Avalon escrita por Mrs Green


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora.
Para todos que estão lendo, peço que comentem, para os que não gostam de comentar e se expor, podem me procurar nas outras redes sociais.
Se puderem, digam o motivo pelo qual começaram a ler e o motivo pelo qual continuaram a ler e mais, o que esperam da fic e etc. É importante, obrigada.

Boa leitura ^^



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Capitulo 3

Ela não estava ali do meu lado quando eu acordei, mas eu ainda podia sentir o perfume dela sobre o colchão improvisado e ainda podia escutar sua voz no meu ouvido, dizendo que tudo ficaria bem. Eu sei que iria ficar tudo bem, tudo ficaria bem quando ele voltasse pra mim, quando essa criança nascesse e ele estivesse ao meu lado. Caso contrário, nada ficaria bem. Pois quanto mais eu penso em como seria criar essa criança sem ele, mais eu me desespero.

Eu gostaria de ter a certeza de que eu sou algo sem ele, de que eu posso ser alguém. Mas a verdade é que antes dele eu não era nada. Eu era apenas a filha de um homem muito rico, que fora jurada a um homem, mas que o destino fez com seu caminho fosse mudado. Não gosto nem de pensar em como seria minha vida com Gaston, sei que não seria feliz, não nos primeiros dias, pelo menos. Sei que minha mãe também teve um casamento arranjado e que ainda assim ela amou muito meu pai, mas esse destino não era o meu. Não podia ser o meu. Eu queria tudo, menos um casamento arranjado, ou um destino traçado por outra pessoa que não fosse eu mesma. Por isso aceitei a proposta de Rumple, por isso enfrentei meus medos e inseguranças e fui com ele, eu sabia que eu podia morrer em suas mãos, eu sabia que ele podia ser cruel, afinal era essa sua fama.

Eu sabia – pelo menos eu achava que sabia – tanto sobre ele, menos que ele antes fora um homem. Um homem de verdade. Um homem com coração e que um dia havia amado alguém. Mas aparentemente não fora amado de volta. Talvez seu filho fosse a única pessoa que o amou de fato, que olhou com os mesmos olhos que eu.

Agora ele está tão distante e enquanto eu olho para meu reflexo nas aguas do rio e vejo a mulher que eu estou me tornando sem ele, eu percebo então que eu não sabia de nada antes. Eu não era nada antes. Eu não era antes de Rumple, eu não fui nada durante Rumple, mas eu não sou apenas um nada agora. Agora existe uma vida dentro de mim e ela depende de cada segundo do meu dia, de cada célula de meu corpo, de todas minhas energias, de mim por inteira. Essa vida que eu carrego, depende mais de mim, do que eu mesma.

Eu gostaria de ser completamente dependente de mim mesma, gostaria de poder me defender e de defender a vida que eu carrego. Mas acontece que eu não posso fazer isso, eu me sinto tão fraca nessa ilha, tão vulnerável, tão dependente dessa garota. Gostaria que eu fosse mais como ela, que eu tivesse metade da sua força ou de sua inteligência, talvez eu me sentisse mais confiante se eu pudesse usar todos meus conhecimentos em algo útil. Porque aqui na ilha, tudo é ela quem faz e tudo ela sabe fazer. Eu apenas fico sentada, como uma rainha, e ela faz tudo por mim.

Ela está agora construindo um arco e flecha, objeto do qual eu nunca usei e aparentemente nem ela. Ela pega o arco, coloca o final da flecha na corda do arco e o puxa pra trás, soltando rapidamente em seguida. Mas diferente do que ela esperava, a flecha apenas cai no chão, não chega a atingir o alvo, que ela havia pintado em uma parede. Ela olha frustrada para a flecha no chão e a pega, repetindo o movimento logo em seguida. Ela nunca a acertar e a vejo então ficando cada vez mais frustrada, até que a frustração vira raiva e ela quebra a flecha em dois, jogando-a no chão e saindo dali em seguida.

“Hey!” Eu grito, fazendo com que ela se vire para me encarar.

“O que foi?” ela está aparentemente irritada, mas assim que vê a expressão em meu rosto, ela repete a pergunta, dessa vez em um tom mais calmo. “O que foi, Belle?”

