A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 10
Capitulo 9


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu postarei o resto dos capítulos que tenho prontos por causa das minhas leitoras antigas. Espero que gostem.



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Capitulo IX

Aquela altura já havia pegado uma bela insolação, não precisávamos falar nada, apenas nadávamos e tentávamos afogar um ao outro, de brincadeirinha é claro. Eu já estava ofegante quando emergi da sua ultima tentativa de afogamento. Ríamos como crianças.

– Sirvo o almoço aqui, crianças? – Dona Cho perguntou nos trazendo de volta ao mundo. Ri quando ela disse crianças e Dante leu meus pensamentos e riu também. Concordamos e espirramos água nela, que saiu correndo.

– Eu aposto que consigo ficar mais tempo que você debaixo da água. – ele falou enquanto nadávamos em círculos.

– Eu não teria tanta certeza. – eu ri. – Você é do ar, o seu lugar é no céu, já eu sempre frequentei o clube de lazer do trabalho do meu pai.

– Um... Dois... – ele começou a contar preparando-se. Eu ri.

– Três! – falei submergindo, com ele logo depois.

Debaixo da água contávamos mentalmente os segundos, ele fez um sinal com o dedo indicador mostrando um redemoinho, concordei com a cabeça começando a nadar em círculos.

Ficamos tempo suficiente para matar afogado qualquer pessoa sem preparação física, eu estava determinada a ganhar. Eu estava tão feliz ali, e dali eu não queria sair tão cedo. Não com Dante me olhando maravilhado com o que via – pelo menos assim parecia – ele estendeu os braços pra mim e apontou para cima. Aceitei suas mãos, entrelaçando com as minhas e subimos atrás do ar que tanto nossos pulmões necessitavam.

Quando emergimos ríamos descontrolados e ofegantes. Um empate. Paramos subitamente quando vimos que nossas mãos ainda estavam juntas e nossos corpos muito próximos com a pressão da água.

Ele colocou uma de suas mãos em minhas costas e se aproximou mais a outra em minha, e eu segurava em seus ombros. Então sem dizer mais nada ele me beijou, e dessa vez eu não recuei.

Dona Cho tossiu nos pegando de surpresa e rindo de nossas caras de meninos levados que fora pegos no flagra. Fiquei vermelha como um tomate mais do que já estava pela exposição ao sol e acho que vi Dante vermelho também.

– O almoço está servido. – ela colocou os pratos debaixo da pequena cobertura e saiu. Nadamos até a beirada. Dante subiu primeiro e ofereceu sua mão para me ajudar.

– Obrigada. – falei quando subi. Sequei meu corpo e vesti o vestido novamente, Dante colocou uma calça branca limpinha que Dona Cho havia deixado para ele.

“Comida, Comida, Comida” era exatamente isso que se passava em minha cabeça. Disfarçar meus pensamentos era o essencial ali.

– Pode me passar o suco? – falei apontando para a jarra ao seu lado. Ele a pegou e enquanto me entregava nossas mãos se tocaram e pude jurar que senti faíscas ali, ele soltou apressado.

Comemos em silencio, Dante acabou o bife e pouco tempo partindo para a sobremesa que era, bem, torta de chocolate. Eu amava chocolate, mas a obsessão de Dante pelo doce estava o tornando enjoativo.

– Podemos mudar se quiser. – Dante falou lendo meus pensamentos, e incrivelmente aquilo não me irritava mais, me poupava até tempo, às vezes.

– Não, tudo bem. – falei. – Você gostou mesmo não é?

– Sim. – ele sorriu.

– E também nunca mais se transformou em gato. – falei dando uma bocada na minha torta.

– Ainda não o recuperei totalmente e também não preciso mais. – ele disse.

– Ah. – suspirei.

Quando terminamos guardamos nossas coisas e fomos para dentro, mas antes de entrarmos Dante surpreendeu-me quando colocou o braço na frente da porta.

– Você está ficando boa demais em esconder seus pensamentos. – ele falou. – Mas, por favor, poderia me dizer o que sinceramente está pensando? – ele tinha os olhos suplicantes e falava baixinho como se sentisse dor.

Coloquei a mão em seu rosto e ele agarrou minha cintura me puxando para perto, coloquei a mão em suas costas nuas.

– Posso morrer por isso. – ele falou.

– Você que pediu para saber o que eu estava pensando. – falei, mas em vez de responder apenas o puxei para mais perto e então ele me beijou firme.

Quando nos soltamos estávamos ainda mais ofegantes do que quando ficamos sem respirar debaixo da água e ele entrou em casa sem dizer nada. Peguei minha toalha do chão e entrei logo depois com a mão na testa medindo minha temperatura e certificando-me que não estava prestes a desmaiar.

