Vidas Em Guerra - O Falcão e o Lobo escrita por A Granger


Capítulo 23
Falcões – Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Capítulo sem revisão

Sem previsão para o próximo também, me desculpem por isso. Vou continuar tentando trazer novos sempre que possível



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POV Aria

O enorme falcão investiu contra mim, mas eu podia ver a trajetória dele. Não era em mim que ele queria acertar, era no falcão menor atrás de mim; ele parecia achar que eu sairia da frente e deixasse o caminho livre para ele acertar o falcão caído. Mas eu não faria isso.

Tudo foi muito rápido; num momento ele era um ponto no céu, no outro eu sentia as garras na parte da frente do meu ombro direito me fazendo gritar de surpresa e dor. Não percebi, mas a força do impacto me jogou sentada no chão. Ouvi Rendon gritar meu nome e gritei de volta para que ele ficasse quieto e longe. Voltei a me colocar sobre meus pés, a visão embaçada pela dor. O falcão terminava a volta e vinha direto pra mim de novo, dessa vez ele mirou em mim, as garras acertaram a lateral do meu braço direito.

Me encolhi de dor, as garras rasgavam mais do que perfuravam e isso doía muito. Parte de mim sabia que Rendon deveria estar louco pra correr e me tirar dali, mas eu não deixaria ele fazer isso. O falcão maior soltou um som de desagrado enquanto retornava para alto antes de descer de novo. Eu não podia segui com isso; já sentia o sangue escorrer pelo meu braço, eu não poderia aguentar mais muito disso.

Aquilo já começava a me irritar; eu não poderia simplesmente perder para um pássaro. Fechei os olhos e respirei fundo me acalmando e me controlando; irritação não me ajudaria, eu tinha que manter meu foco, como meu avô sempre dizia. Quando voltei a erguer o olhar para o céu o falcão novamente descia na minha direção. Dessa vez ele vinha na direção dos meus olhos, mas algo ficou diferente; eu não estava mais pensando em formas de desviar, estava apenas vendo.

Eu via cada movimento, as pontas das asas agitando-se por conta do vento, a movimentação da cabeça descendo; e então vi o momento em que ele começou a separar as asas para diminuir a velocidade e jogar as garras na direção dos meus olhos. Tudo o que precisei foi abaixar o corpo e ele passou direto por mim fechando as garras no ar enquanto saia de lado antes de acertar o troco da árvore.

O som que ouvi saindo dele foi alto e eu podia jurar que havia um tanto de raiva nele. O pássaro tornou a subir se preparando para outro ataque e algo surgiu na minha mente; uma voz me dizendo uma frase. Uma voz que eu não ouvia a anos, uma voz que eu nunca mais ouviria, mas ainda assim uma voz que sempre estaria nítida na minha memória. Era a voz da minha mãe, num dos poucos dias em que ela me treinou, em um treino sobre esquivas e movimentos defensivos sem armas.

Estávamos treinando com ela me mostrando como e as melhores formas se se esquivar de golpes. Enquanto isso ela dizia pra mim um pouco do que ela pensava e da experiência dela em lutas. A frase que ela me disse, e que eu lembrei instantes antes do falcão chegar a altura certa e começar a descer na minha direção de novo foi essa: “Se você quer lutar bem, ser uma boa guerreira, tem que conhecer a si mesma, para saber das suas limitações, e para descobrir como é que você tem que ser em frente à um adversário. Você tem que descobrir a sua maneira de fazer as coisas”.

A minha maneira. Eu sempre pensei que isso era relacionado as minhas vontades, ou ao que eu queria ou gostaria de fazer. Mas não é isso. É a forma com que eu olho, penso, falo e me movimento; é daí que eu tinha que tirar a minha maneira. Era isso que meu avô queria dizer com “me descobrir”.

Quando meus olho viram o bico do falcão se voltar novamente na minha direção eu entendi isso. Isso e muito mais porque novamente eu respirei fundo e outra vez pude ver cada detalhe. Foi nessa hora que eu notei algo sobre mim mesma que nunca tinha notado antes. Eu era um falcão não por causa do meu nome, mas porque eu atacava como um. Sempre que ia pra cima de alguém era com velocidade e mirando os lugares mais sensíveis, eu sempre me comportei como um falcão; como um animal selvagem. Pensar isso fez um sorriso aparecer nos meus lábios. Eu era um falcão e não perderia para outro no meu território.

POV Rendon

Quando ela me mandou ficar eu já sabia que Aria faria algo louco. No momento em que ela encarou o falcão que descia na direção dela com aquele olhar determinado eu sabia que ela faria algo “Completamente” maluco. Eu gritei o nome dela e ameacei correr, mas então ela mandou que eu ficasse onde estava e me mantivesse longe. Parte de mim queria ignorar ela e ir lá tirá-la do lugar, essa parte ficou ainda mais desesperada no momento em que as garras do falcão rasgaram o ombro dela.