“Por que vai embora? Você nem conseguiu atingir o alvo.” Eu digo a ela.

“Exatamente por esse motivo! Eu não consegui.” Ela responde e seu tom de voz, vai de calmo para verdadeiramente frustrada. Eu me aproximo então dela e coloco minhas mãos em seus ombros e sorrio para ela, ela tenta segurar o riso, mas acaba sorrindo e então pergunta. “O que foi agora, Belle?”

“Eu não entendo muito de arco e flechas, na verdade eu nunca usei essa arma. Mas eu entendo de ângulos e postura e a sua está bem errada. Deixa que eu faço.” Eu digo e estendo minha mão em sua direção, ela me olha e olha em seguida para a mão que eu mantenho estendida a sua frente.

“Você? Usando um arco e flecha?” ela pergunta e quando eu estou prestes a retrucar, ela me dá a arma e se afasta, enquanto me entrega uma flecha inteira que carregava consigo e com um movimento das mãos ela me mostra o alvo.

Eu realmente não sei usar o objeto, mas eu sempre acompanhava os arqueiros do meu pai e os via diariamente atirando flechas, quando não era para caça era por diversão. Eu achava algo fascinante de se ver, adorava ver a forma que eles se portavam, adorava ver a velocidade que a flecha alcançava e o barulho que a arma fazia quando em uso. Mas nunca de fato havia feito o que estava para fazer hoje, de modo que as chances de eu errar eram grandes.

Ainda assim eu me posicionei, imitando a postura de um verdadeiro arqueiro e posicionei a flecha no arco e flexionei-o para trás, fechei um dos meus olhos, de modo que pudesse focar o alvo. Então eu esperei e posicionei a ponta da flecha para o alto, onde passava um pássaro, contei até três e soltei a flecha e a vi voando em direção ao pássaro, atingindo o animal que caiu a alguns metros da gente. Olhei para trás e encontrei Red com a boca aberta, ela olhou para mim e em seus lábios surgiu um sorriso, eu sorri de volta e a vi correr em direção ao pássaro. Ela voltou logo em seguida com o animal morto em suas mãos.

“Você é cheia de surpresas.” Foi tudo o que ela disse, embora não fosse bem verdade, já que eu era bem aberta sobre a minha vida.

“Obrigada!” eu respondo e ela sorri, enquanto entrega para mim o pássaro.

“Seu premio.” Ela diz e pega de mim o arco e flecha, enquanto caminha de volta para a casa da arvore. Eu olho para o animal em minhas mãos e a vejo desaparecer pela floresta. Talvez eu não seja assim tão despreparada, talvez eu de fato saiba mais coisas do que eu verdadeiramente acho que sei. Mas pensando melhor agora, se estar preparada significa que eu não vá precisar mais dela no futuro... Então eu não quero isso.

Eu não quero ficar sem ela.

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A cada dia que passava eu vejo minha barriga crescendo cada vez mais, e eu nunca pensei que seria dessa forma. Quer dizer, tudo é tão apaixonante e tão triste ao mesmo tempo. Eu não sei de fato o que eu devo fazer e cada vez que eu toco minha barriga eu sinto um vazio tão grande. É como se eu sentisse que essa criança precise de algo meu que eu não posso dar. E esse sentimento de impotência é tão angustiante e ao mesmo tempo tão triste.

Não sinto mais os enjoos, o que é um alivio, porém sinto muita fome. Sempre estou com fome e ela sempre está pronta para me dar algo para comer. O que é bem ridículo, ela vive ao meu lado, sempre com alguma fruta e basta eu abrir a boca que ela simplesmente me enfia alguma comida garganta abaixo.

Às vezes eu só quero dizer ou perguntar algo.

“Pensei que você ia dizer que estava com fome!” Ela se defendeu uma vez, quando eu lhe dei um tapa bem merecido por ter me enfiado uma maça na boca, quando eu abri a boca para perguntar se ela me ensinaria a pescar com a lança.

“Eu não sinto apenas fome, sabia?!” Eu respondi a ela, mas minutos depois eu estava reclamando de fome. E embora eu merecesse um tapa, ela simplesmente se aproximou de mim e colocou na minha boca outro pedaço da maça e me deu um beijo no rosto.

Eu fiquei tão vermelha com o gesto, ela até acabou rindo e disse que me ensinaria sim a pescar se eu ensinasse a ela a usar o arco e flecha. Foi uma troca justa, e ela era uma ótima professora e extremamente paciente. Não porque ela estava disposta a ensinar, mas sim porque ela se divertia muito com meus erros. Ela era patética, na medida certa. Eu queria ficar com raiva dela por me fazer se sentir tão ridícula, mas era impossível.

Porque eu adorava vê-la sorrir, mesmo que o riso durasse tempo o suficiente pra me deixar com raiva. Eu adorava ouvi-la repetir a mesma explicação, mesmo que eu já tivesse entendido da primeira vez. Adorava também vê o sorriso cheio de orgulho que ela me dava quando eu finalmente acertava o movimento com a lança. Eu sempre ficava vermelha, quando ela dizia algo para me colocar pra cima.

“Você foi incrível.” Ela disse, quando enfim eu consegui pegar o primeiro peixe com a lança e eu sorri em resposta. “Deixa que eu carregue esse peixe enorme pra você.” Ela continuou, caindo na gargalhada, enquanto pegava um peixe minúsculo que eu havia pescado. Ela saiu então morrendo de ri na minha frente e eu fiquei para trás olhando-a sumir pelas arvores.

Eu realmente queria entender o que é isso que ela causa dentro de mim.

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Eu a ensinei a usar o arco e flecha no dia seguinte e ela aprendeu bem mais rápido do que eu esperava. Mas não foi o fato dela ser uma ótima aprendiz que me impressionou e sim como eu fiquei depois da aula. Eu já sentia e não podia negar que ela mexia comigo de alguma forma. Mas gostava de colocar a culpa no mistério que ela me causava, mas eu percebi então que havia algo mais.

Ela não disse nada durante a aula que eu lhe dei, deixou que eu falasse o tempo todo. Dessa vez eu era a professora e ela era aluna e sua posição de me ridicularizar não colaria dessa vez. Ela prestava atenção, em silencio, mas seus olhos nunca estavam nos meus e sim no meu corpo inteiro. Isso de certa forma me constrangia e eu tentava não ficar vermelha, com o fato de ela ficar totalmente constrangida quando eu percebia que ela olhava para meus lábios e não para meus olhos. Porém ela só desviava o olhar e tentava no instante seguinte não desviar seu olhar do meu.

Ela sempre falhava e respirava fundo enquanto passava as mãos pelos cabelos negros, quando eu sorria para ela. Queria que tivesse parado ali mesmo, na troca de olhares, mas pra ser sincera, eu sei que no fundo eu não queria. No fundo eu também fico feliz que não tenha parado ali, pois eu queria tudo dela. Eu iria querer tudo novamente daquele dia.

Pois jamais eu vou esquecer-me do meu corpo tocando suas costas, minha barriga era a única coisa que fazia barreira entre nós duas. Caso contrário eu teria tido meu corpo completamente colado ao dela. Mas não precisou disso, para que eu sentisse algo, pois eu senti quando minhas mãos tocaram no braço dela e quando ela jogou os cabelos para trás, para tira-los da frente do ombro e acabou batendo no meu rosto, permitindo então que eu sentisse seu perfume. Minha mão correu por toda a extensão de seu braço, até chegar ao cotovelo, onde eu parei lentamente, porque não queria deixar de sentir seu corpo. Corri então uma mão em direção a sua cintura e outra em suas costas, arrumando então a sua postura.

“Estou bem assim?” Foi a primeira coisa que ela falou e disse isso virando seu rosto para trás, deixando-o em minha direção, seus lábios tão pertos dos meus e novamente seu olhar na minha boca. Eu mordi os lábios e percebi que eu sentia então uma urgência de tomar aquela boca para mim, mas não fiz, apenas disse que ela estava ótima. Ela ainda permaneceu alguns segundos olhando em minha direção, mas depois voltou sua atenção a flecha e acertou em cheio o alvo.

Eu abracei para celebrar que ela tinha acertado e ela me deu um sorriso enorme, agora orgulhosa de si mesma e me agradeceu pela aula. Disse então que iria treinar mais vezes e eu a vi correr em direção a arvore para retirar a flecha, eu percebi então, naquele momento, que não foi apenas aquele alvo que ela havia acertado em cheio.

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Quando eu desci da casa da arvore, eu a encontrei sentada no chão com uma cuia cheia de amoras, que ela havia colhido logo cedo, no colo. Seus dedos e lábios estavam completamente manchados de vermelho por causa da fruta. Porem, ela não parecia ligar e eu segurava o riso, porque ela estava tão adorável assim completamente suja.

“Vai querer um pouco?” Ela perguntou, quando eu me sentei ao seu lado, eu balancei a cabeça em negativa e a observei em silencio. Ela lambia os dedos, tentando tirar o excesso das manchas dos dedos e devorava uma amora atrás da outra. Nunca a vi fazer algo com tanta paixão e era lindo ver o sorriso que surgia em seus lábios, quando ela se virava para mim e me encontrava rindo dela.

“Eu estou ridícula, não é mesmo?” Ela me perguntou, limpando a boca com as costas da mão e colocando a cuia - contendo algumas amoras – ao seu lado. Eu balancei a cabeça em negativa, ela sorriu novamente e se aproximou de mim, eu vi seu olhar correndo meu corpo, em direção a minha barriga. Ela ficou em silencio e depois de alguns segundos ela por fim falou. “Você ainda está assustada?” Ela perguntou e eu apenas respondi que sim, embora eu quisesse dizer mais coisas. Queria me abrir com ela, dizer meus verdadeiros medos, dizer o quanto a ideia de ter um filho sozinha me aterrorizava. “Você não está sozinha, Belle. Eu estou aqui e vou sempre estar aqui com e por você.” Ela continuou como se fosse capaz de ler meus pensamentos.

“Obrigada, Red.” Eu respondi e a vi então se inclinar a minha frente e a colocar suas duas mãos sobre a minha barriga.

“Eu estou aqui por você também, garotinha.” Ela disse, em uma voz infantil e sem pedir licença ela beijou minha barriga. Na verdade ela beijou o vestido que a cobria e sentou-se novamente, me olhando agora com o mesmo sorriso bobo de sempre.

“Garotinha?” Eu perguntei, em confusão.

“Não acha que vai ser uma menina?” Ela perguntou e seu tom voz era como se ela estivesse surpresa com a minha pergunta.

“Bem, eu não penso muito nisso.” Eu respondi, estava sendo sincera com ela.

“Comece a pensar então.” Ela respondeu. “Mas eu realmente acho que vai ser uma garotinha!” Ela completou, vi seus olhos brilharem com a ideia e me empolguei junto com ela. Pensando bem agora, eu realmente gostaria que fosse uma menina. Com esse pensamento em mente, eu permiti então tirar todos meus medos e inseguranças de minhas costas, eu não precisava deles e eu estava bem sem eles. Minha filha ficaria bem, ela estava bem. Contanto que Red ainda estivesse conosco, tudo ficaria bem. Meus pensamentos são logo quebrados, pois eu sinto algo, era o bebê, não sei explicar bem como era, mas eu posso jurar que eu o senti mexendo dentro de mim e como resposta eu coloco então minhas mãos sobre a barriga.

“Qual é o problema?” Ela pergunta, vendo meu olhar de espanto.

“Eu não sei.” Eu respondo assustada. “É como se o bebê estivesse... Sei lá, chutando?” Eu completo, ainda assustada e ela simplesmente ri da minha cara, me deixando mais nervosa.

“Bebês fazem isso.” Ela responde rindo.

“É normal?” Eu pergunto, sentindo minhas preocupações indo embora.

“É claro que é. Na verdade, pelo o que eu saiba, é bem normal e você deve esperar que ela te chute mais durante a gravidez.” Ela me responde e então me olha por alguns segundos. “Eu posso sentir?” Ela pergunta e seu tom de voz é assustado, como se sentisse medo da pergunta.

“Claro.” Eu digo e me sento sobre os meus joelhos e ela se aproxima, dessa vez ela não permite que exista barreira alguma entre seu toque e minha barriga e levanta então o vestido que eu uso. Ela toca gentilmente minha barriga, primeiro com a ponta dos dedos e depois com a palma das mãos e enquanto o toque progride, ela se aproxima mais de mim. O bebê ainda chuta e eu vejo . me pergunto se eu devia me sentir da mesma forma.

