. Aja nas sombras, mas sempre com o intuito de fazer a operação fracassar. Eu prometo que será recompensado!

Wesker estremeceu. Com Birkin aparentando cada vez menos interesse pelo desenvolvimento do T-Virus, Wesker suspeitava qual poderia ser a tal recompensa... O cargo de chefe de pesquisas no laboratório de Raccoon.

–         E então, Wesker? – insistiu Spencer. – O que me diz?

–         Pode contar comigo, senhor!

Wesker desligou o telefone, com um estranho e ambicioso sorriso em sua face.

Capítulo 5

Operação Ômega.

–         Acorde, Carlos! Acorde!

O garoto abriu os olhos, sentando-se sobre a rede na qual dormia. Esticando os braços, bocejou demoradamente, enquanto seu pai apanhava o samburá, que estava próximo a uma das paredes do casebre.

–         Ande logo, Carlos! – sorriu o pescador de descendência indígena, olhando para o filho, que se levantava da rede. – Quanto mais cedo irmos, mais peixes pegaremos!

Carlos assentiu com a cabeça, enquanto seu pai deixava a humilde moradia da família Oliveira. O menino calçou um par de chinelos e também deixou o casebre, ganhando a pequena vila de pescadores onde vivia.

Fitando o céu alaranjado daquele início de manhã, o garoto sentiu a leve brisa matinal tocar seu rosto, enquanto caminhava na direção da margem do rio. Após passar por algumas crianças que brincavam alegremente, Carlos lavou o rosto nas águas do Amazonas, livrando-se do sono que lhe restava. Olhando para a esquerda, viu o pai preparando a jangada. Mais uma manhã de pesca tinha início.

Porém, não seria uma manhã como as outras...

Um repentino som atingiu os ouvidos do menino. Hélices girando. Carlos ergueu os olhos, contemplando o céu, e espantou-se quando inúmeros helicópteros surgiram sobre a floresta, voando rapidamente para oeste.

–         Veja, pai! – exclamou Carlos, entusiasmado, apontando para o céu enquanto as aeronaves sobrevoavam a vila. – Helicópteros!

–         Há algo errado acontecendo... – murmurou o pescador.

O garoto correu rapidamente pelo lugarejo, acompanhando de braços abertos o vôo dos helicópteros. Assim que as aeronaves sumiram de vista, Carlos sorriu, pensando em como seria voar numa daquelas máquinas. Esse era seu maior sonho, e esperava um dia poder realizá-lo.

–         Carlos!

O grito do pai fez com que o garoto voltasse velozmente até o rio. Os peixes os aguardavam.

Deller sentiu o vento provocado pelas hélices dos helicópteros chocar-se contra seu corpo, enquanto as aeronaves pousavam no heliporto do complexo amazônico. Assim que os motores foram desligados, Emanuel viu vários soldados saírem das aeronaves, possuindo o símbolo da Umbrella em seus uniformes.

O homem que comandava as tropas recém-chegadas aproximou-se de Deller. Turner, um combatente de grande experiência. O chefe de pesquisas sabia que aquele indivíduo estava ali para auxiliar na captura do mutante, mas ele também era o meio pelo qual os manda-chuvas da Europa controlariam as ações de Emanuel. A cúpula central da empresa não confiava nele tanto assim, afinal de contas...

–         Bom dia, Emanuel! – saudou Turner, seguido por dois soldados.

–         Bom dia, Turner... – respondeu Deller quase num resmungo.

–         Precisaremos do máximo possível de dados sobre o mutante. Algumas equipes de busca decolarão em poucos minutos. Ah, há um homem de Bison entre as tropas. Ele também fará parte da operação.

–         Hunk lhe informará sobre o que for necessário. Queira me acompanhar!

Turner e os dois soldados seguiram Deller instalações adentro, enquanto os demais combatentes, atarefados, descarregavam armas e equipamento dos helicópteros. Uma verdadeira operação de guerra estava para ter início no coração da floresta equatorial. A Operação Ômega.

Ele seguia velozmente pela floresta, derrubando arbustos e árvores pelo caminho. Seus passos selvagens eram guiados pela angústia. A golpes violentos, os obstáculos que surgiam em sua frente eram eliminados.

Blanka ouvira os helicópteros. Sabia que estavam ali para caçá-lo. Resistiria até a morte. Os homens que o haviam transformado naquela coisa pagariam com a vida. Em seus pensamentos carregados de ódio, o mutante mentalizava o símbolo visto enquanto fugia pelos corredores do complexo de pesquisas. Um guarda-chuva vermelho e branco.

Foi quando ouviu vozes. Crianças brincando, mulheres cantarolando enquanto lavavam roupa no rio. Blanka olhou ao redor. Havia uma povoação por perto. O mutante não podia deixar que o vissem daquela maneira, mas seu estômago não parava de roncar. Estava morrendo de fome.

