Bebeh PDV

“Gabriel?”- o que ele queria?

Ele subiu por minha janela - com muita dificuldade por sinal - entrou em meu quartinho rosa e perfumado.
“Tenho que te falar algo, é que amanhã eu não vou à escola e nem vou estar em casa pela manhã, mas queria falar com você.”
“Por que não fala agora e por que não entrou pela porta?”
“Porque a porta está trancada... E porque eu quero falar com você." - ele se aproximou de mim e me abraçou.
Dã,  ele quer dar uma de Edward entrando e saindo por minha janela - VNC.
Fiquei lá tentando entender, mas não consegui - como sempre.
"Gabriel, fala logo." - afastei-o já irritada.
"Okay. Só quero de falar que... Desculpa por não ter te contando antes do Bernardo".
"Claro. Você vem pedir desculpas agora, depois de um mês?" - falei indignada.
"Desculpa, eu não queria que você descobrisse nada."
"Descobrir o quê? Que você tinha um irmão?"
"É..."- ele abaixou a cabeça. - "Ele não é para você."
"Ele não é para você" - imitei a sua voz e ele me fitou - "Ninguém é para mim agora nesse mundo?"
"Eu sou." - ele disse sorrindo.
"Não, não é." - seu sorriso apagou. - "A gente briga demais, Biel. Nós não servimos um para o outro.
Ele afagou meu rosto e eu suspirei.
"Mas tudo depois se resolve."
"Não, nada se resolve. O caso do Douglas continua na mesma." - vociferei.
"Mas ele continua sendo uma má influência." - ele disse bravo.
"Não é verdade. Ele está bem melhor agora e você vem falar merda. Quer saber, Biel, não quero brigar mais com você. Vê se me erra!" - falei o empurrando janela a fora.
Em um movimento rápido ele se virou e me parou, segurou o meu braço forte e disse.
"Você está tentando acabar comigo?"
"Não" - murmurei contrariada pela minha mente.
"Então me faz um favor, se gosta mesmo de mim." - eu não sabia se ainda gostava dele, mas decidi ver qual favor era.
"Fala."
"Não chega perto do Bernardo." - ele disse bravo e eu me alterei. O que ele queria?
Que você pare de falar com o Bernardo.
Eu entendi desgraça dos infernos.
Sou só sua voz na cabeça. Não um capeta.
Ignorei aquela maldita voz e fitei o Gabriel.
"Não pararei de falar com o Bernardo e continuarei perto dele." - ataquei.
"Vai parar sim!" - ele devolveu na mesma frequência.
"Como eu repeti há um tempo... Você não manda em mim!"
"Mas você não vai ficar com ele. Estou avisando, Brenda." - ele estava apertando meu braço ainda mais forte.
"Por quê?"
"Porque você só se aproxima de gente que não presta!" - ele gritou e aquilo girou pelo quarto e ficou lá me atormentando.
"Então você não presta." - sussurrei.
"Não." - ele respondeu olhando para a janela
"Merda, eu te odeio!" - joguei.
"Mas isso é para seu bem" - ele indagou.
"Não, não é. É só para me fazer ficar com você ainda mais. Você só pensa em si mesmo e nos seus desejos. Às vezes acho que você não gosta de mim!" - joguei na cara dele as palavras que tanto me atormentavam, as palavras que queriam sair de qualquer jeito. - "Você não gosta de mim" - repeti sussurrando.
"Não é verdade..." - ele tentou me acalmar.

