Diário de Nick

Capítulo VII

Charlie já tinha apagado. Eu estava morrendo de sono, e só me mantinha acordado porque não estava muito tranquilo em voar numa biga sem condutor. Ei, pode me chamar de medroso, mas eu não me sinto bem nem em aviões, imagine numa biga sem motorista, nem parte de trás!

Nós estávamos sentados no que parecia uma meia lua. A rodinha da biga (vamos brincar de ciranda, viva!) estava na ordem: Buraco, Ethan, Charlie, Eu, Natalie, buraco.

“Lado bom: eu estou mais longe do buraco. Lado ruim: O buraco está exatamente na minha frente e estou de costas para os cavalos, então nem sei aonde estamos indo” Pensei.

“Pégaso, chefe. Estamos indo para o Acampamento.”

– O quê?– Perguntei

– O que o quê, Nick? – Disse Natalie

– Essa voz, não ouviram?

Natalie e Ethan me olharam como se eu fosse maluco.

– Ahn, você deve estar cansado. Falta uma hora para chegarmos. Ainda dá pra dormir no caminho.

– Eu não imaginei a voz.

– Vá dormir Nick.

– Mas eu não estou com sono.

– Vá. Dormir. – Ethan falou.

Eu não queria, mas encostei minha cabeça no banco. Em pouco tempo, apaguei também.

Acordei com Charlie me sacudindo. Isso era normal. Por um mísero segundo tive esperanças de ter sido tudo um sonho. Meus sonhos sempre foram estranhos mesmo.

–Ahn? Aonde eu...

Percebi que não era só Charlie que me observava, mas também Ethan, Natalie, um cadeirante e mais uns cinco ou seis garotos, todos de camiseta laranja.

– Ah, ótimo. NÃO foi um sonho.

– Claro que não, idiota. – Respondeu Charlie, me jogando um pano laranja. – Vista isso.

– Ahn, onde é o banheiro? Onde eu estou? Quem são vocês? E quando é o jantar?

– É aquela construção azul ali, no Acampamento Meio-Sangue, e esse é metade do chalé de Hefesto, e eu, Quíron. Ah, e o jantar já acabou, mas eu posso arranjar um pouco mais pra vocês. – Disse o cadeirante. – Acho que Natalie e Ethan já lhe deram metade das explicações. Serei seu instrutor e diretor de atividades.

– Sim, eles deram. E porque o chalé 9 está aqui?

– Na verdade, viemos pegar a biga. – Disse um garoto no meio deles. – E normalmente os novatos não sabem sobre os números dos chalés.

– Natalie falou, mas eu só sei dos chalés 6 e 9.

– Ah, isso está ficando apertado. – Quíron reclamou. Eu já ia perguntar o que exatamente estava apertado, mas ele começou a sair da cadeira. Eu achei que um cadeirante levantar parecia, tipo, um milagre, mas ninguém parecia muito surpreso. Foi quando eu notei que tinha algo errado. Apesar de seu tronco ir ficando mais alto, as pernas não se mexiam, e ele parecia estar usando algum tipo de calça branca, o que não tinha nada a ver com a calça jeans escura nas pernas da cadeira.

Eu não estava entendendo nada, e meu queixo caiu quando dali saiu um corcel branco, deixando pra trás uma cadeira de rodas vazia com um par de pernas acopladas.

– O que... Mas... Como... Como... Ahn? – É, eu sou brilhante.

Quíron riu.

– Sim, eu sou um centauro. Só usei a cadeira para não assustá-lo.

– Na verdade, isso me assustou mais do que se você tivesse aparecido sem ela. Como... Como você coube ali? E você é o Quíron? Tipo, O Quíron? Aquele que treinou Hércules, Aquiles e toda a horda de heróis gregos?

– Sim, sou eu. E magia.

Aproximei-me da cadeira mágica. Parecia uma cadeira comum, e era sólida. Mas assim que toquei na base do assento o metal e o tecido ondularam, e minha mão desapareceu. Puxei-a rápido, pensando que alguma coisa poderia prendê-la lá.

–Ok, isso é estranho.

– Bom, como já conhecem Natalie e Ethan, eles podem mostrar o acampamento. Lembrem-se de apresentá-los ao Sr. D. Oh, e bem-vindos ao acampamento.

Estou sem paciência para descrever o tour todo aqui, então vamos pular pro final, na parte em que Ethan e Natalie estavam nos mostrando a parede de escalada:

– Isso é... Lava, de verdade? – perguntou Charlie.

– Só um desafio a mais. – respondeu Ethan

Eu já não estava confortável com a ideia de escalar uma parede de 10 metros, imagine uma com duas vezes mais chances de me matar! Mas Charlie olhava a parede com determinação, e eu não ia de jeito nenhum deixar ela me zoar por isso o resto da vida. Quando os campistas que estavam escalando, Lara e Julian, de Nice, que conseguiram subir e descer em dois minutos (a propósito, NUNCA aposte contra os filhos da deusa da vitória.), Charlie e eu dissemos ao mesmo tempo:

– Eu quero tentar!

Ethan nem piscou.

– Não é uma boa ideia.

– Ah, por favor, você mesmo disse que era só um desafio a mais!

– E é. Pra quem tem treinamento. – Respondeu Natalie, franzindo a testa.

– Não, não. Eles têm razão. – Disse Ethan

Natalie o encarou, incrédula.

– Você não pode estar falando sério. Eles ainda não foram treinados, Ethan! Eles vão ser mortos lá em cima!

– Muito obrigado por sua confiança em nós – Respondi

– Não foi isso que eu quis dizer! – Gritou ela

– Como você espera que eles sejam treinados se você não os deixa fazer isso? – Gritou Ethan de volta

Agora metade dos campistas olhava para nós. Eu já estava cansado dessa discussão. Olhei para Charlie e percebi que ela estava tendo a mesma ideia que eu.

Enquanto os dois discutiam entre eles, pegamos as cordas da escalada.

E começamos a subir.