Pov. Austin

– Isso é muito errado - Ally disse e logo em seguida, suspirou.

Já tínhamos voltado para a casa. Um pouco depois da minha "declaração", o resto do pessoal tinha encontrado a gente. Estávamos deitados na cama, lado a lado, como fazíamos tantas vezes enquanto dividíamos nossos pensamentos um com o outro.

Eu podia imaginar o que passava pela cabeça dela. O clima tinha ficado estranho depois que eu a falei a verdade, eu estava tranquilo, como se estivesse tirado um peso de mim, e não, eu não me arrependia de nada que eu havia dito. Sabia que ela ficaria com medo, e que tinha chances de ela querer se afastar de novo.

Mas se isso acontecesse, eu iria persistir como sempre. Não vou desistir dela.

Eu não queria que ela ficasse daquele jeito, então, durante todo o caminho, tentei a fazer sorrir de novo, deixar claro que estava tudo bem pra mim, porque estava mesmo. Deu certo algumas vezes, mas ela ainda parecia tensa.

– O que é errado ? - Perguntei, depois do que parecia um tempo.

– Eu e você. - A morena disse, colocando as mãos no rosto. - Isso não deveria estar acontecendo, Austin, é errado.

Eu ri. Parecia errado pra mim também, mas eu sentia que estava fazendo o certo. A coisa errada que também é a mais certa, isso faz muito sentido.

– Errado, por quê ?

Ally se virou para ficar de frente pra mim, os cabelos bagunçados o bastante para me fazer soltar uma risada. Ela parecia assustada, apavorada, e isso ainda era engraçado. Queria que ela entendesse que não iria se livrar de mim, de qualquer jeito.

– Não tenho experiências nisso, acho perigoso para a nossa sanidade. - Falou. - Eu sei que você acha isso engraçado, mas não é!

Eu continuei a rir.

– Acho que eu nunca tive sanidade mesmo, muito menos quando estou perto de você.

Ela me fuzilou com os olhos.

– Isso é sério, relacionamentos estragam as coisas, e eu sei que você é diferente, mas isso não me impede de ter medo, entende ?

Assenti para ela. Só que a mesma havia falado como se já tivesse vivido algo assim, o que é claro, ativou minha curiosidade no mesmo instante.

– Por acaso, algum outro cara ? - Perguntei, obviamente curioso.

– Na verdade,sim. - Ela disse, a incerteza na voz e o olhar distante. - Mas já faz algum tempo.

– Quanto tempo ?

– Mais de 1 ano, - ela disse - eu acho. Não foi exatamente uma coisa que eu contava, não é. - Por um momento, achei que ela não fosse continuar a falar. Mas Ally riu quando percebeu o quão curioso eu estava. Aliás, como não ficaria ? Eu tinha essa incrível mania de querer saber absolutamente tudo dela; cada detalhe. - Ele foi o primeiro cara com quem eu ...eu fiquei.– Eu não precisava perguntar o que "ficar" significava. - E bem, o único até você. - Suas bochechas assumiram um tom rosado. Eu provavelmente faria alguma piada com isso, mas eu ainda estava encantado demais com Ally falando tão claramente sobre algo importante pra ela comigo, sem parecer desconfortável ou incomodada.

– Qual era o nome dele ? - Perguntei.

– Isso não é importante. - Ela disse rápido. - Na minha história, vamos chamá-lo de ... Hãn, o Idiota Mascarado.

– Por que "mascarado" ? - Perguntei.

– Porque ele se escondia, criava máscaras em vez de ser ele mesmo.
– Isso parece tão poético.

– Não atrapalha minha história. - Resmungou, ofendida. Eu ri e a deixei continuar. - Ele não era ... mal. O Idiota Mascarado era popular, isso o tornava fútil, pelo menos quando estava com amigos. - Ela sacudiu a cabeça, querendo se livrar daquilo. - Mas ele sempre tinha o que queria.

"Era fácil ele ser o melhor em tudo e ainda tinha carisma, conquistava as pessoas com palavras e devo admitir que sua lábia era muito boa.

Mas o Idiota Mascarado podia ser mais de um. Ele me enganou assim, me tratou bem quando me conheceu, era bastante galanteador. Não é a palavra certa hoje em dia, mas foi o que passou pela minha cabeça. Enfim, eu nunca fui muito social e nem fácil de se lidar, você sabe, mas ele me convenceu a sair com ele e seus amigos um dia. Um bando de idiotas. Mas ele parecia diferente, na verdade hoje acho que ele fez isso de propósito, me levar com ele e seus amigos pra provar que não era igual, e como eu disse antes, tinha uma lábia muito boa. E assim foi indo, eu tentava me afastar, mas algo nele me fazia continuar. Eu tinha receio e um péssimo pressentimento, que no fim, estava certo.