Quase gritei pela dor que ele estava me causando não só no braço, mas no coração.
"É sim!" - gritei - "E é tão verdade que você está me machucando!" - ele olhou para meus braços e soltou-os.
"Desculpa." - ele me fitou - "Eu só quero te deixar livre disso."
"Como? Como me quer deixar livre se você fica segurando minhas asas para não saírem voando?" - disse com a voz embargada.
"Porque não quero te perder." - ele disse seco e eu fechei os olhos.
"Se não quer me perder, porque está me perdendo agora?" - com a voz embargada decidi. Ele havia me perdido.
"Como assim?" - percebi o choque nas palavras dele.
Eu suspirei em resposta. Não queria mais vê-lo. Virei-me sem olhá-lo e fui andando porta a fora, saí daquele quarto indo em direção à cozinha. Não o senti me seguindo, só depois que já tinha chegado à porta da sala eu ouvi um suspiro atrás de mim. Olhando para a porta decidi acabar com tudo de vez.
"Gabriel, você percebeu que não fomos feitos para ficarmos juntos. Temos que dar um tempo."
"Mas..."
"Não fala mais nada." - o interrompi - "Não devemos mais ficar juntos."
Eu virei e ele não me olhou apenas abaixou a cabeça.
"Deve sair agora." - argumentei fracamente. Estava sendo grossa sim, mas isso foi necessário.
"Devo, para nunca mais voltar." - ele disse aquilo numa naturalidade que fez meu coração murchar.
Abri a porta para ele e o vi saindo a pé - já que não trouxe carro. Meu Deus, deveria oferecer uma carona...
Menina você acaba de terminar com ele e ainda pensa nisso.
Você tem razão.
Vixi, acho que bateu a cabeça! Está achando que tenho razão.
Não bati a cabeça, VNC. Apenas eu perdi a razão.
Nada mais saia daquela VNC algo nela me deixou sem pensar em nada, ela não me respondia.

Eu estava sozinha em meu quarto o lugar onde reflito, quando meu celular toca - “Como se agora não existisse mais ninguém sobre a maior falta que eu sinto de alguém. Sobre a maior falta que eu sinto de alguém” - adoro essa musica - era a Cole.
“Alo, oi Cole. O que levou você a me ligar? “- Ela nunca me ligava, quer dizer só me ligava quando queria saber de alguma fofoca, mas eu sempre a decepcionava e nunca contava o que ela queria saber.
Eu a ouvi bufar:

"Eu queria saber de você. Você agora só fica com o seu namô antipático” – Meu namô... Acabou tudo, o aperto voltou - “E... Você ficou sabendo que o irmão do Gabriel vai voltar para a escola?”- Ela sabia que eu já sabia, só queria ter certeza então fui bem cara de pau
“Mas é claro que sabia, ele mesmo me contou”- se fudeu.
“Você fala com ele!" - ela suspirou - "Ele é um gato e muito gostoso. O que vocês conversaram? Conta tudo“- Tem gente que não aprende... Nem morta eu iria falar a verdade porque, com toda certeza, ela irá espalhar para todo mundo da escola.
“Bem, nos só conversamos. Ele me deu uma carona até a casa dele" - Um silêncio ficou na outra linha e um sussurro de tipo "Nossa isso está mais do que estranho" foi falado, provavelmente pela Cole. - "E me disse que era irmão do Biel." - continuei sem nem me importar.
“Só isso?”
“É... O que você esperava?”
“Nada de mais, hã... Agora eu preciso desligar. Tchau, amor”- ela desligou.
Enfim só novamente, não que eu goste da solidão, mas só com ela é que me sinto a vontade, só com ela eu posso pensar... Na verdade não, pois a VNC estraga tudo.
Hey, eu ouvi isso!
Que bom que ouviu. - sorri
Só com a solidão eu posso ser eu mesma, talvez porque eu a entenda ou porque temos muito em comum, nós duas estamos sós, sem ninguém.
Deitei em minha cama e comecei a lembrar de um mês atrás, quando o Bernardo me contou sobre o Biel – já faz tempo.
Entrei em seu carro, estava toda molhada e a chuva só piorava, ele ficava mais bonito ainda com cada gota de chuva que passava por uma fresta do vidro e molhava levemente o seu rosto. Ficamos sentados por um tempo, enquanto ele dirigia.
“Você é um ano mais velho do que eu certo?” - tentei puxar assunto
“Sou" - ele me olhou confuso - "Quem te falou? O Biel?” - seu tom de voz era gozador, mas como ele...
“Você conhece o Gabriel?" - perguntei curiosa.
“Er... Eu... Não foi o que eu falei”- tentou disfarçar.
“Não tente disfarçar, de onde você o conhece? Ele não fazia parte da sua gangue, fazia?”
“Eu não tô disfarçando... E é grupo, quantas vezes vou ter que repetir isso?”
Revoltei-me, que porra, ele não pretendia responder minha pergunta, então me calei
Ficamos perdidos no silêncio por um bom tempo, a chuva de antes agora era só uma garoa fina. Não o olhei mais - apesar de querer muito - ele me levava para algum lugar que eu não conheci, só tinha uma vaga lembrança. Ele parou enfrente a casa do Gabriel.
“Eu conheço o Gabriel" - ele olhou para a casa, depois virou o rosto para me fitar. Suspirou e olhou para o volante- "Ele é meu irmão.”- aquilo me atingiu melhor do que eu – e ele – esperava. "E ele não faz parte do meu GRUPO de amigos"
“Ele nunca falou de você ou da sua família antes e eu não me lembro de você dois anos antes dele partir”
“É que nos não fazemos o estilo ‘família exemplar’ se é que me entende e há dois anos... Bom, ainda bem que você não me conheceu naquela época." - ele desceu do carro fiquei admirando.
Você namora o irmão dele, acorda - VNC maldita.
“Você não vem?” - ele me perguntou.
“Claro” - desci do carro e vi o meu carrinho lindo e amarelinho no jardim da casa dele. Confusa, corri até ele - “O que meu carro faz aqui?”
“Gabriel deve ter vindo com ele, quer dizer, trouxe" – ele me fitava irritantemente –“Posso te pedir uma coisa, gata?”
“Bem... Pode, eu acho “- ele me olhava intensamente parecia querer me enfeitiçar
“Não conta pra ele que eu te falei.”
“Por que eu faria isso?”
“Por que eu to pedindo! “- OMG, xonei no bofe.
“Ok, mais não quero saber de rolos com ele, não quero mas um motivo para brigarmos, o que temos já me basta”
“Ele não te entende não é? Quero dizer, é como se ele mal te conhecesse”- por mais que eu não quisesse, ele tinha razão e... Não sei como ele sabia disso.
“Isso não vem ao caso agora e eu já tenho que ir, mas foi um prazer" - grande prazer - "te conhecer”
“Tudo bem, espero te ver mais, aqui e na escola.”
Entrei no meu carro e acenei como um TCHAUZINHO para ele, que retribuiu o aceno e se virou rapidamente de costas para mim. Liguei o carro e quando já ia saindo...
“Espera um pouco" - ele gritou e veio em minha direção – “Por qual motivo ele disse para você que voltou, mesmo?” - não sei por que ele me perguntou isso, ele devia saber, senti que tinha algo mais naquela pergunta, mas não consegui decifrar.
“Ele falou que voltou por mim porque me amava”-corei na hora
"Certo." - Bernardo disse hesitante, como se quisesse me contar algo. - "Tchau" - ele apenas disse saindo da janela do meu carro.
Fechei a janela e sai com meu carro daquele lugar. Durante a viagem inteira fiquei pensando no por que daquela pergunta. Afinal ele deveria saber já. Certo?

