O dia já estava claro quando os dois entravam em casa, pé ante pé, pra não acordar ninguém. Seguravam os sapatos nas mãos, e tentavam não fazer barulho.

— Bom dia, crianças! - Jô já fazia o café.

Eles começaram a rir, pareciam bêbados. Ela entregou uma caneca de café pra cada um.

— Vai melhorar a ressaca.

— Não bebemos não, Jôzinha. - Adrienne pegou a caneca, sorrindo.

—Então por que estão chegando assim, a essa hora, sem um aviso?

— Desculpa? Nós paramos pra ver as estrelas e dormimos no mato. Só vimos quando o dia amanheceu.

— Vocês dois... Na situação que estamos, fosse uns dias antes colocava os dois de castigo!

— Ah, sua linda! Já tá tudo resolvido! Até acordo com o velho psico já fizemos! — Adrienne abraçava Jô, tentando confortá-la. E Stefan ria, por trás da caneca.

— Tá bem, vão os dois tomar um banho e trocar essa roupa cheia de terra. Anda! Antes que eu me arrependa e coloque vocês de castigo mesmo!

Os dois pegaram os sapatos e subiram correndo e rindo. Pareciam dois adolescentes levando bronca da avó. Foi hilário.

— Ah, não ri, Stefan. Ela é fofa, vai?!

— Sim, ela é. Mas...

E não se aguentavam, tentando abafar o riso pra não acordar Alex e Danny. Ouviram Jô reclamar, lá debaixo, do pé da escada. Dizendo pra eles entrarem logo antes que ela subisse e puxasse as orelhas deles. Foi aí que riram mais ainda, mas, entraram em seus quartos, antes que a bruxa subisse mesmo.

—--

Alex levantou logo depois deles chegarem e Jô comentou como os dois tinham chegado. Então, ela foi até o quarto de Adrienne, curiosa.

— Hey.

— Oi, entra. - Adrienne ainda estava saindo do banho.

— Que história é essa que a Jô me contou, você e Stefan passaram a noite fora?

— Ah, nada demais não. Eu até fui te chamar, a gente foi ao cinema. Você já estava dormindo e o Danny nem quis ir. Aí fomos, mas não tinha nada interessante e a gente foi tomar sorvete. E na volta, passamos na cachoeira que ele falou que era lindo de noite. Aí paramos e ficamos conversando um pouco, olhando o céu.

— Olhando o céu, Addy? Só isso? O que tá acontecendo entre vocês dois?

— Ué, Alex, nada. Stefan é meu amigo, como vocês.

— Amore, eu nunca te levei pra olhar estrelas não! Nem o Danny, desculpa.

— Ah, Alex, deixa de ser cética! Stefan tá só passando por uma fase difícil. Ele precisa de companhia. Só isso.

— Hum, ok. Continua.

— Aí foi isso, a gente ficou conversando e se deitou pra ver melhor. E dormimos. Acordamos com a claridade e voltamos.

— Sei. Igualzinho aquele dia aqui na piscina, né. Reparou que vocês tem feito bastante isso, adormecer juntinhos?

— Ai, você está sendo maldosa. Ficou muito tempo com a Katherine, é?!

— Não estou sendo maldosa, estou sendo realista. Está acontecendo alguma coisa e os dois estão em negação! Vai por mim!

— Não está não! Para com isso!

— Tudo bem, tá bom. Não falarei mais nada! Vou tomar café. Vai descer?

— Agora não, vou dormir. Ainda estou casada.

Alex saiu e deixou Adrienne pensativa. A verdade é que achava, sim, Stefan lindo. E, o primeiro contato com ele foi de paquera. As coisas mudaram, mas, nunca negou isso. Achava ele interessante, inteligente, gentil e atencioso. E gostava muito da companhia dele. Tanto que nem notava o tempo passando. E, sim, tinha reparado que tinham passado mais uma noite juntos. Afastou os pensamentos. Era besteira, maldade da cabeça da Alex. Deitou-se pra dormir.

No outro quarto, Stefan sorria. Da bronca de Jô, dos dois entrando sem sapatos e da crise de riso. Enquanto tomava banho, lembrava da noite agradável. Fazia tempo que não saía só pra se divertir, e que não se divertia tanto, sem nenhum problema acontecendo. Finalmente, tinha paz. Ninguém querendo matar ninguém, nenhum vilão atrás deles. Tinha quase esquecido de Elena, por um momento, até lembrar do dia na roda gigante. Pegou seu diário pra escrever.

Olá diário.
Passei uma noite divertida. Saí com Adrienne pro cinema, mas, acabamos ficando na praça, tomando sorvete. Senti como se pudesse ser normal. Ao lado dela esqueço a sede de sangue. Me sinto leve e livre. Acho que não ser visto como um monstro ajuda nisso. Ela não me julga pelo meu passado.
Então, me lembrei de Elena. E estou sentindo sede. Lembrei como nos divertíamos quando ainda me alimentava de animais. Me esforçava por ela, sabia que se importava com os outros, não queria magoá-la. Mas, a verdade é que Damon sempre teve razão. Sou um vampiro e preciso agir como tal. Preciso de sangue humano. Posso evitar machucar pessoas, evitar a caçada, da época que era um estripador desligado. Mas, não posso voltar a dieta sem sangue humano.
Agora ela também é uma vampira e já entende isso. Quem dera que entendesse antes. Agora já não me importa mais. Ela fez a escolha dela e espero que seja feliz com ele. Por aqui, seguirei meu caminho, tentando esquecê-la.

Ele fechou o diário sentindo um aperto no peito, e muita sede. Queria afastar os pensamentos e começou a lembrar da noite anterior. As risadas, a conversa, as histórias hilárias das cortes e as aventuras das “gêmeas”, que era como chamavam Adrienne e Katherine naquela época. Embora ele continue achando as duas completamente diferentes uma da outra.

A sede reduziu mas não sumiu, então, Stefan desceu pra tomar alguma coisa. Encontrou Alex na cozinha, tomando café. Deu bom dia e se aproximou pegando uma xícara e um pedaço de bolo.

— Você tá bem, Stefan? Parece pálido. - ela observou.

— Um pouco de sede. Lembranças.

— Quer conversar?

— Não. Eu... na realidade, Alex, lembrei da época que me alimentava de animais por causa da Elena. Quer dizer, Lexi me induziu a isso pelo meu descontrole. E acabei seguindo. Mas, vejo que agora, talvez, se eu apenas tivesse tentando pequenas doses de sangue humano...

— Stefan, não tinha como você fazer isso antes. Não tínhamos bolsas a nosso dispor naquela época. Não se martirize com isso, ok?!

— É, tem razão... se eu provasse da veia era o problema. Era o motivo do descontrole.

— Então, agora você consegue se controlar, não é?!

— Estou tentando. Tenho conseguido. - ele respondeu com um sorriso tímido.

— Isso é excelente, logo você já vai falar isso com mais convicção! - Ela concluiu animada. Danny conseguiu se disciplinar, Stefan era até mais aplicado. Conseguiria também.