Ébano escrita por Ferana


Capítulo 11
Não vou te abandonar


Notas iniciais do capítulo

Novamente, eu me empolguei xD Parece que quando fico dias sem escrever quero colocar um zilhão de coisas num capítulo só, me desculpem, caso os capítulos estejam muito longos, por favor, avisem nos comentários!

Boa leitura à todos! ^^



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Já fazia horas que os guardiões tinham voltado à seus devidos trabalhos, desde a fatídica batalha na floresta que nocauteara Royena por tempo indeterminado, porém um deles ainda estava preocupado, Toothiana. Ela voava de um lado para outro, dando ordem para suas fadinhas, mas não parava de pensar por um segundo no dente de Royena. Depois de mandar por engano um pequeno grupo de fadinhas ao Polo Sul e outro para a Bélgica, de onde elas haviam acabado de voltar, resolver deixar as coordenadas com uma das suas mais confiáveis fadas e foi para o local onde todos os dentes estavam guardados. Ela olhou para os gigantescos mosaicos coloridos nas paredes e passou a mão delicadamente sobre uma das lajotas, fazendo com que uma caixinha dourada hexagonal saísse de uma pequena gaveta, que se formara quase magicamente onde a mão dela tocara. Ela pegou a caixinha e a gaveta se fechou sem deixar qualquer marca na parede. Observou o desenho do rosto de Royena numa das faces hexagonais - ela parecia bem mais jovem - depois deslizou ou indicador rapidamente sobre a face retangular que estava voltada para cima, fazendo-a abrir e 2 fileiras de dentes de leite apareceram.

– Como eu imaginei, você já era adulta quando morreu... É isso que mais me preocupa. – Sussurrou para si mesma, fechando a caixinha e colocando-a dentro da gaveta novamente.

Fada voou até o topo da parede colorida e sentou-se na borda, pondo-se a observar o dente, mordendo os lábios, nervosa e indecisa.

– Eu prometi a mim mesma que não olharia os segredos das pessoas, é como romper uma política pessoal para mim... Mas ao mesmo tempo, podemos estar correndo perigo, todos nós. Breu é capaz de muitas coisas, ainda mais depois de saber que poderia ter uma aliada tão... Poderosa.

Toothiana estremeceu só de pensar na possibilidade de uma união entre Royena e Breu, ambos cheios de poder logo após a derrota de Lucien, tentando trazer a Era das Trevas novamente. Ela balançou a cabeça forte, cerrando os olhos firmemente, tentando espantar o pensamento e voltou a flutuar.

– Desculpe, Royena! Desculpe por não confiar em você e por remexer as suas lembras mais marcantes, mas é algo que pode afetar o futuro de todos nós... E do mundo!

Dizendo isso, Fada segurou fortemente o dente entre as mãos e fechou os olhos, juntando toda sua concentração para voltar próxima ao momento no qual fora expulsa da memória de Royena. Sentiu como se um turbilhão de vento a engolisse e, repentinamente, tudo parou. Ela abriu os olhos e se viu no meio da floresta guardada pela garota.

– É dia. Nunca estive aqui durante o dia... Posso observar exatamente o que houve logo antes do acontecimento marcar a memória dela, isso é ótimo! – Disse à si mesma, sorrindo. – Agora, vamos procura-la!

Toothiana voou sobre as árvores olhando sempre atenta entre suas folhas, até que pôde ver um vulto negro passar rapidamente por uma abertura entre pinheiros. “Breu?! Durante o dia?” pensou ela, mergulhando entre as folhas - que tornavam-se areia colorida ao menor dos seus toques e voltavam á forma de folha assim que Toothiana se afastava. Tudo no mundo das lembranças era assim, nada era físico.

Fada continuou a voar, perseguindo o vulto, até que seu alvo parou próximo de uma clareira. Ela pôde observar um brilho prata vindo do vulto e logo o reconheceu como Royena em sua forma de cabra montanhesa. Ela estava parada, olhando para algo na clareira. Fada caminhou até o lado do animal e olhou na mesma direção: havia uma criança tentando escalar uma macieira. O animal saiu vagarosamente dos arbustos e fez um leve barulho com os cascos, para ser visto pela criança, que o olhou assustada. Ambos ficaram se encarando por um tempo, até que Royena se deitou e continuou a observar o menino que a olhava, pasmo. Interpretando aquilo como um sinal de que não seria atacado, o garoto voltou a tentar escalar a árvore desajeitadamente.

– O que é isso? Está tentando aparecer para humanos e ser acreditada novamente? – Fada observava de longe toda a ação.

Após algum tempo deitada e algumas tentativas frustradas da criança de escalar a árvore, Royena se colocou de pé e caminhou até o garoto, que voltou a olhá-la assustado. Ela parou ao lado da árvore e deu-lhe um coice poderoso, que fez seu tronco estremecer de cima abaixo e dezenas de maçãs caírem. A criança correu assustada até o meio da clareira e ficou olhando e longe a cabra sair de perto da árvore e se deitar onde estava antes. Timidamente ele foi até as maçãs caídas e começou a colhê-las uma a uma, rapidamente, e coloca-las numa cesta que estava atrás da macieira. Royena apenas o observava preguiçosamente enquanto o menino colhia as maçãs e vigiava a cabra, desconfiado. Após colher tudo, ele pegou uma maçã e colocou diante da cabra.

– O-obrigado... Guardião da Floresta.

Ele ficou parado, olhando para Royena.

