Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 20
O vislumbre em um anunciador.


Notas iniciais do capítulo

I wish that I could witness
All your joy
And all your pain



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Com o diário no colo sentei-me devagar na cama de Daniel. A garanta fechada e o corpo inteiro doendo de ansiedade e medo. Estendi a mao e esperei pelo toque frio que as sombras sempre me causavam.

Mas elas não vieram. Nada aconteceu e aos poucos eu senti a ansiedade ser trocada pela decepção. Relaxei e joguei minha cabeça no meio das almofadas.

– Que decepção Lucinda. Que vergonha... Como você pode me trair dessa forma ein?! O que o seu Daniel diria...? – Apertei com força o diário e o coloquei ao meu lado.

As letras de Lucinda balançando em minha mente. As cartas, os desenhos de traço forte... Suspirei e percebi que gostaria de ver quem era Lucinda, como ela era, como seu Daniel era, se eles se davam bem...

Fiquei tanto tempo parada, pensado nos dois, que nem percebi quando uma orda de Anunciadores se aproximaram. Meu corpo se arrepiou e eu abri meus olhos.

Abri os olhos e me apavorei, pensei em correr mas as palavras de Lucinda me dominaram minha mente. Logo as memórias de Daniel lutando contra as sombras me acalmaram e eu resolvi tentar.

Escolhi um anunciador, ele era frio e tinha o cheiro da praia, pude sentir o vento salgado em meu rosto quando o toquei, a temperatura do quarto caiu bruscamente, e comecei a bater beiços.

Agarrei-o com força e ele tentou se safar, mas não foi o que aconteceu. Começei a moldá-lo para que adquirisse o formato de uma janela. Mas no meio da caminho hesitei.

Logo o anunciador fugiu de minhas mãos e eu fechei os olhos. Pensei no que eu queria saber e a imagem das cartas de Lucinda dominaram minha mente. Eu queria vê-los.

Estendi a mão mais uma vez e outra sombra se aproximou. Ela era morna e exalava o cheiro do orvalho, tinha uma coloraçao avermelhada, era como um tecido mole. Ainda segurando o anunciador, abri o diário que estava ao meu lado.

Devagar e mais calma, comecei a puxar suas pontas, até que uma janela se abriu. Meu coração batia na garganta. E aos poucos, uma imagem se formou.

Era à noite, acho que chovia um pouco. Um jardim de uma casa antiga. Um belo rapaz estava parado no jardim com uma mala na mão. Ele estava de cabeça baixa e parecia não querer ser visto.

As gotas da chuva invadiam o quarto de Daniel e eu percebi que se quisesse, poderia entrar no mundo deles. Mas não o fiz. “Não procure o que não precisa saber” era uma das regras de Lucinda.

Os cabelos do rapaz grudavam em seu rosto e eu não conseguia vê-lo. Mas sabia que era bonito, apesar do ar de medo que exalava.

Ele seguia para longe da casa quando uma voz o chamou. E então uma menina saiu de dentro da casa. Ela devia ter a minha idade, mas era mais bonita.

Os cabelos negros e a pele pálida batiam contra a luz da lua. Ela correu em direção ao rapaz e ele levantou o rosto. Quando vi seus olhos minha mente rodou como um furacão. Olhos violeta. Exatamente como os do MEU Daniel.

–Daniel! – Gritou a moça em desespero e ele se virou com uma expressão desolada. Ainda que eu pudesse sentir uma ponta de felicidade se espalhando por dentro dele.

–Lucinda! – Ele disse baixinho.

–Para onde você vai? – Ela falou e então eu não ouvi mais nada. O som foi abafado pelo barulho da chuva batendo no chão. Eu pude vê-los conversando, mas não ouvi mais nada.

Ele tocou o rosto dela com carinho. Ela o abraçou e passou as mãos pelas suas costas, quando seus dedos passaram pelas omoplatas daquele Daniel, ele se remexeu. Lucinda riu e o beijou.

Um beijo pequeno que cresceu, e cresceu. Daniel passou os braços em volta de Lucinda e a segurou com força. Algo estava prestes a acontecer. Algo muito ruim.

A imagem ficou turva, como o reflexo de um lago ao se jogar uma pedra. E então sumiu. Soltei um bufo de frustração.

Eu sabia disso. Aquele não era um simples beijo. Pela expressão do Daniel de Lucinda eu soube que algo estava errado. Mas o que? E ela não parecia perceber. Ela não parecia ter a menor noção do que acontecia...

Soquei a sombra com raiva. Mas antes que pudesse me levantar para dar uma surra nela, algo me parou. O barulho da porta da frente se abrindo. Levei meus olhos ao relógio na cabeceira da cama de Daniel.

–Caralho! – Falei com desespero.

–Daniel?! - A voz de Aurora, ela havia chegado mais cedo em casa.

MERDA! pensei sozinha, enquanto me escondia em um monte de roupa suja. MERDA!

Ouvi o som de passos em direção a escada. Tentei respirar mas o cheiro não era dos mais agradáveis.

–Alguem em casa?! - Aurora entrou no quarto, meu coração batia tao forte que dava pra ver meu peito subir e descer a cada batida.

–Hmm...Nao tem ninguem... Mas o que é isso aqui? - Aurora se agachou e apanhou o diario em suas maos, eu havia deixado cair no chão.

Por pouco nao sai debaixo da cama e me agarrei às palavras escritas por Lucinda. Ela não podia levar embora! Aquilo era meu por direito!

–Daniel vai me pagar por mexer no armario! Ou sera que foi aquela garota... - Aurora saiu do quarto pensando alto, ouvir seus pensamentos sobre mim foi estranho...

Ela não gostava de mim, mas me julgar ladra? É serio, eu poderia causar uma impressão pior nas pessoas?!

Comecei a me enjoar com o cheiro da roupa suja, como é que Daniel podia ser tao cheiroso e ter uma roupa suja tao fedorenta? Nao aguentava mais, estava prestes a sair e correr para o chuveiro quando ouvi a porta abrir de novo.

–LUCI... Eeeer... Alguem em casa? - Era Daniel, ele havia voltado mais cedo também e por pouco nos entregou.

Soltei todo o ar, mas quando fui inspirar de novo senti aquele cheiro nauseante e me detive.

–Daniel?! O que voce estava fazendo com isso em seu quarto? - Ouvi Aurora dizer... O que nao daria poder descer e ajudar Daniel a sair dessa.

–O QUE?! VOCE ENTROU EM MEU QUARTO DE NOVO?! POR QUE?! – Booa garoto! Tentar virar o jogo, fazer com ela se sentisse errada... Daniel era um profissional.

–NAO MUDE DE ASSUNTO MOCINHO! - Droga! Aurora parecia estar preparada parece aqueles joguinhos... Mamae cairia feito uma pata nessa... Mas a mãe de Daniel não!

–QUE SACO ME DA ISSO AQUI. - Me perguntei se ele estava tentando tomar o diario da mao dela... Parecia pouco provavel...

–QUEM DISSE QUE ISSO É SEU?! - A voz de Aurora estava irada, eu nunca ouvi alguem falar daquele jeito... Logo vi por que Daniel era tao "certinho", pelo menos na frente dela...

–Mas mae eu... - Nao consegui ouvir o resto. Droga Daniel! Fala mais alto! Pensei.

–Daniel voce precisa entender que... - Mais alto! Mais alto!

–É mas... - PUTA QUE PARIU! ISSO É HORA DE FALAR BAIXINHO?!

–Se voce... - Desisti de tentar ouvir e foquei em me manter viva sem respirar.

Ouvi passos, alguem subia as escadas. Me encolhi no meio de cuecas e meias. Eu queria chorar.

