Aquela cena era a que eu menos desejava ver, mas estava vendo. Eu com aquela roupa laranja, uma cor que eu sempre soube que não ficava bem em mim, indo para a minha cela, por ter matado uma pessoa. Todas as outras prisioneiras olhavam para mim, algumas estavam quietas, mas outras gritavam.

- Carne nova no pedaço! Essa já é minha, eu vi primeiro! – uma delas gritou, eu apenas ignorei, não podia arrumar confusão logo no primeiro dia.

Um policial abriu uma cela, eu entrei e ele olhou para mim.

- Boa sorte. – ele disse, em seguida fechando a cela e saindo. Olhei para trás, vi uma mulher certamente mais nova que eu, deitada na beliche de cima.

- Qual seu nome, gracinha? – ela perguntou, olhando para o teto.

- Hum... Santana. – respondi, com um certo receio.

- Sou Pepita, mas muitos me chamam de Corta Tudo.

- C-corta Tudo?

- Sim. Consigo cortar coisas até mesmo sem precisar de facas.

Ela olhou para mim, desceu da cama e sorriu.

- Você é gostosa...

- Eu sei. – respondi com um ar autoritário. – E sou muito bem casada.

- Casada? Adoro casadas. Seu marido sabe o que você fez?

- Minha ESPOSA sabe sim, até porque foi para salvar a vida dela.

- Hum... esposa, é?

- Sim.

Pepita passou por mim, se aproximou das grades e fez sinal de negativo com a mão.

- Casada! – ela gritou. – Salvou a vida da esposa!

Muitas se lamentaram, eu a olhei confusa, ela olhou para mim e sorriu.

- Se eu não avisasse, elas te atacariam.

- Posso me defender sozinha. Sou de Lima Heights Adjents e...

- Oh! Você é de Lima Heights Adjents? – ela me cortou.

- Sim.

- Também sou de lá! Serei sua protetora agora.

Eu fiquei mais confusa, mas não disse mais nada.

- Quer ficar com a beliche de cima ou de baixo? – ela perguntou, apontando.

- Tanto faz. Não ficarei aqui por muito tempo. – respondi, dando de ombros.

- Eu também achei isso no início, mas estou aqui à cinco anos.

Fiquei assustada, não queria ficar ali por muito, MUITO tempo.

- Quantos anos você tem? – perguntei curiosa.

- 26. E você?

- 38.

Ela ficou pensativa, se sentou na beliche de baixo e olhou para mim.

- Acho que você não fica por muito tempo.

- O que quer dizer com isso?

- Você disse que salvou a vida da sua esposa, certo?

- Exatamente.

- Então, você teve motivo de matar...

- Uma vadia loira de olhos verdes.

- Uma vadia loira de olhos verdes. – ela repetiu.

Eu sorri, ela sorriu de volta e se deitou.

- Essa noite eu deixo você ficar com a beliche de cima, por respeito.

- Respeito?

- Sim. Sabe, você é mais velha do que eu.

Soltei uma pequena risada e me sentei ao lado dela.

***

- Santana Berry Lopez, você tem visita. – o policial informou, abrindo a cela.

Ele me levou até a sala de visitas onde tinha cabines, com uma espécie de telefone. Me aproximei a qual ele apontava e vi Rachel com Megan sentada em suas pernas. O policial se afastou e eu me sentei.

- Rachel, o que está fazendo? – gritei. – Não devia ter trazido Megan aqui. Isso não é lugar para criança, nem mesmo para você!

Megan me olhou assustada, Rachel apontou para o telefone ao lado e percebi que elas não tinham me ouvido, peguei o telefone, Rachel fez o mesmo e eu suspirei.

- Está mais calma? – ela perguntou.

- Um pouco, mas...

- Maggie quer saber o que aconteceu e...

- Entendi. – eu a cortei. Rachel colocou o telefone no ouvido de Megan, que olhou para Rachel e depois para mim.

- Mamãe, por que você não pode ir para casa? – ela perguntou chorosa.

- Hum... Lembra quando você quebrou o vaso de flor, que o papai Kurt deu para a mamãe Rachel?

- Sim. Mamãe ficou triste.

- Você teve que ficar de castigo, certo?

- Uhum. Duas semanas no quarto sem televisão. – ela respondeu chateada.

- Então. Mamãe também quebrou algo, por isso ela está de castigo.

- E não pode ir para casa?

- Não, eu não posso.

Olhei para Rachel, ela estava com lágrimas nos olhos.

- Megan, eu vou voltar, mas não agora.

- Ok.

Toquei no vidro, Megan fez o mesmo alinhando na minha, mesmo sua mão sendo bem pequena, Rachel deu um pequeno sorriso e colocou sua mão em cima da mão da Megan.

- Eu te amo, mamãe.

- Eu também te amo, Megan.

Ela deu o telefone para Rachel, desceu e saiu, Rachel olhou para mim.

- Santana.

- Hum?

- Não arrume encrenca, está bem?

- Rachel, você acha que eu... está bem.

Rachel sorriu, mandou um beijo e colocou o telefone no lugar, eu fiquei confusa, ela se aproximou do vidro, desenhou um coração com os indicadores, o que me fez sorrir e se levantou.

***

Assim que voltei para a cela, vi Pepita deitada, o policial fechou a cela e ela olhou para mim.

- A visita foi boa? – ela perguntou.

- O que? Para que você quer saber?

- Curiosidade. Minhas visitas sempre são da minha mãe, para dizer que sou uma péssima filha, ou da minha ex-namorada, dizendo que ainda me ama e que está me esperando.

- Ok... Rachel trouxe Megan.

- Quem seria Rachel e Megan?

- Rachel é minha esposa e Megan é nossa filha.

- Ela é pequena?

- Rachel ou Megan? – perguntei confusa.

Ela riu, se sentou, eu me sentei ao seu lado.

- Rachel tem a minha idade, mas é baixa, sabe?

- E Megan?

- Tem apenas quatro anos.

- Ela se parece com você?

- Rachel a concebeu, mas às vezes ela se parece muito comigo, assim como Joseph, nosso filho que eu concebi, parece com ela.

- Sei como é isso. Mi padre sumiu quando eu tinha 12 anos, mas eu me pareço mais com meu padrasto. Com quem você se parece?

Fiquei em silêncio, senti que lágrimas queriam aparecer em meus olhos, me levantei rapidamente e subi para a beliche de cima.

- É melhor terminarmos com essa conversa. Vou dormir um pouco, já que não tem nada para fazer aqui.

Me deitei virada para a parede, pensei em minha abuela, com certeza ela me odiaria mais ainda agora, que eu estava na cadeia, fechei meus olhos e deixei as lágrimas caírem.