Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 5
Pesadelos




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"Pecar é humano, insistir no pecado é diabólico". A frase traduzida por mim do livro misterioso com certeza nao me assustaria, nao fosse o fato de ter sido lida por Cameron, para mim. A expressao dele era o mais assustador, olhos cerrados como quem acusa, naquele momento mais acidos que o de costume, sua boca com um leve sorriso, quase imperceptivel. E para completar, a cada hora que passava, minha mente parecia acrescentar mais elementos irreais a cena, sempre que fechava os olhos e tentava me lembrar daquele dia, estranhas sombras apareciam como se realmente eu as tivesse visto naquele momento, ao lado de Cameron.

Para piorar, naquela noite tive pesadelos horriveis, de novo. Alguem gritava por um nome, era um grito de angustia, transmitia uma dor imensurável, mas por mais que tentasse nao conseguia entender o que dizia, depois de repente, me via voando. Sentindo uma felicidade inigualavel, tentava alcançar alguem, antes que pudesse tocar no braço da pessoa, caia. Quando chegava ao chao, me via envolta por penas e sangue, muito sangue, gritava desesperadamente, mas ninguem vinha me ajudar, antes que pudesse me levantar, senti maos segurando meus braços, um vulto preto sorria pra mim, ele me dizia uma informação muito importante, uma informação que explicava tudo, logo em seguida, eu entrei em combustao.

Acordei gritando, a cama completamente encharcada pelo meu suor, e o quarto envolto em total escuridao. Olhei para a porta e vi que estava trancada, minha mae provavelmente nao havia escutado meu grito, respirei aliviada. Levantei-me, tomei um copo d'agua e fui dormir no sofa da varanda, sempre me sentia mais calma observando o ceu noturno. Depois disso, a vida adquiriu uma triste rotina.

As semanas seguintes se arrastaram. Na escola, as unicas aulas que me interessavam eram a de religiao, literatura, artes (claro) e por incrivel que pareça, a detençao. Anne fazia parte da minha turma de artes e literatura, e logo nos tornamos proximas. Sabia que podia confiar nela, nao que o fizesse, mas se um dia precisasse de alguem, sabia que poderia contar com ela. Ela parecia fazer o mesmo, falava pouco sobre si, sempre na defensiva. A muito custo, descobri que ela possuia um namorado, por pura vingança ela me fez descrever cada pedaço da minha vida amorosa:

–A qual é Luce? Te contei sobre o meu gato, nada mais justo do que voce me contar algumas coisinhas sobre o seu...

–Me contou? Eu nem sei o nome do teu namorado Anne! Afinal qual o nome dele? - Tentei mudar o foco da conversa.

–Nao quero falar sobre ele! Ele nao é bom o suficiente pra mim ok? Agora para de tentar mudar o foco da conversa e me diz logo quem diabos é o TEU namorado? - Senti tanta pena do namorado de Anne. Por fim, parei de resistir.

–Nao tenho namorado, fico com uns carinhas aqui e ali, mas é pura diversão... - Disse categoricamente na esperança de que isso encerrasse o assunto. Como a maioria dos planos que arquiteto, nao funcionou.

– Isso é tao cliche voces... - Disse Anne baixinho.

–Hã? como assim 'cliche de voces'? - perguntei.

–Como assim voce nao tem namorado Luce?- Ela perguntou ignorando completamente minha pergunta.

–Desculpa se nem todo mundo tem perfil de supermodelo! Voces pegam todos os caras bons, pra nós, meras mortais sobram os restos! Deixa eu te dizer uma coisinha, nao-vou-sair-com-restos! - Eu disse com um meio sorriso.

–Voce diz isso como se fosse uma mera mortal... - Anne disse isso e protestei tentando exaltar meus defeitos, mas sinceramente , sempre me imaginei acima da media, com volumosos cabelos negros que desciam pela minha costa, encobrindo-a quase toda, olhos igualmente escuros, uma boca naturalmente avermelhada, e a pele palida com as bochechas levemente rosadas, dando um ar saudavel.