– Vo... Você é um demônio? – perguntou sibilando, com os olhos apertados e ombros encolhidos.

A cabra apenas virou levemente a cabeça e baliu. O menino sorriu.

– Eu sabia que você não era mau! Papai não deve te conhecer direito. – Disse a criança, fazendo carinho desajeitadamente sobre a cabeça de Royena, que abanou o rabinho curto. – Obrigado e tchau!

A criança saiu correndo com a cesta no braço e rindo. Royena esperou ele se afastar e voltou á forma humana, pegou a maçã e saltou para cima de uma árvore próxima, enroscando-se em um galho baixo.

– Bons tempos que eu fazia isso a cada cinco minutos! – disse ela, dando uma grande mordida na maçã. – Esses tempos andam parados, desde que as pessoas começaram a se mudar das vilas pras cidades... E, principalmente, depois daquele maldito voltar. – O som de algo sendo esmagado pôde ser ouvido e o suco da maçã escorreu pelo punho de Royena. - ...Opa! Sem desperdiçar comida!

Ela terminou de comer e seguiu correndo entre as árvores em forma de cabra. Ajudou mais 2 ou 3 pessoas até o pôr do sol e Fada começava a se perguntar se tinha mesmo voltado ao momento certo das lembranças. Porém as coisas começaram a mudar quando Royena fez uma parada em uma clareira ampla. Ela sentou-se encostada ao tronco de uma árvore e ficou lá, de pernas cruzadas, como se esperasse algo.

– Esse lugar, eu conheço! Foi aqui que a luta dela com o Lucien aconteceu. – Fada flutuava em círculos, observando os arredores. – Foi aqui, com certeza! Então essa memória aconteceu ont-

Seu pensamento foi cortado por um barulho de vento forte. Ela olhou para o centro da clareira e um vento rasteiro fazia todas as folhas mortas do chão rodopiarem. Do centro do redemoinho de folhas surgiu uma sombra, que se ergueu do chão e revelou-se como sendo Breu. Ele olhou diretamente para onde Royena estava.

– Boa noite, Breu.

– Boa noite, Royena. Está preparada para a prova final?

– Desde o primeiro dia de treino.

– Insolente, é bom que esteja mesmo. Dessa vez não vou pegar leve.

– Exatamente o que eu queria ouvir.

Após falar isso, os olhos de Royena ficaram vermelhos e ela sacou o arco e flecha, pondo-se de pé. Breu abriu os braços e uma onda negra de sombras vorazes surgiu atrás dele.

– Pode vir. – disse ele, com um sorriso malicioso no rosto.

Royena disparou em direção á Breu, que com os braços comandava hordas de sombras na direção da garota, que desviava das mesmas com maestria. Ela disparou flechas contra Breu, que interceptou todas com suas sombras. Royena deu a volta em trono do Rei dos Pesadelos e atrás dele fez surgiu uma elevação na terra, a qual chutou e um enorme torrão foi na direção de Breu.

– Acha mesmo que vai me acertar com isso? – brandiu ele, quando iria esquivar para o lado e sentiu o corpo preso. – O q-

Não teve nem teve de exclamar, foi atingido em cheio pelo torrão e caiu de lado. Ele olhou para as pernas e viu uma flecha prendendo seu sobretudo ao chão.

– Que truquezinho mais sujo, hein? – disse ele, arrancando a flecha da barra da roupa. – Gostei desse seu novo jeito de lutar. Está menos menininha fofa da floresta.

– Cansou e está tentando se recuperar com conversa fiada, Breu? – provocou Royena.

Os dois continuaram a luta e Fada ficou observando. O que pode ter acontecido de tão marcante numa simples luta de treino? Pensava a Fada, até que as coisas começaram a fazer sentido pra ela. No decorrer da luta, Royena parecia colocar cada vez mais ferocidade nos golpes e sua força parecia ser apenas crescente. Breu estava começando a ter dificuldades de segurar os golpes da garota de forma amena, sem ter que contra atacar com força total.

– Royena, controle-se, lembre qual o objetivo dessa luta! – disse ele, enquanto se defendia de uma chuva de pedras.

– Oh, tem razão... O objetivo. Ficar cada vez mais forte!

Dizendo isso, ela parou e encarou Breu, com um sorriso maligno. Breu parou e a observou por alguns estantes, com uma expressão curiosa que logo mudou para surpresa.

– Essa de novo, não... – disse ele, franzindo a testa.

Royena foi cercada por uma nuvem de poeira e tomou a forma do grande lobo negro de 4 quatro olhos. Ela olhava para Breu e rosnava ameaçadoramente. Breu assumiu sua posição de luta e apenas esperou. O lobo foi com tudo para cima dele, o atacando com mordidas e arranhões. Breu se defendia da maneira que podia sem atacar a garota de forma danosa, repelia as investidas do lobo e suportava os arranhões e mordidas. O lobo parecia ficar cada vez mais alucinado de fúria quando seus golpes não surtiam efeito algum em Breu.

– Royena, pare! Isso é um treino, lembra?! Não deixe o poder te consumir! – Breu gritava para ela quando o lobo recuava para tomar outro impulso de ataque, mas nada adiantava.

– Royena, não! – Até mesmo Fada gritava, mesmo sabendo que não seria escutava ou vista por ambos, mas sua angustia de ver a garota atacando Breu alucinadamente a fazia querer gritar e interromper a luta.

– Royena! Eu vou ter que tomar uma medida drástica! Lembra como aconteceu da última vez? