Avalon escrita por Mrs Green


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

GENTE LINDA DESSE SHIP MARAVILHOSO, AI MAIS UM CAPITULO, TO EMPOLGADA, SORRY O CAPS


VIRAM AS FICS LINDAS QUE SURGIRAM NESSE DIA LINDO?!

POIS É!!!

TAMOS COMEMORANDO ESSAS DUAS!!!

ESPERO QUE VCS TENHAM TIDO UM DIA INCRIVEL!!!

BOA LEITURA



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Capitulo 2

Não sei o que passou em minha mente, quando eu resolvi entrar no barco e sair dali. Eu nem ao menos sabia como dirigir a embarcação e agora me encontro completamente perdida, não vejo nada em minha frente, parece que estou navegando em circulo. A névoa cobre todo o lugar e tudo o que eu sinto é o mar se agitando e eu perdendo o controle da embarcação. Não sei por quanto tempo vou conseguir ficar em alto mar ou se vou conseguir voltar...

Como eu fui estupida, completamente estupida!

O mar se agita mais e enquanto eu caminho pelo barco, eu olho para o céu e vejo que as nuvens dão sinal de que uma tempestade está a caminho. Não há mais o que fazer, e eu sinto o desespero e o medo tomando conta do meu corpo, quando os primeiros pingos de chuva caem em meu rosto. Não demora muito pra chuva ficar mais forte e eu me protejo na pequena cabine, enquanto o barco se agita cada vez mais com as ondas que se tornam violentas. A chuva não parece dar trégua e eu me dou conta então, que eu estou completamente perdida.

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Eu lembro que a agua tomou conta do barco, lembro-me dele virando e de eu ter caído no mar, lembro que engoli muita agua e lembro então de mais nada. Devo ter perdido a consciência e as ondas devem ter me arrastado até a areia. Quando eu acordei eu olhei ao redor e depois para o mar e vi que a nevoa estava mais grossa que antes, não vejo o navio, mas vejo a garota a alguns metros dali, completamente molhada e sem seu capuz vermelho, sou eu quem o uso, ele está completamente seco ao contrario de mim. É quase manha e eu me arrasto em direção a ela, meu corpo está todo dolorido e eu sinto um medo correr por todo meu corpo, quando passa então por minha mente que ela pode não estar viva.

Realmente não me lembro do que aconteceu, tenho alguns flashes que são tão confusos, como se fossem parte de um sonho. Pode ter sido um sonho, pois duvido que realmente o que eu lembro tenha acontecido, pois eu vejo em minha mente o barco batendo contra uma rocha, meu corpo arremessado da cabine e eu nadando em vão contra a correnteza, tentado me segurar em uma rocha, mas cada vez mais eu sentia meu corpo cedendo ao cansaço e sendo carregado em direção ao mar.

Lembro-me de poder ver a lua cheia quando meu corpo ia aos poucos afundando, eu estava segurando minha respiração ao máximo, mas sentia que aos poucos eu ia ceder completamente à necessidade que meu corpo tinha de respirar, então a Lua desapareceu, não porque eu fechei os olhos, mas si porque algo na superfície da agua tampava completamente a visão que eu tinha dela. Era um animal, um cachorro talvez, um lobo enorme, que nadou até o fundo do mar, onde eu me encontrava, eu não conseguia ver com nitidez seu rosto, mas seus olhos amarelos vinham em minha direção, pareciam lanternas, um farol, talvez. Ele se aproximou e me puxou até a superfície e isso é tudo o que eu me lembro do sonho. O resto é tudo um grande borrão.

Quando eu chego até ela, eu então a viro, ela está completamente molhada, mas respira profundamente. Não sei o seu o nome e bato de leve em seu rosto, com a intenção de acorda-la, alguns segundos depois eu consigo e ela se levanta rapidamente, cuspindo uma grande quantidade de agua e tossindo com frequência.

“Você está bem?!”- ela me pergunta e suas mãos correm por entre meus braços e sobe em direção aos meus ombros, até chegar ao meu rosto, segurando-o por alguns segundos e olhando bem no fundo dos meus olhos.

“Eu estou ótima.”- respondo, sentindo-me muito envergonhada por ter feito o que fiz.

