Ébano escrita por Ferana


Capítulo 10
Meias Palavras


Notas iniciais do capítulo

Gente... Eu sou muito retardada XD Era pra esse capítulo ter saído na terça, mas eu acabei de descobrir que provavelmente fechei a janela antes de confirmar a publicação dele... SHAME ON ME.

Desculpem a minha idiotice XD E tenham uma boa leitura ^^'



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Breu deslizava como uma sombra apressada pela floresta, da forma menos brusca e ruidosa possível, e em seus braços repousava Royena, semiconsciente. Bastaram alguns minutos para o Rei dos Pesadelos chegar á arvore da garota e bater na parte certa do tronco para que o mesmo se abrisse. Ele entrou, desceu pela rampa espiral até o fundo e repousou o corpo da garota entre o chão e o tronco – automaticamente o corpo de Royena começou a ser tomado por placas de terra, que se concentravam nas áreas mais feridas de seu corpo.

– Obrigada. – sussurrou ela, com as forças que nem ela mesma sabia de onde surgia.

– Não me agradeça. – disse Breu sem eu habitual tom neutro. – Estou anotando tudo isso na minha lista de favores.

– Relaxe, vou te pagar em dobro algum dia. – sorriu ela, de olhos fechados.

Breu soltou um leve pigarro como quem não se importa com falas de pessoas delirantes e apenas a observou por alguns instantes, precisava constatar que a garota ficaria bem, não poderia simplesmente larga-la ali e muito menos ficar vigiando ela – afinal, não era babá de ninguém. Ele olhou ao redor por alguns instantes e levou os dedos á boca, soltando em seguida um silvo alto, que cortou o vento em todas as direções – em resposta, um grande morcego negro não tardou a entrar por um dos buracos da caverna de raízes.

– Vigie-a. Se qualquer coisa acontecer, avise-me. – Breu disse sério ao morcego que pousara de ponta cabeça sob uma raiz grossa que saltava da árvore-pilar da caverna. Ele olhou novamente para a garota e uma expressão de certo desconforto surgiu em seu rosto. – É por isso que odeio proximidade.

Royena obviamente não ouviu o último sibilo rabugento de Breu, que apenas mergulhou nas sombras e desapareceu.

Ainda na clareira que havia sediado a luta de Lucien e Royena, os guardiões e Jack levavam uma longa e séria conversa – que por acaso Frost estava achando o pior tédio de sua vida.

– Ok, eu vou relatar mais uma vez, com todos os detalhes, tudo o que sei e vi acontecer... – Dizia Jack, num tom de repetição e falando o mais devagar possível. – Sem interrupções, certo?

– Certo. – assentiu Fada, levemente corada.

– Há mais ou menos 1 mês atrás, Royena me disse que tinha tido problemas com Breu e que estava confusa. Nós conversamos, ela me contou sobre os poderes ‘malignos’ e eu disse que era ela quem controlava os poderes, e não o contrário. Ela pensou sobre isso e me agradeceu, dizendo que eu havia ajudado muito e ela finalmente havia feito uma decisão muito importante. – Jack fez uma pausa, como se esperasse alguma interrupção, mas prosseguiu após alguns segundos de silêncio geral. – Depois disso, eu comecei a passar pela floresta diariamente pra trazer neve, congelar os lagos, atirar umas bolas de neve, enfim, fazer o meu trabalho. Nessas visitas, esporadicamente eu podia ver uma sombra estranha correndo entre as árvores mais ou menos sempre no fim da tarde, quando o sol começa a se pôr. Depois de alguns dias observando, descobri que era o Breu e fiquei preocupado, por conta do que houve entre ele e a Royena, maaaas... Ele entrava e saía normalmente da árvore dela batendo no tronco – e a árvore não abre para quem ela não permite -, então eu soube que ela mesma estava permitindo a entrada dele na árvore e fiquei tranquilo, afinal, ela já é bem grande pra saber o que deve ou não fazer.

– E é só isso? – Perguntou Norte, ávido por mais informações.

– Bem... Mais ou menos. – disse o garoto, coçando a cabeça, meio confuso. – Olha, eu vou falar tudo o que sei de uma vez... Eu realmente não faço idéia do que exatamente está rolando entre os dois, mas não parece ser nada maléfico...

– Desembucha logo, cabeça de vento! – bufou Coelhão.

– Calma, canguru! Stress faz o pelo cair, sabia? – ironizou o garoto, entediado ao seu máximo. – Eu não sei muito por que não sou tão bisbilhoteiro assim, mas podia ver e ouvir movimentos de luta dentro da árvore. No começo isso me preocupou, mas continuei vendo Royena habitualmente e ela não parecia ferida ou incapacitada de alguma forma, então deduzi que eles estavam treinando técnicas de luta - ainda mais depois que ela me contou sobre a ‘guerra’ que estava rolando entre vocês e o tal do Hinkypunk.

