A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 8
Capitulo 7


Notas iniciais do capítulo

Não sei o que deu no Nyah! e não postou o capítulo programado. Enfim. Ai está. Espero que goste.



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Capitulo VII

Não posso dizer que foi a viagem mais calma que tive, foi exatamente ao contrario. Dante, ao que parece se divertiu bastante ao acelerar a moto e vir que eu me segurava mais forte nele e também que eu não me decidia entre segurar a saia ou a mim mesma. Quando estacionamos na frente da escola meu cabelo estava um caos e ele caia em gargalhadas.

– Poderia me fazer o favor de parar de rir? – perguntei enquanto tentava salvar o penteado que fiz esta manha e ajeitar o uniforme, já ele, no entanto estava imaculado e perfeito.

– Você se importa muito com aparências Victoria. – ele falou sério.

– Não me importo nada. – rebati.

– Assim, você se importa. Você não pode mentir para mim, sei como era popular na sua antiga escola e como namorava aquele menino, como era mesmo o nome dele? – ele sabia que eu havia pensado o nome dele. – Isso Peter, eu sei que só o namorava por que ele era popular, doida para suprir a atenção que não tinha em casa não é? Mas sabe Victoria, aqui nessa escola não haverá isso, você será igual a todas, sem tratamento especial, muito menos mimos. E se quiser um conselho, seja humilde. – ele disse isso olhando em meus olhos.

– Meu nome é Vinny. – foi a única coisa que consegui falar.

– Não nesse momento. – ele respondeu. – Vem, não quero me atrasar.

Andamos em silencio pelo chão de pedras do estacionamento até a entrada da escola. Não pude deixar de soltar um arfar. Não sei o que esperava, mas com certeza não era aquilo. Talvez tivesse criado muitas expectativas e achasse que estudaria em um mausoléu, mas era bem diferente. Era muito amplo no meio, quase do tamanho de uma quadra e ao redor estavam o que definia o quadrado, as salas. Eram três andares tirando o térreo.

Passamos pelo portão e fomos pelo meio do grande jardim central, não sei onde Dante queria ir, mas ele parecia saber bem então eu apenas o segui. Pelos lados havia muita gente, e alguns se arriscavam em olhar para nós, outros apenas ignoravam.

Entramos em uma pequena sala no primeiro andar, não pude deixar de notar que as paredes eram de pedra e o chão de mármore branco, tudo parecia solido e antigo. Na pequena sala havia algumas cadeiras laterais e uma mesa no fim da sala onde uma senhora meio idosa de óculos e cabelos brancos estava. Dante apontou para as cadeiras com o queixo, eu sentei e ele foi até a senhora.

Não demorou muito a conversa entre eles e quando ele voltou tinha apenas dois papeis. Ele me entregou um e o ficou com o outro. Olhei o meu e eram os horários das aulas.

– Vou estudar Latim? – perguntei meio surpresa, ele concordou com a cabeça.

Subimos até o primeiro andar pelas escadas em espiral, agora que não estávamos mais por fora dos prédios podíamos ver a quantidade de pessoas que estavam por ali, e bem, eram muitas e de todos os tipos e pelo que podia ver muitas cumprimentavam Dante. Olha só quem fala que eu sou popular, pensei. Demos uma volta completa pelo quadrado lateral da escola antes de subir.

Subimos para o segundo andar, ainda havia muitas pessoas, mas nem a metade das que havia no primeiro andar, percebi que agora elas pareciam mais velhas, então os andares eram por idade? Ou seria por série?

Dante entrou na sala no segundo corredor do segundo andar. Eu tinha certeza que uma hora eu me perderia ali. Deixamos nossas bolsas em duas carteiras ao fundo – lado a lado devo dizer – e fomos até nossos armários. Não eram muito longe da sala, e também estavam um do lado do outro, peguei minha chave e abri o armário de ferro que tinha meu nome gravado – Vinny Louis para meu agradecimento – e peguei os livros de acordo com os horários.

Voltamos para a sala, que para minha surpresa já não era de pedras como todo o prédio, era branca e o chão de mármore dava a impressão que era tudo muito claro refletido na luz.

Sentamos e não demorou muito para que a sala fosse preenchida por outras pessoas. Quando uma menina passou por nós e deixou cair seus cadernos e livros minha reação imediata foi abaixar e ajuda-la a pegar. Dante de olhou confuso como se minha atitude fosse inacreditável, e nosso primeiro professor entrou.