Depois de um tempo, as coisas ficaram mais sérias, e eu estava, hã, nunca muito a vontade mas ignorava, achei que fosse tudo da minha cabeça ... "

Ela parou um pouco, e agora sim parecia desconfortável. Me aproximei mais dela, podendo tocá-la e tirá-la do transe.

– Você quer continuar ? - Ally pareceu confusa, como se nem tivesse percebido que tinha parado de falar.

– Ahn, claro, desculpa.

– Se você não quiser, não precisa.

– Não, não é isso, não é mais traumatizante pra mim nem nada, só fazia tempo que eu não pensava nisso.

– Posso esclarecer uma dúvida ? - Perguntei e ela logo assentiu. - Você já tinha todas essas coisas contra o amor nessa época ?

Ally deu um sorrisinho.

– Eu nasci com isso. - Falou. - Nunca cogitei a ideia de sentir algo assim por ninguém, muito menos pelo Idiota Mascarado. Enfim preciso continuar a história:

"Eu comecei a achar algumas coisas estranhas, digo, as atitudes dele. Foi quando eu comecei a desconfiar e quando o pressentimento estava pior, sempre aumentando.

Então, eu ouvi uma conversa dele com um dos amiguinhos ridículos, eles falavam algo sobre uma aposta. E bem, tudo fez bastante sentido quando ouvi meu nome. A aposta era sobre mim.

E eles queriam me humilhar, digo, em público, na frente de todos da escola, então, eu fiquei possessa, queria matá-lo, esquartejá-lo, qualquer coisa que o fizesse sofrer, e foi o que fiz.

Fiz exatamente o que ele iria fazer pra mim e ainda melhor. Acho que foi um dos melhores dias da minha vida. Uma semana depois, ele teve que mudar de escola. Nunca mais fiquei sabendo do Idiota Mascarado."

– Eu estou com medo de você - admiti.

Ela riu, mexendo no cabelo enquanto parecia satisfeita ao se lembrar da vingança.

– Ainda acho que foi pouco.

– Você queria o quê ? Pôr fogo na casa dele ?

– Teria sido bem legal - a morena disse, tranquilamente.

Agarrei sua cintura a puxando pra mim. Aquela cama tinha virado meu lugar favorito no mundo, queria que a estrela cadente passasse de novo e eu pudesse desejar ter Ally pra sempre.

– Você ainda está com medo ? - Perguntei, me referindo ao que eu tinha lhe falhado mais cedo. Ela apenas assentiu, levemente, fechando os olhos. - Eu só queria que você soubesse, não tem pressão nenhuma nisso. Não precisa se preocupar, ficar tensa ou com receio, eu sei o que significa pra você e estou certo do que sinto. - Pus a mão em seu rosto, a acariciando suavemente. - E eu sempre vou poder te dar uma coisa.

– O que ? - Ally perguntou, calmamente.

– Amor. - Respondi, convicto disso. - É só do que você precisa, sabia ?

Ally sorriu, como eu, também colocou sua mão em meu rosto.

– Eu acredito em você. - Falou, seus olhos não se desviaram dos meus, ela não tremeu e sua voz não falhou. Ela realmente acreditava em mim.

A beijei rápido. A sensação estranha de precisar dos seus lábios sobre os meus me invadindo com força total. Eu sabia o que estava acontecendo agora: Era o início do-que-eu-queria-que-acontecesse, mas que ela fazia questão de interromper.

Mesmo assim, eu podia aproveitar enquanto durasse.

Passei minhas mãos por baixo de sua blusa fina, sentindo sua pele macia e sabendo que a mesma respondia a todos os meus toques.

Isso sim era perder a sanidade.

Eu gostava de estar em cima dela, podendo ver o quanto ela delirava com cada beijo e toque meu.

– Espera, - essa era geralmente a parte em que terminava - a porta está trancada ? - Se ela queria saber se a porta estava trancada ...

Me levantei rápido, me obrigando a sair de cima dela, naquele estado deplorável de excitação para trancar a porta. E bem, isso era bom, não seria legal se alguém entrasse ali quando ...

Voltei para a cama e para a garota complicada que eu tinha certeza que amava. Nos beijamos de novo e ela pôs um dedo em meus lábios para que eu não a interrompesse.

– Você disse que pode me dar amor - começou, e eu gostei do rumo disso. - Pode provar isso ? - Tirou o dedo da minha boca.

Dei um sorrisinho safado antes de responder:

– Com toda certeza - respondi e voltei a beijá-la.