Tales of Lost Love escrita por Drix


Capítulo 11
Blessing and Curse *




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Stefan saiu, sem rumo. Pensava em alguns locais que poderia ir e no que combinou com Lexi antes do véu subir novamente, entretanto, não tinha nenhuma ideia de onde iria, nem de onde ficaria. Apenas dirigiu. Tentava não pensar na dor que sentia. Quando percebeu estava próximo a cachoeira, e podia ver o sol se pondo, e só faltavam algumas horas para isso.

“As cores são lindas nesta época do ano.”— ele pensou.

Stefan encostou o carro, sentou no capô, pegou algumas bolsas de sangue e admirou a vista enquanto se alimentava. Fazia tempo que não ficava sozinho, e mais tempo ainda que não cuidava somente da própria vida. As palavras de Jeremy ainda ecoavam em sua mente.

A bondade do seu coração será sua benção e sua maldição.” Emily Bennet o avisou. Nunca conseguiu superar a morte do pai, e nunca se perdoou por isso. Odiava admitir que Damon estava certo. Apesar de tudo, ele era seu pai, o homem que ele aprendeu a amar e respeitar. Não podia simplesmente esquecer que foi ele o responsável por sua morte.

Stefan ouviu um barulho de motor, ficou atento e tenso. Ainda não sabia se podia se controlar. O carro parou, e Danny saiu dele.

— Hey! Te procurei por toda parte hoje! Ficamos muito preocupados com sua saída repentina.

Stefan respirou aliviado e sorriu. Ficou contente em perceber que apesar de completos estranhos, eles se preocuparam com ele.

— Acabei de receber uma mensagem de uma amiga avisando que Adrienne esteve na mansão atrás de mim. Obrigado, mas agora estou bem. Como contei, sou um estripador, e no momento em que percebi toda a humanidade da Katherine, me assustei com o que veio à cabeça.

— É estranho não é? Nunca vi um vampiro curado até hoje. - Danny disse, se aproximando com uma garrafa na mão - Mas, essa sede, eu sei como vem. As batidas do coração, a pulsação, a corrente sanguínea, e a única coisa que passa pela cabeça é essa vontade de beber até o fim. - Stefan concordou.

— Eu sei, Stefan. As meninas brincaram hoje de manhã, mas, já estive assim, descontrolado. Adrienne me ajudou. E nós podemos te ajudar também.

— Como? Como ela conseguiu te ajudar?

— Primeiro, descobrindo a raiz do problema. Isso foi o mais fácil, na verdade. O que desencadeia a vontade de desligar e não se importar com nada. Isso é o que transforma a gente. Essa dor aqui dentro - ele bateu no peito - essa culpa... O mais difícil é se livrar da culpa.

Danny, que aparentava ser tão tranquilo e divertido, neste momento pareceu sombrio e misterioso. Mas Stefan entendeu. A culpa era uma coisa que eles tinham em comum, e por isso ele o entendia perfeitamente.

***

> Flashback

Daniel Richard Miller

Ano 1640 - Cardiff - País de Gales - Europa

Dois rapazes bebiam e conversavam numa famosa taberna da cidade. Quando, inesperadamente, uma moça aparece pedindo informação. Ela era linda, com olhos e cabelos negros, a pele tão branca como a neve. Daniel se levantou para ajudar a moça e se ofereceu para acompanhá-la. Ela sorriu, agradecida. Neste momento, ele sentiu um comichão, nunca havia visto alguém tão linda como ela.

O sotaque diferente o fez perguntar de que país ela tinha vindo, a moça respondeu.

Paris, monsieur.

Ele fitou nos lábios pronunciando aquelas palavras, pareciam feitos de mel. Não havia na cidade moça tão encantadora como aquela.

Je m'appelle... - ela sorriu e se corrigiu - Eu me chamo Isabelle.

Daniel, mademoiselle, ao seu dispor. – disse, beijando a mão da moça.

Ele, esquecendo da presença do amigo, seguiu ao destino da moça, que ficava bem próximo de onde ele mesmo morava.

Vim de mudança pra casa de minha prima. Talvez você conheça os Thompson. Infelizmente, perdi meus pais recentemente, e eles são os únicos parentes que me restam.

Coincidentemente, somos vizinhos. Meus sentimentos.

O tempo passou, e a amizade entre os dois jovens se estreitou, tornando-se um namoro. A convivência com aquela doce e misteriosa estrangeira fez com que o rapaz se encantasse por coisas que ainda não conhecia. Ele passou toda a vida se dedicando aos estudos para administrar os negócios do seu pai, e lhe parecia o correto a fazer. Isabelle foi muito bem recebida em sua casa, e os pais de Daniel gostavam da união. Sua mãe planejou um jantar fabuloso para toda a sociedade Galesa, e nesta noite, ele pediria “sua Belle” em casamento.

Senhores, gostaria de fazer um pronunciamento – ele se levantou após o jantar – É sabido por todos que em breve estarei assumindo os negócios do meu pai, e portanto, me tornando um adulto respeitável. - ele arrancou gargalhadas com a brincadeira.

Isabelle, observava de longe, sorrindo. Ele tomou coragem e continuou sem nenhuma dúvida, pois sabia do sentimento da moça por ele.

