Ébano escrita por Ferana


Capítulo 9
Descontrole


Notas iniciais do capítulo

Mil tretas nesse capítulo! Quando não é o Lucien ou o Breu arranjando encrenca por aí... É um certo menino albino com a sua boca grande demais :3

Boa leitura e espero que gostem! ^^



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O olhar de espanto nos olhos de Lucien se revertera em pura malícia após observar a garota por um tempo. Ele começou a rir apoiando as mãos na barriga e olhar para os guardiões, como se as expressões de horror deles fossem a coisa mais hilária do mundo.

– Finalmente! Finalmente você acordou para o que realmente é poder! – ele ria e se gabava - Agora sim nós podemos conversar de verdade.

– Conversar? – foi a vez de Royena rir. – Quem disse que eu quero conversar? Eu quero é varrer a sua existência dessa floresta, só existe lugar para um espírito por aqui.

– Uh, você é bem direta quando está na sua verdadeira forma... Pois bem, acho que vou ter que apagar um pouco do seu fogo antes de poder conversar seriamente com você.

Lucien ficou em posição de ataque verdadeiramente pela primeira vez desde que desafiara os guardiões, seguido prontamente por Royena. Mal houve contato visual entre eles e Royena partiu desembestada para cima de Lucien com os punhos cerrados, porém seu ataque foi facilmente repelido por um bloqueio de Lucien. Ela continuou a tentar golpeá-lo furiosamente, tendo todas as suas tentativas bloqueadas pelo Hinkypunk.

– Pfft, mesmo com a totalidade de seus poderes, isso é tudo que pode fazer? – o sorriso de Lucien agora dava lugar á uma expressão de desaprovação. – Patético.

Lucien investiu com o ombro no plexo de Royena quando a mesma tentou dar outro golpe impensado nele. A garota foi arremessada de costas contra uma árvore, que ficava entre a jaula de fogo dos guardiões e a de Breu. Ele levantou-se prontamente e voltou a atacar sem pensar nem meia vez. Os guardiões a observavam abismados, não era Royena diante deles, era uma besta descontrolada sedenta de sangue. Breu estava com uma expressão absolutamente neutra no rosto pálido.

– Isso, me ataque como um demônio desenfreado! Assim vai ser absolutamente fácil te derrotar! – Lucien continuava a defender as investidas como se fossem nada.

Royena estava visivelmente cada vez mais irritada com a ineficiência de seus ataques, até que ela parou e ficou observando Lucien. Podia sentir o poder fluindo pelas suas veias, muito poder... Mas era tanto poder que mal conseguia canalizá-lo, queria apenas bater e bater desenfreadamente, destruir tudo que pudesse com toda aquela força que foi repentinamente libertada. Não! Precisava se concentrar, se não seria apenas um fantoche da própria selvageria...

– O que houve, já está cansada?! – gritou Lucien, impaciente. – Acho que é a minha vez. Vamos deixar essa luta menos amadora.

Hinkypunk apenas ergueu a bengala e a girou em torno de si, agitando sua lanterna de forma violenta, disparando labaredas contra Royena, que rapidamente desviou de cada uma delas. Lucien continuou seu ataque, aumentando o número de labaredas lançadas a cada nova bateria de ataque, obrigando Royena a se defender usando a terra. A garota batia os pés fortemente contra o chão e pequenas elevações de terra surgiam, as quais ela manipulava com as mãos de modo a construir pequenos escudos temporários diante das labaredas lançadas por seu inimigo.

– Ahhh, agora estamos começando a conversar! – Lucien voltou a sorrir levemente. – É esse tipo de poder que quero ver! Vamos, me mostre mais! Me mostre que vale a apena tentar uma aliança!

– Aliança?! – gritou Royena, expressando o pensamento de todos os outros que estevam ali, junto deles.

– Não é óbvio o motivo de eu não ter lhe matado até agora? – Lucien suspendeu seu ataque temporariamente. – Sempre te vi como uma preciosa possível aliada, estava apenas esperando você parar com essa frescura de suprimir sue lado hinkypunk. E pelo visto, seu poder vale muito a pena... Só precisa ser treinada apropriadamente.

– Pfft, isso está fora de cogitação! – Disse a garota, irônica, esticando o braço na direção de Lucien.

– Você não acha que está tomando decisões muito rapidamente?

– Não. Podemos ter a mesma natureza, mas somos muito diferentes em nossos objetivos, Lucien. Como eu disse, só há espaço para um espírito nessa floresta.

– Certo... Pelo visto, acho que vou ter que forçar um pouco mais a luta para te convencer!

Dito isso, Lucien elevou sua lanterna sobre sua cabeça rapidamente, fazendo uma erupção de pilares de fogo surgirem em torno de Royena, e esta prontamente manipulou a terra ao seu redor para apagá-las. Porém, mais e mais erupções continuaram a surgir, ao ponto que Royena não as conseguia cobrir mais. Ela tentou sair da área de erupções, mas foi acertada em cheio por um dos pilares quando avançou para o lado, sendo jogada para o alto e caindo ruidosamente no meio da clareira.

– Royena! – as vozes dos guardiões retumbaram quando ela caiu, seguidas de murmúrios nervosos.

– ... Idiota. – Breu sussurrou.

A garota se levantou com um pouco de dificuldade, mas prontamente encarou Lucien, que flutuava logo acima dela, com uma expressão de superioridade. Sem aviso, ele apenas abriu os braços e lançou uma barreia de fogo na direção dela. Royena se abaixou e girou no mesmo lugar, fazendo uma nuvem de poeira subir e a encobrir, tornando sua localização inexata. Lucien, não se dando por vencido, começou a lançar várias paredes de fogo na direção da fumaça tentando acertar Royena, e esta respondia lançando torrões de terra de dentro da nuvem poeirenta, destruindo partes das paredes flamejantes de Lucien. Porém, logo atrás de um dos torrões de terra lançados pela garota veio a própria, decolando com o impulso misterioso, para a surpresa infeliz de Lucien. O rapaz tentou voltar a uma posição defensiva, mas Royena foi mais rápida e acertou um chute certeiro no peito de Lucien, que foi atirado contra o chão com uma força feroz.

– Hum! – sorriu Royena, baixinho, para si mesma enquanto ainda estava no ar.

Lucien caiu num baque surdo, atirando poeira e terra para todos os lados. Com um gemido lento de dor e ódio ele se pôs de pé novamente, com os olhos flamejantes, marcados com seu orgulho ferido. A garota pousou suavemente e, sem perder o calor do golpe anterior, lançou suas mãos para trás e duas elevações anguladas de terra surgiram sob seus pés. Ela impulsionou fortemente a perna direita pare frente e começou a deslizar as elevações no chão como se fossem patins no gelo. Era como se ela tivesse patinando com a terra á uma velocidade absurda para cima de Lucien.

– Então foi assim. – disse ele, mordendo os lábios, enraivecido, e puxando a bengala com a lanterna para trás das costas. – Não vai funcionar duas vezes!

– IDIOTA! – gritou Breu.

Assim que o Rei dos Pesadelos gritou, Royena alinhou as pernas e, após agachar-se rapidamente, tomou um impulso tremendo na direção de Lucien, estendendo o braço para dar-lhe um soco. Qual a sua surpresa, Lucien não só desviou do golpe girando o corpo para a esquerda, como a golpeou com toda a sua força com a lanterna, diretamente no rosto da garota, fazendo-a voar na direção oposta. Ela caiu e foi arrastada pela força do golpe por vários metros até bater na mesma árvore à qual havia sido arremessada no início da luta. Seu corpo ricocheteou no tronco e caiu para frente, tamanha fora a força que Lucien imprimira no golpe.

– Sua babaca arrogante, achou mesmo que esse seu truque iria funcionar duas vezes seguidas contra mim? – riu Lucien, vitorioso. – É isso que ganha por ser ingênua.

Royena começou a levantar-se com muita dificuldade do chão, com a cabeça baixa, ficou ajoelhada com o rosto caído por algum tempo, até que conseguiu erguê-lo para fitar Lucien. Sua feição do lado direito mal era visível, pois seu rosto estava encharcado de sangue, que escorria torrencialmente dos furos feitos pela lanterna de Hinkypunk. Ela parecia ter certa dificuldade em equilibrar-se, mas estava com o olhar sério e determinado. Ela levantou-se após algum tempo observando Lucien nos olhos – este sentiu um pouco de sua confiança desaparecer após encarra Royena naquele estado, sabia que algo sério estava por vir agora.

