Ébano escrita por Ferana


Capítulo 12
Rei e Rainha


Notas iniciais do capítulo

Mais blá blá blá xD E algumas explicações para deixar tudo mais claro, eu espero...

Boa leitura à todos! ^^



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Royena estava encostada na árvore principal de sua caverna de raízes, ela olhava cabisbaixa e fixamente para os animais de areia que ficavam em todo entorno de seu lar. Observara seu ciclo de renovação sem pausa durante todos os dias que estivera se recuperando das queimaduras deixadas por Lucien. Não houvera nenhuma alteração no ciclo, nenhuma elevação de taxa de mortalidade, para a felicidade dela que temia que, por vingança, o Hinkypunk tentasse atear fogo à floresta enquanto estivesse incapacitada - mas sua última performance fora assustadora o suficiente para fazer o velho espírito maligno pensar muito bem antes de tentar provocá-la de forma tão íntima. Ela tenta se levantar, mas, fazendo uma expressão de dor, acaba caindo novamente onde estava.

– Já é sua terceira tentativa... Dá próxima vez quem vai te fazer cair vou ser eu! – gritou uma voz conhecida sobre a cabeça da garota.

– Cale a boca, Frost! Eu tenho uma bunda maligna pra chutar e preciso sair logo daqui! – gritou ela em resposta. – Se eu ao menos conseguisse curar logo essas queimaduras...

– Se ficar saracoteando desse jeito, nunca vai melhorar!

– ‘Saracoteando’? De onde tira essas palavras bizarras, moleque?! Ah, não importa... – Royena ficou alguns segundos em silêncio, até retomar a conversa. – Jack, por que está aqui?

– Como assim ‘por que’? Eu estou preocupado com você, oras!

– Por que se preocupa comigo? – perguntou ela, olhando novamente para os animais de areia.

– Você bateu a cabeça tão forte assim na última luta, foi? – Jack olhou para baixo, com uma sobrancelha levantada. – Pelo simples fato de ter um louco de fogo te perseguindo e você estar toda arrebentada. É tão complexo assim?

– Não, isso eu sei, cérebro de gelo. Estou perguntando por que está preocupado especialmente comigo... Podia estar preocupado com todos, mas está exclusivamente montando guarda na minha porta.

– Você é muito estranha... Ser minha amiga não é motivo suficiente pra eu me preocupar?

– Hm... Amiga, hein.

– Que foi...? Espera... Não está achando que eu gosto de você, não é? – disse ele, rindo do próprio pensamento.

– Não, longe de mim querer ser a sua princesa em perigo, Príncipe Frost! – ela nem precisou olhar para cima para saber que ele estava corado. Ah, esses garotos... – Só é bom saber que tenho um bom amigo!

Com esse último comentário, ela sentiu uma leve brisa e um floco de gelo na ponta do nariz, ao qual respondeu com um redemoinho de folhas douradas ao redor do pescoço de Jack, que riu vendo seu novo cachecol de outono. “É bom saber que não vou te magoar...” foi o último pensamento de Royena antes de voltar a conversar animadamente com Frost.

Porém, contrário ao clima amigável na floresta, a tensão caía com força sobre a oficina de Norte. Toothiana os reuniu o mais rápido que pode e contou à eles tudo que tinha visto, sem poupar uma única palavra ou ação provenientes da lembrança de Royena.

– Eu sabia que isso iria acontecer! – dizia Norte, batendo com os punhos fechados na mesa, enfurecido. – Ela não deveria jamais ter usado aqueles malditos poderes!

– É tudo culpa do Breu! – Coelho também bufava, furioso, do outro lado da mesa. – Aquela peste! Sempre dá seu jeito que tirar vantagem e corromper tudo onde bota as mãos imundas!

– Foi um erro ter ignorado a proximidade daqueles dois, nisso concordamos. Mas temos que lembrar que Royena nos salvou de Lucien quando libertou seus poderes de Hikypunk! – disse Fada, tentando acalmar o ânimo dos companheiros, sendo acompanhada pro Sandy, que concordava balançando a cabeça.

– Você vai defendê-la agora, Fada? – Perguntou Norte, levantando os ombros enquanto a questionava. – Você foi a primeira a temer a união de Breu e Royena!

Nesse momento Sandy levantou-se diante dos três companheiros e todos se silenciaram. Sobre a cabeça do homem dourado vários símbolos começaram a se formar. Uma lua sobre 4 símbolos (cada símbolo sendo um guardião). Entre eles surgiram os símbolos de uma cabra e um lampião. Sandy sinalizou um ‘1’ com os dedos e a figura de cabra virou um lobo ameaçador, mas as figuras dos guardiões de uniram e direcionaram o lobo para o lampião, que apagou e desapareceu. Em seguida, Sandy sinalizou um ‘2’ com os dedos e as figuras dos guardiões se separaram do lobo, e o lampião queimou as 5 figuras. No primeiro exemplo a lua brilhava sobre todos os outros símbolos, no segundo ela tornou-se pálida e sem brilho após os símbolos queimarem.

