Ébano escrita por Ferana


Capítulo 2
A Lanterna Dourada


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo com muita informação, direta e indireta. Muitas coisas importantes da história estão começando a ser definidas.

Boa leitura e espero que gostem! ^^

Ps: desculpem os possíveis typos. Falta de tempo extrema pra revisar mais de uma vez =/



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A criatura que surgiu das nuvens era masculina e trajava algo, no mínimo, extravagante: uma camisa cor de creme gomada com abotoadeiras douradas nas mangas, sobreposta por um colete cor de vinho, assim como a calça, além de uma cartola na mesma cor, com uma faixa cor de creme à qual estavam presos 2 trigos dourados; e nos pés, sapatos lustrosos. Sua pele era pálida, com um rosto aristocrático, amoldurado por longos cabelos loiros que se retorciam nas pontas, como labaredas malignas. Seus olhos eram de um verde cortante e ameaçador. E o detalhe mais importante: à mão, levava uma bengala com um lampião adornado com ouro e preciosidades na ponta, do qual emanava uma luz dourada.

- Hinkypunk*. - rosnou Royena - Eu sabia que aqueles adolescentes não estavam vindo aqui atoa.
- Hahahaha! - o riso do homem era agudo. Ele flutuava bem acima dos guardiões. - E você foi idiota ou fraca o suficiente para deixar eles me libertarem. Devo agradecê-la, Royena, minha velha amiga: sem a sua incompetência eu jamais teria saído do meu exílio.
- Quem é o esquisito aí? - Coelhão olhava de Royena para Hinkypunk e vice-versa, confuso.
- Ele é um Hinkypunk, são espíritos malignos que vivem nas florestas. Não seriam muita coisa sem aquilo. - Royena apontou para a lanterna nas mãos do espírito - Com aquela luz, são capazes de desviar de viajantes e animais das trilhas seguras, fazendo-os se perderem ou se envolverem em acidentes. Esse em especial é muito mais poderoso que os outros… Ele estava lacrado numa caverna, até alguns dias atrás.
- As crianças o libertaram?! - Norte parecia confuso com toda a situação.
- Sim… Não é terrivelmente irônico que minhas próprias presas tenham me libertado, Papai Noel? Acho que algumas delas não deviam ganhar presente esse ano… Ou melhor, que tal… Nenhuma ganhar? - ele sorriu alucinadamente.
- Cuidado onde você vai levar suas ameaças. - Norte o ameaçou com as espadas - Não sabe quem somos?
- Ah, é claro que sei… São os maravilhosos Guardiões defensores das criancinhas oprimidas pelo medo. Vocês quem levam luz aos coraçõezinhos frágeis delas e que as fazem não acreditar mais em mim. - seu sorriso foi substituído por uma expressão de tédio.
- Ótimo! Mais um para nos dar trabalho desnecessário. – bufou Coelhão – Vamos acabar logo com isso.

Ele sacou os bumerangues e se colocou em posição de ataque, junto á Fada, Sandman e Norte. Porém a seriedade as situação foi cortada pelo riso estridente de Hinkypunk novamente.

- Como assim ‘mais um’? Se refere-se à mim como uma simples cópia desta penumbra que está ao lado de vocês, isso me ofende.
- Como é? – Breu, que estava silencioso observando tediosamente a conversa, subitamente se inflamou diante da agressão – Como uma assombraçãozinha insignificante como você ousa se referir à mim desta maneira?!
- Considerando que meu simples despertar gerou mais medo nos habitantes da vila próxima do que o trabalho do poderoso Rei dos Pesadelos, não é difícil adivinhar quem entre nós está quase sem poderes.

Hinkypunk ria e mantinha seu ar aristocrático esmagador sobre seu antigo soberano. Os olhos de Breu flamejavam como dois sóis ardentes de ódio e fúria. Num movimento rápido, Breu ergueu as mãos cortando o ar e as sombras das árvores se levantaram como bestas sedentas, com as bocarras escancaradas na direção de Hinkypunk, e bastou a este levantar sua lanterna dourada, brilhando com mais intensidade, para dissolver as sombras.

- Isso é tudo o que tem? – perguntou ele, irônico – Parece que eu escolhi um excelente momento para me reerguer...
- Como assim escolheu?! – a guardiã da floresta avançou um passo na direção do espírito maligno, mal conseguindo conter sua vontade de ataca-lo.
- Acha mesmo que seus poderes ainda estavam me detendo? Eu poderia ter me libertado há muito tempo, se quisesse. Mas por que simplesmente desperdiçar minha vingança numa florestinha? – ele lançou um olhar agudo aos guardiões.

Sandman fez uma cara de desconfiança e sobre sua cabeça surgiram símbolos: um cavalo sombrio correndo livremente, até seu trote vacilar e ele ser cercado por 4 figuras distintas. Essas figuras o encurralavam até sucumbir, mas da poeira do cavalo surgia um lanterna que cegava e destruía as 4 figuras.