– Técnicas de luta, hein... – Norte refletia, coçando a barba. – Isso explica como ela conseguiu evocar os poderes de Hinkypunk com certa destreza. O relato de Frost faz sentido.

– Estou livre do interrogatório então? – perguntou ele, levantando os braços e revirando os olhos.

– Temporariamente, sim. – Ribombou Norte. – E nós...

– Vamos ao Palácio das Fadas! – interrompeu Toothiana, flutuando com um sorriso travesso no rosto.

– Vamos? – Coelho se voltou para ela de repente, confuso.

– Sim, tenho uma idéia que provavelmente vai nos dar algumas respostas a mais, mesmo que seja um pouco contra minha política de trabalho... – Disse ela pensativa, mas logo voltou a sorrir para Jack. – Não que seu depoimento não tenha sido útil, de forma alguma, ele foi super útil, Jack!

– Hã... Fico feliz. – respondeu o rapaz, levemente surpreso com a onda de alegria e sorrisos doces que vieram de Toothiana tão repentinamente.

– Certo, então vamos! Para o Trenó! – Disse Norte, apontando para o céu.

– Está caducando? Você não trouxe seu trenó, lembra? – Disse Coelho.

– Ah, tem razão, nós viemos... Ah, não.

– Ah, sim! – Disse o animal, batendo as patas duas vezes no chão com um largo sorriso no rosto. – Todos à bordo!

Mesmo à contra gosto, Norte acabou tento que aderir ao transporte subterrâneo do Coelho. Fada e Sandy deslizaram rindo alegremente pelos complexos túneis curvados que se formavam diante deles. Jack apenas assistiu todos pularem no túnel e o mesmo se fechar para enfim alçar vôo até a árvore de Royena, na qual ficou sentando, observando pelas frestas das raízes a garota se recuperar aos poucos.

No palácio das Fadas Toothiana voava alegremente entre suas fadinhas, perguntando como estavam as coisas, recebendo relatos dos últimos dentinhos coletados e coordenando-as para continuarem seus trabalhos com louvor. Após algumas novas ordens datas, o lugar se esvaziou de fadinhas e os guardiões ficaram a sós novamente.

– Desculpem rapazes, sabe como é, a loucura do trabalho. – riu a Fada, ajeitando as penas da cabeça. – Vamos ao que interessa... Lembram o que a Royena me deu logo após a luta?

Sandy fez cara de curioso e um dente dourado surgiu flutuando sobre sua cabeça.

– Isso mesmo! E como vocês bem sabem, dentes carregam lembranças! Como Royena já é adulta, nós também podemos ter acesso às lembranças, por que teoricamente elas não são as ‘mais importantes’ da vida dela, como as da infância.

– Podemos ver exatamente o que houve quando ela estava com Breu? – perguntou Coelhão, admirado.

– Sim, é como se voltássemos na memória dela enquanto ela ainda tinha este dente. Como é uma memória recente, ela vai estar bem nítida! – sorriu a fada, olhando feliz para o dente que a garota havia lhe entregado.

– Ora, ora! Então o que estamos esperando, vamos logo ver o que houve e, espero eu, confirmar o que Frost nos disse!

– Certo, certo. – Disse fada, se preparando, segurando o dente firmemente entre as duas mãos juntas, formando uma quase concha. – Para todos verem, preciso que segurem em mim e fechem os olhos! Se concentrem nos treinos de Royena e Breu.

Norte e Coelhão seguraram cada um e um ombro de Fada, Sandy flutuou sobre ela e segurou na pontinha do penacho mais longo que saía de sua cabeça. Ela se concentrou mais um pouco e eles puderam sentir o ar em torno deles ficar mais frio aos poucos.

– Podem abrir os olhos. – disse Toothiana, abrindo os próprios vagarosamente.

Os quatro estavam dentro da caverna de Royena. Era noite e eles abriram os olhos bem a tempo de verem Breu entrando pela rampa rente à árvore central. Ele andava calmamente até alcançar o chão e olhar na direção dos guardiões. Coelhão retraiu as orelhas para trás e sua mão ameaçou pegar o bumerangue quando ele sentiu o toque delicado de Sandman, que o acalmou com um sorriso sábio. Um pequeno balão em formato de nuvem surgiu sobre a cabeça do homenzinho e o Coelho entendeu que se tratava de uma espécie de sonho.

– Alguém em casa? – perguntou Breu, olhando ao redor com os braços cruzados nas costas.

– Atrás de você.

O Rei dos Pesadelos olhou para trás e para cima e viu a garota enroscada numa raiz da árvore-pilar da caverna. Ela desceu deslizando pelo tronco até ficar diante dele.

– O que temos para hoje? – questionou a garota, com um sorriso respeitoso no rosto.

– Primeiro, uma pergunta: Você sabe como libertar o seu poder de Hinkypunk?

– Não exatamente... Já aconteceu de eu conseguir isso em alguns momentos de fúria extrema ou de necessidades de vida ou morte.