“Você é a garota mais estupida e irresponsável que eu já conheci!”- ela me disse, e seu tom de voz foi de pura preocupação, para puro ódio. – “O que você pensa que estava fazendo?! Acha que conseguiria sair dessa ilha sem uma bussola ou algo do tipo?! Você é muito estupida!”- ela disse gritando.

“E você é muito grossa!”- eu respondo de volta e me levanto, saindo dali e sentindo o frio daquela manha tocando meu corpo gelado.

“Você podia ter morrido!”- eu escuto a voz dela, ela também se levantou e agora me segue. – “E por sua culpa agora nós não temos o barco!”- ela continua e eu me viro para ela, meu rosto ficando a centímetros do dela, vejo toda a raiva naquele olhar e não seguro minhas palavras, ela não tem o direito algum de falar essas coisas pra mim.

“Eu não pedi para você estar aqui. Eu não queria estar aqui, então não me venha dizer o que fazer. Eu faço o que quero. Vamos fazer o seguinte, você segue sua vida aqui nessa ilha, e eu sigo a minha. Eu sei me virar.” – eu digo, enquanto cruzo os braços e tento me aquecer mais com a capa que uso, ela me olha com um sorriso, como se zombasse de mim e arqueia as sobrancelhas.

“Você não sabe nem morrer afogada, princesa!”- ela diz. – “Sem eu aqui, você já estaria morta! Mas quer saber?! Eu não estou nem ai... Eu não vim aqui pra ser babar de alguém que acha que sabe se virar sozinha. Se é assim, então ótimo. Se vira!”- ela diz, irritada e estende a mão para mim, pedindo a capa que eu uso, eu não penso duas vezes antes de entregar a ela, e em seguida ela a coloca e caminha em direção contraria. Eu fico parada, tremendo de frio e a vejo entrar cada vez mais na floresta, não chove mais, porem o céu ainda está nublado e eu realmente não sei o que fazer agora, então me sento na areia da praia e olho para o mar, para até onde minha visão me permite e fico perdida em meus pensamentos, em minhas saudades e nem vejo a hora passar.

A chuva então recomeça e eu olho para a floresta, para onde a garota havia entrado horas antes, e não voltou mais. E sinto um cheiro bom vindo das arvores, acho que é peixe assado, não sei bem. Por isso me levanto e encaro as grandes palmeiras que havia ali e entro na mata, sendo guiada pelo cheiro forte de carne sendo assada e paro minutos depois. Quando a encontro, ela está diante de uma pequena fogueira, eu olho ao redor e vejo que o local que ela escolheu é bem amplo e ela até havia feito uma pequena cabana, usando grandes folhas para se proteger da chuva. Ela está ajoelhada diante da pequena fogueira e eu vejo que ela assa um pequeno peixe.

“Onde achou esse peixe?”- eu pergunto e ela se vira para mim e dá de ombros.

“Cavei até achar.”- ela responde rispidamente, me deixando bem irritada.

“Grossa!”- eu respondo e ela sorri em resposta.

“Tem um rio ali atrás de agua doce...”- ela diz e se levanta, e caminha em direção à pequena cabana que ela havia feito e volta de lá com algo redondo nas mãos e me entrega. Eu olho para o objeto, sinto sua espessura estranha, cheia de fiapos e vejo que tem um buraco nele, sinto o cheiro forte e doce e olho novamente para ela, que esta se divertindo muito com a cena. – “Isso vai te hidratar. Beba.”- ela diz em seguida e volta para a fogueira. Olho novamente para o objeto e o coloco na boca, sentindo o gosto doce do liquido e não gostando dele no primeiro momento, mas à medida que vou bebendo sinto que não bebia algo há horas e tomo tudo em poucos goles.

Em seguida eu fico parada, olhando para ela e a vendo se aquecer diante do fogo, ela se vira novamente para mim e tira a capa que usa, estendendo-a para mim. Hesito um pouco antes de me aproximar, mas ainda sinto tanto frio, então acabo deixando meu orgulho e pirraça de lado e me aproximo, pegando a capa, enquanto visto-a. Sento-me então sobre meus joelhos ao lado do fogo, e olho para ela algumas vezes, ela também me olha e parece se divertir muito com algo que eu não sei o que é.

“Você é uma princesa muito estupida!”- ela diz, mas não com um tom nervoso como antes, ela diz em um tom doce e um sorriso surge em seus lábios. – “Sabia disso, não é?”- ela continua e eu concordo com a cabeça e olho para as flamas do fogo que assam o peixe, a vejo retirar do fogo e colocar o animal sobre uma folha. – “Podia ter morrido no mar.”- ela conclui e eu não tenho nada a dizer, ela está certa sobre tudo. Menos sobre a parte de eu ser uma princesa.

“Eu não sou uma princesa, eu sou Belle.”- digo, tentando não parecer tão cheia de pirraça, ela só ri, enquanto divide o peixe em dois com um garfo improvisado e me estende uma das metades. Eu pego e assopro alguns segundos, antes de colocar na boca, não tem muito gosto, mas é o que temos por hora.

“Eu sei quem você é, Belle.”- ela observa e eu a vejo comer o peixe com a mão, sem se preocupar em sujar os dedos ou a boca. Ela tem algo tão selvagem, nunca vi uma mulher se comportar nesse modo, é muito estranho pra mim. – “Eu sou Red, creio que não havia me apresentado.”- ela continua e estende sua mão completamente suja de peixe, eu olho para sua mão e depois para ela. Ela parece bem ofendida com a minha rejeição de toca-la. – “Você tá com nojo de um peixe?!”- ela pergunta perplexa e coloca então o peixe completamente na boca, sujando-se por completo e no mesmo instante se aproxima de mim, beijando meu rosto e me sujando no processo. Eu fico tão irritada, mas ao mesmo tempo eu acho tanta graça, é como se ela e eu tivéssemos cinco anos de volta, então eu faço o mesmo e me aproximo dela também e a beijo no rosto, recuando logo em seguida, quando, sem querer, meus lábios tocam no dela.

“Desculpa.”- eu digo constrangida e ela apenas balança a cabeça, dizendo que não foi nada. Não sei por que me sinto tão estranha com esse toque, mas ela não parece ter se importado e termina então seu peixe e se levanta dali em seguida, dizendo que vai arrumar um lugar para eu dormir.

Eu a vejo trabalhar em silêncio, ela é muito habilidosa, sabe o que fazer e o que usar e em nenhum momento pede minha ajuda. Acho que minha ajuda também seria muito inútil para ela. Quando ela termina, ela caminha em minha direção, me traz outro daquele objeto redondo e eu bebo o liquido novamente, descubro então que é um fruto e que se chama coco. Não conhecia e acho que definitivamente poderia viver disso pelo resto da minha vida.

Apesar de ser manha eu escolho ir dormir, ela, porém, vai explorar a ilha e diz que qualquer coisa eu posso gritar por ela. Não sei se ela vai me ouvir se tiver muito longe, de modo que não consigo pegar no sono e resolvo ir com ela. Ela diz que nunca esteve ali, mas é estranho, porque ela sabe caminhar pela ilha como se já a conhecesse, sabe onde deve pisar, o que se pode comer, às vezes ela para e cheira o ar e depois dá meia volta, como se o vento tivesse dito qual caminho percorrer.

Às vezes ela para e marca algo nas arvores e percebo então que é uma forma de não se perder. Ela esquece as vezes que eu estou ali e meu vestido me atrapalha nos movimentos, ela tem que esperar, segurar minha mão e às vezes até deixa eu a usar como um apoio quando meus pés se enchem de bolha. Descobrimos onde o rio começa e onde ele termina, descobrimos grandes pássaros e pequenos mamíferos na ilha, não parece ter mais ninguém além de nós e achamos um grande platô, e segundo ela o local tinha arvores perfeitas para se construir uma casa na arvore, mas então ela se lembra de que não havia mais as madeiras do barco e que então isso tomaria mais tempo do que ela havia previsto.

Não sei por que Rumple escolheu essa garota, mas percebo agora que ele não poderia ter escolhido alguém melhor. Demos a volta na ilha, ela é pequena, houve lugares que Red preferiu não explorar e outros lugares que ela disse que ficaria pra mais tarde, chegamos à outra parte da praia e para nossa surpresa o barco estava lá, completamente naufragado, a comida que havíamos trazido já não mais prestava, mas ainda podia se aproveitar o resto das coisas. Foi um alivio isso, segundo ela, no final do mês teríamos a nossa casa da arvore, não sei por que isso me empolga, eu tinha um castelo antes, eu tinha empregados e eu tinha Rumple. Agora tudo o que eu tenho são algumas madeiras, uma garota que me chama de estupida a cada meia hora e uma ilha deserta...

