Diferente de qualquer manhã que acordara cedo, Ruby estava de bom humor. Belle pedira para acompanha-la no trabalho. Ela sabia que devia tentar reconquistar seu amor, mas não sabia como fazê-lo. Quero dizer, ela não podia simplesmente mandar indiretas e flertes o tempo todo. Podia? Não, isso estava fora de questão, Belle precisava de tempo e espaço. O que Ruby mais temia era que Belle ficasse confusa e a deixasse se soubesse a verdade.

Andou até o atual quarto da garota, era estranho, geralmente Belle era a que sofria para tira-la da cama. Se apoiou na porta por algum tempo, apenas observando o rosto dela. Engraçado como Belle conseguia ser tranquila a qualquer hora do dia. Engraçado como uma mulher calma e serena foi se apaixonar por uma outra mulher, agitada e inquieta. Às vezes Ruby se perguntava o porquê disso, às vezes achava que não merecia o amor de uma pessoa tão perfeita quando Belle.

- Belle, querida, acorde. – Ela chamou enquanto tirava o cabelo da outra do rosto e beijava sua testa com carinho.

Belle suspirou fundo, acordando com aquela sensação boa que ainda não identificara o que era. Sentiu aquele perfume gostoso que estava impregnado na sua mente desde que aquela garota, antes estranha, a abraçara no hospital. Aquele aroma era sua primeira memória. Era refrescante. Era Ruby.

Ela não pode deixar de sorrir quando abriu os olhos e viu o rosto da outra assim tão perto, olhando-a da forma mais carinhosa possível.

- Por que me acordou tão cedo? – Depois daqueles repentinos sentimentos, Belle voltou à realidade, sentindo o sono e a cama tão aconchegante.

- Você disse que queria ir pro Granny’s comigo, esqueceu? – Deu ênfase na última palavra.

- Fazendo piadinha com a minha memória, que golpe baixo. – Ela negou com a cabeça antes de rir enquanto se espreguiçava, tentando se livrar da preguiça.

- Vai ser estranho falar isso: Se arrume logo pra gente não se atrasar. – Ruby puxou o cobertor dela.

- Que droga de mania a sua de tirar o cobertor das pessoas. – A irritação clara na voz de Belle. Ruby não pode conter uma curta gargalhada, se Belle tivesse falado isso em outros tempos... – E por que você disse que era estranho?

- Por que geralmente você que me acorda e eu que fico enrolando.

- Ah! Então quer dizer que eu sempre fui a responsável aqui. Bom saber...

- Claro que não! Eu quis dizer que você é a única louca que acorda ás 6 horas da manhã com humor suficiente pra não cometer um assassinato. Ou pelo menos... – Ruby olhou-a de cima a baixo, observando seu estado: pijama amassado, cabelo bagunçado e marcas do travesseiro no rosto. Ela estava linda. -... Você era assim.

- A culpa não foi minha se eu fiquei um pouco traumatizada por causa de ontem.

- Eu não acredito que você ainda está falando disso. – Ruby riu da cara emburrada que Belle fez. – Own bebezinha. – Ela se juntou à outra na cama, se aconchegando ao lado dela, apertando suas bochechas e falando com uma voz bem idiota. – Dá próxima vez a tia Ruby dorme com você tá bom?

Belle decidira tentar parar de forçar sua memória, pois a confusão que isso lhe causava era muito frustrante. Queria simplesmente prestar atenção no seu dia-a-dia, no presente, mas Ruby estava em todos esses momentos e agora ela se tornara sua confusão. Belle queria abraça-la, ficar ali mesmo, apenas sentindo o quanto a presença dela a deixava feliz. E então, seu corpo esquentava e o calor se acumulava nas suas bochechas, abaixando os olhos com a timidez que se seguia, ela sem querer correria o olhar por todo o corpo de Ruby e uma voz lá no fundo da sua mente repararia no quanto ela estava bonita hoje; e ela queria tirar Ruby dali.

- Belle? – Ruby tirou-a de seus devaneios. Aqueles pensamentos eram, definitivamente, algo que ela gostaria de se esquecer. – Tudo bem se você não quiser ir comigo. – Mas Belle sabia pelo tom de voz da outra, que não seria tudo bem.

- Não. – Ela se levantou prontamente. – Eu vou sim! Me dê alguns minutos.

E em alguns minutos ela estava pronta. Apenas mais um detalhe que Ruby amava nela.

Belle foi muito bem recebida quando chegou ao Granny’s Dinner. Leroy e seus amigos brindaram sua volta no momento em que ela entrou no lugar, Mary Margaret e David a cumprimentaram com sorrisos e disseram o quanto estavam felizes por tê-la de volta, mas Granny foi de longe a mais receptiva. Assim que Ruby conseguiu salva-la de todos aqueles carinhos, Granny veio correndo, a abraçou maternalmente e perguntou se sua neta havia cuidado bem dela.