“Isso não é lindo?” Ela me questiona. “Uma vida dentro de você, crescendo diariamente e ainda tomando um tempinho pra dizer: Hey, mamãe! Eu estou aqui e sinto você, você me sente também?” Ela me faz essa pergunta em um sussurro, fazendo questão de imitar o bebê, com uma voz infantil. É inevitável não sorrir. Ela acaricia minha barriga e eu a observo em silencio, ela está certa, o bebê de fato faz isso pra chamar minha atenção. Então eu levo minha mão junto à dela, sentindo o bebê junto com ela, seu chute é tão forte e tão real e ela se aproxima mais de mim e eu olho para seus lábios completamente manchados de vermelho por causa das amoras. Tiro então a mão que eu tenho sobre a minha barriga e vou em direção aos lábios dela, e tento limpa-los com a ponta do meu dedo polegar.

O vermelho não sai e quanto mais eu esfrego, mais eu mancho meu próprio dedo. Caminho então minha mão em direção à boca dela e coloco meu dedo em seus lábios, baixando lentamente seu lábio inferior. Ela entende o que eu estou fazendo e então fecha os olhos por alguns segundos e sua mão vai em direção a minha, ela dá uma pequena lambida no meu dedo e eu suspiro com essa imagem.

Em seguida ela abre os olhos e solta minha mão, me controlo para não beija-la e sigo novamente meu polegar – agora molhado - em direção aos seus lábios novamente, dessa vez a mancha sai um pouco e eu trago minha mão de volta ao meu corpo. Ela sorri e me agradece e se aproxima de mim, me beijando no rosto, foi um beijo mais demorado que o habitual e só o toque dos lábios dela contra a minha pele, me faz se sentir completamente arrepiada. Ela se levanta e caminha em direção à casa da arvore, eu olho então para minha barriga e para as pequenas manchas de vermelho, que os dedos dela causaram em minha pele. Dessa vez eu nem tento apaga-los, pois o que eu quero de fato é que a marca dela, fique em mim para sempre.

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Queria entender o que ela tem com a Lua Cheia, mas não a questiono mais. Apenas a observo deixar o quarto todas as noites de Lua Cheia, com sua capa vermelha sobre a cabeça. Ela sempre acha que está fazendo nenhum barulho, mas eu sempre a escuto sair. Não a sigo mais, porém sempre fico a imaginar que ela deva ficar sentada na areia, olhado para o céu estrelado, olhando para a Lua Cheia e enquanto eu fico encarando o teto feito de madeira sobre minha cabeça.

Ainda espero decifra-la por completo, mas por hora, vou aceitando as pequenas partes que ela me dá dela mesma. Tento então montar esse quebra cabeça chamado: Red, mas a cada dia eu vejo que ainda falta tantas peças. Então eu me permito ser essas peças que faltam e quando eu menos percebo eu estou entrelaça a ela de tal forma, que já não sei mais em qual parte do quebra cabeça ela termina e em qual parte eu começo. Sinto que aos poucos eu sou dela, completamente dela, mas não sei se ela me aceita por completo e tenho medo de tentar algo e de no processo ela me desmontar por completo.

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“O que você está fazendo?” Eu pergunto, assim que me aproximo dela. É uma manha ensolarada, ela está construindo algo e se afasta do objeto quando eu me aproximo, permitindo então que eu veja do que se trata. É um pequeno berço e ela demonstra para mim, que o berço balança. Eu sorrio para ela, ela faz o mesmo e em seguida segura minha mão, me fazendo se aproximar do berço. “Obrigada, Red.” Eu digo a ela e vejo o quanto ela trabalhou na madeira e o quanto o berço é perfeito. Havia tantos detalhes esculpidos, estrelas e pequenas flores. “Muito obrigada mesmo, ficou muito lindo.” Eu continuo e me jogo em direção a ela, a tomando em um abraço apertado e lhe dando um beijo no rosto, me afasto dela e a vejo completamente sem graça.

