Pov. Austin

– Ally - a interrompi, a mesma falava que deveríamos seguir o grupo até a clareira, mas eu pensei no lugar que eu tinha visto e em como aquilo era melhor. Estendi minha mão de volta pra ela. - Confia em mim ?

Ela estreitou os olhos.

– O que está planejando ? - Perguntou, parecendo em dúvida.

– Você confia em mim ou não ? - Ally olhou para minha mão ainda estendida e suspirou. Talvez estivesse fazendo uma lista de prós e contras. - Qual é, eu não vou te estuprar.

Ela riu e eu também. Alguns segundos depois, ainda parecendo em dúvida, ela simplesmente segurou minha mão.

– Não faça eu me arrepender disso - murmurou enquanto eu a puxava pelo caminho.

– Você não vai. - A garanti.

Acho que ela achava estranho o fato de eu estar segurando sua mão; eu tinha feito isso antes, e é, fiquei um pouco surpreso por ela não ter recuado. Mas a cada dia que passa, ela me surpreende mais. Primeiro: Ally sempre me ignorava e provavelmente gostaria de me matar mentalmente. Segundo: Eu era realmente chato enquanto passava meu tempo livre a perseguindo. Terceiro: Ela obviamente não confiava muito nas pessoas, eu posso ter sido a primeira em muito tempo, e acho que devo me sentir honrado por isso.

Sua mão era pequena e fria, mas estranhamente confortável pra mim. Me perguntei o que ela acharia se eu a dissesse exatamente tudo o que eu sentia. E estava bem claro pra mim.

– É muito longe ? - A garota perguntou, com os dentes trincados e os olhos caídos. Eu gostava muito de como ela estava diferente, de como parecia mais ela de verdade do que antes.

– Está com preguiça ?

– Não é preguiça, é cansaço mesmo. Caminhamos bastante, lembra ? - Ela gesticulou com a mão livre para a nossa volta, aonde a mata ainda se encontrava.

– Quer que eu te pegue no colo ? - Perguntei, tendo em mente que a ideia era boa pra mim e pra ela.

– Não quero exagerar - murmurou.

Parei de caminhar e soltei sua mão. Ela não pareceu confusa porque acho que imaginava o que eu iria fazer. Passei um dos braços pelas suas pernas e o outro firme em sua cintura. Suas mãos ficaram em meu pescoço, em volta de mim. Ela era leve como uma pluma.

– Não vai reclamar ? - Perguntei, um pouco surpreso.

– Não, estou mesmo cansada. - Eu ri. Comecei a caminhar de novo. - Mas isso ainda é íntimo demais.

Franzi a testa.

– Nós temos intimidade. - Falei, esperando que ela realmente se desse conta disso. Simplesmente porque ela não poderia esquecer.

– Temos ?

– Claro que sim. Não aja como se não se lembrasse. - Eu disse.

Mais uma vez naquela semana, ela corou. Seu rosto enrubescendo era engraçado, a expressão marcada no seu rosto era engraçada. Aquele era um dos poucos momentos em que ela parecia menor, e não a Ally destemida e corajosa que eu havia conhecido. Ela era envergonhada, com a cara fofa como uma criança.

– Não precisamos entrar nesse assunto - ela resmungou, olhando para o chão.

– E também não precisamos fugir dele - insisti.

Ally ficou em silêncio.

Talvez eu tivesse forçando demais isso, mas é que, eu não poderia deixar de lembrar daquela noite. Não poderia esquecer seus lábios encostados nos meus, nem a silhueta de seu corpo ou o jeito que nossos corpos se encaixavam.

Talvez, só talvez, eu estivesse mesmo maluco.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa para tentar uma conversa novamente, vi os olhos de Ally se arregalarem e sua expressão passar de constrangida para maravilhada. Ela sorriu, um sorriso largo, que eu queria que estivesse presente sempre em seu rosto.

Tínhamos enfim, chegado no tal lugar.

Pov. Ally

Austin me colocou de volta no chão e eu pude contemplar melhor aquele lugar. Uma cachoeira. Era uma cachoeira. A última vez em que vi uma, foi em um piquenique com meus pais e minha irmã quando eu tinha uns 12 anos. E não era nem de longe tão bonita como essa.

A água escorria de algumas rochas escuras. Não era muito grande e imaginava que também não seria muito funda.

– Isso é lindo - murmurei indo diretamente em direção a água transparente como cristal. Com a ponta de alguns dedos, a toquei. Não estava nem muito fria nem muito quente.

– Dez e eu costumávamos vir aqui quando éramos menores. - Austin disse.

Me virei para ele, que estava bem atrás de mim, parecendo realmente estar pensando em alguma coisa, estava sério demais pra ele.

– Está tudo bem ? - Perguntei, vendo como ele parecia diferente sem seu tipíco sorriso no rosto.

– Está sim. Tudo bem.

Mesmo que uma parte de mim, grite para que eu me afaste, para que eu tenha mais receio e todas essas coisas, puxei sua mão. Sentei em uma pedra á beira da água com ele.

– Você está pensando demais. - Falei.

– Peguei isso de você.

Eu ri, sabendo que sim, parecia exatamente que estávamos trocando de papéis. Só naquele momento. Ele sorriu, fraco.

Acontecia algo extremamente estranho dentro de mim. Eu o fitei, enquanto ele olhava para a água, e eu desejava beijá-lo. Numa fração de segundo, era isso mesmo que eu estava fazendo. O loiro estava tenso, podia sentir até nos seus lábios. Quando nos separamos, apoiei minha cabeça em seu ombro.

Eu tinha algumas perguntas para mim mesma. E elas só seriam respondidas quando voltássemos da Viagem de Feriado, porque é quando eu teria que encarar a realidade de novo. Aqui e agora, eu estava apenas vivendo. Sem pensar em mais nada.

– Eu acho que te amo. - Ouvi. Atualmente, as pessoas falam muito isso e estão acostumadas a ouvir também. Mas poucas delas estão sendo realmente honestas. Acredito que o amor seja uma ilusão; ninguém no mundo pensaria em colocar outra acima de si mesmo como se vê nas histórias de romance. Por isso mesmo, são histórias, uma forma das pessoas acreditarem na pureza das coisas, naturalmente, em algo que não é real. Por isso, eu senti meu corpo tremer e simplesmente parar. Quando nos conhecemos, e Austin me perguntou sobre o amor, eu fui bem clara no que achava, e ele disse que tinha uma maneira de me ensinar. Mas acho que ele também não sabia o que era. Só que, provavelmente entendia o significado disso. Sendo verdade, ilusão ou nenhuma dessas coisas, eu simplesmente me calei. Tirei minha cabeça de seu ombro e o encarei, sem certeza de como estaria meu rosto agora. - Eu não quero que você diga nada, mas eu ... Eu não sei como ... Eu só sinto muito.

Eu também sentia. Sentia muito por ainda não entender essas palavras e por estar terrivelmente assustada com o poder que aquilo tinha.

Eu gostava de Austin, de verdade, muito mesmo. Mas, amor ? Isso era forte demais. Grande demais, e eu não queria saber dessa palavra.

A expressão no rosto dele continuava a mesma: calma e serena, mas ao mesmo tempo série e pensativa. Ele não parecia decepcionado nem nada disso. Parecia apenas ... verdadeiro. Estremeci ainda mais com isso.

Amor ? Não, definitivamente não.