Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 4
Severo até demais.




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A professora era atarracada, tinha olhos azul celeste, cabelos loiros brilhosos (nao tao brilhosos quanto os de Gabi), amarrados em uma trança de raiz, usava uma saia de cintura alta com uma simples blusa de botao. Seria uma look bonito, se nao fosse pelas galochas coloridas que usava como sapatos.

Ela entrou na sala acompanha por Gabi e Daniel, que aparentavam ja ter feito as pazes. Droga. Eles se sentaram no fundo da sala lado a lado. Droga. Cinco minutos depois alguem bateu na porta e chamou a professora, descobri que seu nome era Suzannah Milles, e me perguntei se tinha alguma relação com o professor de Religião. Ao vê-la deixar a sala, Gabi se atracou no pescoço de Daniel e tascou-lhe um beijo. Mil vezes droga. Olhei para o outro lado, coloquei os fones de ouvido e desejei um milhao de vezes limpar estátuas de cemiterio a estar ali.

Passaram-se uns quinze minutos e eu me perguntava se os dois ainda estavam grudados, virei pra tras discretamente e percebi que nem com um bisturi elétrico seriamos capazes de desgrudar aquelas criaturas, e sabe o que era mais sinistro? O tal de Daniel me encarava enquanto beijava a loira, da forma mais descarada possível, quando nossos olhares se encontraram, ele levantou uma sobrancelha, fingi fortes ansias de vomito, e virei pra frente, em seguida ouvi a voz irritante de Gabi perguntando qual era o problema, e ouvi a risada de Daniel.

Virei pra tras bruscamente, Gabi nao pareceu me reconhecer, e senti raiva de mim mesma por ter fugido e nao ter acertado ela com um chute. Ela me olhou da cabeça aos pes, e imitando a expressao Daniel, levantei somente uma sobrancelha, ela tentou repetir o gesto, mas nao conseguiu nada alem de uma careta horrorosa. Me desatei a rir, ao ouvir minha risada, Daniel me acompanhou, Gabi revirou os olhos e pôs-se a encarar a janela.

Ainda gargalhávamos quando a professora entrou novamente na sala acompanhada por mais dois alunos, uma jovem com o cabelo tingido de vermelho vivo e mechas pretas, um short curtíssimo uma blusa vermelha quadriculada e coturnos (ninguém normal usa coturnos), acompanhada por ninguém mais ninguém menos, do que o menino dos olhos ácidos.

Não havia prestado devida atenção a ele antes, mas algo nele me dizia que era mais sombrio do que aparentava ser, e aquilo me seduzia, muito. De repente, me peguei pensando quais seriam seus possíveis nomes, os escrevi em uma lista que ficou assim: Lucio, Jensen, Benjamin, Colton.

Cheguei a conclusão de que definitivamente seria Colton, errei. Estava desenhando seu perfil quando a professora o chamou:

–Cameron, leia o trecho a seguir e me diga o que entendeu.

Ele abriu o livro e leu, com uma pronuncia impecável, e por mais que não entendesse uma palavra, era como se meu corpo entendesse o que minha mente era incapaz de distinguir, cheguei a conclusão que a interpretação de Cameron estava alem do esperado, ou do humano. Fechei meus olhos e deixei sua voz penetrar cada fibra minha, me causando deliciosos calafrios.

Pour le péché est humaine, mais persévérer dans le péché est diabolique.

Nesse momento tive a impressão que Cameron havia me encarado ao ler a frase, a professora pediu que ele lesse o texto, e não as frases que os editores da escola colocavam no intuito de nos lembrar sempre quais as punições para os pecados carnais, ele se desculpou e prosseguiu com a leitura de um texto que falava sobre a historia geral da frança, alem das características mais peculiares.

Enquanto Cameron lia, eu desenhava cada traço do seu rosto, sempre destacando os olho s verdes sedutores. A leitura acabou, e a professora começou a fazer perguntar em frances, percebi que eu havia sido a unica a nao entender absolutamente nada naquela aula. Contudo, nao estava matriculada na aula de frances, por isso estava tranquila.

Eu rezava para que ela nao me chamasse enquanto acrescentava os ultimos detalhes do rosto de Cameron. Mas ainda que apagasse e refizesse cada traço do olho infinitas vezes, nao conseguia captar sua acidez distinta. Decidi então mudar de direção e passei a desenhar as imagens de Paris do livro. As palavras de Cameron batucando em meu ouvido.

Quando a detenção acabou, eu me sentia destruída. Meu plano de nao chamar muita atenção e de fazer amizades foi um fiasco. Nao havia tido uma conversa descente com ninguem na manha inteira, a unica coisa que fiz foi desenhar os rostos de Daniel e Cameron no meu caderno.

Estavamos nos dirigindo à porta quando a professora deu um comunicado:

–Quero voces aqui amanha no mesmo horario.

–POR QUE?! -protestei.

–A detenção só acaba quando ela disser que acaba, certo suzzie? - disse a garota dos cabelos tingidos.

–Certo Molly, e nao me chame de Suzzie se nao quiser ter uma suspensão.