Uma pequena e sombria semana se passou. E com ela qualquer força de lutar contra qualquer ordem que era dada a Dante e depois a mim. Frequentei a escola todos os dias, indo e voltando com Dante de moto – que ainda não tinha se cansado de rir quando eu ficava vermelha e tentava segura-lo com mais força quando ele arrancava com a moto – fazendo meus deveres, comendo e dormindo.

Era sábado de manha, então eu não teria que acordar cedo, certo? Errado. Dona Cho fez questão que eu não perdesse nem um minuto do meu precioso tempo – pude perceber as entrelinhas por trás daquele inocente frase. Então meu aniversario estava chegando. Levantei meio zumbi e fui até o banheiro fazer minha rotina diária quando percebi um detalhe que a muito não me perturbava e tão pouco fazia falta, fazia uma semana que eu não sonhava.

Penteei os cabelos e desembaraçando os cachos e os prendendo em um rabo de cavalo, agora sem minha maquiagem minhas sardas estavam bem – bem mesmo – mais evidentes, dei de ombros. Percebi que dentro de mim havia duas opiniões sobre aquele mesmo assunto, uma parte de mim não se importava para isso a outra queria desesperadamente um pouco de pó de arroz. Era estranho. Vinny e Victoria talvez não se dessem muito bem afinal.

Desci para tomar café da manha quando percebi que Dante – sempre o primeiro a sentar a mesa – não estava lá. Dona Cho entrou com uma garrafa de café nas mãos e colocou um pouco do liquido flamejante em minha xicara. Agradeci com um sorriso.

Tomei um pouco sem açúcar, imaginando o que estaria fazendo agora se estivesse ainda em minha casa, não há muito tempo atrás, apenas um mês antes. Eu estaria me arrumando para o balé.

Agora que parecia algo tão antigo e solitário, o balé era uma das poucas coisas que me faziam sentir a falta da minha antiga vida. No ultimo sábado havia pedido para Dante para retornar as aulas, o que eu havia recebido era um irredutível não. As desculpas eram minha total falta de segurança com Robert a solta.

Dona Cho me olhava, me encarava na verdade, só então percebi que eu estava chorando. Enxuguei o rosto e esbocei um sorriso, o mais convincente que pude emitir na esperança de conseguir que ela desviasse sua atenção de mim, algo que emitisse um “está tudo bem”. Não deu muito certo. Ela continuava a me encarar de pé, ao lado da mesa em silencio apenas esperando uma ordem.

– Onde está Dante? – pergunto hesitando, sem saber se receberei uma resposta.

– Saiu para resolver uns problemas, querida. – ela respondeu docemente.

Terminei o café, mas não sai da mesa. Olhei-a levar os pratos e as xicaras para a cozinha, dando varias viagens até que a mesa esteja totalmente limpa e apenas com um vaso de rosas vermelhas recém-colhidas no centro. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas acho que foi o suficiente para Dona Cho limpar o andar de cima e ir para a cozinha.

Não sei o que fiz no ultimo sábado, lembro-me de ter visto TV e feito me dever de casa, estava estudando afinco para a universidade. Dante, por sua vez, não fez nada além de passar o tempo todo no jardim, se trocamos algumas palavras foi quando ele descobriu meu pequeno e travesso plano de “acabar com ele”. Ainda consigo escutar as suas palavras soando estrondosas por toda a casa.

– Como ousa a pensar em um complô contra mim? – ele grita – Eu! Logo eu, que estou aqui ajudando você Victoria. Ingrata. Devia deixar você morrer.

Ele falou isso e muito mais, mas eu me recuso a lembrar. A única memoria que ainda arde em minha memoria foi a tapa que recebi. Engraçado e até mesmo hipócrita, a mesma tapa que Dante havia me protegido agora havia sido ele que havia dado. Coloquei a mão sobre o rosto bem onde sua mão firme me acertou, pude jurar que estava sentido latejar de novo.

Talvez por isso a semana tenha sido sombria, não pude deixar de comparar aquela tapa aos muitos que levei em casa. Minha vida totalmente isolada e machucada em casa até o dia em que Anita nasceu e tomou de alegria o lugar, mas minha mãe sempre reservava surpresas para que eu jamais esquecesse qual seria meu lugar.

Afugentei os pensamentos, já havia me torturado demais com aquilo. Levantei lentamente, era como se estivesse sentindo dor sem que ela existisse. Toda a minha força se foi, deslizou de minhas mãos assim que a tapa que levei alcançou meu rosto. Lembro também de Dona Cho dizendo que aquilo havia ido longe demais e segurando a mão de Dante, eu correndo até o quarto e trancando a porta e só saindo no dia seguinte. Sem sonhos, por que eu não dormi.

Decidi ir até a cozinha, caminhando lentamente com medo eu acho cheguei ao meu destino. Dona Cho trabalhava animadamente pela cozinha, ora lavando as louças, ora temperando a comida. Também fazia múltiplas outras coisas, limpava o chão de azulejo branco imaculado e limpava o pó inexistente das prateleiras.

Sentei no balcão que dividia a parte dos fogões e da geladeira da parte das prateleiras, armários e também uma pequena mesa redonda de madeira com uma toalha branca de renda com flores e um vaso de flores amarelas no centro.

– Quer alguma coisa, querida? - Dona Cho pousa uma porta copos de flor perto da minha mão e por cima um copo gelado com suco de laranja. Balanço a cabeça, discordando. Dou um gole no suco.

– Obrigada. – acrescento.

Ela continua seu trabalho, não parece se incomodar com minha presença. Agora a comida estava quase pronta e toda a prataria polida. Então uma pergunta surgiu em minha mente, como aquela mulher foi parar ali. O pouco que eu sabia dela era das raras vezes que Wing comentava seu nome. Empregada e responsável por Wing, e era só. Mas era tudo mentira, eu queria a verdade.

– Já trabalha ha muito tempo aqui? – pergunto tirando a atenção da panela com cozido.

– Sim. – ela responde com gosto. – Vi muitos anjos passarem por aqui com seus protegidos em perigo.

– Não fui a primeira? – pergunto curiosa. Ela ri.

– Nem de longe. – ela sorri, lavando as mãos e indo até a lavanderia. Eu não fui a primeira a reencarnar mais do que o permitido então?

– Eram todas reencarnações? – perguntei aumentando um pouco o volume da voz.

– Ah, não. – ela volta com um balde de agua e alvejante e um rodo com um pano dirigindo-se a sala.

– Não? – pergunto.

– Não tenho permissão para falar sobre isso. – ela sorri em desculpas e começa a mergulhar o pano na agua.

– Ah, desculpa. Só estava tentando saber por que você sabe de tudo. – eu soltei, era tudo ou nada.

– Bem, não sei muito bem porque, nem como. – ela sorri e enrola o pano no rodo. – Só sei que eu morri. – e ela começa a limpar. Absorvo a informação por um segundo. Dona Cho? Morta? A única resposta era “impossível”

Mas no fundo não deixava de ser aceitável, ela sabia o segredo dos anjos, ela trabalhava para eles e agora a frase de Dante fazia sentido. Lembro quando perguntei a ele se Dona Cho era um anjo e ele me respondeu “Não, mas bem que poderia ser. Se é que me entende” Na hora eu não havia entendido, mas agora sim.

– Se lembra de como? – perguntei a ela.

– Não. – ela diz espremendo o pano e voltando a enrola-lo no rodo. – Sei que morri injustamente, no lugar de alguém culpado. Eles deram uma nova chance, uma reencarnação. – ela sorri limpando. Continuo a segui-la.

– Eles? Eles quem? – pergunto. Ela ri como se fosse óbvio.

– Os anjos. Em troca eu seria útil. – ela falou.

– Que sorte. – foi a única coisa que pude falar.

Dona Cho estava terminando de limpar o corredor quando a fechadura da porta emitiu um chiado, a chave girou e a porta abriu. Lá estava Dante, agora com um casaco de bolsos até o joelho marrom. Balançou a cabeça soltando gotas de água no carpete, limpou as botas e fechou a porta atrás de si.

– Almoço. Quarto. – sussurrei a Dona Cho. Ela assentiu com a cabeça e eu corri pela escada e estava fechando a porta quando vi sua bota travá-la.

– Por favor, deixe-me falar com você. – ele pediu.

– Vá embora! – rosnei.

– Me deixa explicar, pedir desculpas. – ele tinha a voz suplicante e agora sua mão forçava a porta tentando abri-la.

– Não! – gritei, as lagrimas sufocando o grito. Eu sabia que não iria aguentar aquele cabo de força por muito tempo, soltei e corri para o banheiro a tempo de entrar e trancar a porta.

Fiquei sentada atrás da porta com o queixo nos joelhos e as mãos nos ouvidos, ignorando o fato de que ele estava batendo na porta.

– Vinny abra a porta. – uma chuva de murros na porta. – Abra! – mais uma chuva de murros. Silencio. Retirei as mãos dos ouvidos e escutei com atenção. Talvez ele tivesse desistido afinal.