– Pois bem Lucien, você queria ver minha forma verdadeira? Então veja. – ela sorriu de forma maliciosa e se dobrou sobre os joelhos, começando a emitir um rosnado cruel e estranho, e uma cortina de areia cobriu seu corpo.

– Ela vai virar bode? – pensou alto Fada.

– Não... – Coelhão parecia tão horrorizado com a situação toda quanto os outros. – Não é o bode...

A transformação foi rápida e, quando Royena saiu da nuvem de areia, tinha a forma de um lobo extremamente grande, alto e magro, suas costelas eram parcialmente visíveis sob a pele fina, tinha dentes longos e afiados, assim como suas garras. Porém, o detalhe mais perturbador era seu rosto: ela tinha 4 olhos, que brilhavam num vermelho maligno e despudorado.

– Mas o que diabos é isso... – Sussurrou Lucien, tendo uma velha sensação terrível arrepiando cada pedaço de sua pele: medo.

Os guardiões a olhavam cada vez mais aterrorizados, e agora mesmo Breu tinha um olhar de espanto sobre aquela forma estranha que Royena havia tomado. O lobo começou a andar vagarosamente na direção de Lucien, que recuou alguns passos e tentou ataca-la com uma chama especialmente forte. O lobo desviou e avançou como um raio em zigue-zague na direção de Lucien, atacando-o com mordidas. Hinkypunk se defendia como podia, mas não tardou a ter sua bengala com sua lanterna agarradas pelas fortes mandíbulas do lobo e lançadas para o centro da clareira. Lucien agora estava totalmente indefeso e recuava com o terror estampado na fronte, estava quase se arrastando no chão quando o lobo pulou sobre ele e começou a puxar a morder violentamente seu braço – que foi o primeiro membro que ele lançou contra o animal, em seu reflexo de sobreviver.

Felizmente para Lucien e para os guardiões – que observavam aflitos a ação animalesca de Royena sem nada poderem fazer -, o lobo deu um ganido agudo e soltou o braço de Lucien, que rapidamente correu na direção de sua lanterna, agarrou-a e escapou num turbilhão de chamas violento. Após o desaparecimento do Hinkypunk, as atenções se voltaram ao lobo novamente e logo seu ganido foi explicado: suas patas traseiras estavam completamente congeladas. Ele arranhava e mordia o gelo, numa tentativa de fuga inútil. Num baque suave, diante dele caiu de pé um garoto conhecido por todos ali, mas cuja presença era totalmente inesperada: Jack Frost.

– O que aconteceu com você, Royena?! – ele disse, olhando incrédulo para o lobo.

O lobo parou subitamente de roer o gelo e tentou atacar as pernas de Frost com as garras dianteiras, que ainda estavam livres. Num movimento rápido, Jack saltou para trás e congelou as patas dianteiras de Royena, que ganiu agudamente pela segunda vez. Mesmo totalmente imobilizada, ela rosnava cada vez mais alto na direção de Jack, como se o próprio fosse Lucien. Ela não era mais capaz de reconhecer pessoas ou sequer saber o que estava fazendo.

– Me desculpe! – Disse Jack, com um olhar pesaroso quando acertou com todas as forças o cajado na têmpora do lobo, que caiu desmaiado.

Jack foi na direção dos guardiões e apagou as jaulas de fogo com seu gelo, libertando todos. Imediatamente eles foram correndo na direção de Royena e se ajoelharam ao seu redor. Coelhão analisou os ferimentos no rosto do lobo enquanto Jack derretia o gelo que imobilizara as patas do mesmo.

– Ela está bem. Provavelmente vai acordar com uma bela dor de cabeça e precisar de uns curativos, mas no geral vai ficar bem. – Disse o Coelho, ainda olhando para os ferimentos.

Ainda no colo do Coelho, Royena começou a voltar á sua forma humana, recuperando brevemente a consciência e seus olhos normais, nada de vermelho.

– O que houve? – disse ela, sem conseguir levantar a cabeça.