E bem, alguns cocos.

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Anotei o vigésimo oitavo risquinho no tronco da madeira, e olhei para o mar, ele não veio àquela noite. Ele não veio na noite seguinte e nem quando completou um mês. A casa na arvore, porém, ficou pronta, e eu subi os degraus de madeira pela primeira vez e a encontrei lá em cima, completamente orgulhosa de si mesma, me olhando com um sorriso de orelha a orelha, e eu olhei ao redor, para a pequena casinha que compartilharíamos de agora em diante. E era tão pequena, só havia o canto de dormir, mas eu a vi diariamente dando o próprio suor por isso e todo o carinho e tempo que ela havia dedicado, tornava aquela pequena casinha em um verdadeiro castelo.

“É perfeito, Red.”- eu disse e ela sorriu orgulhosa e me pegou pela mão, mostrando a cama com dossel que ela havia feito pra mim.

“Aposto que nunca teve uma cama dessas, princesa.”- ela observou.

“De fato, nunca tive.”- disse, me sentando no colchão improvisado e olhando os detalhes que ela havia esculpido na madeira e ela se sentou ao meu lado e me entregou um pequeno quadrado em madeira, que antes estava na parede. Olhei para madeira e vi que ali havia 32 risquinhos, era o numero de dias que estávamos ali e eu agradeci o presente e olhei para ela, tentando sorrir, mas acho que saiu triste demais, porque ela veio em minha direção e se sentou bem do meu lado, me puxando para um abraço e me beijando no rosto. – “Quanto tempo acha que vamos ficar aqui?”- eu perguntei, ela deu de ombros e se deitou na minha cama, olhando para o teto de madeira acima de nossas cabeças, eu fiz o mesmo. E ficamos ali em silencio, até pegarmos no sono.

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Eu nunca entendi como eu sobrevivi àquela tempestade, cheguei a questiona-la uma vez, mas ela mudou de assunto rapidamente, e tudo que eu sei é que ela viu meu corpo próximo as rochas e correu para me salvar. Não a questionei mais sobre o assunto, assim como também não questionei o porquê daquela noite ela dormiu sentada na areia da praia, olhando a Lua Cheia no céu, ela fez isso nos outros dias que se seguiram aquele, até que a Lua Cheia foi embora.

E agora ela repete esse ritual, eu a vi descer as escadas e pela janela da casa da arvore eu a vi seguir em direção a areia, onde ela se sentou e ficou a fitar a Lua no céu. Eu a acompanhei de onde estava e me perdi em pensamentos, tentando entender que conexão ela tinha com a Lua e o que chamava tanto atenção a ponto de fazê-la enfrentar o frio e a solidão da noite. Ela repetiu isso todos os dias e eu a observava de longe, até que o sono me vencia e eu voltava pra cama. Em uma das noites o sono não veio, e eu decidi que iria até ela, peguei uma capa, me cobri e caminhei pela areia de encontro com ela.

“Não está com frio?”- eu perguntei, quando cheguei perto dela e me sentei ao seu lado, ela sorriu quando me viu e negou com a cabeça e não disse mais nada. Fiquei em silencio também, pois não sabia o que perguntar em seguida, embora na minha mente eu tivesse ensaiado não sei quantas vezes o que iria dizer.

“O que faz fora da cama?”- foi ela quem perguntou e eu olhei surpresa para ela, não podia ver bem o seu rosto, pois ela usava o capuz na cabeça e só tínhamos a luz do luar para nos iluminar.

“Não consegui dormir.”- respondi e novamente o silencio, até que eu criei coragem para perguntar mais uma vez. – “E você? O que faz fora cama todas as noites de Lua Cheia?”- perguntei e o silencio entre a resposta dela foi tão grande que me fez desejar nunca ter perguntado.

“Eu gosto da Lua. Faz-me lembrar de algo.”- foi tudo que ela respondeu, mas pareceu uma meia verdade, então insisti na pergunta.

“Algo ou alguém?”- eu a questiono e escuto a risada dela em resposta.

