Voltei para casa ébrio, sem nem sequer notar o caminho que acabara de percorrer. Não vi Gerard no caminho, o que é um sinal de que não foi para casa. Bem, no que eu o conheço, sei que ele nunca vai para casa em momentos como esse, mas o que ele esqueceu-se de lembrar foi que eu também sabia onde ele iria nesses momentos.

Exatamente a medida do que eu pensei isso, caminhei até este determinado local e de longe o avistei sentado com a cabeça apoiado nos joelhos. Tive o cuidado de não permitir que ele notasse minha presença. Contentei-me somente em ficar lá admirando-o de longe. Adorava seus movimentos... o modo como mexia em seu cabelo, ajeitando a franja que insistia em cair em seu rosto... adorava sua feição doce quando apertava os olhos diante a um feiche de luz... adorava o movimento de seu torax quando respirava ofegante... tudo nele me encantava... eu estava hipnotizado por aquela imagem que eu não podia deixar de endeuzar. Gerard era perfeito.

Eram exatamente em momentos como esse que meu coração disparava somente em presenciar cada movimento seu, que me crescia um medo terrível de perde-lo. Lembrei-me então do que acabara de acontecer, o que tinha acabado de esquecer-me por um segundo. Olhei então para ele. Sua feição não estava nervosa, nem magoada, nem alegre, nem nada do tipo, estava estranhamente apática, e por incrível que pareça, eram esses tipos de reações das pessoas que me assustavam. Não sei o que ele estava a pensar, mas algo dizia-me que não poderia ser coisa boa. Rezei por um momento para que seus pensamentos estivessem passando em sua mente tão apáticos como sua face, para que ele pudera esquecer de uma vez por todas esse horrível incidente e voltasse para meus braços.  

A tarde já estava alta, e percebi então que não demoraria a cair a noite. Quanto tempo passara eu parado ali? Duas horas? Três talvez! Minha mente viajava tão distante que nem percebi o quanto o tempo passou, e só me dei conta dele quando acondei do transe em que encontrava-me e senti um peso dolorosamente horrível em minhas pernas cansadas. Olhei na direção em que ele estava e percebi que havia desaparecido. Maldição! Jamais me perdoarei por não ter notado quando saiu! Virei-me então para ir-me quando tive então um imensa surpresa. Sim. Estava ele lá, parado, observando, e para minha alegria esboçava agora um pequeno sorrizo. Tentei falar algo, mas imediatamente ele não permitiu, tapando minha boca com um de suas mãos. Fez então uma feição que me dizia para não falar nada. Entendi. Obedeci. Olhamos então um para o outro quando ele então surpreendeu-me com um beijo silecioso.