– Ok. Já começamos mal, mas pelo menos temos o que fazer por hoje. – suspirou o homem. – Primeiro de tudo, você consegue sentir o medo?

– Sim. Uso isso pra localizar pessoas perdidas na florestas, mas não consigo usá-lo.

– Certo, menos ruim. Vamos treinar como fazer uso do poder do medo.

Os guardiões observaram pelo que pareceu dias e dias de visitas de Breu para explicar sobre os vários usos o poder do medo, como canalizá-lo, aplica-lo em golpes, habilidades de luta e dominação geral dos poderes. Tudo parecia bastante macabro para os quatro, mas nada perto do que eles temiam – algo como Breu estar manipulando Royena, chantageando-a ou a forçando a soltar seus poderes.

– Mesmo assim, não gosto nada dela estar aprendendo a suar esses poderes. – bufou Norte. – Ela tinha prometido que não os usaria!

– Ela prometeu que só os suaria em situações críticas. – Falou calmamente Fada. – Se ela não tivesse usados os poderes na última luta, provavelmente não estaríamos aqui agora...

Sandy balançou os braços no ar atraindo a atenção dos outros, então apontou para a forma de um floco de neve sobre a cabeça, que logo se transformou num lobo com um grande X sobre o rosto.

– Tenho que concordar com o Sandy. – foi a vez do Coelho entrar na conversa. – Por mais que odeie admitir, se não fosse o Frost, quem teria acabado com nós seria a própria Royena...

– Mas talvez ela não tenha terminado de dominar seus poderes... Provavelmente nunca havia se transformado em animal quando estava em sua verdadeira forma.

Sandy apontou para Fada e assentiu com a cabeça, sem seguida surgiu um pequeno símbolo de uma ampulheta de areia virando sobre a cabeça do homenzinho dourado.

– Quer dar mais tempo à ela? – disse Norte, surpreso. – Mas Sandy, que tempo?! Não é como se fosse uma escolha nossa! Tudo depende da vontade do Hinkypunk, aquele maldito! – Norte cerrou as mãos, nervoso, enquanto falava do inimigo.

Sandy ergueu as mãos como um sinal de quem pede calma, e formou novos símbolos: um lampião e um bode, ambos com cruzes sobre suas cabeças. Em seguida o lampião desapareceu e a silhueta de Breu tomou seu lugar, se juntando com o símbolo da cabra e tornando-se uma mão com o polegar erguido. O mesmo sinal foi feito pelas 2 mãos de Sandy, com um sorriso radiante no rosto. As lembranças de Royena continuavam a acontecer ao redor deles e nada mudava, era apenas ela e Breu fazendo simulações de luta de forma amena.

– Certo. Se todos forem a favor, não vamos interferir no treinamento de Royena. – falou em tom de pergunta Norte.

Porém, antes que houvesse qualquer tipo de resposta á questão, repentinamente tudo ao redor deles ficou negro, como se a luz deixasse de existir repentinamente. Houve um tremor e todos os quatro foram jogados para trás, como numa implosão de energia. Eles acordaram caídos, ainda no Palácio das Fadas.

– O que foi isso? – indagou Coelhão, ficando de pé rapidamente e analisando o ambiente de forma hostil.

– Foi algum tipo de ataque? – disse Norte, também pondo-se de pé rapidamente em posição e luta.

– Calma, calma! – bradou a Fada, voando diante dos dois com os braços estendidos. – Isso foi só um mecanismo de defesa da memória!

– Mecanismo de defesa? – indagaram os outros 3 guardiões juntos (Sandy ao seu modo).

– Sim, isso acontece quando... Bem, quando mesmo adulto a pessoa tem uma lembrança marcante e que jamais vai esquecer. – houve um tom de preocupação na fala de Fada, mas que só Sandy percebeu.

– Então fomos expulsos da memória quando isso estava para acontecer? É aquele seu mecanismo para manter a privacidade dos donos dos dentes?

– Sim, exatamente isso, Coelhão.

– Ah! – riu Norte. – Que susto! Por um momento achei que estávamos sob ataque, que piada. Bom, voltando á questão: vamos interferir no treinamento da Royena ou não?

Houve uma concordância geral entre os guardiões sobre não interferir nos treinamentos para ela dominar seus poderes. Eles sabiam, no fundo, que ela seria a única esperança contra Hinkypunk, e só se tivesse com seus poderes no máximo. Os guardiões voltaram cada um á sua vida quando constataram que Royena estava bem e se recuperando – a estátua de Cabra que ela dera aos guardiões estava voltando à sua forma normal, reabsorvendo a areia que ela perdera antes. Sandy foi o último a sair do Palácio das Fadas, não sem antes trocar um último olhar de preocupação com Fada, que apenas lhe perguntou:

– Você também entendeu, não é?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha valido a pena ^^
Novamente, me desculpem pela minha trouxisse xD Sinto até os olhos de Breu se revirando dentro do meu armário agora lol

E... Spoilers :B Spoilers everywhere...