“Os dois.”- ela responde.

“Você nunca me disse do seu amor que ficou para trás.”- eu continuo, ela se vira para mim, me encara alguns instantes e tudo o que eu posso ver são seus olhos verdes iluminados pela lua.

“Você nunca perguntou.”- ela disse dando de ombros. – “E de qualquer forma é passado. E além do mais, nunca teria dado certo.”- ela continua.

“Como sabe que não daria certo?”- eu a questiono.

“Bem, porque eu estava no casamento dela.”- ela responde em seguida, e eu fico em silencio sem saber como reagir. Dela? É tudo o que eu quero perguntar, mas escolho o silencio, e encaro o mar a nossa frente. – “Chocada?”- ela pergunta em uma risada, eu me viro para ela e tento não parecer chocada, embora estivesse e ela sorri e continua a historia. – “Ela é a princesa, na verdade pra mim ela é a rainha, mãe da criança predestinada a quebrar a maldição.”- ela conclui e agora é ela quem encara o mar.

“Ela sabia que você a amava?”

“Não. Nunca disse a ela.”

“Por que não?” – eu pergunto e novamente ela dá de ombros, como se tivesse sido uma pergunta estupida. – “Por que não?”- eu insisto e ela se vira novamente para mim, dessa vez com um olhar triste.

“Veja, Belle... É complicado, eu a conheci em uma Lua Cheia, e ela foi minha casa quando eu precisei de um abrigo. Qualquer um teria me abandonado se soubesse meus segredos, ela não. Ela ficou ao meu lado, ela me seguiu, quando qualquer um no lugar dela teria fugido. Eu não sei quando a amizade virou amor, mas eu sei que se eu soubesse que um dia meus sentimentos por ela se transformaria em amor, eu não teria mudado nada. Eu ainda assim teria me apaixonado por ela. O que eu sinto por ela pode não ser reciproco, mas é o suficiente pra preencher meu coração.”- ela diz e ainda me encara, com os mesmos olhos cheios de tristeza.

“Mas não é o suficiente pra preencher sua vida.”- eu completo e ela sorri, dessa vez o sorriso se completa com o olhar triste e é inevitável não se sentir triste junto com ela.

“Não penso mais nela como antes.”- ela continua. – “É estranho como a distância muda o que sentimos... Eu ainda gosto dela e rezo todos os dias para que a maldição seja quebrada e que ela tenha de fato seu final feliz.”- ela conclui.

“Acha que isso vai demorar?”- eu a questiono, ela faz que não com a cabeça.

“Não pra gente, pelo menos.”- ela diz, e eu a olho, confusa, e pergunto o que ela quis dizer com isso. – “Rumple disse que essa ilha é especial que o tempo aqui é confuso... Que ele move de uma maneira única e eu acredito que em breve nós vamos voltar pra casa.”- ela completa.

“Tem certeza?”- eu pergunto, cheia de esperança na voz.

“Eu espero que sim, você é um saco!”- ela responde e ri em seguida, me fazendo acompanha-la na risada.

“Bem, você não é nada fácil.”- eu observo, ela apenas sorri. – “Você é cheia de segredos, parece um quebra cabeças.”- continuo e ela olha para mim, esperando que eu continue, não sei mais o que dizer, então fico em silencio também e nem percebo que ela tem seus olhos bem fixos no meu.

“Tem muita coisa em mim que com o tempo você descobrirá por si só.”- Ela começa a falar. – “Assim como tem muita coisa em mim que com o tempo eu que vou descobrir que eu quero que você conheça.”

“Acha que vamos ter tempo para que eu te conheça assim tão profundamente?”- eu a questiono.

“Não sei, mas sei que quando você começar a me conhecer melhor, definitivamente você vai querer me conhecer por completo.”- ela me responde e novamente volta a fitar a Lua e sem ter mais o que perguntar eu fico novamente em silencio e acompanho o olhar dela em direção a Lua, permitindo que preencha também meus pensamentos com memorias que eu não posso mais resgatar.

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“Quando você vai me ensinar a pescar?”- eu pergunto, ela está em cima de uma pedra no meio do rio. Ela dobrou o vestido, de modo que ele está completamente nos joelhos e tem uma lança nas mãos. Ela mesma fez a lança e agora olha para o rio, e joga a lança em direção a algo que só ela vê e corre em direção da lança, se molhando no processo, tirando-a do lago e mostrando para mim o peixe que havia pescado.

“Princesas não sabem pescar.”- ela diz, enquanto caminha em minha direção. Eu estou na margem o rio, ela coloca o peixe na cesta que eu tenho em minhas mãos, e se dirige novamente a pedra que se encontrava segundos antes.

“Que absurdo! Eu não sou uma princesa, você sabe muito bem disso! E além do mais o que impede uma princesa a pescar?!”- eu a questiono e ela agora já se encontra novamente em cima da pedra e se vira para mim e aponta para mim com o queixo. Eu olho então para a roupa que uso e vejo que tem roupa até demais em meu corpo, fico um pouco constrangida com isso. Ela pelo contrario parece uma verdadeira selvagem, ela usa apenas uns trapos para cobrir o corpo e um pedaço de tecido para manter os cabelos presos.

Ela destruiu completamente o vestido que usava, tirou as mangas, fazendo com que seus braços ficassem completamente de fora e deixou apenas uma camada de vestido. Diferente de mim, que me comporto de fato, como uma princesa.

“O que você está fazendo?”- ela pergunta, quando me vê colocar a cesta no chão e começo a rasgar as mangas do meu vestido, deixando meus braços completamente nus iguais aos dela. Em seguida tiro um dos babados do vestido e deixo apenas um dos tecidos.

Quando olho para ela, vejo que ela segura um riso, me aproximo então, enquanto levanto o vestido e o amarro na cintura, assim como ela fez, deixando minhas pernas a amostra e as molhando completamente enquanto caminho pelo rio em direção a pedra que ela se encontra. Ela não me dá a mão para subir e ainda segura o riso quando me vê, a pedra não é tão grande, de modo que fica difícil para que nós duas fiquemos juntas.

E assim que me equilibro, eu tiro novamente outra parte do top do vestido que uso, dessa vez na gola, percebendo que quase deixo meus seios a mostra. Com o pedaço de pano que eu rasguei, eu então amarro meus cabelos, igual a ela e a encaro em silencio, com a mão estendida, esperando que ela me entregue à lança. Ela se diverte em silencio com a minha aparência e me entrega a lança.

Olho então para o rio a minha frente, vejo alguns peixes maiores outros bem menores e miro então em um. O mais gordo de todos e jogo a lança de uma vez, errando o animal, bufo de frustração e me viro para ela, que faz um sinal com o braço para que eu vá pegar novamente a lança. É o que eu faço e desço da pedra em direção à lança, me abaixando para pega-la no fundo do lago que atinge a altura dos meus joelhos. Não chego a pegar a lança, pois no instante em que meus dedos tocam a madeira da mesma, meu corpo cai em direção a agua, como se alguém tivesse me empurrado e de fato foi o que aconteceu. Levanto-me logo em seguida e dou de cara com Red ao meu lado.

“Se você não consegue nem ficar em pé na agua, você definitivamente não vai consegui pescar.”- ela observa e se abaixa para pegar a lança e sai dali em seguida, me encontro então toda molhada, completamente irritada com ela, enquanto grito em resposta.

“Isso nem é uma regra!”

“Bem, agora é!”- ela grita de volta rindo, agora já na margem do lago, onde ela pega a cesta com o peixe que havia pescado minutos antes e segura junto ao corpo, me encarando. – “Amanha a gente tenta de novo, princesa!”- ela diz e eu a vejo desaparecer por entre as arvores, me deixando sozinha no lago, completamente furiosa.

–x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

“E então, isso é coisa de princesa?”- eu pergunto, enquanto jogo no colo dela um peixe, ela se vira para me encarar e depois olha para o peixe em seu colo.

“Você pescou isso sozinha?”- ela me pergunta em um tom perplexo e eu apenas faço que sim com a cabeça, me sentindo muito orgulhosa de mim mesma, enquanto coloco minhas mãos na cintura e a encaro, ela tem um sorriso divertido no rosto, pega o peixe nas mãos e caminha com ele em direção a uma mesa onde nós preparamos a comida, ela deixa o peixe lá e se volta para mim. – “E como fez isso?”- ela me questiona.

