Pov. Austin

Algumas coisas passam como um borrão.

Momentos da nossa vida que passam diante dos nossos olhos e talvez eles sejam tão importantes e tão especiais que nós mal nos lembramos de como foram.

Não sei o porquê de estar pensando nisso logo pela manhã, mas acontece que eu nem mesmo tinha abrido os olhos ainda. Eu me lembrava de como a noite passada tinha sido, de cada detalhe, tudo estava bem claro na minha mente.

Por isso, acho que eu deveria estar sorrindo agora.

Eu não sabia se Ally já tinha acordado, mas podia sentir ela. Podia sentir seu corpo extremamente perto do meu, sua respiração quente no meu pescoço. Podia até mesmo sentir alguns fios de seu cabelo tocando meu ombro.

Eu não queria abrir os olhos porque estava focado na noite passada, e eu não queria que a mesma coisa que aconteceu da primeira vez se repetisse. Preferia ficar imaginando, lembrando cada detalhe. Como um verdadeiro idiota.

Um verdadeiro idiota apaixonado.

– Austin ? - Ouvi sua voz me chamando, mas ainda não sabia se estava pronto para abrir os olhos. - Está acordado ?

Ela se mexeu, provavelmente se virando para ficar de frente pra mim. Apoiou uma das mãos no meu peito e parecia me observar.

– Isso é mesmo real ? - Perguntei. - Você realmente não fugiu dessa vez ?

Ally riu.

– Abra os olhos e descubra.

Tinha certeza que eu estava sorrindo agora, encantado com aquilo. Com ela. Acho que nos últimos dias ela tem sido quase outra pessoa, ou outro lado super secreto que ela estava revelando agora, só pra mim. Isso fazia eu me sentir só um pouquinho especial.

Abri meus olhos sem hesitar e ali estava ela. De verdade. Enrolada nos lençóis com o cabelo bagunçado como num ninho de pássaros mas que eu achava engraçado e bonito. O sol da janela refletia nela, deixando seu rosto mais delicado.

– Você é linda - foi a primeira coisa que saiu da minha boca depois do que parecia um tempo. - Ela baixou o olhar, seu rosto corando, o que era adorável e estava se tornando bastante frequente. - Eu te faço corar tanto assim ?

Ally me deu um tapa leve no braço e riu.

– É, acho que sim - murmurou.

Pus minha mão por cima da sua e a beijei, devagar. Com a outra, puxei uma parte do tecido fino do lençol tentando descobrir um pouco do seu corpo.

– Austin - ela me repreendeu. - Não temos tempo, precisamos nos arrumar. - Resmunguei alguma coisa e a beijei de novo, ela não recusou, mas parecia apressada. - É sério, temos pouco tempo.

– Pouco tempo ? O que tem de tão importante ? - Perguntei, confuso.

Ela suspirou, e depois riu.

– A noite passada apagou sua memória por acaso ? - Perguntou, com um "quê" de diversão na voz.

– Você não faz ideia do quanto.

– O feriado terminou, Austin, precisamos voltar pra casa. - Ela disse, revirando os olhos ignorando o que eu disse antes e se levantou da cama, com o lençol colado em seu corpo nu.

Franzi a testa por um segundo e depois arregalei os olhos. Eu realmente não tinha percebido absolutamente nada dos últimos dias que não tivesse a ver com ela. Nem sei quando foi exatamente que chegamos aqui, nem á quanto tempo estamos nessa casa. Só me lembro de estar brigado com ela, depois fazermos as pazes, de ficarmos juntos, de eu ter dito que a amava, da noite passada e o agora.

O que aconteceu entre isso, com as outras pessoas que vieram com a gente - até mesmo Dez e Trish, que são mais próximos - escaparam da minha cabeça.

– O tempo parou - murmurei, e Ally me olhou confusa. - Enquanto estávamos aqui, eu nem me dei conta.

– Essa viagem foi boa - ela presumiu.

– Muito.

– Mas a vida chama, e eu não estou nem um pouco animada pra sair desse paraíso com você e voltar para aquela escola nojenta e pra casa do meu pai. Mas é a realidade. - Falou, pegando algumas roupas.

Ela já estava entrando no banheiro, quando eu a chamei de volta:

– Ally, - ela me olhou - as coisas não vão ser mais tão ruins agora, eu vou estar com você. Prometo. - Pisquei para ela e a mesma sorriu.

E é, disso eu tinha certeza: Estaríamos juntos a partir de agora e eu faria de tudo para que ela ficasse bem.

( ... )

– Então, como foi a noite de vocês ? - Trish perguntou para nós, assim que entramos no carro. Os outros já tinham ido, e assim como na ida, Dez dirigia, Trish estava no carona e Ally, Grace e eu atrás. Mas dessa vez, Grace não estava no meio de nós.

Trish tinha um sorriso malicioso no rosto e nos olhava com as sobrancelhas erguidas, curiosa e esperando por uma resposta,e claramente feliz por nos deixar sem graça.

– Normal. - Respondi, sem me intimidar com seu olhar maligno e carregado de malícia.

– Sério ? - Perguntou, fingindo decepção. - Pois eu mal consegui dormir, sabe ? Tinha muitos ... hã, barulhos vindo de algum outro quarto.

Ally apoiou a cabeça nas mãos e estava provavelmente vermelha. Dez, riu, olhando para nós pelo retrovisor como um idiota, que na verdade é o que ele é mesmo. Grace deu uma risadinha abafada, com a mão na boca.

– Vocês todos são uns idiotas - resmunguei, colocando um dos braços em volta de Ally.

– Tudo bem, tudo bem, Trish vai parar com isso, não vai ? - Dez praguejou, ainda sem tirar os olhos da estrada. - Ah, espero que não tenham esquecido de se protegerem, viu ?

Mais um coro de risadas, ainda vez mais altas.

– Será que isso vai acontecer sempre ? - Ally perguntou, resmungando. Sua expressão era engraçada e zangada, mas ela parecia estar se divertindo.

– Se depender de nós, vai sim. - Trish disse, rindo.

Ally suspirou e recostou a cabeça.

– É, parece que eu vou ter mesmo que aprender a lidar com isso. - Ela resmungou. - Faz parte do pacote completo de "estar namorando."

Não sei se ela prestou atenção no que tinha dito, mas logo ela apoiou a cabeça no meu ombro e eu percebi que sim, era real, e eu tinha mesmo conseguido entender ela, estar com ela. E isso era tudo agora.

E agora, estávamos juntos. E eu estava ansioso para mais desafios porque isso sempre acontece, é como somos quanto estamos juntos. E eu gostava disso, adorava, de verdade.

E pois é, como eu havia dito antes: Eu sou mesmo um verdadeiro idiota apaixonado.