Mêeh PDV.

 

Pensei, e pensei. Só meu pai pode me ajudar.

Mas ele não está aqui, como as minhas perguntas serão respondidas agora?

Deitada em minha cama, acordei e não conseguia dormir mais, olhei no relógio, só faltavam 20 minutos para minha hora normal de acordar. Decidi fazer uma listinha de coisas mentalmente.

Hoje é terça - feira.

Tenho que descobrir tudo sobre meu pai.

E meu pai não está aqui. Concluindo... Estou ferrada.

Mas a Ash ia me ajudar... E assim... Estou mais ferrada ainda.

Meu celular começou a tocar. Fui olhar quem era, era a Ash.

“Arô.”

“Oi Mêeh, é a Ash.”

“Sei. Oi, tudo bem aí?”

“Sim. E então, vou aí à sua casa?”

“Tá, pode vir, mas não sei o que vamos achar.”

“Ah, pelo menos algo nós achamos.”

“É, vamos ver.”

“Você não quer que eu vá com você né.” - Não era uma pergunta.

“Não. É que é muita coisa para mim. É confuso.”

“Então tá bem. Aí, depois da aula nós vamos direto para sua casa, okay.”

“Claro. Então até daqui a pouco. Beijos”

“Até. Beijos.”

Desliguei e sorri. Amo a Ash, ela me ajuda em tantas coisas.

Só quero ver como vai ser encontrar coisas aqui em casa.

Meu despertador começou a tocar, musiquinha irritante, fui me arrumar para a escola.

Para mais um dia de escola.

 

Bebeh PDV. Power Ranger Rosa.

 

Tomando café? Ok.

Fiz a lição? Mais ou menos.

Tô com sono? Claro.

Vou para a escola hoje? Queria que não...

Ontem foi uma merda.

Além de não ter sido convidada para ir com o povo lá no mastro. O intervalo foi uma merda.

 

 

O intervalo tava uma merda. Porque o Biel – apelido que dei ao Gabriel – ficou olhando uma garota – VACA.

 

 

Tá, eu sei, que é infantil da minha parte ter ciúmes, mas eu tenho. Sou humana e não perfeita. E vê-lo olhando - na verdade, secando a garota - foi horrível, fiquei muito chateada e com uma dor terrível no coração.

Já toda arrumada, sem fome e sem nenhuma animação, fui para a escola.

Terça–feira, ainda é terça–feira. Deveria ser sábado. Ótimo!

Vi as meninas, mas decidi não falar com elas porque estava muito desanimada. NÃO! Eu tinha que falar, então cheguei até as meninas e puxei a Mêeh e a Ash com tudo.

“Porque não me chamaram para ir para o mastro?”

As duas estavam assustadas, mas a Ash me respondeu:

“Ué, eu liguei para você duas vezes, mas você não me atendeu.”

“É claro que não! Meu celular está no conserto!”

“Desculpa. Mas eu não me lembrava!”

“E por falar nisso... Bebeh, ainda bem que você não foi” - A Mêeh nos interrompeu.

“Por quê?” - Estava assustada - "O que aconteceu?"

“Ah, coisas muito estranhas.”

“Tudo bem, depois me contem. Agora estou sem ânimo para nada.”

“Porque amor?” - Lá vem a Mêeh com suas consolações.

“Longa história!” - Tá, era bem curta, mas eu não estava querendo falar nada.

“Tudo bem, mas você vai ficar bem?”

“Claro.”

Elas me deram um beijo no rosto e então foram para o grupinho das meninas, que estavam acenando e dizendo um 'oi' para mim. Eu só retribui dizendo 'oi'.

As minhas aulas passaram voando mesmo e a de matemática lerda como sempre. No intervalo, eu estava sentada com o Biel, que - por sinal - ficou olhando para aquela garota. Estava um silêncio irritante entre nós e o pior: perguntar algo sobre nós dois para ele ia ser um erro, pois o Eduardo iria ouvir isso e não seria bom, não mesmo.

“Vou até o banheiro” - já que não tem nada para fazer aqui.

“Ah, claro, te esperamos.” - ele nem se importava que eu estava ali com ele. Porque esperar?

Sabe, vou demorar bastante, quem sabe ele vem atrás de mim. MENOS BRENDA!

Cheguei ao banheiro, e sentei em uma cadeira que fica ali. Estava tudo tão calmo.

 

Vários minutos depois.

 

Levantei e me olhei no espelho, que horror que eu estava: vermelha como um tomate. Cadê meu pó? Lavei meu rosto e me olhei de novo.

“Hã...” - Gabriel apareceu atrás de mim e me deu um maior susto.

Parecia um galã de novela das oito, que passa as nove.

“Gabriel...v-v-você a-a-aqui!” - Ele foi me procurar UHU!

“É sou eu meu amor, não posso mais ficar longe de você!”

OMG. Ele disse isso? Mas ele estava no banheiro feminino.

“Você não pode estar aqui!” - Por que disse isso?

Ele ia se declarar para mim meu GOD!

“Porque, meu amor, tu me rejeitas, tu não sabes que te amo, que não vivi sem teu amor, tu és minha vida!”

O que? Porque ele estava falando assim? Que horror. Ele foi meio brega agora.

“É que aqui é o banheiro feminino.” - dert.

Eu estava assustada e ele com uma cara de tarado, quando ouvi passos.

“Tu tens que ir já, se te pegam aqui não sei o que te podes acontecer.” - Quando foi que comecei a falar assim? Nunca fiz teatro!

Comecei a empurrá-lo pelas costas para fora, quando, de repente, ele se virou e me abraçou. Pega de surpresa, congelei, ouvi-o sussurrar para mim.