Mesmo assim eu me mantive longe, mas ainda assim pronto para interferir se algo a mais acontecesse. Quando ela foi acertada pela segunda vez eu quase fiquei louco de desespero. Disse a mim mesmo que se algo a mais acontecesse eu a tiraria dali independente do quanto ela se irritaria comigo e do quanto eu apanharia dela por isso depois. Então notei a mudança no olhar dela, ainda era determinado, mas agora estava tranquilo o que era estranho pra ela já que Aria sempre é muito agitada.

Talvez por ter notado a mudança no olhar dela eu não tenha me surpreendido tanto quando ela desviou com um movimento mínimo do terceiro ataque do falcão. Eu sinceramente não tenho ideia do que e como ela fez o que fez, mas era Aria, então eu sabia que ficar me perguntando sobre essas coisas seria idiota da minha parte. Na verdade, eu ainda estava era muito preocupado com os ferimentos dela pra conseguir realmente pensar sobre essas perguntas.

E então eu vi algo que me fez respirar até um tanto aliviado. Logo que o falcão começou a descer outra vez eu vi um sorriso se formar nos lábios dela. Mas não era um sorriso convencido, nem um cínico ou forçado; era um sorriso calmo, talvez até um tanto contente e satisfeito. E foi com esse sorriso no rosto que Aria encarou o falcão se aproximar. Até que, quando ele estava a centímetros do rosto dela Aria desviou erguendo a mão e acertando um soco no falcão quando ele passou por onde ela deveria estar.

O pássaro perdeu o controle e caiu no chão a vários metros de onde ela estava. Por segundos eu cheguei a pensar que ela havia ferido o falcão gravemente pelo fato dele não se mover, mas logo ele voltou a estivar as patas e as asas e ficou de pé no chão. Fez um som raivoso e bateu as asas levantando voo passando longe de Aria e voltando ao céu, mas dessa vez ele não fez nenhuma curva e voou direto por sobre a muralha e pra longe de nós.

Me voltei para Aria no mesmo instante em que tive a certeza de que o falcão não voltaria. Ela estava com o pequeno sorriso ainda encarando o céu. Quando se virou para onde estava o falcão menor com o filhote ela parecia muito bem, mas quando deu o primeiro passo caiu de joelhos. Corri até ela tão rápido que ela mal havia se apoiado para tentar se erguer quando eu passei o braço em volta dos ombros dela.

– Sua maluca! – disse num tom entre irritado e aliviado – Vem, tenho que te levar pro seu irmão cuidar desse braço.

– Não – ela disse com calma tentando se soltar de mim – Eu preciso ver o falcão caído, Rendon, Por favor.

Não foi o tom calmo, mas sim o pedido de ‘por favor’ dela que me fez concordar. Aria nunca pedia nada e estava pedindo agora, mesmo sabendo que ela precisava de cuidados eu não pude negar esse pedido.

– Certo, mas depois eu vou te levar pro Tommy – falei a ajudando a chegar onde os pássaros estavam e recebendo um pequeno sorriso de agradecimento.

Quando estava quase em frente ao animal ela parou e se ajoelhou encarando o falcão que mantinha o filhote escondido sobre uma das asas e encarava Aria e a mim com olhares confusos e receosos. Aria então estende a mão na direção do pássaro e a fêmea ataca a lateral da mão dela fincando o bico com força. Mas Aria não recua ou puxa a mão, sequer emite qualquer som. Apenas deixa o pássaro fincar o bico até que ela note que não haveria reação. Com lentidão o falcão parece entender que Aria não a atacaria nem lhe faria nada.

Foi nesse momento que eu assisti a coisa mais estranha, confusa e inexplicável de toda a minha vida. Aria e o falcão se encararam, olho no olho, por um tempo tão longo que eu quase cheguei a ficar nervoso por conta do silencio. Então, de repente, o falcão descobre o filhote que estava sobre a sua asa boa e Aria suspira. O falcão empurra o filhote com a cabeça e o bico na direção de Aria e eu fiquei ainda mais confuso. Então Aria faz uma expressão triste e o falcão solta um som baixo que me pareceu muito fraco. Logo depois o falcão se afasta do filhote e encolhe a asa boa deitando com o peito no chão e logo depois a cabeça dele abaixa até tocar a grama e eu pude ver os olhos dele se fecharem.

– Ela morreu – murmura Aria com uma lágrima escorrendo pela bochecha esquerda.

– O que....o que foi que.... – eu tento perguntar, mas minha cabeça não funcionava direito; Aria pegou com a mão esquerda o filhote com dificuldade.

