Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 12
Quer que eu desenhe?




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Afastei-me do desenho rápido e me sentei na cama. Meu rosto. A lingua de Gabi. O sorriso de Daniel. Nefil. De repente fui tomada por um profundo sentimento violeta. Só assim que consigo descrever aquela sensação que tomava meu corpo.

Fingi que nao tinha visto nada e ignorei aquela mesa. Tirei um caderninho do bolso e começei a rabiscar. Tomei cuidado pra nao ser nada... Suspeito.

Daniel entrou no quarto minutos mais tarde, sua boca estava vermelha e ele estava corado, parecia chateado. Ele bateu a porta atrás de si e coçou os cabelos loiros com fervor. O desenho dele pulou na minha cabeça e eu respirei fundo, rezando para nao corar. Voce o odeia Luciana.

Ele tomou um susto quando me viu. Devagar foi direto ao desenho e o colocou dentro da caixa, pensando que eu nao tinha visto sua movimentação. Quis rir mas nao pude. Eu bisbilhotei e estava errada por isso.

–Voce... - Ele coçou de novo os cabelos e riu para o chão. Depois levantou o olhar pra mim, parecia mais calmo. - Quando chegou?

–Faz algumas décadas... - Eu falei fechando o meu caderninho. O cheiro dele pelo quarto todo. Voce o odeia Luciana.

Sentamos lado a lado em sua escrivaninha, ele me ensinava um modo de desenhar diferente, percebi que era o mesmo usado no meu retrato, meu coração acelerou de novo. Decidi puxar conversa para me sentir mais calma.

–Por que voce chegou atrasado? - Meu tom nao era arrogante nem mal educado como de costume. Era um tom amigavel.

–Estava com a Gabi... - Ele respondeu com um tom quase rude, mas nao me deixei intimidar, quando só ele falava eu me sentia apaixonada e eu nao podia deixar isso acontecer. Voce o odeia Luciana.

–Por que nao assume logo o que sente por ela? - Eu disse tentando copiar os traços usados no desenho.

Daniel me olhou como se eu tivesse ficado louca, soltou uma bufada de ar, percebi que havia ficado zangado. Ele empurrou a cadeira para trás e olhou para o teto.

Quando respondeu nao foi com raiva, era como se fossemos amigos, irmaos conversando. O clima era mais leve. Eu me senti mais leve.

–Enlouqueceu foi?! Voce viu aquela cena no primeiro dia de aula! E isso por que a gente so fica, imagine se eu saisse com ela, seria o inferno! - Ele colocou as mãos atrás do pescoço e me encarou.

–Ta ta! Continue mentindo para si mesmo! - Nos dois sorrimos. - Por que nao me avisou que iria vir para casa mais tarde?

–Nao tava afim.- Ele rodou na cadeira como um menino. Era como ver o reflexo dos gemeos. Levantei a ele meu dedo medio, minha resposta para quase tudo.

–E por que demorou tanto, o que voces estavam fazendo? - Essa era a pergunta que eu queria fazer desdo o inicio.

–S-E-X-O. Quer que eu ilustre? - A velha expressao marota tomou seu rosto, acho que ele esperava que eu corasse, nao o fiz.

–Aah, nao há necessidade. - Eu disse rindo. - Sei bem como é.

Revirei os olhos, ele nao ficou satisfeito com minha atitude. Seu objetivo era me deixar sem graça, mas eu nao estava com vergonha. Eu estava puta.

Ele parou de girar na cadera e começou a descrever as posiçoes e sensações, nao era novidade para mim, por isso nem liguei, na verdade, respondia a seus comentarios com a mesma intensidade. Por vezes, ELE corava. O que me fazia rir intensamente.

Ele largou o lapis, parou de me ensinar e pelo resto da tarde, conversamos.

Falamos de desenho, de musica, de cores, de filmes, das nossas vidas. Bem, ele disse o que lhe foi conveniente, eu omiti a maior parte dos assuntos familiares, mas ainda assim, falei muito mais do que estou acostumada a falar.

Ele me contou das historias da família e de como, ninguem sabia nada sobre o passado desde seu tataravô.

–Tipo... - Ele disse rabiscando a folha. Os traços adquirindo uma forma interessante. Era o camafeu. Eu ri. - É normal nao saber nada sobre os antepassados e tal, mas... Minha mãe é historiadora sabe?

–Hum. - Eu disse imitando seus movimentos e desenhando o seu perfil na folha.

–E tipo, na faculdade... - Ele criava manias e tiques quando falava. Eu quis rir. - Eles tinha que fazer um trabalho e pesquisar sobre o próprio passado. E ela fez isso. Ela é muito boa. Aí... Ela viu que, desde a geração do meu tatataravô... Nao tem mais nada.

–Isso nao é um grande susto sabia? - Eu disse dando os toques finais ao desenho. - O absurdo é ela ter encontrado dados até essa geração...

–Nao é isso... - Ele riu. - Textos param pela metade, fotos cortadas, historias que nao podiam ser contadas.

–E o que isso significa? - Eu levantando o desenho para ele. Ele observou os traços por um instante.

–Meu olho nao é assim. Ela falou que isso significa que ele deveria ser algum bandido, ou alguem que nao podia ser... Como eu digo?

–Uma vergonha para a família?

–Por aí... - Ele sorriu. - Foda ne?

–Nem tanto. - Eu disse rindo. - Meu tio foi preso... Nao é tão bacana assim quando acontece na sua geração.

–Pode ser... - Ele me olhou. - E a sua familia? Voce sabe a historia?

–Nao saberia nem se eu quisesse... Minha tataravó mudou seu sobrenome antes de minha avó nascer, nunca soube qual seria meu verdadeiro sobrenome.

Conversamos até a boca ficar seca e quando a tarde terminou percebemos que ainda tinhamos muito o que falar, nos sentíamos a vontade perto um do outro.

Quando cheguei em casa, ainda odiava Daniel, contudo, o sentia como um amigo agora... Era estranho. Meu coração ainda acelerava quando eu o via, mas ignorei esse sentimento com todas as minhas forças. Até eu passar na GoldenSmith teria que aguentar aquela artimia.

No dia seguinte a professora de Historia faltou e prof. Sebastian foi substitui-la. Quando eu o vi entrar e escrever no quadro a palavra 'Deus' sorri. Depois da confusão do primeiro dia de aula, discussoes sobre assuntos polemicos estavam sendo evitadas ao maximo por todos os professores, ou seja, a aula de religiao estava um saco.

Eu esperava que ele fosse pedir que lessemos um texto, ou que fizessemos uma redação de Cristo ou qualquer coisa assim, mas ele nao fez nada disso.Ele se virou para a turma e disse em voz alta e clara como sempre:

–Entao classe, quem é deus? - Meu sorriso era gigantesco, minha lingua coçava para falar. Me segurei ao máximo para nao dar a boa e velha resposta atéia que eu queria e quando eu nao podia mais me manter calada, Cameron levantou a mao.

A turma esperou ansiosa pela resposta.


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Notas finais do capítulo

Boa leitura!