- Muito bem. O médico disse que eu passaria por uma fase difícil, mas tudo fica mais fácil com Ruby. – Ela sorriu e olhou para a morena. Quando se deu conta do que havia dito, completou. – Ela tem sido uma ótima amiga pra mim.

O clima ficou tenso por alguns momentos, mas todos logo entenderam o que estava acontecendo ali.

- Bem, estou feliz que minha neta seja útil para alguma coisa. – Granny tentou quebrar a tensão.

- Ei! – Ruby protestou.

- Já vai voltar a trabalhar na biblioteca Belle? – David entrou na conversa.

- Não ainda, mas eu mal posso esperar para entrar lá.

- Belle French ainda não foi na biblioteca? – Mary Margaret olhou incrédula para Ruby, como se isso fosse culpa dela. A mais alta levantou as mãos, mostrando inocência.

- Uma coisa de cada vez pessoal. E deixem a garota respirar, ela nem tomou o café da manhã.

- É. Ruby me falou tanto daqui, que eu quis saber se era tudo tão bom mesmo.

- E o que vai pedir, querida? – Granny reapareceu, só para trazer mais um prato ao balcão, Ruby o pegou e levou até o dono do pedido.

- Eu não sei... O que vocês me sugerem? – Belle sorriu, um pouco desconfortável com toda aquela atenção repentina.

- As panquecas daqui são as melhores! – David encorajou.

- Então eu vou querer panquecas. E as bebidas?

- Eu amo o chocolate quente daqui. – Mary Margaret deu sua opinião.

- Que tal um uísque? – Leroy levantou seu copo, mas ele estava brincando (pelo menos era o que Belle achava).

- Leroy! – Ruby estava de volta. – Desculpe pessoal, mas eu sei que ela ama meu chá gelado. – Ela sorriu para a castanha do outro lado do balcão.

Leroy deu uma risada engraçada e voltou para seu grupo de amigos. David e Mary Margaret subitamente tinham muitas coisas a fazer e deixaram seus lugares vazios, agora eram apenas Belle e Ruby. Belle estava muito grata por todo carinho e atenção que recebera, mas preferia assim. Naqueles poucos minutos em que Ruby deixou o grupo para levar o pedido, Belle se sentiu perdida. Ela percebeu que não fazia ideia de quem eram aqueles com que conversava, não conhecia o menu de um lugar que frequentava sempre e não sabia quanta atenção aquelas pessoas esperavam que ela retribuísse. Ruby era a única que verdadeiramente conhecia. Ela era a única que a deixava confortável, que sabia que poderia conversar sobre qualquer coisa a qualquer hora, que a fazia não se sentir sozinha. Ruby era sua única certeza.

- Aqui está. – Belle deixou de encarar o nada quando percebeu o copo de chá gelado. Ela tomou um gole, experimentando, então quase engasgou quando tomou o líquido inteiro em poucos segundos.

- Meu Deus! Eu não quero ter que chamar um táxi. – Ruby brincou.

- Isso é maravilhoso! Pode fazer outro?

- Claro, faço outro pra você e claro que é maravilhoso, foi feito por mim. – A morena se apoiou na bancada.

- Convencida. – Ela deu um tapinha no braço da outra, encorajando-a a ir logo preparar outro chá gelado.

Belle já estava no seu terceiro copo quando Ruby se juntou a ela novamente.

- Sobre a biblioteca, desculpe por não ter te levado lá ainda.

- Não tem problema Ruby, eu posso ir sozinha aos lugares. – Ela falou isso mais por educação.

- Você não disse que eu era seu cão guia? Queria me seguir por todo canto, agora irá! – Ruby respondeu com uma autoridade que não conseguiu manter por muito tempo, seus lábios a traíram formando um sorriso. Aquelas palavras fizeram Belle se sentir melhor. - Nós podemos ir no meu horário de almoço.

- E quando você vai almoçar?

- Granny não vai me matar se eu passar um pouquinho da hora. – Ruby se apoiou na bancada de novo e aproximou seu rosto de Belle. – Depois que nós voltarmos eu posso almoçar com você.

- T-tudo bem.

- Esquece, eu tive uma ideia melhor. – Belle sabia que aquele sorriso maroto e as sobrancelhas levantadas de Ruby não eram um bom sinal.

- O que você vai aprontar? – Ela perguntou cautelosa.

- Você tem que ir para a biblioteca antes de mim. Saia daqui umas 10 horas e me espere por lá.

- Estou realmente encantada com a sua gentileza! Eu até iria se você fosse um pouco mais delicada.

- Faça isso. – Ruby investiu na sua melhor carinha fofa e pegou as mãos de Belle. – Por mim, por favor.

Belle comprimiu os lábios, tentando parecer o mais séria possível, mas ela simplesmente não resistiu. – Certo, eu vou. Mas melhore esses modos. – Ela balançou o dedo como uma advertência. Ruby rolou os olhos e riu antes de voltar ao trabalho.