- Precisamente, meu bom Sandman! – Hinkypunk deu um tapa empolgado na própria perna.
- Você quer tomar o lugar do Breu?! – Fada parecia incrédula com o que Sandman lhes mostrara.
- Não apenas tomar, minha querida... Superá-lo. Nós vamos nos divertir muito.
- Ora, seu maldito!

Royena deu um passo forte à frente e foi a vez das raízes das árvores atacarem Hinkypunk, que novamente armou-se de sua lanterna e queimou os galhos. Royena fez um movimento travado com as mãos, fazendo os galhos se retorcerem, apagando o fogo - Coelhão e Norte aproveitaram o galho torcido como ponte para subir até as copas das árvores para atacar seu novo inimigo, enquanto Fada e Sandman alçaram vôo na direção do mesmo. Vendo-se sem saída, Hinkypunk girou sua lanterna no ar, formando um anel de labaredas ao seu redor, impedindo o avanço de qualquer um dos guardiões – porém, esqueceu-se de Breu, que o atacou com suas sombras, fazendo-as atar-se aos membros do inimigo. Porém Hinkypunk, sorrindo, apenas ergueu sua lanterna acima de sua cabeça e a fez brilhar com toda a intensidade. Os guardiões foram pegos de surpresa e ficaram cegos temporariamente pela luz maligna, enquanto Breu caiu ao chão, sentindo toda sua energia sendo sugada – contra a luz não possuía qualquer tipo de defesa.

- Como eu disse, nós vamos nos divertir MUITO!
- Hinkypunk, como ousa, seu maldito desgr-
- A partir de agora, me chamem de Lucien.... Se sobreviverem às minhas chamas, é claro.

Lucien se preparava para o golpe de misericórdia sobre os guardiões, impossibilitados de contra atacarem por estarem cegos e temerosos de atingirem um ao outro. Porém, intervindo tudo, um raio branco de luar engoliu a clareira onde todos estavam, curando os olhos dos guardiões e depois focando-se sobre Royena.

- Homem da Lua... Sempre se intrometendo! – Lucien rosnou, parando pela primeira vez com seu tom irônico.
- Ela é... Uma Escolhida?! – Fada levou uma das mãos aos lábios, em duvida.
- ... Não. – Norte olhava para a lua, tentando entender.

Sandman olhava para a lua e voltou-se de repente aos colegas, apontando a forma de uma ampulheta sobre a cabeça, girando.

- Ela é uma aliada temporária. – Coelhão concluiu.

A frase do Coelho fez Lucien cair numa gargalhada longa e cruel.

- Isso é algum tipo de ataque de desespero, bicho feio? – Coelhão se voltou confiante contra Lucien. – Está rindo da própria desvantagem?
- Desvantagem? Ah, coelho, se soubesse do que está falando – Hinkypunk limpou uma lágrima que escorria pela bochecha, após o ataque de risos – Royena será tão útil à vocês quanto Breu seria.
- Ora, pare de besteira. – Norte respondeu, estufando o peito – Ela é uma guardiã da floresta, um espírito antigo e poderoso que já o prendeu uma vez, e sozinha. E agora, somos 5 contra você.
- Pois vou contar um segredo: espíritos da floresta são tão acreditados hoje em dia quanto o Bicho Papão. – uma sombra passou pela expressão dos guardiões – Os poderes dela estão reduzidos á menos da metade do que ela um dia teve...
- E isso é mais do que o suficiente pra você. – a guardiã respondeu, ríspida.
- Será mesmo? Se fosse você, me juntaria ao Breu. Parece uma parceria muito mais promissora, junto à outro desacreditado e desprovido de poderes. Pelo menos com ele você não teria problemas em mostrar sua verdadeira índole.

Royena, tomada pela fúria, se preparava para desferir outro golpe, quando um grito infantil quebrou o silêncio da floresta noturna. Ela parou imediatamente e se voltou para as árvores atrás de si. Outro grito infantil irrompeu de outra direção, seguido de mais outros 2 ainda mais distantes.

- Olha, parece que começou... Minhas primeiras vítimas, que acabaram de acordar perdidas e desesperadas no meio da floresta. – Lucien sorriu enquanto aproveitava a situação para fugir num lampejo de luz amarelada.

Não havia tempo para persegui-lo agora, haviam pelo menos 4 pessoas em perigo na floresta, na floresta dela, Royena, que não via humanos perdidos há décadas. Ela rapidamente tomou a forma de cabra-montanhesa e disparou por entre as árvores, à toda velocidade, seguida pelos outros guardiões. A luz da lua também deixou a clareira e, discretamente, Breu mergulhava de volta à sua escuridão, ainda enfraquecido.

Os gritos continuaram a inundar a floresta noite adentro, desesperando os guardiões.


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Notas finais do capítulo

*Hinkypunk são espíritos malignos que vagam por florestas durante a noite. Costumam atrair viajantes com suas luzes (fazendo-os acharem que se trata de algum outro viajante ou um acampamento), obrigando-os a saírem da trilha principal da floresta e se perderem, ou sofrerem acidentes - isso por pura diversão!

Espero que tenham gostado ^^ Reviews com críticas e sugestões são sempre bem-vindas!



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