–Blah, Blah,Blah! que saco! - Disse ela se dirigindo à porta. Suzzie riu olhou pra mim, e piscou. Sorri e me dirigia a porta. Antes que eu alcançasse a saíde, "Suzzie" segurou meu braço.

–Luciana é o seu nome querida? - Ela disse com uma doçura levemente familiar.

–Sim senhora. - Eu respondi ansiosa para que ela me deixasse ir.

–Voce nao tocou no livro a aula toda, posso saber o que estava fazendo? - Ela ainda me encarava com um olhar maternal, ainda que me desse uma bronca.

–Desenhando. - Eu disse mordendo o lábio inferior na esperança de conseguir me manter calada e minimamente educada.

–Posso ver? - Ela estendeu a mão esperando que eu lhe entregasse meu caderno.

–Olha escuta aqui... - Ela levantou o olhar e dessa vez nao era nada maternal.

–Voce quer uma suspensão Luciana? - Respirei fundo e entreguei o caderno. As mão tremulas. Ela olhou cada desenho e eu rezei para que se entediasse antes que chegasse aos rostos de Daniel e Cameron. Deus atendeu minhas preçes e ela parou nos desenhos de Paris. - Está muito bom... Como o esperado... Pode ir.

–HÃ?! - Falei nervosa.

–Com certeza... - Ela começou a murmurar para si mesma. - Mas é claro... Talvez eu devesse contá-los que.... Hm...

–Erm... Pro- Professora? - Ela balançou as mãos e me enxotou da sala como enxotaria uma cachorro. Furiosa fui embora sem dizer mais uma palavras. Maldita cidade de merda!

Cheguei em casa atrasada para o jantar, nao estava tao preocupada ate entrar pela porta dos fundos e perceber que minha mae havia chamado meu pai para jantar. Meu coração foi parar na garganta, eu ja sabia o que estava por vir. Eles me fuzilaram com o olhar, nao precisaram dizer uma palavra para que eu entendesse que deveria sentar. Meu pai começou a falar:

–Detençao Luciana, no primeiro dia de aula?

–Nao foi minha culpa, eu so esqueci que eles eram tao religiosos... Foi por isso que respondi aquilo e... - Minha mae fez um gesto pra que eu me calasse, e a minha voz foi morrendo aos poucos.

Ela se levantou, abriu uma gaveta na cozinha e tivou de la uma maço de cigarros, o MEU maço de cigarros. Arregalei os olhos e senti minha alma deixar meu corpo. Olhei fixamente para a caixinha branca cheia de detalhes vermelhos e dourados, fechei meu olhos e aguardei o que estava por vir.

–Voce acha mesmo que eu acreditei naquela historia rí-di-cu-la sobe estar "limpando a escola"?! VOCE NAO LIMPA NEM SEU QUARTO LUCIANA!! - E gritou tao alto que eu pensei que minha cabeça fosse explodir - O QUE EU DEVO FAZER COM VOCE EIN?!

Mantive a cabeça baixa só por segurança, sabia que meus olhos iriam entregar a raiva que sentia naquele momento. Mordi minha lingua pra nao falar mais nada. Meu pai tirou uma chave do bolso e jogou em cima da mesa, olhei para o chaveiro de metal em forma de lobo e meus olhos se encheram de lágrimas. Ouvi a voz firme de meu pai, e pra mim, soou como um carrasco tentando se justificar:

–Voce entende o porque que nos estamos fazendo isso certo? - Nao aguentei, explodi, tentei pegar a chave do meu ateliê de cima da mesa, mas ele foi mais rápido. Gritei de ódio enquanto lagrimas escorriam pelo meu rosto. Meu pai irritantemente calmo disse:

–Mais uma, só mais uma pisada de bola Luciana, e voce nao vai pra 'Sword and Cross'... Mais uma dessas - apontando para o cigarro -E voce vai acabar indo pra uma escola de freiras na Suíça. Entendido?

Tentei nao gritar, tentei mesmo, mas ele estava me atiçando, disso tenho certeza, nao fui capaz de me conter:

–VAI A MERDA! SEU IMBECIL!

Subi as escadas batendo os pés, quando cheguei em meu quarto, bati a porta e chorei. Apos alguns minutos, ja havia me acalmado, desci, pedi desculpas ao meu pai (devo admitir que foi minha melhor atuação em anos), ele entendeu, ele sabia como eu funcionava e como acaba falando o que nao devia em momentos de raiva, e mesmo me entendendo e aceitando, tirou meu celular e computador por 3 meses. 3 MESES. Tentei argumentar, mas nao tive chance.

Subi novamente para meu quarto, na esperança de dormir e acordar de volta em casa, com meus amigos. O sono nao veio, decidi entao estudar, percebi que havia um livro a mais na minha mochila, tinha a capa vermelha e estava muito surrado, havia uma página marcada, nela estava grifado uma frase: "-Pour le péché est humaine, mais persévérer dans le péché est diabolique." Logo vi que era a frase que Cameron havia "lido para mim". Corri ao outro lado do quarto e peguei o dicionario e traduzi a frase. O significado arrepiou ate os cabelos a minha perna.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, eu disse um cap. por dia, maaas acontece que a culpa é um sentimento horrivel. Eeeentao.... Decidi mandar mais um cap hoje como pedido de desculpas!!! Bjos.



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