– Você não lembra? – perguntou Norte, espantado.

– Só de ser jogada contra uma árvore pelo Lucien... E de ter ativado meus poderes de Hinkypunk temporariamente...E, Argh! – ela gemeu de dor ao tentar levantar do colo do Coelhão.

– Não, não se mexa! – disse Jack, abaixando-se ao seu lado. – Eu acho que exagerei um pouco na pancada que dei pra te apagar...

– Você me apagou, seu moleque gelinho duma figa? – ela ria com certa dificuldade, de olhos fechados. – Uau, acho que não lembro de metade do que aconteceu... E acho que ele fugiu por minha culpa, não é?... Eu sou uma maldita incompetente em qualquer forma que esteja. – disse, rindo amargamente.

– Não diga isso! – exclamou Fada, preocupada.

– Vamos ter uma conversa séria, Royena... Mas depois. Por agora, apenas descanse, vamos leva-la até sua árvore para você se recuperar. – Disse Norte, em parte aliviado.

– Acho que estou na lista negra agora... – Ela riu. – Ah, Fada! Tenho uma coisa para você... É meio nojento, mas acho que vai gostar. – Royena colocou com dificuldade o polegar e o indicador na boca e, após fazer uma careta de dor, retirou um dente e estendeu para a Fada.

– Oh, meu Deus! – Disse a Fada, pegando o dente delicadamente. - Você vai se lembrar de mim numa hora dessas, é muita bondade! Mas agora precisa descansar! Vamos, vamos leva-la para a árvo-

– Eu levo. – Disse Breu. Ele estivera de pé logo atrás deles o tempo todo, sem ser notado pelos guardiões e Jack, fazendo eles estremecerem com sua voz séria e repentina.

– O que te faz pensar que vamos deixar você encostar um dedo nela no estado em que ela está?!

– O que acham que vou fazer com ela à beira da morte? Molestar? – disse Breu sem paciência. – Vou ser mais rápido e menos abrupto do que qualquer um aqui, o que vai ser crucial pra ela do jeito que está. Pela primeira vez na vida estamos do mesmo lado e estou a beira de perder meu título pra um espiritozinho de meia tigela, não é como se eu fosse destruir a nossa única arma realmente eficaz contra ele.

– Ora, seu desgraçado, com quem achar que está fal-

Coelhão foi abruptamente interrompido por Sandy puxando uma de suas orelhas. Ele apenas olhou para Breu e fez um sinal positivo com a cabeça.

– Sandy, como assim?! Você confia nele?!

Sandy balançou a cabeça positivamente e sobre ele surgiu o símbolo de uma ampulheta. Breu aproveitou o choque de Coelhão para pegar Royena – que havia desmaiado de novo no meio da discussão – e deslizar rapidamente, como uma sombra, por entre as árvores.

– Eu espero que estejamos fazendo a coisa certa. – disse Coelho, contraindo as orelhas para trás, desconfiado.

– Relaxa Coelho, Sandy sabe o que faz. Breu não parece que faria mal á ela.

– Por que diz isso, Frost? – Norte irrompeu na conversa, com a sobrancelha arqueada num gesto de curiosidade.

– Oras, vocês todos não tem se reunido quase toda semana?

Os guardiões se entre olharam, não entendendo nada. Jack engoliu seco e apenas pensou que provavelmente fizera mais uma besteira ao dizer aquilo.

– Como assim ‘toda semana’, Jack? – perguntou a Fada, gentil e sorridente.

– Oras, toda semana vejo o Breu se arrastando por entre as sombras até a árvore da Royena... Achei que todos vocês fizessem o mesmo... Se bem que, parando pra pensar agora, é estranho nunca ter visto nenhum de vocês além dele...

– Importa-se de nos ajudar, nos contando tudo que viu? – perguntou Norte, tentando manter a voz mais calma possível.

– Eu não curto muito essas burocracias de guardiões, mas eu mesmo estou preocupado depois dessa transformação da Royena... Vou contar tudo que vi por aqui durante essas semanas...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! ^-^ Eu me empolguei MUITO nele, admito isso XD Mas não queria dividir em 2 pra não perder o impacto da batalha e da revelação ;3

Muito obrigada por lerem e pela paciência! ^^



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