Decidiu-se. Precisava se alimentar. Movendo-se furtivamente, Blanka seguiu na direção da vila de pescadores...

Um quarto de hotel em Manaus.

Guile andava para lá e para cá, impaciente. Barry, sentado sobre a cama, havia desmontado seu revólver Magnum e limpava pacientemente cada uma das peças usando uma flanela. Nash fazia a barba no banheiro, enquanto Roy Campbell, pensativo, encontrava-se sentado numa cadeira. Após alguns instantes de reflexão, o major levantou-se e disse:

–         Só Deus sabe que experiências insanas e desumanas Bison pode estar realizando naquele lugar. O relato de vocês sobre o estranho monstro verde também me assusta. Precisamos agir logo!

–         Perdoe-me, Roy, mas sou obrigado a concordar com o Nash! – exclamou Guile, se aproximando de Campbell. – O local está muito bem vigiado! Precisaríamos de pelo menos mais uns doze homens!

–         Creio que, se forem as pessoas certas, três serão o suficiente – sorriu Roy de forma enigmática.

–         Mas do que você está falando? – estranhou Nash, voltando do banheiro enxugando o rosto com uma toalha.

–         Sou membro de uma força especial mercenária, composta pelos melhores combatentes do mundo. Terroristas, assassinos, condenados. Todos dispostos a trabalhar para quem pagar mais. O nome desse grupo é Fox-Hound.

–         Fox-Hound? – surpreendeu-se Barry. – Eu pensei que isso tudo fosse apenas conversa fiada! Ela existe mesmo?

–         Sim, meus caros, e ela nos auxiliará neste momento!

Dizendo isso, o major caminhou até uma mesinha que possuía um telefone, discando um número apressadamente. Os demais o fitavam atônitos, tendo dificuldade em assimilar o que haviam acabado de ouvir.

Lá estavam os dois, frente a frente no escuro cômodo. Dois lutadores extraordinários. Provocavam calafrios em seus oponentes. Dois campeões, dois cúmplices, dois guerreiros...

E dois gênios do mal.

–         Que bom que veio, Sagat... – disse Bison, voz soturna. – Precisarei de sua ajuda para que nosso plano seja um sucesso!

–         O rumor que ouvi nos corredores é verdadeiro? – indagou o comandado de Bison. – Eles conseguiram mesmo criar um soldado-elétrico?

–         Sim, vi com meus próprios olhos. Um lutador e tanto, devo admitir.  Assisti à luta dele contra os guardas. Ter um guerreiro como aquele no torneio lutando para nós é imprescindível!

–         Compreendo. Farei o possível para auxiliar os imbecis da Umbrella. Mas, e quanto ao senhor?

Bison riu malignamente, enquanto uma intensa luz dourada envolvia seu punho direito, dissipando a escuridão da sala.

–         Também farei minha parte!

Capítulo 6

Pânico na vila.

–         Hei, Albert!

Wesker, que antes caminhava cabisbaixo pelos corredores do complexo, foi tirado de seus pensamentos assim que ouviu a voz de Vincent. Erguendo os olhos, Albert se conteve para não rir: Goldman usava um ridículo traje de safári, tendo em mãos um comprido rifle metálico.

–         Aonde pensa que vai assim? – perguntou Wesker, ajeitando seus óculos escuros.

–         Caçar o mutante! – respondeu o outro cientista, cheio de determinação. – Nós dois seremos enviados com uma das equipes de busca!

Dizendo isso, Vincent apanhou um dardo sonífero de um dos bolsos de seu uniforme, colocando-o dentro de um compartimento no rifle. Atordoado com o telefonema de Spencer, Wesker acabara se esquecendo das ordens de Deller. Todos deveriam auxiliar na captura da cobaia, inclusive os cientistas. Porém, ansiando pelo cargo de chefe de pesquisas em Raccoon, Albert atrapalharia ao invés de ajudar...

O cheiro não era dos melhores. Forte, nauseante. Mas a fome falava mais alto. Após mais alguns passos, afastando os arbustos com as mãos, Blanka avistou um casebre feito de palha e argila. Era de lá que vinha o odor. Algumas crianças brincavam alegremente próximas ao monstro verde, sem percebê-lo.

Cautelosamente, o mutante se aproximou de uma das janelas da moradia. Agarrou uma das bordas da abertura. Erguendo os pés, visualizou o interior do casebre.

Blanka fitou móveis rústicos. Num dos cantos da habitação havia um improvisado forno. O “soldado-elétrico” fungou, sentindo que o cheiro tornara-se mais forte. Olhando para uma mesa de madeira, o mutante encontrou a origem do odor: havia ali um grande peixe cortado em pedaços, cru, aguardando cozimento. Fora provavelmente pescado poucos minutos antes.

