A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 9
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Dante, querido, Dante. Eu já disse que você foi o melhor personagem que já criei?



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Capitulo VIII

Houve leves batidos na porta, abri os olhos. Ainda estava em posição fetal, estiquei os joelhos e vi que estavam doloridos, os braços também e meus dedos, bem eu não podia senti-los. Alguém continuava a bater a porta, leve e ritmada.

– Senhorita? – Dona Cho chamou. Eu queria responder, mas não encontrava minha voz.

Levantei. Não podia mexer meu pescoço. Joguei água no rosto e tentei arrumar o cabelo. Abri a porta e lá estava ela.

– Ajude-me a sentar, por favor. – sussurrei. Ela assentiu e me levou para a cama.

Com sua ajuda, me sentei na cama e ela ajeitou os travesseiros para que eu pudesse ficar mais confortável, colocou a bandeja em meu colo com uma sopa e um suco. Olhei para a janela, estava escuro.

– Por quanto tempo eu fiquei lá dentro? – perguntei dando uma colherada na sopa percebendo a fome e a sede.

– Umas sete horas. – ela sorriu, acariciando meu cabelo.

– Tudo isso? – suspirei. – Que horas são?

– Já passa das dez da noite. Tentei lhe acordar para o almoço, mas a senhorita não abriu. Então Dante mandou trazer seu jantar.

– Hmm. – gemi, com sopa em minha boca. Tomei um belo gole do suco aplacando a sede.

Ela me esperou terminar e me ajudou a deitar, ainda não conseguia mexer o pescoço. Ela ajeitava meu lençol e estava prestes a sair.

– Obrigada. – falei, ela olhou para mim sorrindo, seus olhos puxados quase fechando.

– Não tem por que. Só fiz meu trabalho. – ela disse.

– Não só por hoje, por tudo. – falei corando, ela sabia o que eu estava querendo dizer.

– Sei que pode não parecer, mas Dante tem um bom coração. – ela senta na beirada da cama.

– Engraçado, você mesma disse para que eu tivesse cuidado. – falei acusando-a sorrindo.

– Eu estava enganada. – ela disse. – Realmente pensei que ele podia ainda estar com pensamentos de anjo inferior, mas vi que ele mudou. – ela olhou para meu rosto compreendendo o que eu pensava. Ela acariciou onde ele havia batido. – Sei que ele às vezes tem uns espasmos, mas dê-lhe um credito, se fosse você que estivesse mudando seu jeito de ser de uma hora para outra, você iria ser certinha?

“Dante ainda luta contra o sentimento de morte que assombra seu passado, e eu tenho certeza que só você pode ajuda-lo.” – ela beijou minha testa e saiu desligando a luz.

Olhei para o teto. Minha vida estava um caos mesmo, como poderia ajudar alguém sem nem a mim mesma eu poderia ajudar? Tentei organizar minha vida de trás para frente.

Meu nome é Vinny Louis, tenho 16 anos. Minha vida toda eu morei com Leonard Louis e Beth Louis, que eram meus pais. Eu tinha uma irmã que se chamava Anita Louis, uma melhor amiga chamada Wing que era meu consolo e aconchego nas horas mais difíceis e nas mais felizes. Eu apanhava de minha mãe até se levantasse a voz, meu pai era meu herói e minha irmã minha princesa. Meu fracasso em casa era compensado na escola onde eu era inteligente e popular, tinha um namorado e isso bastava para minha felicidade. Essa era minha antiga vida.

O que aconteceu? Descobri que o garoto recém-chegado em minha escola chamado Traves, mas seu nome é Robert que é um imortal – ainda não sei bem como – e que ele era apaixonado por mim, minha melhor amiga era meu anjo da guarda até sair do cargo por gostar de mim. Sou a reencarnação de Victoria Halo, uma riquinha de muito tempo atrás – que ainda não sei ao certo se era mocinha ou vilã – que era apaixonada pelo cara errado. Meu novo anjo da guarda era Dante, um cara volúvel e imprevisível que era um anjo da morte, e agora eu morava com ele. Daqui a três meses era meu aniversario e ainda tinha uma maldição que assombrava meus dezessete anos. Eu nunca passava dessa idade. Ainda tinha Robert, era – pelo menos nos meus sonhos – romântico, doce, gentil e amigável, só precisava saber se quem gostava dele era eu, Victoria ou nós duas.

Quando foi que eu perdi minha vida? Não percebi quando comecei a chorar. Fiquei pensando em como havia chorado nesses dias e me surpreendi com a quantidade de água em meu corpo, era muita sorte que ainda houvesse alguma coisa dentro de mim. Eu não dormi, não sabendo que sonhos de uma vida que não era minha me esperavam.

Quando Dona Cho entrou no quarto para abrir as cortinas eu já às havia aberto e arrumado todo o quarto, em agradecimento pela gentileza de ontem. Eu já estava arrumada, só esperava pela sua visita.

