Ébano escrita por Ferana


Capítulo 3
Traçando Planos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo gigante aqui xD Planos e estratégias sendo pensados.

Boa leitura! :3



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A grande cabra corria a toda velocidade, se aproximando do som de choro mais e mais. Atrás dela seguiam os guardiões.

- São muitas crianças! Podemos nos dividir para resgatá-las? – Royena gritou aos guardiões.

- É uma boa idéia! Vai tornar as coisas mais rápidas – Disse Norte, enquanto cada um deles tomava uma direção diferente.

Royena continuou a galopar e foi freando assim que localizou, entre dois enormes pinheiros, uma garotinha de uns 6 ou 7 anos, sentada, gritando por sua mãe. A menina parou automaticamente de chorar quando avistou a cabra, de ar nobre, com chifres prateados refletindo o luar contra os pelos negros. Sua primeira reação foi de temor, enquanto o animal se aproximava, mas os passos delicados e a serenidade de Royena fizeram o temor se transformar em curiosidade. A guardiã deitou-se diante da menininha, que, após algum tempo observando o animal, levantou-se e se aproximou. Passou delicadamente a mão no focinho do animal e deu um risinho infantil, então correu para o lombo e começou a fazer carinho, como se Royena fosse um cãozinho de estimação. Aproveitando a distração da menina, o animal a empurrou delicadamente com os chifres para cima do lombo, fazendo-a montar sobre suas costas. Ela levantou e, sob risos de alegria da menina, voltou a galopar com velocidade até o próximo ponto de onde podia ouvir choro ou gritos – ou pelo menos era assim que ela fazia parecer que se guiava.

Após algum tempo, Coelhão, Fada e Sand já estavam na beira da floresta e se despediam das crianças que haviam resgatado – 3 meninos e 2 meninas. Eles davam risinhos e acenavam enquanto voltavam para suas casas, com ovos de chocolate nos bolsos e futuros bons sonhos. Norte chegou em seguida, com mais um casal de irmãos, os quais botou no chão e, com bengalinhas de açúcar e um breve afago, despediu-se enquanto eles corriam alegres.

- Onde está Royena?

Uma interrogação apareceu na cabeça de Sand, que levantou os ombros com cara de dúvida.

- Deve estar trazendo várias crianças de uma vez. – Disse Coelhão, coçando uma das orelhas, entediado.

- Espero que seja isso mesmo. – murmurou Fada, olhando perdida para a vila das crianças.

- Disse alguma coisa, Dada? – indagou Norte.

- Ah, não, não, foi apenas um pensamento alto. – Fada sorriu. Ela alçou vôo sobre as árvores e sua expressão ficou aliviada novamente – Royena está vindo, posse vê-la daqui! E... bem, da pra entender por que ela demorou.

Royena surgiu por entre as árvores junto com um murmúrio animado. Em seu lombo haviam 5 crianças, rindo. Quando viram os outros guardiões, olharam com surpresa e logo começaram a cochichar baixinho. Royena deitou-se novamente e todas elas desceram timidamente diante de Norte e Sand. Após algumas risadas e gritinhos, todas estavam voltando para suas casas com os bolsos cheios de presentinhos e felizes novamente.

- Muito obrigada. – disse Royena aos guardiões, voltando à forma humana.

- Ha! – exclamou Norte, abrindo os braços – Não foi nada, para isso estamos aqui. É nosso trabalho, afinal!

- Falando em trabalho, nós precisamos conversar agora que conhecemos o tal do Hynkpunk, ou Lucien, não sei mais como chamar aquilo. – disse o Coelho com certo desprezo, guardando seu bumerangue.

- Concordo. Preciso esclarecer algumas coisas com vocês. Podem estar conseguindo controlar o Breu, mas Lucien é um adversário muito diferente, por mais que seu objetivo pareça ser o mesmo.

- Você parece já ter tido experiências com ele no passado. – Fada voltou para perto do chão e ficou planando ao lado de Sand. – Nos diga tudo que houve e como ele se libertou, por favor.

- Sim, mas antes vamos a um lugar mais seguro. Aqui as árvores tem ouvidos.