Enquanto os passos ressoavam nas escadas, algo me disse que era Daniel. E podia imaginá-lo suspirando e passando as mão pelos cabelos lisos e completamente bagunçados.

Eu podia ver a imagem nitidamente em minha mente. Uma gota de suor descendo por seu maxilar e encontrando o pescoço. Mais um suspiro de alívio e passos mais rápidos. Ansiosos para me encontrar a salvo.

Nao sei como, nem quando havia prestado atenção a esses detalhes, mas acertei. Me assustei comigo mesma, eu estava estranha, muito estranha.

Daniel entrou no quarto e fechou a porta, ele ofegava, de repente ouvi sua voz me chamar bem baixinho.

–Luciana? Onde voce esta? - Sai do meu esconderijo como um morto sobe da tumba para a superficie. - CARA... caralho!

–Aaah... Oxigeeenio!! - Eu disse ofegante tambem, olhei para Daniel e vi que ele tinha em suas maos o diário - Ela lhe entregou!!

–Sei lidar com minha maezinha... Enfim, voce esta bem? Voce esta com uma cara pessima... - Ele me ajudou a levantar e me sentou na cama.

–É serio... O que diabos tem na sua roupa suja?! Meu deus, eu tive que passar tres minutos sem respirar. - Eu disse deitando e respirando fundo. Era bom nao sentir cheiros ruins.

–Isso nao é possivel... - Daniel disse coçando a cabeça, ele parecia um pouco sem graça, mas logo passou.

–Enfim eu descobri uma coisa no diário. - Eu disse me sentando na cama e sorrindo. A cabeça rodava um pouco pela falta de ar. Mas eu me sentia bem por ter sido útil.

–E o que foi? - Daniel falou excitado.

–Voce estava com Lucinda na epoca vitoriana. Ou um parente seu... Algo assim... - Daniel nao me levou a serio e começou a rir, a gargalhar ate cair no chao, fiquei irritada ao extremo.

–PARA COM ISSO AGORA! Presta atenção. - Ele parou e ficou me olhando, ainda rindo um pouco – O diário de Lucinda está escrito em Aramaico e Latim. E mais do que isso, as sombras tem nomes, Anunciadores. Elas são um portal para o passado ou para outro mundo eu ainda não sei direito e a gente pode moldá-las e ver o que tem do outro lado, mas eu não sei o que tem lá, e ela disse que não é pra procurar o que não se deve e eu vi um cara com a sua cara, bem, um pouco parecido e ele tinha olhos violeta o que não é tao comum assim e...

–LUCIANA! – Ele falou irritado. – Respira! Eu não entendi nada!

–Aah... – Cocei a cabeça. – Acho melhor te mostrar...

–Mostrar o que? – Ele falou ainda confuso e eu ri.

–Para de fazer barulho Daniel, eu preciso de silencio para fazer isso. – Sentei-me mais ereta na cama e fechei os olhos.

–Que cara estranha... - Ele disse nao me levando a serio.

–Shhhhhiu! - Eu fiz levando o dedo a boca, ja havia perdido a paciencia, Daniel se calou.

Uma sombra se aproximou, era uma sombra negra e ela fedia a mofo. Eu a toquei e ela recuou um pouco, devagar me aproximei novamente e a segurei com força. Daniel nao era capaz de formular uma frase sequer.

–Voce... como... quem...?

–Silencio Daniel. - Eu falei sem desviar o olhar da sombra. Nao era facil "convocar e vislumbrar" Anunciadores... Comecei a molda-lo como dizia o diario.

Foi mais fácil que a primeira vez. Daniel se levantou devagar, como se tivesse medo de espantar o Anunciador e sentou-se ao meu lado. Quando terminei, uma imagem surgiu.

Era a mesma moça de antes, contudo ela tinha feições mais juvenis. Ela estava sentada em uma cadeira vermelha e segurava um lápis na mão. À sua frente, aquele Daniel desenhava.