– Podemos ir? – ela perguntou. Balancei a cabeça, concordando.

“Tentarei de novo, do começo”, “Tentarei esquecer-me de tudo” murmurava para mim mesma.

– Bom dia. – ele falou quando sentei a mesa.

– Bom. – respondi.

Sabe quando você não tem nenhum assunto e mesmo assim é como se você estivesse sendo forçada a ter uma conversa que você não quer? Era assim que eu me sentia nesse instante.

– Posso terminar minhas desculpas agora? – ele falou olhando em meus olhos.

– Está tudo bem, não precisa de desculpas. – falei desviando de seu olhar penetrante e indecifrável.

– Precisa sim. – ele pegou no meu rosto forçando-me a olhar para ele, onde seus dedos tocaram eu sentir ficar mais quente. Tirei sua mão. Ele entendeu. – Desculpe. – ele desistiu.

– Só preciso de tempo. – falei. – Para esquecer. – eu sempre fazia isso quando era com minha mãe, tempo.

– Vinny, você está mesmo me comparando com sua mãe? – ele me olhou incrédulo. Não respondi. – Você está com medo de mim?! – ele aumentou a voz. Eu me preparei para levantar, ele segurou em minha mão. – Não, tudo bem. Por favor, perdoe-me. É só que, eu não consigo acreditar que você está com medo de mim, e dentro de mim isso... – ele parou por um momento, fechou os olhos e tocou em seu coração. – dói. – terminou.

Voltei a sentar e terminamos o café da manhã, depois ajudei Dona Cho a tirar as coisas da mesa e Dante foi para o jardim.

– Prontinho. Obrigada querida. – Dona Cho agradeceu-me quando terminamos a limpeza das louças do café da manhã.

– Não por isso. – eu sorri.

– Então o que vai fazer agora? – ela perguntou.

– Olhar você aprontar o almoço. – respondi.

– E desperdiçar um lindo domingo dentro de casa? – ela me olhou sorrindo.

– Uhum.

– Nana ni na não. – ela balançou o dedo indicador negativamente. – Vista um maiô e vá para a piscina.

– Pensei que ela estivesse desativada. – falei. É claro que eu me lembrava da piscina, mas ela sempre esteve em manutenção ou suja. Nós nunca podíamos entrar.

– A dona Wing tinha medo de água, por isso nunca fez questão da piscina. Mas ontem eu a limpei. – ela sorriu. – Vamos, suba e coloque um belo biquíni, não importa. Só não quero que passe mais um domingo dentro de casa.

– Acho que prefiro ficar aqui dentro. – eu disse desanimada. Ela me olhou confusa. Não tinha intenções de explicar o motivo, mas sua cara de desapontamento tocou meu coração. – Dante está lá fora.

– Não se preocupe querida. Dante está bem. – ela pegou no meu braço e me deixou na beirada da escada. – Vai!

– Não tenho roupa de banho. – falei.

– Na gaveta do meio. – e ela foi para a cozinha.

Não havia como discutir. Dona Cho estava fazendo tanto por mim que não havia como dizer não. Mesmo que eu estivesse tremendo e toda arrepiada com a ideia.

Como ela havia dito, na gaveta do meio no meu guarda-roupa estava uma gaveta cheia de roupa de banho, de todos os tipo e cores. Escolhi um biquíni. Era de laços branco e azul, trançado na parte do sutiã e na calcinha era de alças onde se fazia o laço. Eu o vesti e coloquei por cima um vestido muito fino transparente e amarrei na frente.

Desci e a encontrei terminando a limpeza da casa com um enorme jarro de flores, rosas vermelhas cujas pétalas eram vibrantes e ainda tinham gotas de orvalho, estavam recém-colhidas e eu já imaginava por quem.

– Você está linda. – Dona Cho falou deixando o jarro em cima da mesa.

– Obrigado. – não deixei de notar que era o primeiro elogio que recebia em semanas. Foi reconfortante.

– Bem, vamos. – ela mostrou o braço em forma de arco para mim como um convite e eu o aceitei trançando o meu com o dela e deixando que ela me guiasse para fora.

Além do enorme jardim que ficava atrás da mansão, também havia uma enorme piscina do lado direito da casa, e do lado esquerdo havia a garagem. A piscina era discreta e praticamente invisível pra quem olhava pela frente da casa, havia um muro que bloqueava a visão de quem olhava. Muro esse que não havia no lado esquerdo.

Ao redor havia duas cadeiras de descanso e uma pequena mesa com cobertura onde eu sentei.

– Vai querer alguma coisa? – Dona Cho perguntou. – Um suco? Um lanche?

– Um protetor solar e um aviso de quando eu posso entrar. – falei sorrindo.

– Tudo bem. – ela saiu deixando-me sozinha.

Olhei para a água azul cristalina que balançava calmamente, era convidativo eu não podia negar, fazia tanto tempo que eu não nadava. Olhei então para a grande estufa no meio do jardim – de onde eu estava tinha uma visão privilegiada dos fundos – e não pude negar que a minifloresta que ali ficava ainda me dava arrepios, mas a estufa era novidade. Os arrepios voltaram, Dante estava ali dentro há poucos metros de mim.

Afastar o pensamento era realmente difícil ali, mas eu não podia ficar remoendo aquilo para sempre, afinal eu morava na mesma casa que ele, evita-lo seria praticamente impossível, seguir em frente era a frase ideal, afinal quem nunca errou?

Tirei o vestido e o deixei na mesa, caminhei até o chuveiro que havia ali e depois fui até a beira da piscina e sentei deixando meus pés dentro da água, acostumando-me com o frio e o tornando agradável. Pulei.

Era refrescante, me sentia leve como não me sentia há séculos. Lembrei-me de quando ensinei Anita nadar, ela jogava água para todos os lados e esperneava muito. Ri da lembrança. Mergulhei até o fundo, sem respirar e mesmo assim me sentia livre e confortável.

Quando a falta do ar já se tornava dolorosa resolvi emergir e coloquei a cabeça para fora absorvendo o oxigênio que tanto precisava e apoie-me com os braços na beirada da piscina e só então vi seus pés.

Há quanto tempo ele estava observando-me nadar eu não sei, mas seu rosto esboçava um sorriso que assim como os meus eu não via há muito tempo, um sorriso doce e caloroso, e eu não senti medo algum. Na verdade se não tivesse sido eu que havia sofrido aquela tapa eu negaria que alguém com aquele sorriso pudesse fazer algo do tipo.

Ele sorriu mais ainda lendo meus pensamentos, estendeu a mão e eu a segurei enquanto ele me puxava para fora da piscina. Eu já estava fora da piscina e mesmo assim ele não soltava minha mão, estávamos tão perto um do outro e nenhum dos dois se movia, me afastei e molhada fui até a mesa pegar uma toalha e o protetor solar que Dona Cho havia deixado para mim.

– Tenho que dizer Vinny. – ele foi até mim e sentou na cadeira. – Você está linda.

– Obrigado. – respondi vermelha e passei o protetor solar na esperança de disfarçar minha vergonha. Ele estava com uma calça branca de corda, a mesma que sempre usava quando estava livre e só.

Dona Cho caminhou até nós e ela deixou dois copos de suco geladinhos na mesa, Dante pegou um e bebeu rapidamente.

– Obrigado Chozinha. – ele sorriu. – Estava morrendo de sede, a estufa está mais quente que o normal e ficar no sol também da uma sede danada.

– Não por isso. – ela falou e então olhou para mim. – Não vai tomar? Acabei de fazer.

– Ah, sim. – peguei o suco e dei um gole, era de maçã. – Obrigada.

– Concertou o aquecedor? – ela perguntou a Dante.

– Sim, deu um trabalhão, mas eu consegui. As flores estão na temperatura ideal agora. – ele tinha um ar orgulhoso.

– Que bom. – ela sorriu. – Então você merece um descanso vou buscar uma roupa de banho e uma toalha para você também. Mas por favor, tire essa calça suja de terra e tome um banho antes de entrar na piscina, ela está limpinha. – ela disse e ele concordou com a cabeça. E então ela foi embora.

– Olha, eu realmente não queria te atrapalhar, mas você sabe como é a Dona Cho, quando ela fala é impossível dizer não. – ele me disse.

– Tudo bem. – eu sabia bem como era. Deixei a toalha e mergulhei de novo para o silencio, eu não queria ver Dante tomando banho seminu no chuveiro, não acho que seria algo que eu pudesse disfarçar nos pensamentos.

Quando Dona Cho voltou com a toalha e a sunga, Dante já havia tomando banho e apenas colocou a sunga de banho e é claro que eu não olhei enquanto ele fazia isso, eu estava de costas, sentada com os pés dentro da água. Ele sentou ao medo lado, suas mãos molhadas muito próximas as minhas.

– Está pensando em sua família. – ele falou, eu concordei com a cabeça.

– Ainda é difícil de acreditar que não tenho Anita para acordar-me de manha e meu pai para me consolar nos momentos difíceis. – falei sinceramente.

– Eu não lembro se tive família em algum momento de minha vida, mas sinto pelos seus sentimentos que deve ser algo importante. – ele olhou para a água. – A única coisa mais próxima que eu tenho de família é a Chozinha. – ele sorriu.

– Ela é uma alma boa. – falei.

– Sim, ela é. – ele concordou e parou por um momento, as palavras presas em sua boca até que ele as soltou. – E a alma de Vinny também.

– O que? – olhei para ele surpresa, mas ele não respondeu só mergulhou deixando-me ali imóvel digerindo suas palavras.

– Você não vem? – ele perguntou quando emergiu, em resposta mergulhei logo atrás.


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Notas finais do capítulo

E o beijo?! Obrigado e reviews bem vindos.



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