Somente uma coisa me incomodava, duas mancha, um pouco acima das omoplatas, mamae dizia que eram sinais de nascença, mas nunca os achei parecidos com sinais, pra mim eram na verdade dois riscos, e de longe pareciam cicatrizes, e o fato de minha aparencia nao combinar em nada com minha personalidade tambem me incomodava um pouco, sempre me diziam que eu tinha cara de ser um anjo. É um anjo viciado em tabaco, que a cada dois meses fica de castigo por gritar com os pais, ou professores, ou coordenadores, ou os policiais...

Um mes se passou, e os pesadelos continuaram. Eu estava em um cais, sentia o vento salgado batendo em meu rosto fazendo meus olhos arderem e lacrimejarem, era uma praia bonita, e eu senti como se conhecesse aquele lugar, de repente uma sombra estranha apareceu na minha frente, ela veio se aproximando, e eu nao conseguia me mexer, ela roçou nos meus pes, era pegajosa e fria, o seu toque na pele causavam arrepios e me fez suar frio. Ela grudou no chao embaixo dos meus pes, e como se estivesse sendo moldada, foi adquirindo um formato circular, e foi aumentando ate adquirir a aparencia de um buraco de bueiro. Cai, la dentro era pura escuridao, ouvi uma risada maligna, uma gárgula aparece na minha frente, me senti calma. De repente, os olhos da gárgula, antes vermelhos, adquiriram uma coloração azul gelo, por algum motivo, entrei em panico, tentei correr mas ela estava em todos os lugares, vi algo prateado se aproximar atras de mim, era como uma flecha sem ponta. Ao tocar meu peito, causou uma sensação de pequeno ardor, que se espalhou pelo meu corpo e se intensificou, senti como se estivesse em chamas, olhei para minhas maos, e elas eram puro carvão, gritei.

Acordei num pulo, fechei os olhos e chorei baixinho, ja fazia um mes que nao conseguia ter uma noite calma de sono, e o pior, ainda estava de castigo por fumar, e nao podia entrar no meu atelie. Decidi que iria anotar cada pesadelo, toda noite. Procurei meu caderno, mas nao o encontrei no meu da escuridao. Sentei na escrivaninha e procurei por algum pedaço de papel em minhas gavetas, encontrei uma agenda antiga, de 2 anos atras. Comecei a ler por curiosidade.

Nao havia lá muitas coisas interessantes, ate que um pedaço me chamou atenção, escrito com uma caneta violeta, grifado tres vezes, estava o aviso:

Goldsmiths - Sem dinheiro para mensalidade ---->BOLSA!!

Droga! Faculdade! Nesses dois anos, depois da morte do meu 1º padrasto, e depois de me mudar para São Francisco, eu havia me esquecido completamente das minhas metas... No dia seguinte levantei mais cedo, e antes de ir para a escola, entrei escondido no computador da mamae, pesquisei tudo sobre a faculdade de Goldsmiths (uma das melhores faculdades de artes do mundo), minhas notas estava relativamente boas para tentar entrar, mas as chances de ser recusada eram grandes, eu precisava aprimorar minhas habilidades artísticas, afinal Goldsmiths ficava em Londres, e seria necessario muito trabalho para entrar. Eu precisava de um tutor.

Quando cheguei na escola achei inacreditavel, o destino havia resolvido brincar com a minha cara. Pregado no quadro de avisos da série, estava escrito com uma caligrafia vergonhosa:

PROCURA-SE SERVIÇO: TUTOR

MATEMATICA, QUÍMICA, GRAMÁTICA E DESENHO

mais informações, na hora do almoço me encontro no terraço, todos os dias.

PS: Apesar dos muitos pedidos, nao posso dar aulas práticas de reprodução, sinto muito queridas. Com amor,

DANIEL GRIGORI

Esse cara de novo? Mas que caralho! E que tipo de pessoa escreveria algo assim e colocaria no quadro de avisos? Tirei o recado do quadro de aviso e tentava decidir se iria ou nao ao terraço na hora do almoço. Era cedo portanto nao havia ninguem no salao, bom... Era isso o que eu pensava...


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