– Se é assim que você quer, assim será. – ele rosna dando fim a conversa que nunca tivemos.

Quando tive meu primeiro encontro com Dante ele foi grosso e um segundo depois doce, pensei que houvesse entendido no momento em que Dona Cho havia me alertado que ele era um anjo da morte, pensei que era meu risco para que ele me matasse, mas havia mais. Dante podia ir ao extremo, só que eu ainda não havia descoberto qual era seu extremo, tive apenas uma leve demonstração que tudo pode fugir do meu controle.

Não posso negar que quando pensei em morar com Dante ocorreram-me alguns alívios, e o primeiro e mais importante era sair de casa. Eu seria livre. Errado. Nunca fui tão presa. Havia acabado as explicações e satisfações. Errado. Não posso dar um passo sem que Dante saiba. Iria ter mais privacidade. Errado. Dante sabia meus segredos mais ocultos já que podia ler meus pensamentos. E por ultimo e não menos importante, eu me livraria das torturas de minha mãe. Eu havia comprovado o meu ultimo erro. Dante podia ser tão cruel quanto.

No momento em que ele me deu a tapa vi o ódio explodir em seus olhos, e em alguns segundos depois que eu caí no chão ele me estendeu a mão. Era extremamente confuso, mais do que eu era capaz de entender, e eu que pensei que seria uma heroína agora estava aqui, atrás da porta do banheiro chorando pedindo minha vida de volta.

Murmurava coisas sem sentido como “quero ir embora daqui” ou “me matem antes que ele o faça”, “Robert me ajude” e até mesmo “juro aguentar todas as surras de minha mãe sem nunca reclamar se me deixar ir”. Agora junte isso com os rios de lagrimas e terá minha imagem nesse exato momento.

Cansada depois de tanto pensar e chorar acabei dormindo em posição fetal ainda com as mãos aos ouvidos.

Estava no banho, minhas empregadas esfregavam minha costa com muita força. Berrei com elas.

– Suas inúteis. Minhas costas! – gritei. Elas foram mais devagar, devagar demais. – Agora está mais lento que uma lesma. Vocês são umas imprestáveis mesmo! Saiam daqui. – gritei e elas se apressaram em sair, em silencio.

Eu teria que estar linda, hoje eu me encontraria com Ivan – ou Robert como ele agora gosta de ser chamado – eu não podia estar suja.

Terminei o banho e coloquei meu vestido preferido, um rosa bebê. Perfeito. Olhei-me no espelho. Perfeita. Arrumei o cabelo em uma trança embutida com muito esforço já que agora não havia empregadas para fazer isso por mim.

Cheguei à sala de jantar bem na hora, como sempre. Sentei ao lado de minha mãe que sorriu com minha chegada e olhei para o meu pai que estava sentado à cabeceira. Hoje não havia convidados.

Comemos e discutimos um pouco sobre tudo. Desde as novas exigências de minha mãe para vestidos melhores até meu noivado. Esse assunto me dava calafrios. Como os enfrentaria? Como diria que estava apaixonada por um pobre? Alguém que não tem onde cair morto? Atrapalhei-me com a colher que caiu no chão.

– Sua destrambelhada. – falei para a empregada que estava servindo a sobremesa a minha mãe, colocando a culpa nela. A empregada saiu como um raio. Melhor para ela.

Terminamos o jantar com um chá, pedi licença aos meus pais com as desculpas de muito cansaço devido ao passeio pelo jardim hoje à tarde. Eles permitiram e eu saio louca pelos momentos com Robert.

Havia trocado os sapatos por um mais baixo e colocado uma echarpe quando minhas empregadas retornaram ao quarto com uma jarra com água e um copo.

– Vais sair senhorita? – a primeira perguntou colocando a bandeja no criado-mudo.

– Devemos avisar seus pais? – falou a segunda.

– Se quiser podemos acompanha-la. Está tarde senhorita. – a terceira disse.

– Shh. – protestei. – Querem calar a boca? – disse com raiva por ter sido descoberta. – Eu vou sair sim, mas se uma de vocês contarem alguma coisa que seja para quem quer que seja direi que estão mentindo e todas vão acabar na rua ou até numa forca. Vocês entenderam? – ameacei. Elas concordaram com a cabeça e saíram.

Respirei fundo ao conseguir sair pelo portão dos fundos, enrolei a echarpe em volta da cabeça e caminhei na escuridão de uma Veneza adormecida.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a quem favoritou e os acompanhamentos. De verdade.



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