Subi para tomar banho e tirar o cloro do cabelo, tomei banho e vesti uma roupa seca e confortável. Deitei na cama pensando em como faria daqui para frente. Aquilo era algo que não podia ser mudado, mas mudaria muita coisa. Eu não podia esquecer, não como fiz com tudo que me aconteceu.

Toquei em minha boca lembrando e me perguntando por que sua boca tinha gosto de segurança, felicidade e principalmente chocolate. Dormi feliz e sonhei com seu beijo, sem Robert, sem lembranças e o melhor, sem Victoria.

Acordei lentamente, abri os olhos devagar com medo do sol em minha janela, mas ainda era noite. Desci para tomar um copo com água.

Abri a geladeira e vi várias garrafas com leite e uma torta enorme de chocolate e ri.

– Já é tarde, devia estar dormindo e não rindo sozinha para a geladeira. – soltei um gritinho. Apoiado na bancada com um copo com leite na mão estava Dante, em sua boca estava a marca branca por cima do lábio superior.

– Já pedi que não me assustasse. – falei com a mão no peito.

– Desculpe-me. – ele riu deixando o copo na pia e limpando a boca e novamente só com a calça de algodão branco de amarrar.

– Você não tem uma camisa? – falei indignada.

– Por quê? – ele riu olhando para ele mesmo. – Não vejo nada de errado. – ele olhou com um olhar malicioso para mim. – Só se você estiver se incomodando com meu corpo.

– Hmpf. – ele podia ser bem inconveniente quando queria. Deixei o copo na pia e caminhei para fora da cozinha.

– Espere. – ele segurou em meu braço. – Foi bom que tenha descido, eu precisava mesmo falar com você.

– Sobre? – meu coração pulsava forte.

– Eu e você.

– Estou ouvindo. – minha voz tinha um pouco de magoa, só não sabia bem por que.

– Eu quero que esqueça o que houve hoje. – ele disse sério.

– Como?

– Isso mesmo, é melhor Vinny. O que fizemos foi errado e pode custar tanto a minha vida quanto a sua.

– Como quiser. – falei tentando soltar de seu aperto em meu braço.

– Por favor, não me entenda mal. Eu só quero... – ele soltou meu braço. – nada.

Virei e fui para o quarto. Enfiei minha cabeça debaixo do travesseiro e em silêncio esperneei. “Burra, burra, burra” murmurava para mim mesma. Como pude acreditar que aquilo podia ser real? Não, nunca foi. Apenas calor do momento, apenas um momento de diversão.

Dante era um anjo, não podia ter sentimentos por mim, não mais dos que eram permitidos. Eu agora sofria com a ideia de que ele pudesse ir embora assim como Wing foi. “Burra, burra, burra!” ainda falava.

Não percebi quando comecei a chorar, apenas limpei as lagrimas com algo em minha cabeça, não tinha como cobrar nada de ninguém eu fui a única culpada e agora estava em pedaços por nada. Sentada encolhida e chorando assim vi o papel dobrado em meu criado-mudo. Desde quando ele estava ali?

Abri o papel e li palavras elegantes e escritas à mão com cuidado.

“Existe um lugar onde os mortos se encontram, e onde as reencarnações também podem ir atrás de um amor perdido. Também existe a hora certa, quando o relógio soa suas doze baladas.”

“Sem assinatura?”, pensei. Mas eu estava cansada demais para entender charadas de alguém que queria me fazer uma pegadinha. Podia muito bem ser o Dante. Dormir era minha única esperança, eu estava cansada de chorar por tudo, mas por outro lado dormir significava Victoria Halo e eu não estava nem um pouco a fim de conhecê-la melhor. No momento estava meio sem alternativas.

Hoje eu acordei com a sensação de que o mundo estava prestes a cair sobre minhas costas. Meu “noivo” chegaria daqui a poucas semanas e a pressão de Robert para que eu fugisse com ele estava me deixando louca.

Depois dos meus afazeres resolvi dar um passeio pelo jardim e minhas criadas me acompanharam o que fez com que eu lembrasse que elas estão mais comigo que o normal. Estaria minha mãe suspeitando de algo? Não, não podia. Afugentei o pensamento, mas elas sabiam. Sabiam que eu fugia quase todas as noites, sabiam que Robert trabalhava no castelo e muito mais.

– Por que vocês não param de me seguir um pouco e não me preparam um suco? – falei alto.

– Temos ordens de ficar com a senhorita. – falou a mais alta que eu sempre esqueço o nome.

– Ordens? De quem?

– Da senhora sua mãe. – falou outra.

– Então que vocês saibam que são minhas criadas, e só devem receber ordens de mim! – falei. – Agora vão, antes que eu mande todas para a guilhotina por traição! – as três saíram correndo de volta ao castelo.