Gostaria de fazer um pedido, a presença de vocês aqui me dá coragem pra isso. – ele se aproximou da moça, e se ajoelhou a seu lado – Belle, meu amor, você aceita ser minha esposa?

Isabelle corou, não esperava um pedido desses, mas aceitou de imediato. Os dois se abraçaram, felizes. Todos aplaudiram.

No dia do casamento, a cidade estava animada, afinal, dois membros de duas famílias importantes da cidade estavam se casando. Após uma linda cerimônia de união, as famílias comemoraram. Tiveram uma linda festa no jardim do castelo dos pais de Daniel, as mulheres com seus chapéus e sombrinhas coloridas, os homens com seus fraques de festa. Na noite de núpcias, o que já não era novidade para os dois, que estavam bem adiantados para a época, Isabelle confessou um segredo para seu marido.

Vampira? Como assim, vampira? Por que só está me contando isso agora? - ele não parecia nervoso, mas estava muito curioso e assustado.

Isabelle tentou acalmá-lo e explicou como seria daqui pra frente, falou que se ele quisesse, ela o transformaria.

Poderemos viver juntos para sempre! Sempre jovens, sempre bonitos.

Daniel ficou confuso, mas ele amava aquela mulher mais do que tudo na sua vida, e a ideia de viver com ela pra sempre lhe parecia muito doce. E então, aceitou se transformar. Ela o explicou tudo, como seria a vida dos dois, e como teriam que se comportar. Entregou um anel, com uma pedra Lapis-Lazuli no topo, feito pra ele.

Os dias seguintes seguiram tranquilos, ela o ensinava como se manter sem atrair suspeitas. E o jovem casal vivia feliz. Alguns anos se passaram, e os pais de Daniel começaram a pedir um herdeiro.

“Vampiros não procriam, mas como explicar isso aos meus pais?” – Daniel pensou.

Sr Richard Miller era muito criterioso, e começou a perceber que seu filho não estava envelhecendo também. Ele começou a questionar, e então Daniel conversou com sua amada e resolveu confessar a seu pai. Ela não se sentia confortável com isso, mas confiava no marido.

Numa conversa com o pai, o rapaz contou tudo, e disse que nunca machucou ninguém e que eles podiam viver em paz, sem que os outros soubessem de seu segredo.

Mas, se o senhor achar melhor, podemos nos mudar pra outro lugar, longe da vista das pessoas, sem incomodar ninguém.

Seu pai pareceu compreender, mas preferiu que eles partissem. O casal preparou a mudança. Iriam para uma cidade vizinha, onde ainda poderiam manter contato, e Daniel poderia administrar os bens da família.

No dia da partida, o trem sairia bem cedo, acordaram antes de amanhecer. De repente, notaram uma movimentação estranha, vinda do estábulo.

Daniel, é uma emboscada! - Isabelle gritou, desesperada.

Corra! Salve-se, eu vou logo atrás! - Daniel tentava salvar a amada.

O pai arrombou a porta.

Não posso permitir que monstros como vocês andem por aí, nos atacando, nos fazendo de alimento!

Pai, não somos monstros. Só precisamos nos alimentar de sangue humano, mas, não machucamos ninguém. Eu juro!

Tragam-na! Vamos amarrar os dois na fogueira!

O vampiro, então, partiu para cima de quem estava com sua esposa, e os dois conseguiram se soltar, mas alguém conseguiu atear fogo em Isabelle com uma tocha, e ela caiu, na frente do amado, em chamas.

Não! - ele tenta salvá-la, mas não consegue chegar tempo. - Não, por favor, não!

Seu pai o segurou, ele não ofereceu resistência, não conseguia pensar em viver sem seu amor. Seu pai pegou uma estaca mas sua mãe apareceu na hora e interveio. Se colocou na frente do filho impedindo o ataque. Ela implora que ele fuja, não suportaria vê-lo morto. Daniel correu. Mas a única coisa que conseguia enxergar era a imagem de seu grande amor queimando bem à sua frente.

Ele conseguiu fugir para um lugar distante, mas a dor da perda era grande demais pra suportar. Não conseguiria viver sem Isabelle. Sua Belle, sua amada se fora para sempre. E, sofrendo muito, em prantos, quase desmaiando, ele descobriu que podia se desligar. Num estalo, como num piscar de olhos, ele não sentia mais nada. Apenas fome. Uma grande fome. Ele partiu para a cidade mais próxima para se alimentar.

***

Os dois rapazes conversavam sobre seus passados, de como se tornaram assassinos em série, e tudo o que fizeram pra lutar contra isso. Danny pegou mais algumas garrafas de Bourbon no carro - nada melhor que álcool para selar uma amizade. - Ofereceu a Stefan, e eles continuaram a conversa até escurecer.

Confessaram coisas, um pro outro, que não haviam contado para mais ninguém, pois somente um entendia o outro. Riram muito das idiotices que já fizeram. Se assustaram com as barbaridades cometidas. E choraram juntos, por todos as mortes que foram responsáveis.

— É isso, Stefan, que nos torna diferentes da maioria. A gente se importa.

Stefan acenou positivamente com a cabeça, terminando mais uma garrafa. Perceberam a noite alta e tentaram se levantar. Os dois tropeçaram, bêbados demais. Começaram a rir de novo, e ficaram ali, deitados no chão.


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