“Com as mãos, oras.”- eu respondo irritada, ela me olha por alguns segundos, franzi o cenho e depois cai na risada. – “Não estou vendo graça!”- eu observo, me segurando para não rir junto com ela.

“Sei que não, princesa.”- ela diz, ainda rindo. – “Me desculpa ter duvidado de você.”- ela continua e agora o riso cessa e ela está bem na minha frente, ela me olha de cima a baixo. Eu acompanho seu olhar, percebendo que estou um verdadeiro lixo, completamente molhada, meus cabelos estão horríveis e meu vestido completamente destruído.

“Eu estou um lixo, não é?”- eu pergunto e ela faz que sim a cabeça.

“Talvez isso te ajude a se sentir melhor.”- ela diz e eu a vejo caminhando de volta para a mesa e volta de lá com algo nas mãos, é algo embrulhado em uma folha de bananeira. Eu olho para ela e depois para o pacote em minhas mãos e o desembrulho.

“O que é isso?”- eu a questiono, e ela pega o objeto que tem lá dentro e o mostra pra mim.

“Isso.”- ela começou a dizer e me mostrou um circulo completamente feito de pequenas flores amarelas. – “É uma coroa de flores.”- ela completou e esticou a coroa sobre a minha cabeça, eu me abaixei em resposta e deixei que ela colocasse em minha cabeça. – “Agora de fato você é uma princesa.”- ela conclui e tem um sorriso diferente em seus lábios, como se ela sorrisse para si mesma, e ela tem um olhar distante para mim, como se ela visse outra imagem daquela que eu realmente sou. Eu fico em silencio, enquanto a analiso em minha frente e quando por fim o olhar dela se encontra com o meu, eu tenho coragem então para falar.

“Cuidado, Red. Espero que você não se apaixone por mim, sei que princesas fazem o seu tipo e eu não quero quebrar seu coração.”- sai sem querer, tão rápido e tão impensado que no instante seguinte eu me arrependo de ter dito, ela apenas sorri e me responde sem nenhuma cerimonia.

“É um risco que eu não tenho medo de correr, Belle.”- e dizendo isso eu a vejo ir embora enquanto suas palavras ecoam em minha mente. Levo minhas mãos à cabeça e tiro a coroa, a olhando em seguida, vejo o cuidado que ela teve com o presente e como as flores são tão similares umas as outras. Sinto um sorriso surgir em meu rosto, apenas com o pensamento que se forma em minha mente, de Red colhendo cada flor e de como deve ter dado trabalho amarrar uma na outra.

O dia então se segue e eu marco mais um risco no pequeno calendário de madeira, que ela me deu, agora já se passaram 35 dias e eu não sei mais quantos dias faltam para que eu possa voltar para casa. E com esse pensamento em mente eu me deito na minha cama, olho para o lado e Red não está na cama dela, deve estar lá fora olhando a Lua, contando a ela seus segredos mais escuros, enquanto eu fico aqui imaginando o dia que ela vai me revelar nem que seja apenas um deles. Ainda tenho a coroa em minha cabeça e sei que durante a noite ela vai cair, de qualquer forma é a primeira vez que eu me sinto uma verdadeira princesa e quanto mais eu penso em voltar pra casa, mais eu vejo que eu estou criando raízes aqui e que não existe outro lugar que eu gostaria de estar.

–x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Aquela manha eu acordei diferente, não sei explicar o motivo ou porque eu me sentia assim, apenas sabia que havia algo errado. Tanto em meus pensamentos quanto em meu corpo. Não comentei isso com Red, não sei se ela me entenderia e não quero preocupa-la com isso. Só sei que a semana inteira se seguiu assim, eu simplesmente não conseguia me sentir melhor na medida em que os dias foram passando, a comida – já antes sem gosto – ficou insuportável para mim, eu não conseguia nem mais sentir o cheiro do peixe assando ou o gosto da agua de coco em meus lábios. Tudo passou a ter um gosto extremamente ruim ou um cheiro extremamente forte e eu só queria obedecer ao desejo que meu corpo tinha de passar o resto do dia na cama.