Como um verdadeiro selvagem, Blanka saltou pela janela, ganhando o interior da moradia. Mais que depressa, dirigiu-se até o peixe, enfiando na boca um grande pedaço de carne crua. Mastigou-a sonoramente, apanhando outro bocado sem nem ao menos ter engolido aquele que triturava. Pela primeira vez desde que fugira do complexo da Umbrella, o monstro verde sentia-se realizado.

–         Ah!

O alto e desesperado grito feminino fez os ouvidos de Blanka latejarem. Surpreso, o mutante voltou-se para a entrada do casebre. Viu uma mulher de traços indígenas, longos cabelos negros. Ela o fitava com expressão de enorme pavor. Trêmula, deixou cair no chão uma peneira, enquanto corria desesperada em busca de ajuda.

Blanka estremeceu. Fora descoberto. Não era mais um humano comum, e aquelas pessoas não reagiriam de forma amistosa. Tinha que sair dali.

Atordoado, o ex-soldado saltou pela janela que havia usado para ganhar o interior da habitação. Novamente do lado de fora, Blanka ouviu os gritos da mulher se misturarem a vozes masculinas. Falavam em língua nativa, tom ameaçador.

O mutante correu numa direção desconhecida. As crianças que antes brincavam agora fugiam amedrontadas. Enquanto seguia por entre os casebres, o monstro olhou para trás. Inúmeros homens o perseguiam, armados com bastões e facas. Alguns deles tinham revólveres. Blanka não queria lutar contra eles. O pobre fugitivo não desejava ferir ninguém.

Correndo atordoado, a criatura esverdeada acabou subindo num improvisado ancoradouro de madeira às margens do rio. Olhando para a água, percebeu que uma jangada se aproximava. Estavam nela um homem e seu filho, o menino Carlos Oliveira, trazendo uma rede repleta de peixes.

–         Pai, olhe! – exclamou o garoto, apontando para Blanka.

Tal gesto chamou a atenção de alguns pescadores que se encontravam próximos, os quais até então não haviam notado a presença do mutante. Este, imóvel sobre as tábuas do ancoradouro, percebeu que seus perseguidores estavam prestes a alcançá-lo. Pensou em saltar nas águas do rio e fugir a nado, quando um novo som, diferente dos gritos apavorados dos habitantes da vila, atingiu seus ouvidos.

Um helicóptero se aproximava rapidamente.

Dentro da aeronave estavam, junto com alguns soldados da Umbrella, Albert Wesker e Vincent Goldman. O segundo apontou seu rifle metálico para Blanka, enquadrando-o através da mira telescópica da arma.

–         Só um disparo... – murmurou Vincent, prestes a apertar o gatilho.

Percebendo o perigo que corria, Blanka finalmente se moveu. Voltou-se mais uma vez para a vila, deixando rapidamente o ancoradouro num ágil salto. Não voltaria para as mãos dos homens que o haviam transformado naquela aberração.

O helicóptero seguiu o mutante, enquanto os atordoados moradores da vila não sabiam se olhavam para o monstro verde ou para a ameaçadora aeronave. Confuso, Goldman disparou, mas ao invés do dardo sonífero atingir Blanka, acabou alojando-se no ombro de um dos ribeirinhos, que caiu adormecido.

Vincent resmungou algo, enquanto colocava mais um projétil na arma. No chão, a cobaia que recebera o Vírus Ômega corria como nunca. Em meio a inúmeros gritos de fúria e desespero, o mutante embrenhou-se mais uma vez na floresta, ofegante. Atrás de si, o som da aeronave perseguidora era o emblema máximo do destino do qual deveria fugir. Todas as suas forças tinham que ser empenhadas nisso.

Guile arregalou os olhos. Aquele que estava diante de si parecia mais um grande e resistente guarda-roupa do que um ser humano. Impressionado com as proporções do indivíduo, William ergueu a visão, fitando a face do sujeito, que sorriu.

–         Esse é Vulcan Raven – explicou Campbell, se aproximando com as mãos cruzadas atrás da cintura. – O combatente mais forte da Fox-Hound!

O gigantesco homem careca, que possuía pele escura e inúmeras tatuagens pelo corpo, caminhou até um de seus companheiros mercenários, o qual encontrava-se encostado a uma das paredes do armazém. Sua pele era excessivamente pálida, expressão facial fria, cabelos bem curtos. Era como se aquele indivíduo fosse apenas um manequim ambulante, um ser desprovido de alma.