– Acha que é um teste do Homem da Lua? – perguntou descrente Coelhão.

Sandy sinalizou um ‘sim’ mexendo a cabeça.

– Mas o que exatamente ele está testando? – Norte pensou alto, olhando para a mesa enquanto coçava a barba.

– Nossa confiança. – Sussurrou a Fada, mas de forma que todos pudessem ouvir, fazendo Coelho e Norte ficarem ainda mais confusos.

– Nossa confiança em quem? Na Royena?

– Sim. E não apenas nela... No próprio Homem da Lua também. Talvez ele queira ver até onde somos capazes de confiar nas decisões dele e na capacidade dos nossos parceiros, mesmo os temporários.

Nesse ponto Sandy estalou os dedos e apontou para Fada, fazendo um sinal de ‘positivo’ com o dedão. E sobre sua cabeça surgiu uma ampulheta dourada.

– ... Será que ele já sabia que isso tudo iria acontecer e queria ver nossa reação com as transformações de Royena? – perguntou Coelho, com as orelhas arcadas para trás, pensativo.

– É provável... Talvez ele queira ver como nos adaptaríamos com um novo aliado, ou mesmo um novo... Guardião. Nunca se sabe. – Disse Tooythiana, erguendo inocentemente os ombros.

– Ou talvez ele queira ver como vamos nos comportar diante de uma... Traição. – Coelho continuava com seu posicionamento pensativo, mas agora com um leve ar sombrio nos olhos.

– Existem muitas possibilidades... Mas acredito que em uma coisa nós todos acreditamos: O Homem da Lua jamais nos colocaria numa fria! Devemos confiar em Royena até o fim dessa missão, pois ela é nossa companheira e, mesmo sob influências do Breu, continua se mantendo fiel à nós também, como pudemos ver na última luta... Ela segurou os poderes malignos dela até não sobrar outra alternativa. Mesmo não gostando de ela ter usado aqueles poderes, não posso negar que ela cumpriu sua palavra.

– Nisso você tem razão Norte. Até o final dessa missão podemos confiar nela... O que me assusta é pensar no depois.

– Ora Coelho, não temos motivo para acreditar que ela vai se juntar ao Breu. Ela parece ser extremamente ligada ao cerne dela, de proteger a floresta e os viajantes, não há nada numa união com Breu que vá favorecer ela em sua missão de vida.

– ... Certo, por hora isso me convence. Mas ainda tem alguma coisa sobre aqueles dois que me incomoda. – Dizia do espírito da Páscoa, voltando a erguer suas orelhas. Fada e Sandy trocaram um olhar levemente inseguro com as palavras finais do Coelho, mas isso passou despercebido entre os outros Guardiões.

– Vamos confiar no Homem da Lua e ver o que sucede! Até lá, devemos nos manter alerta enquanto Royena se recupera, e, se Lucien aparecer... – Dizia Norte, dando um tapa amigável nas costas do Coelho.

– Quebramos a cara dele! – completou Coelho, com seu sorriso voltando ao focinho. – E Fada, nunca mais brinque que precisamos de um novo Guardião! Só de pensar em algum trombadinha aparecendo pra gente ter que dar jeito, alguém como... o Frost. Brrr! me dá calafrios só de pensar!

Todos riram inocentemente da brincadeira, sem saber que o Coelho acabara de fazer uma previsão mais do que certeira para um futuro não tão próximo assim.

Novamente longe da felicidade, um terceiro lugar era tomado por pensamentos relacionados à guerra que acontecia na floresta: O covil de Breu. Seu dono andava de um lado para outro, nas sombras, meditando sobre tudo que estava acontecendo e diversas possibilidades... Afinal, essa era sua forma de tomar parte das coisas: analisar e atacar no momento mais propício. O que mais um espírito desacreditado e cercado por inimigos alertas poderia fazer naquela situação? Mas havia uma peça em todo aquele xadrez mental que não parava de lhe dar xeques constantes... Royena.

–... Um cavalo. – Breu levantou a mão diante de seu rosto e uma peça de xadrez em forma de cavalo, feita de sombras, surgiu entre seus dedos. – É exatamente assim que você age. Você pode passar à frente de seus aliados, mas sem afetá-los negativamente, e tem uma forma estranha de se mover, mas ainda assim compreensível para mim... Por que você continua a inundar meus pensamentos? Não consigo encaixá-la como uma peça mortífera como a Rainha e nem deixa-la de isca como um Peão.

Breu deixou o cavalo de sombras escorrer pelos seus dedos.

– O jogo todo parece estar girando em torno disso, mas eu não sei como resolver essa jogada, você está travando todos os meus movimentos... Não. – disse ele, sentando-se desleixadamente sobre o corrimão de uma das milhares de pontes inclinadas que faziam parte de sua morada. – Sou eu. No momento que eu parei de te considerar uma peça de manobra, foi quando eu errei. No momento que... Eu... Me-

Seu monólogo foi interrompido pro um trisso agudo e urgente que preencheu repentinamente o vazio de sua morada. Ele ergueu a cabeça, incomodado.