“Está tudo bem com você?”- ela me perguntou, quando eu não desci para tomar café com ela, ela trazia em mãos uma cuia com algo que cheirava muito forte e no momento em que eu senti o cheiro eu fui em direção à janela e vomitei tudo o que não havia em meu estomago. – “Belle, por favor, me diga, o que você está sentindo?”- ouvi a voz dela atrás de mim, ela segurava meus cabelos e me pegou pela cintura, me levando em direção à cama, eu não consegui explicar o que estava sentindo, ela me entregou a cuia e disse para eu beber tudo, em seguida eu a vi descer as escadas, voltando minutos depois com agua para lavar meu rosto. Eu estava me sentindo nada bem, o chá que havia na cuia não aliviou nada e eu me deitei na cama, rezando para que todo o enjoo sumisse quando por fim eu pegasse no sono.

“Belle?”- a voz dela soou baixinho próximo ao meu rosto. – “Belle, querida, fale comigo.”- ela insistiu e tirou meus cabelos da minha testa suada.

“Eu não estou me sentindo muito bem.”- foi tudo o que consegui dizer, embora fosse obvio.

“Bem, isso eu percebi. Mas o que exatamente está sentindo?”

“Eu não sei explicar, é só um enjoo.”

“Vomitar não ajudou?”- ela me perguntou, em um tom ainda preocupado, enquanto passava as mãos em meus cabelos.

“Não, na verdade nem um pouco. Mas isso está frequente nos últimos dias, daqui a pouco passa.”

“O quão frequente, Belle?”- ela pergunta.

“Bem, todas as manhas.”

“E tem sentindo mais o que, além disso?”

“Não sei, não consigo comer nada e tudo tem um cheiro muito forte.”

“Mais do que o normal?”

“Muito mais do que o normal.”- eu respondo e as perguntas param, eu tenho meu rosto afundando na cama e me viro para encara-la, ela parece pensativa, não olha para mim, embora suas mãos ainda acariciem meus cabelos.

“Belle...”- ela começa, e agora, ela olha para mim, seu olhar vai dos meus olhos, até minha barriga e novamente para meus olhos. – “Vai ser uma pergunta muito pessoal, mas eu preciso fazê-la... Você e Rumplestiltskin... Vocês dois chegaram a dormir juntos?”- ela pergunta e por deus, quem diabos faz uma pergunta dessas?!

“Essa pergunta é muito pessoal!”- eu exclamo e ela revira os olhos com a minha resposta.

“Eu disse que ia ser pessoal!”- ela observa em um tom irritado.

“E por que você precisa saber disso?!”- eu a questiono, sentindo os enjoos indo embora e a raiva tomando conta de mim.

“Bem, porque eu acredito que você esteja gravida.”- ela diz, em um tom tão natural, como o de alguém que diz uma noticia muito comum e esperada.

“Eu não estou gravida!”- eu digo logo em seguida.

“Como você sabe?! Você não chegou a dormir com ele?!”

“Pode ser qualquer coisa!”- eu respondo em defesa. – “Posso ter pegado alguma doença nessa ilha ou pior: posso já está em fase terminal... Talvez sejam meus últimos dias com você. Então aproveite.” – eu digo, em um tom extremamente dramático, enquanto levo minhas mãos ao rosto, tampando minha visão dela.

“Ah, certo... Então vamos ficar com a hipótese de que você esteja morrendo.”- ela me diz, pegando em minhas mãos e tirando-as do meu rosto, eu então a encaro e nós duas ficamos em silencio. E eu sinto as lagrimas surgindo em meu rosto e o desespero dentro de mim, porque eu sei que ela está certa, eu sinto que ela está certa e isso é tão desesperador, tão angustiante.

Eu não consigo pensar direito ou refletir sobre o que está acontecendo, então eu apenas choro e deixo todo o medo, toda a angústia e todo o desespero sair de mim. Ela no mesmo instante me puxa para si e me abraça apertado, eu afundo meu rosto em seu ombro, e eu sinto suas mãos bem firmes em meu corpo e eu lembro então de quando navegamos juntas em direção a essa ilha, das mãos dela nas minhas, do corpo dela contra o meu. E agora ela diz em meu ouvido tudo o que eu preciso ouvir, ela diz que vai ficar tudo bem, diz que ela está ali por mim e eu não preciso que ela prove que suas palavra são verdadeiras, pois o abraço deixa bem claro isso, as palavras apenas reforçam.


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Notas finais do capítulo

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