Diário de Charlie

Capítulo VIII

Você deve achar que eu sou louca.

Certo, eu acabei de escalar uma parede de 10 metros que cospe lava, com o mínimo equipamento possível, ou seja, uma corda e um capacete, sem treinamento e sem ajuda.

Então talvez eu seja.

Mas o que você faria se tivesse acabado de matar o Leão de Nemeia, lutado com meia dúzia de empousai bem irritadas e as pessoas que te arrastaram para isso tudo ainda estavam discutindo sobre a sua segurança? Okay, talvez você não fizesse isso. Estou apenas supondo, mas isso é o que eu faria, aliás, o que fiz. Mas não venha me criticar, eu não posso fazer nada agora, foi o que aconteceu e ponto final.

Então lá estávamos, já 5 metros acima do chão, mas eu não iria desistir. Nick estava um pouco ofegante, mas também ele não ficava escalando árvores num play secreto no tempo livre.

—NICK! CHARLIE! Desçam aqui AGORA!

"Ótimo. 6 metros depois e só agora que perceberam que nós não estamos lá. ", pensei.

Mas eu não ia desistir agora, já havia até passado da metade, e estava determinada a subir os próximos 4 metros faltantes. Até a lava começar a cair.

—Charlie... —Nick falou, alarmado. —A lava...

—Já vi. Não se mova até a lava estar apenas meio metro acima.—Minha voz parecia muito mais calma do que eu realmente me sentia. Tinha 99% de certeza que ia dar certo. Ou talvez 95%. Faltavam dois metros, um metro e meio, um metro e...— AGORA! Esquerda, esquerda!

Rolamos para esquerda no momento em que a lava atingiu as pedras onde estávamos escalando dois segundos antes. Ouvi o grito de Natalie meio atrasado assim que pude respirar novamente.

—Ok.— Nick parecia aliviado e furioso ao mesmo tempo.—Agora FAÇA O FAVOR DE EXPLICAR O QUE FOI ISSO!

— Simples.— Respondi calmamente, enquanto puxava a corda que me impulsionava pra cima, preta de fuligem. — Eu prestei atenção quando os filhos de Nice estavam subindo. Se eles se movessem quando a lava estava muito acima, o jato seguia eles pela parede. Mas, se não se movessem até a lava estar próxima, a lava não mudava de direção a tempo de queimá - los.

Escalamos em silêncio mais dois metros de altura, até a lava começar a cair novamente. Dessa vez eu não sabia como fazer, pois a lava ocupava a parede inteira,e não havia como rolar para o lado.

— Tenho uma ideia.— Nick disse subindo até meu lado.— Espere até que a lava esteja o mais próximo possível. Então, empurre-se o mais forte que puder. Vai dar certo.— falou. Primeiro achei que estivesse tentando me convencer, mas depois percebi que ele estava tentando convencer a si próprio, porque depois o ouvi murmurar: — Espero que o impulso baste para nos sustentar fora da parede por tempo suficiente para que a lava passe.

Não era um plano perfeito, nem baseado em ações já vistas, como o meu. Mas um plano imperfeito era melhor que nenhum. Mesmo assim tentei convencê-lo a pensar em algo menos impossível:

— Tem certeza? A corda poderia nos puxar pra perto rápido demais. Também poderia se queimar e nos lançar 8 metros abaixo.

—Claro, sra. Otimismo. Mas ela também poderia nos salvar, sabe.

Prendemos a corda na trava de segurança para continuarmos na mesma altura quando soltarmos as pedras. Era estranho ficar parada enquanto fogo vinha em sua direção. Faltava um metro pra sermos queimados. Meio metro. Estávamos à 50 cm da morte. 30 cm. 20 cm. Eu podia sentir o calor daquilo. Cara, eu podia me sentir fritando. Quando faltavam cinco centímetros, nós empurramos a parede e nos jogamos no ar.

Por maior que seja meu medo de altura, raramente senti uma sensação tão boa quanto sair daquele calor para o ar frio do vento. Mas ela durou pouco. Por dois motivos: 1- Me liguei que estava a 10 metros de altura pendurada por uma corda relativamente fina e 2- estávamos voltando pra parede rápido demais. Fechei os olhos. Não queria morrer, e queria menos ainda passar meus últimos momentos encarando o que me mataria.

Então eu bati em alguma coisa dura. E quente. O calor chamuscava as bordas da minha blusa nova do acampamento. Pensei: "Espero que não tenha que pagar por outra. " antes de me ligar.

Havia sobrevivido.

Olhei pra cima. A parede parecia normal. Mas parecia mais distante, como se estivéssemos um nível acima. Então vi que realmente estávamos. Estávamos em uma camada de pedra quente soltando fumaça que não estava ali antes.

A lava havia virado pedra. A LAVA HAVIA VIRADO PEDRA!

Achei que talvez fosse parte da escalada, para quem não conseguisse escapar a tempo. Fiquei com um pouco de raiva por não terem me dito isso antes.

— Nick seu idiota! Grande plano o seu, né? "Empurre-se da parede"... E depois, hein? Deixamos o vento nos levar?

— Estamos vivos, certo? Pare de reclamar e escale!

Subimos o final da escalada. Havia um puxador para parar a lava na hora de descer, então puxamos e depois deslizamos pela corda até o chão. Na descida, minhas mãos foram queimadas pela fibra da corda com a velocidade.

Encarei Natalie, furiosa. Ela parecia estar em estado de choque.

— Por que não nos avisou que a lava parava se não conseguíssemos sair a tempo? Eu achei que ia morrer!

Natalie não respondeu. Ela ainda me encarava, boquiaberta. Em seu lugar, Ethan respondeu parecendo tão surpreso quanto ela.

— Porque a lava não para. O que... O que vocês fizeram?