Só o que faltava! Criadas bisbilhoteiras! Mas agora havia algo ainda mais importante, a desconfiança de minha mãe. Eu tinha que acabar com qualquer uma que ela tivesse. Ajeitei os cabelos rebeldes para trás da orelha e fixei os soltos da trança embutida, alisei o longo vestido rosa e enchi os pulmões.

Havia uma senhora que mal sabia o que iria enfrentar, e eu não queria que ela soubesse de nada antes da hora.

– Você está atrasada! – Dona Cho chacoalhou meus ombros.

– O que? Como? Onde? – eu estava totalmente desorientada.

– Vamos arrume-se, a sua escola senhorita! – ela estava muito mais aflita que eu, que no momento estava mais dormindo que acordada, porém, como um zumbi e fui para o banheiro.

– Tome café rápido! – Dona Cho disse logo que me sentei à mesa.

– Por que toda essa pressa? – falei com o pão entalando minha garganta e o café queimando minha língua.

– O senhor Dante saiu antes da senhorita e disse que a mesma deve ir sozinha hoje. – ela disse envergonhada.

– O QUE ESSE FILHODA...

– Acalme-se senhorita. – ela falou sentando-me de volta a mesa. – Não é uma caminhada tão longa assim e já conhece o caminho não é?

– Uhum. – concordei de mau gosto.

– Tome sua bolsa. – ela me entregou junto com meu caderno. – Cuidado senhorita e, por favor, não desvie do caminho.

– Por que desviaria? – falei

– Não, não desviaria. – ela sorriu e abriu a porta.

– Obrigada, Dona Cho. – falei e já estava na pequena escada no fim da sacada quando ela me chamou.

– Senhorita?

– Sim? – olhei para a pequena asiática com uniforme preto e branco brilhante e impecável, suas pequenas rugas nos cantos de seus olhos pretos e puxados.

– Pode me chamar de Cho ou Chozinha. – ela falou, eu sorri, porém não me agradava a ideia de chama-la como Dante.

– E você pode parar de me chamar de senhorita e começar com Vinny. – falei sorrindo. – E nada de Victoria. – completei e ela sorriu.

– Tudo bem. – ela concordou e acenou enquanto eu ia embora ainda bufando com a surpresa de Dante.

Eu iria falar poucas e boas para ele, sim eu iria. Talvez eu estivesse espumando raiva pelos cantos da boca, mas eu não me importava. O salto começava a incomodar, mas não chegava nem perto da dor que eu queria causar em Dante, um chute bem dado era o que ele merecia.

Lembrei-me de ontem, do beijo, quer dizer, dos beijos. Será que ele me usou mesmo? A dúvida só aumentava o tamanho da força que eu usaria em meu joelho direito.

Mas também me lembrei de como ele parecia quase engasgar quando não terminou sua ultima frase ontem. Não fazia sentido, eu era uma reencarnação que arrumava problemas e não podia ficar nenhum segundo sem segurança, e aqui estava eu sozinha. Definitivamente não fazia sentido algum.

E se fosse real? E se ele só estivesse querendo me proteger? Não. Afugentei o pensamento, era mentira demais até para um pensamento. “Dante é um anjo, um anjo bipolar, viciado em leite e chocolate, bruto e imbecil” falei para mim mesma. Mas também é um anjo lindo e engraçado, gentil e doce quando quer e beija muito, muito bem.

– Argh! – fiz em voz alta, o que eu estava pensando?! – Louca, louca, louca. – Então atravessei a rua quando o sinal fechou, olhando para o chão e só então vi uma garotinha de mãos dadas com seu pai.

Ela usava um lindo uniforme branquinho com detalhes dourados que combinavam perfeitamente com seus cabelos lisos e loiros presos em um delicado coque alto, seu sorriso era reluzente e feliz, tão feliz que sua felicidade poderia me contagiar pelo resto do dia, se com ela não estivesse uma terrível e dolorosa lembrança.

– Anita. – sussurrei, paralisada enquanto a pequena boneca que já foi minha irmã passava sorrindo para mim, saltitando com a mão grudada ao senhor de óculos e cabelos grisalhos que um dia eu já chamei de pai.

E então ela se foi e eu ainda estava ali parada no meio da rua, o sinal quase abrindo e eu não conseguia desviar o olhar de onde ela sumiu na multidão. Uma buzina alta soou, o pneu encostou-se à minha saia derrapando, o carro parou bem ao meu lado. Eu gritei.

– Precisa de carona? – ele abaixou o vidro fumê. Seus olhos azuis brilhando de ansiedade e algo mais. Pensei na proposta, eu estava muito atrasada e não acho que teria condições de ir a pé logo depois desse choque e muito menos do qual eu estava passando agora.

– Ajudaria muito. – e entrei no carro de Robert sem pensar duas vezes.


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Notas finais do capítulo

Dedicado a todas a Danetes do Brasil :*

Reviews bem vindos.



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