Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 21
O beijo de Cameron e os sonhos.


Notas iniciais do capítulo

I will not speak of your sins
There was a way out for him
The mirrors shows not
Your values are all shot

But oh my heart, was flawed I knew my weakness
So hold my hand consign me not to darkness



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Ainda deitada na cama eu tentei me acalmar. O mesmo sonho que tive no quarto de Daniel se repetia de novo. Noite após noite. Eu era Lucinda.

Como na cena do Anunciador, eu via Daniel sair na chuva pela janela do meu quarto. Eu descia correndo as escadas na noite escura. O coração batia na garganta, ninguém podia acordar.

Eu parava diante da porta e chamava seu nome. Os olhos dele eram cinzentos e os músculos estavam tensos. Eu corria ao seu encontro e o abraçava. Mas ele não retribuía o afeto.

Ele tremia e eu achei que era o frio de estar na chuva, a noite. Mas essa era a opinião de Lucinda. Luciana Nightfall sabia que era algo a mais do que isso.

Eu o beijava e o gelo criado por Daniel se desfazia em um abraço de urso. Eu senti o mesmo calor de antes dominando o corpo de Lucinda. Eu senti o fogo invadindo suas veias. Queimando suas artérias. Transformando a bela menina em um amontoado de cinzas.

Ela se debatia e revirava os olhos, mas Daniel não saiu do seu lado. Ele não estranhava aquela situação?

Ele não chamou por auxilio, ele não chorou. Simplesmente a envolveu em seus braços e a beijou. Como um adeus.

A mente de Lucinda estava em branco, a única coisa que ela sabia era a dor. Nada mais fazia sentido. Mas ainda assim, da mesma forma que eu senti quando sai da casa de Daniel, algo brotava dentro dela. E então, eu acordei.

Suada da cabeça aos pés, eu via minha pele tremer. Arrepios corriam da cabeça aos pés. Senti a adrenalina correr por todo meu corpo. Meus olhos ardiam e a garganta estava seca.

–O que era pra isso significar? – Falei em um sussurro. Olhei para fora, ainda estava escuro. O relógio marcava três horas da manha. Tentei deitar e dormir, mas sempre que fechava os olhos, lembrava da maldita gárgula de olhos azuis.

Me levantei e segui para a cozinha. A cabeça rodava e eu cogitei estar epilepsia ou algo do gênero. Agarrei a garrafa d’agua e senti minha barriga revirar do avesso.

Minhas mãos tremeram e meus joelhos não conseguiram mais me sustentar. O pescoço estava tenso e meu peito latejava.

Uma imagem se formou em frente aos meus olhos. Era Daniel. Os mesmos olhos violeta, em vários rostos, em varias épocas. Eles eram diferentes, no modo de falar, no modo de andar, mas eu sabia que eram Daniel.

Ele atravessou minha sala em minha direção. Eu estava agachada ao lado da geladeira, meu maxilar doía mais do que tudo.

–Luciana... – A sua voz era uma junção de todos eles, seu rosto era como a imagem de todos os Daniel cruzados entre si.

–D-Daniel...? – Eu disse baixinho. – O que está acontecendo?!

–Voce sabe. – Ele disse num sorriso bondoso que me assustou. – Voce sempre soube. Quem você é. O que você é.

–Voce... – E tentei me levantar mas era como se um tonelada tivesse sido jogada contra mim. – Quem é você?

Um brilho azul-gelo passou pelos olhos daquela estranha criatura.

–O seu verdadeiro amor. – A coisa se aproximou de mim e eu vi os traços de Daniel esvair-se daquele estranho rosto. Fechei meus olhos.

–Onde está Daniel?! – Falei com a voz tremula. A coisa riu.

–Aqui. – Disse a voz de Daniel na minha frente. Abri meus olhos e vi todos os rostos sumirem até sobrar somente o rosto do Daniel que eu conhecia. Mas algo estava fora do lugar.

–Voce não é Daniel... – Eu falei dando um chute no rosto da coisa e ela assumiu uma forma estranha. O corpo era nítido e palpável, mas seu rosto permanecia escondido entre sombras, somente seus olhos eram claros para mim. Olhos cor de gelo.

–Voce ainda vai me reconhecer como seu... – Ele sorriu e se virou para fora. – Lucinda.

–O que você está falando?! – Ele já não estava lá. E logo eu percebi que eu não estava mais em casa. Tudo ao meu redor havia se transformado.

Tentei me mecher mas não consegui. Olhei ao redor e me vi em uma escola. Todos usavam roupa preta e eu estava sentada ao lado de Anne.

–ANNE! – Eu gritei mas ela não me ouviu. Só olhou para o lado.

–Aquele? É Daniel. – Ela disse como se respondesse a uma pergunta. Me virei e vi o meu Daniel encostado em uma árvore. Com uma blusa preta e um cachecol aparentemente muito caro no pescoço.

Ele me via e seu rosto se iluminava. Quando eu lhe mandava um sorriso ele levantava a mão e erguia o dedo médio em um cotoco. Então de repente, seus olhos eram dominados por uma coloração azul-gelo.

–Voce sabe o que você é.

–Han?! – E então tudo sumia.

Agora eu estava em um cemitério. Algo pairava no céu acima de mim e o chão estava coberto de poeira. Desde a grama do chão até a copa das árvores. Cameron estava parado em minha frente.

–Voce sabe o que você é. – Ele dizia em uma voz sinistra. Os olhos estavam do mesmo azul pálido dos da gárgula.

Eu corria para dentro de uma igreja e então, havia sangue em minhas mão. Eu piscava e uma menina permanecia imóvel em meus braços. Abaixei a cabeça e chorei.

Os vidrais da igreja se quebrava e algo muito branco entrava. Meu corpo se enchia de paz e alegria. Meu coração se acelerava.

Logo que me levantava, a luz branca se consumia e se tornava cor de bronze. Meu peito ardeu em chamas e eu ouvi gritos. Gritos e mais gritos dentro de mim mesma.

Então, acordei novamente.

Eu ainda estava deitada em minha cama. Eu ainda respirava e não havia nenhuma luz branca e canto nenhum. Olhei para o relógio e já iam dar seis horas. Me levantei e comecei a me arrumar.

Quando desci para a cozinha, minha mãe cozinhava.

–Bom dia, dormiu bem? – Ela dizia com a voz de sempre. Eu encarei seus olhos para ter certeza que permaneciam do mesmo tom de castanho.

–Hm... Sim... – Falei comendo os ovos com uma velocidade monstra. – Voce vai vê-lo hoje?

–Vou... – Ela respondeu corando e eu revirei os olhos. Queria bater nela, queria manda-la para longe. Queria abraça-la e chorar de medo. Mas não fiz nada disso. Me levantei e peguei minha bolsa.

–Que bom. – Falei de forma fria e corri para o colégio. Antes de bater a porta, pude ouví-la soluçar. Ela devia sentir que estava me perdendo. Eu mesma sentia isso. Luciana Nightfall indo mais e mais longe.

Entrei na escola e esperei com ansiedade para a aula de Sebastian. A aula em que eu dividiria a turma com Cameron, Daniel e Anne. Eu precisava falar com eles.

Precisava falar a Daniel do meu sonho. E precisava perguntar a Cameron e Anne o que eles sabiam sobre tudo aquilo.

Depois do que pareceu ser um século, a sineta ressoou e eu fui para a sala de religião. Mas nem Cam, nem Anne estavam lá.

Prof. Sebastian e profª. Suzannah entraram juntos naquele dia para a aula de religião, me perguntei se alguma coisa teria acontecido...

–Pessoal... PESSOAL! ATENÇÃO! Como voces sabem, a feira cultural esta se aproximando! - Profª.Suzannah disse levantando um pequeno panfleto e mostrando para a turma.

–Folclore é o tema desse ano - A turma soltou um "Aaah" em tom de desgosto, antes que um mar de reclamações voasse para cima dos dois professores, Sebastian prosseguiu - É a escolha dos diretores e nos nao podemos mudar isso, agora, as outras turmas ja escolheram, o que voces vao escolher?

Anne e Cameron entraram na sala nesse exato momento levantando os braços.

–ANJOS! - Disse Anne, sentando ao meu lado. Sorri com todo o seu entusiasmo.

–Demonios... - Cameron disse se encolhendo na cadeira como um caracol.

Sebastian e Suzannah trocaram um olharzinho de canto de olho e sorriram. A turma entrou em uma discussão empolgada sobre o que devia escolher e então Daniel levantou o braço.

– Por que não falamos sobre a alma? - Falou Daniel empolgado. O vislumbre no Anunciador influenciou bastante ele, pensei. -Tipo... a gente coloca todas as explicações para os destinos da alma que o homem ja inventou ate hoje, o que os cristãos acham, os judeus, os hindus. Ai a gente tenta explicar sei la, ou a gente pode fazer uma peça sobre isso.

A turma adorou a ideia, eu achei sem graça e estupida, mas a palavra de Daniel era lei em todas as turmas que ele frequentava. Sebastian sorriu e escreveu no quadro.

"A peça dos anjos decaidos."

Todos vibraram, e começaram a discutir o que seria feito, decoração, script e etc.

Aproveitei aquele momento e fui falar com Cameron, ele estava sentado sozinho olhando para fora como se ninguem estivesse na sala.

Entedia como ele se sentia, o sentimento de nao achar ninguem interessante o suficiente para manter uma conversa, mas se isolar daquele jeito ja era demais.

–O que sao anunciadores? - Falei sem rodeios. Se ele soubesse alguma coisa mostraria no susto, se nao, nem se incomodaria comigo e viraria o rosto como fazia com todos os outros.