–Voce está melhorando rapidamente Lucinda... – Ele disse e levantou os olhos. Senti Daniel vibrar ao meu lado quando viu a cor dos olhos do rapaz.

–Daniel... Nunca serei tao boa quanto você. – A mao do MEU Daniel agarrou a minha e ele prendeu a respiração. Eu coloquei a mão em sua coxa e beijei seu ombro.

–Calma... – Sussurrei no ouvido dele.

–Não me sinto bem... – Ele levou a mão ao peito e eu segurei seu rosto com as mãos.

–Calma. – Falei baixinho e o beijei. A imagem na sombra sumiu e o meu Daniel deitou-se na cama.

Me deitei sobre ele o coloquei a cabeça em seu peito. O coração dele baita rápido. Ele colocou a mão nas minhas costas e suspirou.

Logo eu caí no sono. Tive um sonho estranho e de alguma forma, familiar. Meu telefone tocava e eu tentava saber o que era ou não realidade.

Quando acordei, Daniel tentava moldar as sombras. Mas não fazia muito sucesso.

Me sentei na cama de Daniel. O peito em chamas, os ouvidos zumbindo o as imagens do sonho na cabeça.

–Dormiu bem? – Daniel disse quando me viu sentada. Eu não conseguia vê-lo da mesma forma que via antes.

–Hm... Sim... – Falei indo ao banheiro dele e trocando de roupa. Quando entrei de novo no quarto atendi o telefonema. – Alo...

–Lu... Ele já foi embora... Voce pode voltar pra casa meu bem... Onde você esteve? Eu estou preocupada... – Mamãe disse em uma voz chorosa e eu quis batê-la.

–Falo com você quando chegar em casa... – Falei, antes de desligar respirei fundo. –Frederick vai saber disso. – E desliguei.

–Algum problema? – Daniel falou sentado à beira da cama. Ele parecia inocente e infantil.

–Era só a minha mãe... Parece que finalmente lembrou que eu existo... – Falei olhando triste para o telefone.

–Quem é Frederick? – Ele disse com uma ponta de raiva na voz, eu sorri e me ajoelhei ao seu lado.

Meu coração apertou e eu o abracei. Daniel ficou parado por um segundo, mas depois colocou a mão em minhas costas.

–Frederick é meu irmão... Digamos que ele é meu anjo da guarda. – Eu disse ainda abraçada a Daniel.

–Se ele é seu anjo da guarda... O que eu sou? – Daniel falou passando o outro braço ao meu redor.

–Minha Gabe. – Eu disse com um sorriso bobo no rosto e Daniel retribuiu.

–Isso não me deixa nada feliz... – Ele fez um biquinho com os lábios e eu levantei a sobrancelha esquerda. – Para de me imitar Luciana Nightfall.

–Para de me provocar Daniel Grigori. – Eu e o beijei rapidamente. – Tenho que ir.

–Eu te deixo em casa. – Ele disse inocente.

–Não. – Eu falei e me levantei. – Não vai ser legal chegar com um garoto em casa. Eu quero que ela não tenha motivo nenhum para brigar comigo... Quero que tenha culpa.

–Uau. – Ele disse e eu saí da casa.

O sonho que tive no quarto de Daniel ainda passava pela minha cabeça. Eu precisava conversar com Anne e Cameron... Eu precisava saber o quanto eles sabiam. O quanto eu mesma sabia.

Dentro de mim, algo começava a brotar, algo imensamente importante.


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Notas finais do capítulo

Alooooô! Como estamos hoje? Espero que estejam melhor do que eu q passei metade do dia com enxaqueca e a outra metade dormindo... foi horrivel, maaaas pelo menos tive Already Fallen pra me deixar melhor. Bjs! Até o prox. cap. gatíssimas (ou gatíssimos, nunca se sabe.)