“De nada, Belle. Mas você não precisa me agradecer tanto. Não foi nada.”

“É claro que eu preciso.” Eu digo a ela. “Quer dizer, você faz tanto por nós duas e até o que não precisa você faz questão de providenciar. Eu poderia dormir com o bebê na minha cama, você sabe disso, mas ainda assim você pensa até nos detalhes que podem passar batido.”

“Acho que uma princesa merece um berço de ouro, Belle.” Ela me responde. “Infelizmente, só temos madeira. Mas ainda assim foi feito com muito carinho. Sei que ela terá o berço de ouro em breve.”

“Ela não vai precisar do berço de ouro.” Eu digo, com minhas mãos segurando as dela. “Ela vai ser muito feliz aqui.” Completo e Red franzi o cenho, completamente confusa com o que eu disse.

“Você não acha que vamos sair daqui?” Ela me questiona e eu balanço a cabeça em negativa.

“Não.” Respondo. “Quer dizer, eu não ligo mais, eu estou feliz aqui. Eu gosto da ilha e você me basta.” Completo e não penso muito na ultima frase, de modo que quando a termino, eu me calo e a olho em minha frente, completamente confusa, seu olhar se desvia do meu e ela fica em silencio. “Eu andei pensando em um nome.” Eu digo a ela, ela olha para mim e espera que eu continue. “Luna.”

“Luna?” Ela diz, com um sorriso. “Por que esse nome?”

“Porque você tem esse fascínio pela Lua Cheia... Eu queria dar um nome a ela que fizesse com que eu nunca me esquecesse de você.” Eu respondo e um sorriso enorme surge em seu rosto. “Mas eu sei que eu jamais vou me esquecer de você.” Completo por fim e ela sorri e se aproxima de mim, não tenho tempo de pensar em nada, pois ela logo me puxa gentilmente para perto de si e me beija nos lábios, se afastando brevemente e me olhando nos olhos.

“Esse é para que você jamais se esqueça de mim.” Ela diz. “E esse...” Ela continua e me dá outro beijo. “Esse é pra você sempre me querer em suas lembranças.” Dizendo isso ela se afasta de mim e me dá um sorriso cheio de malicia, enquanto entra na floresta.

Por que ela sempre se afasta?!

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Aquele beijo nunca se repetiu e não havia um dia sequer que eu não pensasse a respeito daquele dia. Meu bebê crescia cada vez mais e eu sentia certa dificuldade de fazer certas coisas, devido o tamanho da minha barriga. Como por exemplo: subir as escadas da casa da arvore. Ela construiu então uma plataforma que me carregava para a casa na arvore, era amarrada a uma corda e eu tinha que ficar em pé sobre a plataforma e ela puxava uma corda, presa a uma roldana que me fazia subir. Eu me sentia tão ridícula, mas ao mesmo tempo tão agradecida por ela pensar em detalhes como esse, que nem dizia nada, apenas a agradecida pelo esforço de me manter a salvo.

Apesar do cansaço eu aproveitava cada segundo da minha gravidez, quando eu não estava conversando com minha barriga, era Red que estava e ela sempre tinha uma historia para contar para o bebê. Ela pedia então para deitar em meu colo e tinha o rosto voltado para minha barriga e passava horas então, contando milhares de historia ou conversando coisas aleatórias com o bebê. Luna sempre reagia ao toque dela, ou a sua voz e às vezes Red até cantava para o bebê, o que eu adorava. Acho que eu nunca me senti tão amada por alguém, como eu me sinto agora. Queria prolongar mais essa gravidez, mas eu sinto que a qualquer momento Luna pode vir ao mundo.

Uma parte de mim está tão ansiosa e a outra parte não poderia estar mais apavorada.

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“Está tudo bem com você?” Red perguntou, ela estava lavando algumas roupas no rio, eu estava sentada um pouco distante dela, apenas a observando em silencio.

“Estou sim. Por quê?”

“Não sei. Está muito calada.” Ela respondeu e eu dei de ombros, não estava sentindo nada de mais, além de frio, o tempo havia mudado nos últimos dias, chovia muito e quando não estava chovendo muito estava ventando muito. De modo que raramente ficávamos fora da casa da arvore.