Mas ele nao fez nada disso. Ele olhou para mim espalmou as mãos na mesa e se levantou devagar. O olhar dele era intenso e eu tentei retribuir a mesma firmeza.

Ele me encarou por um segundo e então sorriu. Pegou meu braço com força e me puxou para um beijo.

A turma parou de falar, empurrei Cameron com toda minha força para longe, ele caiu na cadeira em sua frente e soltou uma gargalhada. Seus olhos verdes estavam ácidos, eu percebi que ele queria dissimular um olhar seguro e maldoso, mas vi uma ponta de medo ali.

Levantei uma sobrancelha em duvida e ele desviou o olhar. Ele olhou para o chao, em seguida olhou para Daniel.

Não pude me conter e encarei Daniel também. Ele estava parado, o caderno na mão e os olhos violeta explodindo de ódio. Todo medo no olhar de Cameron sumiu, seus olhos eram todo o mal agora, nao havia sentimento, so a vontade de ver Daniel mal.

Nao tive coragem de olhar mais para Daniel, sai da sala o mais rápido que pude. Fiquei parada na frente da sala de artes respirando com dificuldade. Depois fingi ter uma enxaqueca e fui para casa.

O sentimento do beijo de Cameron era o completo oposto do de Daniel. O beijo de Daniel era quente, confortavel, era um beijo que me causava felicidade pura.

O de Cameron era frio, mas ao mesmo tempo escaldante, minha alma nao queria, mas minha carne suplicava por mais. Era como se ele fosse feito para a sedução e dissimulação. Afinal, quem era aquele cara?

E o pior era que enquanto me beijava, e no momento que nos encaramos antes da minha fuga, pudia ler no rosto de Cameron que ele sabia o que eram os Anunciadores.

Apesar de Daniel e eu não sermos namorados nem nada disso, eu não conseguia falar com ele. Acabei não indo para a aula particular.

Passei o dia remoendo a culpa. Remoendo o sentimento de culpa e medo. Quando não aguentava mais, peguei meu telefone e mandei uma mensagem para Daniel.

"Desculpe nao ter ido para a aula, eu... nao iria conseguir agir normalmente depois do que aconteceu... É só que... Desculpa, acho que voce nao quer falar sobre isso, desculpe. :'("

Cerca de minutos depois, Daniel respondeu:

"Eu quero saber, me conte! O beijo dele é melhor que o meu? Se nao fosse voce simplesmente teria derrubado ele com um golpe qualquer... Luciana, me conte tudo, quero saber tudo!"

Receosa, respondi um pouco assustada:

"NAO É MELHOR QUE O SEU, NEM DE LONGE!!! O seu beijo aquece minha alma, conforta meu corpo, quando lhe beijei, senti que era ali onde meu corpo deveria estar e continuar ate o fim da minha vida..."

Nao queria por o resto, mas Daniel queria saber tudo:

"E o dele? Luciana pare de me enrolar!"

Lagrimas percorriam meu rosto enquanto escrevia aquela mensagem, nao por culpa, mas por medo, de Cameron:

“Qual a necessidade de saber isso Daniel?!”

Ele respondeu em menos de um minuto.

“Eu. Estou. Com. Ciumes. E. Quero. Saber!”

Soltei um risinho e respondi. As mãos tremiam enquanto eu digitava.

"O beijo dele ferve minha carne, cada célula, é como se eu pegasse fogo. Mas o beijo dele esfriou minha alma, por mais que meu corpo quisesse mais e mais do Cameron, minha alma so queria fugir dali. Ele nao é comum Daniel... Eu estou com nojo de mim. :'("

Abracei o telefone e chorei alto. Nao havia ninguem em casa, mamae havia ido visita Pete (era assim que eles se encontravam agora), talvez so voltasse depois de dois ou tres dias.

Joguei o celular para o outro lado do quarto e o ignorei por uns minutos, mas quando ele vibrou com a mensagem recebida, voltei atras. Corri e peguei o celular, li aquela mensagem varias e varias vezes depois.

"Tem alguem com voce em casa agora?"

É claro que eu respondi:

''Não, vê se não demora a chegar!''.

Uma hora depois, a campainha tocou. Eu ja estava toda arrumada, é claro! Devagar fui atender a porta. Quando a abri, la estava ele a minha espera.

Cameron me olhou, colocou as maos nos bolsos do casaco e sorriu jogando a cabeça para o lado.

–Ja tava na hora de atender Luuuciana... To congelando aqui fora...

Enquanto eu o olhava minha mente gritava a frase de Cameron.

Vim do inferno!


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Notas finais do capítulo

Gente, as notas iniciais são a letra de uma musica tá? (eu nao sou uma poeta asiduhasiudh.).
Mas é que essa musica em especial é a minha paixão sabe? E acho que nao tem musica melhor pra esse cap do que ela. hehehehe. Aproveitem amores, ate o prox cap!