– Quem ousa atrapalhar minhas meditações à essa hora?! – bradou ele, olhando para a escuridão, onde podia ver um leve movimento no ar.

O morcego mensageiro de Royena se revelou diante de Breu e trissou novamente, alto e urgente, voando pela fissura do teto pela qual havia entrado. Breu entendeu o recado e seguiu o Morcego até a morada de Royena, com certa dificuldade por ser o início da noite, então ainda havia luz remanescente do dia em partes do seu caminho. Ao entrar na caverna de raízes, Breu logo localizou Royena de pé, diante das estátuas de animais.

– Você não deveria estar descansando? – perguntou ele, aproximando-se por trás da garota.

– Boa noite pra você também, Breu. – Disse Royena, virando-se para trás e tendo que erguer o rosto para ver o Rei dos Pesadelos, de tão próximo dela ele estava. – Estou tomando os devidos cuidados com meus ferimentos, posso garantir, e obrigada pela preocupação.

– Nunca é demais garantir... E Boa noite. – Disse ele, sendo estranhamento mais cordial que nas noites comuns. – Ao que devo seu chamado? Imaginei que chegaria aqui e estaria tudo pegando fogo...

– Não vai se livrar de mim tão facilmente, Senhor do Medo, vaso ruim não quebra. – Disse rindo a garota, dando as costas ao homem e indo em direção às estátuas. – Te chamei por que recebemos uma intimação.

– Uma intimação?

Assim que Breu terminou a pergunta, Royena jogou a capa para o lado e atirou dois papéis na direção e Breu, que os pegou no ar num movimento rápido e os analisou com um olhar curioso.

– Q e K? O que essas coisas significam?

– É o que os humanos chamam de ‘cartas de baralho’, é um jogo deles... Mas o que interessa para nós são os símbolos dessas cartas. São um homem e uma mulher, o Rei e a Rainha.

– ... Com os rostos queimados. – disse o homem, passando levemente o dedo sobre os 2 buracos feitos por fogo nas cartas. – É uma ameaça bem direta.

– Definitivamente... Dessa vez nós temos que agir?

– Nós? Mas não foi você mesma que disse que não deveríamos ataca-lo em seu território?

– Isso era válido até nossa última luta. Agora Lucien está com medo e com raiva, temos que aproveitar essa oportunidade e pegá-lo encurralado, vai ser nossa melhor chance.

– E por que está dizendo isso só para mim? Não deveria ter reunido os guardiões todos para anunciar isso?

– Eu vou avisá-los assim que conseguir reuni-los, eu só preferi te dizer isso antes por que você foi escalado como um dos alvos principais do Lucien agora.

Breu riu e atirou as cartas de volta para Royena, que as pegou no ar rapidamente, como seu tutor.

– Poupe suas preocupações, deveria focá-las em si mesma. – Dizendo isso, Breu virou para a fissura pela havia entrado na caverna. – Mais alguma coisa?

– ... Tome cuidado.

Tudo ficou silencioso e Royena imaginou que Breu havia partido. Ela apenas suspirou e relaxou os ombros, apoiando o arco no chão para se sustentar, sua perna ardia como se tivesse em chamas.

– Malditas queimaduras, parece que não curam nunca. Lucien, aquele filho da p-

Para sua surpresa, como um tufão de sombras, Breu surgiu inesperadamente logo à frente dela e puxou com força o corpo da garota contra o dele mesmo, deixando o nariz de ambos a centímetros um do outro.
"... Só por que ele não respondeu não quer dizer que foi embora, Royena, sua idiota!" pensou a garota, sentindo-se estúpida após ter sido vista, justamente por Breu, em um momento de fraqueza.
Ele olhava com malícia nos olhos da garota, que o respondia com um olhar quase animalesco, devido á adrenalina que sentira ao ser atacada repentinamente. Breu riu daquele olhar selvagem e, deslizando a própria bochecha pelo rosto da garota, aproximou os lábios da orelha dela.

– Se preocupa-se tanto com o Rei dos Pesadelos, é como eu disse, trate de melhorar para acabar logo com aquele Hinkypunk. Afinal, esse é seu trabalho, não é, Rainha?

Royena sentiu o coração martelar no peito e, com um último riso malicioso, Breu desapareceu no ar como uma penumbra, deixando a garota cair em pé, vacilante. Ela recuperou o equilíbrio e olhou para o teto, com uma certa raiva no olhar.

– Não me diga o que é ou não meu trabalho. – Sussurrou entre os dentes, como um rosnado de um lobo acuado, um lobo que tivera seus sentimentos humanos expostos por um caçador astuto.


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Notas finais do capítulo

Espero que algumas motivações tenham sido esclarecidas ^^ Já outras provavelmente estão ainda mais duvidosas, eu imagino XD Mas tudo vai ser explicado em breve, podem ter certeza! A fic está caminhando para seus últimos capítulos... Provavelmente acabe nos próximos 3!

Muito obrigada por lerem e, por favor, comentem! ^^ Críticas, Sugestões, Dúvidas ou qualquer observação são sempre bem vindas!