A guardiã os guiou para as profundezas da floresta. Após um grande emaranhado de galhos de pinheiros, eles pararam diante de um enorme tronco, com quase o triplo de largura dos outros, que ficava na base de um desfiladeiro. Royena bateu com as costas da mão três vezes no mesmo e uma porta se formou na casca de árvore. Ela se abriu e os guardiões escorregaram por uma rampa de madeira em espiral, presa ao tronco, por vários metros, até o fundo do que aprecia uma grande caverna feita com raízes de árvores. Era circular e no centro estava o tronco da árvore gigante pela qual eles escorregaram, ao redor, haviam vários totens de pedra em forma de animais: cervos, lobos, guaxinins, raposas, cabras, esquilos, pássaros e muitos outros animais de todos os tipos de tamanhos. Por mais profundo que fosse, os raios de luar conseguiam iluminar o local por entre as raízes das árvores que não eram completamente vedadas, deixando a caverna banhada em luz prateada.

- Uau! É bem grande aqui em baixo! E foi você quem fez essas estátuas? – Fada voava de um canto á outro, encantada.

- Sim, mas há muitos e muitos anos atrás. Não sei se tenho mais esta habilidade.

Sand se aproximou de uma das estátuas, um cervo altivo com enormes e belas galhadas. Quando foi tocar o focinho do animal de pedra, a estátua se quebrou e caiu em pedaços no chão, esmigalhando-se até virar areia. Ele se voltou para Royena com os olhos arregalados, e sobre sua cabeça dezenas de imagens se formando com areia dourada, numa tentativa de pedir desculpas desesperadas.

- Haha! Calma, Sandman, está tudo bem, não foi você. – gargalhou a garota. – Essas estátuas representam todos os animais que vivem na floresta. Se uma delas se desfaz, como aconteceu agora, significa que um deles atingiu seu limite de vida.

- Nossa... Mas isso é bem triste. – Murmurou a Fada.

- Nem tanto. Assim como uma estátua se desfaz quando algum deles atinge o limite, uma nova aparece quando se inicia uma nova contagem de vida. – Ela apontou para a estátua de um guaxinim. Sob ele, novas estátuas começaram a se formar da areia presente no chão, e logo haviam 3 pequenas imagens de guaxinins filhotes.

- Isso é muito bonito, mas temos que interromper o momento, pois coisas sérias nos aguardam. – interrompeu Norte, sério.

- Verdade. – Royena ficou com a expressão grave. – Vou contar tudo o que sei sobre Lucien à vocês, e tentar montar o quebra-cabeças que está sendo esse ressurgimento dele, até mesmo para mim.

Os guardiões se reuniram num semicírculo diante da garota, que suspirou e começou a falar.

- Hinkypunks são seres extremamente comuns em florestas, carregam lanternas com as quais fazem viajantes se desviarem de suas trilhas e se perderem. Normalmente basta salvar os viajantes perdidos constantemente para que o Hinkypunk fique fraco, sua lanterna apague e ele desapareça, mas existem raras exceções que conseguem se fortalecer através de um evento cruel, e Lucien é um desses casos... Quando o Hinkypunk mata alguém.

- Matar alguém?!– esbravejou incrédulo Coelhão. – Esse ser é muito mais desprezível do que eu imaginava.

- Na verdade, não é exatamente o ato de matar. Basta ele ser indiretamente ligado á morte de alguém... Por exemplo, se algum viajante se perde seguindo a luz e cai de um desfiladeiro na escuridão, ou fica preso em areia movediça. De qualquer forma, Lucien ficou forte após causar uma morte e começou a fazer viajantes em massa ficarem perdidos, tornando-se cada vez mais poderoso. Foi então que eu surgi e comecei a proteger os viajantes, fazendo-os retornarem às suas trilhas ou evitando que saíssem dela atrás da luz de Lucien. A crença das pessoas em um guardião da floresta e não mais em Hinkypunks me deu forças enquanto minava o poder de Lucien aos poucos. Foi então que consegui desafiá-lo em pé de igualdade.

Sand flutuava olhando para Royena e o símbolo de um lacre surgiu em cima de uma cabeça ao lado de uma interrogação.

- Para lacrá-lo, eu apaguei a lanterna dele durante nossa luta. Ele automaticamente ficou sem poderes e tentou fugir na forma de uma sombra, foi então que consegui prendê-lo dentro de uma estátua como essas de animais que possuo.

- Então para detê-lo temos apenas que apagar a lanterna dele e depois lacrá-lo? – perguntou Fada.

- Sim, mas dessa vez duvido que seja simples como foi anteriormente. Ele com certeza estará atento á isso e não vai nos deixar chegar perto dela. Além disso... – a garota suspirou. – Ele está certo em uma coisa: meus poderes não são nem metade do que eram quando o lacrei. Não sei nem se quer vou conseguir realmente lacrá-lo de alguma forma...