“Não antes de um beijo.” - OMG. Eu vou beijar ele. Isso! Eu irei beijar quem tanto amo. Sou demais, consegui o que queria. Nossos lábios estavam a centímetros de distância, sentia seu hálito gelado de bala de menta, quando faltaram milímetros para nos beijarmos alguém me cutucou.

“Ei, Bebeh, acorda tocou o sinal!” - quem era?

Abri os olhos e vi o Biel, levei um susto e acabei me levantando rápido demais, que fiquei meio tonta.

“Hãn, o que houve comigo?”

“Você estava dormindo.” - Biel disse meio que rindo de mim.

“Dormindo, quer dizer que você não se declarou para mim e...” - Ixi, será que falei muito? Você acha? Cala a boca vozinha chata! Ah, sabe que tenho razão.

Desconectei aquela vozinha da minha mente.

“O que você disse?” - Biel perguntou com uma cara de susto.

Como não tinha percebido que era um sonho? Eu deveria ter desmaiado quando ele me abraçou!

“Muito mico?” - Por favor, diz que não!

“Bom, pelo menos você não babou!”

Biel sorriu dizendo isso e Edu riu. Eu sorri para o Biel, nem liguei para o Edu.

“É isso que mais gosto em você.” - Gabriel disse, e eu não entendi nada.

“Isso o quê?”

“O sorriso e o bom humor” - ele sorriu gloriosamente para mim.

Bom, eu sorri para ele, e acabei rindo. Ele riu junto, e fomos para as aulas, só fiquei pensando no que houve, no sonho e na pagação de mico. O Biel se sentou com o Edu e eu sozinha. Nenhuma das meninas estava em minha aula hoje.

Porque eu tenho que sempre pagar mico? E eu é que sei? Você que age, eu só penso! Ô VNC (Vozinha Na Cabeça), cala a boca ou senão eu te mato. Como pode me matar, sou só os pensamentos que você cria.

Foi quando entrou uma garota na sala e falou com a professora, que a apresentou, como se ninguém conhecesse essa vaca. Ela a menina que o Biel ficava olhando.

“Alunos, a nossa querida aluna” – querida para você, amigo - “irá sair da escola!”

“O quê?” - gritou Biel.

Todos olharam para ele e Edu riu. Como se para esconder a curiosidade, Biel olhou para ela e perguntou algo com os lábios, só entendi. “Explique-me.” e só. Ela fez um sinal de 'depois', e ele concordou sorrindo.

Uma lágrima caiu de meu rosto, limpei-a de meu rosto, estava com raiva e com dor.

Tocou o sinal da saída, fiquei lá esperando todos saírem até ele... Com a sala já toda vazia me encolhi na mesa e comecei a chorar baixinho. Eu mal o reencontrei e já o perco. Era muito para mim, não iria suportar.

“O que foi? Está bem? Foi algo que fiz?” - Uma voz que reconheço de qualquer lugar me perguntou aflita.

Ele estava parado em uma posição muito sedutora... FOCO...

“Eu...”

“Eu te esperei para te levar para o teu carro. Mas você não saiu, então resolvi te procurar.” - Ele se aproximou mais.

“Eu estou b-bem.”

“Então porque está chorando?”

“Quem se importa?” - Ele deve se importar sua idiota!

Desliguei a VNC da minha cabeça e me concentrei.

“Eu me importo... Quer dizer...” - Ele já estava ficando nervoso.

Eu agora vou desabafar, hora de contar o que sinto!

“Quer saber na real Gabriel, você não se importa que eu sei bem!”

“E como assim não me importo?”

“É, não se importa e a maior prova foi que você foi embora sem nem dar uma explicação. E agora volta como se nada tivesse acontecido, como se só tivesse passado um fim de semana longe. Mas, novidade, se passaram dois anos e eu nunca irei te perdoar... Por ter me deixado sofrer...”

Meu coração batia freneticamente. Eu disse tudo aquilo? E ainda mais para ele? Claro que sim, para quem mais você falou, a Xuxa?

Não liguei no que a VNC me dizia, apenas vi que a garota frágil e delicada e um pouco tímida disse tudo isso para o garoto que ela amava. Era surreal. O silêncio entrava na minha cabeça gritando coisas que não entendia e também não ligava, seu olhar era de vergonha e medo. Se olhos encheram de água e ele virou de costas antes que as lágrimas escorressem por sua face e eu visse. E eu já estava chorando a tempos.

“É cosa minha... Um d-dia eu te digo.” - Ele meio que soluçou um pouco.

“O que não foi dito antes vale a pena dizer agora?” - Eu gritava e as lágrimas só caíram mais. Ele não me olhava, não tinha coragem.

Eu me levantei, ignorei-o, peguei minha bolsa e comecei a andar até o corredor. Ele saiu correndo na minha frente e me parou, seus braços em meus ombros.

“Você não vai acreditar, mas esperava isso de todos, menos de você.”

“Gosto de surpreender” - Olhei para ele com uma cara triste. Ele me olhou, deu um sorrisinho, mas depois voltou à cara séria.

Tirei as mãos dele de meus ombros e fui andando, ele me puxou e me virou.

Eu tentava sair, mas seu aperto era forte.

“É que sabe, você é tão frágil, que eu...” - Ele parou.

“Sou mais forte do que pensa. Não sou qualquer uma, não sou...” - Sussurrei as palavras, devagar.

Olhei-o friamente e ele soltou minha mão, grosseiramente saí do corredor, indo para meu carro. Eu queria que ele sentisse o quanto sofri.