Pensei mais um pouco. “Por qual motivo ele disse para você que voltou, mesmo?” aquela pergunta ficou rodando na minha cabeça. Como assim qual motivo? E esse 'ele disse' estava em duplo sentido, como se fosse outro motivo, como se houvessem outros e ele tivesse mentido para mim.
Ele mentiu para mim.
Viu trouxa, ele mentiu para você.
Não sei por que ainda te ouço.
Porque você é idiota.
Obrigada por me responder, acho que é por isso mesmo.
Não, você não é idiota, é esperta por me ouvir.
Lá vem a que se acha. Para com isso, espertinha do capeta.
Para com isso você. Vamos pensar... Coisa que é difícil para você...
Para você também, você é a minha mente.
Cala a boca. Deixa eu ver...
Voz na cabeça não vê...
PARA DE ATRAPALHAR, PORRA! Estou pensando. Algo que você lembrou me fez pensar no seguinte: Biel disse para você ficar longe do Bernardo, que lhe perguntou sobre o motivo do Biel ter voltado. Eles escondem algo que envolve você e eles juntos.
Isso eu já sabia, idiota... Mas espera... Eu lembrei que ele foi embora por causa da “irmã” dele... Ou quer dizer, ele não queria que eu soubesse do irmão dele e me fez achar que tinha uma irmã... Mas o que me pergunto é o porquê disso.
Menina, está ficando esperta. O porquê você só irá descobrir por eles e não por uma mera VNC.
Que medo de você. Está me ajudando e se rebaixando.
Eu sei, estou te ajudando porque você sempre fica em dúvida, cérebro de mosca...
Não perde a oportunidade...
Não mesmo. Sou uma VNC, mas sou esperta. Agora vai dormir, pois amanhã terá de descobrir coisas.
Claro que vou, irei descobrir a verdade.

Ash PDV

Estava na varanda do segundo andar de casa, sentada no sofá pequeno que tinha ali. Fiquei olhando o céu azul e sem nuvens.
“Terá uma ótima noite hoje.” - Papai apareceu falando.
“Eu sei.” - suspirei.
“Que foi querida?” - ele perguntou. Como me conhecia bem...
“Saudade.” - apenas falei. Ele entenderia.
“Claro, o Douglas. Gostava daquele menino.” - eu não disse?
“Eu também.” - mais do que você imagina, pai.
“Mas está se encontrando com outro menino, não é?” - ele perguntou na lata. Não dá para disfarçar, não?
“Sim.” - afirmei - “Ele me faz bem.”
“Eu entendo. Mas filha, tome cuidado, eu sempre digo isso, mas é verdade, não apresse um romance, ele tem que ir normalmente... Fluir.”
“Mas não estou apaixonada pelo Renato, sou só amiga dele.”
“Certo.” - ele refletiu - “Renato. Nome interessante para alguém daqui.”
“Como assim pai?”
“Esquece filha. Estou doido, bem já sou normalmente, mas esquece. Pequena, sabe que te amo e pode contar comigo, hein?” - ele sorriu.
“Claro, pai, isso foi estranho, muito mesmo, mas sei bem. E não se preocupe, não sei se estou apaixonada por alguém daqui.” - sorri.
Ele riu e saiu andando para o quarto dele. Não entendi o riso, como meu pai é estranho. Mas será que ele tem razão. Que eu provavelmente esteja mesmo apaixonada por ele?
Que mentira do capeta. Acho que não em!
Quer ser você? Minha mente?
Não sou uma VNC.
Ah vai à merda, não sou a Brenda!
Comecei a rir pelo pensamento idiota. Claro que estou ficando maluca... VNC, meu Deus, acho que vou tomar um banho para relaxar.
Fui em direção ao meu quarto, peguei a minha toalha e fui indo em direção ao banheiro. Será que estou mesmo me apaixonando pelo Renato? Porque ele é muito parecido com Douglas. Mas ele não é o Douglas, dona Ash, então pare de se iludir, ele também é diferente.
Abri a porta do banheiro e pendurei a toalha no boxe, voltei para meu quarto para pegar minhas roupas. Peguei uma saia e uma camiseta rosa, fui indo em direção ao banheiro quando o telefone tocou.
“Filha, atende para mim!” - meu pai gritou.
Corri até a sala, desci as escadas e - quando estava no quarto toque - atendi.
“Alô?” - falei exaltada.
“Alô Ashley, preciso falar com você!” - uma voz grossa me assustou.
“Quem é?” - perguntei.
“É o Gabriel!” - parei. Congelei.
Espera o que será que aconteceu para o Gabriel me ligar?