–         Aquele é Decoy Octopus, mestre do disfarce! – apontou Roy, enquanto Guile, Nash e Barry contemplavam o soturno membro da Fox-Hound. – Quando transformado em outra pessoa, é praticamente impossível reconhecê-lo! Dizem até que, de tanto assumir a identidade de outros homens, ele acabou perdendo sua própria personalidade...

O terceiro mercenário era uma mulher. Bem jovem e bela, por sinal. Ela estava um pouco afastada dos demais, sentada sobre algumas caixas de madeira, tendo em mãos a boina vermelha que lhe ocultava os cabelos loiros por quase todo o tempo. Como os outros integrantes da Fox-Hound, trajava uniforme camuflado para a selva.

–         Senhorita White, queira vir até aqui – disse Campbell, voltando-se para a combatente.

A jovem veio. William examinou-a de alto a baixo. Possuía no máximo vinte e dois anos de idade, mas mesmo assim aparentava grande experiência. Assim que ela se aproximou o suficiente, Roy apresentou-a:

–         Esta é Cammy White, recém-recrutada pela organização. Ex-integrante das Forças Especiais britânicas, e com certeza apoio indispensável para esta missão!

Foi a vez de Burton fitar o rosto de Cammy. Ela de certa forma lhe lembrava Kathy, sua amada, com quem se casara havia três meses. Pouco antes de partir para a operação na Colômbia, Barry recebera a notícia de que sua esposa estava grávida. Depois que deixasse a Amazônia, o membro do S.T.A.R.S. pretendia pedir transferência para a unidade do serviço em Raccoon City, uma pacata cidadezinha dos EUA, onde estabeleceria sua tão sonhada família.

Campbell cruzou os braços, observando atentamente cada membro de sua equipe. Faces e habilidades distintas. Sorriu satisfeito. Eles com certeza dariam conta do recado.

Blanka continuava avançando rapidamente pela densa selva. Já havia percorrido no mínimo cerca de dois quilômetros. O helicóptero da Umbrella prosseguia em seu encalço, com Vincent observando atentamente a floresta através da mira de seu rifle. O mutante não podia escapar. O progresso no desenvolvimento do Vírus Ômega dependia de sua captura.

–         Acho difícil conseguirmos pegá-lo desta maneira... – afirmou Wesker.

–         Preciso apenas de um espaço aberto... – murmurou Goldman, concentrado na caçada. – Um lugar onde eu possa enquadrá-lo na mira sem problemas...

O desejo de Vincent tornou-se realidade. Após mais alguns metros, Blanka viu-se na nascente de um rio, onde havia bonita cachoeira. A água deslizava de forma harmoniosa sobre as pedras, correndo em seguida suavemente pelo início do curso fluvial, emitindo som leve e relaxante. Local digno das lendas de Iara, onde qualquer turista não pensaria duas vezes antes de banhar-se no líquido da vida.

Depois de contemplar o belo ambiente por um instante, o monstro verde deu continuidade à sua fuga, correndo sobre as rochas escorregadias. De repente, viu surgir no céu, diante de si, algo que lhe deixou incrivelmente alarmado: um helicóptero da Umbrella, e não era o mesmo que o perseguia. Enquanto a nova aeronave se aproximava, o mutante olhou ao redor, coração aos pulos. Estava cercado.

Súbito, um indivíduo saltou do helicóptero que surgira de frente para Blanka, caindo de pé diante do mutante, a poucos metros de distância. Descalço, trajava apenas um calção azul com listras vermelhas, possuindo um sinistro tapa-olho na face. Era careca, e em seu tórax havia uma enorme cicatriz.

O misterioso homem olhou para Blanka e sorriu. O monstro pensou em voltar para dentro da floresta, mas percebeu que a aeronave a qual antes o perseguia se encontrava próxima demais. O mutante observou os soldados a bordo dos dois helicópteros, incluindo um rapaz de roupa de safári com um rifle metálico em mãos. Apesar de terem suas armas apontadas para a cobaia, não disparavam. Pareciam aguardar algo.

Blanka voltou a olhar para o sujeito careca. Ele parecia se deliciar com a situação na qual o fugitivo se encontrava. Rindo sarcasticamente, uniu os dois braços lado a lado e estendeu-os na direção do mutante, punhos fechados. Em seguida gritou, impulsionando seu corpo para frente:

–         Tiger!

O atônito monstro verde não teve tempo de reagir. Uma potente onda de energia lançada pelas mãos do careca atingiu seu peito em cheio. Blanka foi empurrado violentamente para trás, ao mesmo tempo em que o agressor gritava:

–         Venha me enfrentar, aberração!

Recuperando-se do ataque, o mutante fitou o indivíduo mais uma vez, tomado agora por enorme fúria. Blanka não tinha opção. Teria que lutar contra seus inimigos pela primeira vez desde que fugira das instalações da Umbrella. Sua liberdade dependia disso.

Continua...


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