“Estou muito cansada.” Eu respondi a ela e em seguida olhei para o céu, vendo um raio cortar as nuvens e um trovão acompanha-lo.

“Bem, acho que definitivamente essas roupas não vão secar nem tão cedo. Acho melhor prepararmos algo para comer, pois quando chover não terá mais como acender uma fogueira.” Ela disse e se aproximou de mim, me ajudando a levantar e me acompanhando até a casa da arvore. Ela me colocou na plataforma e me ajudou a subir até a casa da arvore, disse então que esperasse por ela, pois ela iria preparar algo para nós comermos e depois subiria.

Fico então sozinha na casa da arvore, olho pela janela que ali havia e vejo a Lua Cheia no céu e então outro raio e outro trovão que fazem com que eu me assuste e dê um pulo para trás. Eu não sei dizer se foi o susto, ou sei lá, mas no mesmo instante eu sinto algo na minha barriga e vejo um liquido escorrer entre as minhas pernas. Eu realmente não sei como é entrar em um trabalho de parto, mas isso deixa bem claro que é o que está acontecendo comigo. A dor é grande e eu nunca havia sentindo nada do tipo, corro então para a minha cama e grito por Red, que demora alguns segundos para aparecer.

“O que foi?” Ela pergunta, caminhando em minha direção. Estou agora na minha cama, enquanto esperava por ela, tirei minhas roupas debaixo, ficando apenas com o vestido. A dor aumenta e Red me olha cheia de preocupação.

“O bebê.” Eu digo, cerrando os dentes, devido à dor e apertando meus dedos contra a madeira da cama. “Ele está vindo.” Eu continuo.

“Ok, certo... Nós temos que- Bem, você tem que-. Agua!” Ela diz, completamente nervosa, me fazendo rir, mesmo com tanta dor que eu sinto. “Eu vou esquentar agua e você nem ouse ter essa criança comigo longe.” Acontece outro trovão e ela olha para a janela e corre para descer as escadas, eu fico novamente sozinha, sentindo a dor constante, ela demora um pouco e volta com uma bacia de madeira repleta de agua e vários panos e vem em minha direção. “Como você está?” Ela pergunta e com um dos panos ela limpa meu rosto cheio de suor, eu queria responder, mas a dor é tão insuportável que tudo o que eu consigo fazer é gritar pelo nome dela, enquanto aperto a sua mão.

“Eu estou aqui, Belle.” Ela diz e dessa vez ela se posiciona atrás de mim e eu encosto meu corpo contra o dela, ela me dá suas mãos e a cada dor que eu sinto eu aperto suas mãos. Ficamos assim por horas, a dor só aumenta e o intervalo entre uma dor e outra vai diminuindo com o passar das horas.

Eu estou exausta e sinto que nós ainda ficaremos por isso algumas horas, eu não consigo pensar em outra coisa que não seja na segurança desse bebê e eu sinto como se não conseguirei ser capaz de trazê-la a esse mundo em segurança e isso me apavora. Eu estou aqui, é tudo o que Red me dizia, mas então ela se afasta e fica em minha frente agora. Ela abre minhas pernas e pela expressão em seu rosto, ela não faz a menor ideia do que está prestes a fazer.

“Tudo o que eu sei sobre partos é que você tem que empurrar, Belle.” Ela me diz. “E acredito, pelo o que eu sei sobre criar filhos, essa é a parte mais fácil. Então, o que me diz sobre isso? Você faz a parte de empurrar sozinha e eu te ajudo com todo o resto?” Ela pergunta e eu não consigo não rir da proposta e faço que sim com a cabeça. Ela olha para mim e têm suas duas mãos sobre meus joelhos, impedindo que eu feche minhas pernas, eu sinto a dor e é como se eu soubesse a hora certa de empurrar e então eu apenas faço o que ela me pede e a cada vez que empurro, eu vejo tudo o que ela e eu passamos nessa ilha e embora a dor seja grande e embora eu tenha tanto medo do que vai acontecer de agora em diante, eu apenas empurro e antes eu ouvia meus próprios gritos de dor, agora então eu escuto um choro de vida.


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Notas finais do capítulo

Esse é o penúltimo capitulo, espero que tenham gostado e aguardem o final ^^



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