– Me ajuda Rend, não consigo segurar o filhote direito com uma mão só – Aria pede pra mim me fazendo acordar da bagunça na minha mente.

– Espera – falo tirando o colete de algodão macio que eu estava usando – Aqui – digo estendendo a peça no chão e dobrando-a de forma a ficar como um ninho – Coloca ele aqui e vamos logo atrás do seu irmão. Você ainda tá sangrando demais.

– Obrigada Rendon – ela me agradece colocando o filhote envolto na pano e eu a ajudo a se levantar.

Começo a caminhar com o braço em volta da cintura dela enquanto Aria se apoiava em mim e eu carregava o pequeno bolo de pano onde estava o filhote de falcão. Mas então sinto a respiração dela ficar mais compassada e lenta, e noto que os pés dela quase tropeçam um no outro enquanto Aria caminha. Mas ela não reclama e eu não a conheço para saber que deveria esperar. Só que quando sinto o peso dela pender para baixo eu nos faço parar. Mal havíamos saído do boque a essa altura.

– Segura o filhote – eu digo entregando-o na mão boa dela, que tinha estado sobre meu ombro.

– O que? Rendon eu posso cair e...

– Segura o filhote e não discute comigo uma única vez na sua vida – falo sério e ela me encara confusa, mesmo assim faço-a segurar o filhote próximo ao peito e então suspiro – Agora senta no chão.

– Como é??

– Senta – insisto e ela suspira, mas faz o que eu digo.

Me ajoelho ao lado dela e arrumo o filhote sobre o colo de Aria com cuidado, depois faço ela envolver o braço esquerdo no meu pescoço o que a faz me encarar com um olhar sério.

– Me bata por isso depois que estiver bem de novo – digo ignorando o olhar dela e passando um braço por baixo das pernas dela e outro em volta do troco dela – Me bate depois, mas agora facilita as coisas um pouquinho.

Me levanto erguendo-a no colo e fazendo ela soltar um resmungo irritado e surpreso.

– Eu sei andar Rendon!! – ela briga, mas mesmo irritada a voz dela soa baixa.

– É, sei que sabe, mas agora está mais lenta que uma lesma – digo começando a caminhar, muito mais rápido do que antes – Só me deixa te levar pro seu irmão e reclama depois.

POV Narradora

Rendon sai com Aria nos braços enquanto que a garota resmunga por alguns segundos, mas ela logo para e suspira. Sabia que ele estava certo, apesar de que a deixava irritada o fato de ter de ser vista nos braços de alguém, mesmo sendo Rendon. Ele no entanto estava tão tenso por tudo aquilo e pelos ferimentos dela que a olhava rapidamente a todo segundo.

– Eu vou ficar bem seu grande desesperado – Aria murmura quando os dois chegam dentro do castelo; a garota encara o filhote de falcão e sorri – Eu vou cuidar dela Rendon.

– Como sabe que é ela? – pergunta o rapaz confuso, mas ainda preocupado.

– Apenas sei – diz Aria sorrindo e encostando a cabeça no na curva do pescoço dele – Apenas sei. Assim como sei que vou cuidar dela e ela vai crescer e ser um lindo falcão.

Rendon dá um pequeno sorriso, mas continua caminhando. Ainda estavam longe de onde Tommy deveria estar e isso fazia o rapaz caminhar apressado mesmo que com cuidado para não mover Aria demais. Então ele avista um guarda caminhando por um corredor.

– Hey!!! Você!! – grita Rendon com um tom irritado por conta da preocupação fazendo o guarda levar um susto e se atrapalhar em fazer uma reverencia ao príncipe e arrumar a armadura – Encontre Tommy Hawkey imediatamente – ordena Rendon sem sequer parar de caminhar forçando o guarda a segui-lo por alguns passos – Diga a ele que a irmã precisa dele e está no quarto dela o esperando.

– Certo – acenou o guarda ainda confuso.

– O que está esperando!!!! ANDE!!! – grita Rendon nervoso pelo fato do guarda parar para ver o estado de Aria – Corra Homem!!!

Quando, segundos depois, os passos do guarda já não eram mais ouvidos Aria solta uma pequena risada cansada, mas ainda assim bem humorada e suspira, logo depois se deixando relaxar nos braços de Rendon.

– É nessas horas que eu acredito mesmo que você vai ser um bom líder sabe – ela murmura suspirando e fechando os olhos enquanto deixa o rosto no pescoço dele.

– Tente não dormir – diz ele nervoso, agora também pela respiração dela batendo na pele de seu pescoço.

– Eu sei que não posso dormir, idiota. Só me leva pro meu quarto logo – ela resmunga irritada.

– Sim senhorita – ele brinca relaxando por conta do tom resmungado dela que era muito comum na opinião dele.


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