- Deve ter alguma forma de fazer você ficar forte novamente. – Norte pensava. – Digo, de fazer as pessoas acreditarem em você.

- Acho muito difícil. Quase ninguém mais me vê, mesmo na forma de cabra-montanhesa, e os poucos que vêem é por causa do – Royena parou abruptamente de falar e sua expressão ficou rija.

- Por causa do...? – Norte interviu após alguns segundos de silencio.

- Nem eu sei. – ela desviou rapidamente do assunto. – Tudo que sei é que são pouquíssimos os que me vêem.... E em sua maioria são os anciões. Os jovens e crianças mal sabem sobre minha lenda, quanto mais sobre a minha existência... Muitos estão indo para cidades grandes, que estão se formando longe de florestas e bosques. Meu contato com eles é mínimo atualmente.

- Mas se seu contato com eles é mínimo, então Lucien também não tem esse contato e não estará muito forte, podemos detê-lo sem problemas. – disse Coelhão, confiante.

- Esse é o problema... As pessoas não vivem mais próximas às florestas, mas ainda precisam passar por elas quando viajam... E é exatamente aí que Lucien me supera: ele pode ter o contato rápido de fazer as pessoas se perderem para se fortalecer, ele não precisa criar laços de cumplicidade com os humanos como eu preciso.

Todos foram tomados por uma expressão de preocupação, mas logo Sand voltou a sorrir e algumas imagens de areia surgiram sobre sua cabeça. Dentes flutuavam brilhantes junto à unicórnios saltitantes.

- Excelente idéia, Sand! – exclamou a fada, animada. Sand ergueu os polegares em sinal de positivo, sorrindo, enquanto Royena fez cara de quem não entendera nada. Fada limpou a garganta e pôs-se a explicar. – Muitos adultos podem ter te visto na infância e já não lembram, mas eu posso fazê-los lembrar! Cuido dos dentes de todo mundo, posso fazer qualquer lembrança aflorar na mente deles... E Sand pode levar sonhos às crianças mostrando que você ainda existe e sua lenda!

- Podem mesmo fazer isso? – ela parecia revigorada.

- Mas tem um porém. – Fada ficou um tanto sem jeito. – Não podemos garantir que vai ser algo duradouro... As lembranças podem se apagar novamente, assim como os sonhos podem ser interpretados apenas como... Sonhos.

- Não tem problema. Podemos utilizar isso quando estivermos perto de captura-lo, então poderei lacrá-lo de uma forma mais efetiva... Ou ao menos mais duradoura.

- Certo, então agora temos um plano! Atacar Lucien e apagar sua lanterna! Então tudo voltará ao normal. – retumbou Norte.

- Não, sem atacar Lucien. – todos olharam Royena confusos. – Não podemos ataca-lo dentro do território dele. Ele é um enganador, lembram? Quem sabe que tipos de técnicas ele pode ter desenvolvido durante todos esses anos lacrado... E outra, vocês não conhecem muito bem a floresta, seria fácil enganá-los aqui. Sem ofensas. – a garota adicionou, vendo o olhar azedo de Coelhão.

- Então o que sugere? Que esperemos sentados enquanto ele aterroriza meio mundo? – Disse um Coelhão irritado.

- Sim e Não. Devemos aguardar que ele tome a iniciativa de ataque. Se lutarmos com ele num terro que não seja familiar à Lucien, estaremos em grande vantagem. Por hora, devemos esperar.

A resposta fez Coelhão bufar, mas concordar. Royena rapidamente se desviou dos guardiões e pegou um pouco da areia que caia das estátuas de animais e, com ela, formou 4 estatuetas pequenas em forma de cabra-montanhesa e deu uma á cada guardião.

- Sei que vocês devem ter muita coisa pessoal para resolver, então não vou prendê-los muito mais por aqui. Levem essa estatueta, se Lucien atacar e eu não conseguir avisá-los, ela vai começar a trincar até virar areia.

Os guardiões então rumaram cada um á seu lar, deixando Royena em sua caverna de raízes. Ao longe, dentro das sombras da floresta, uma figura apenas observava todos os movimentos que aconteciam na grande árvore ao pé do penhasco.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^ Estou tentando ao máximo fazer todos os guardiões aparecerem de forma justa, mas não sei se estou conseguindo x.x Sinto que estou negligenciando o Sand, tadinho xD

Obrigada por ler ^^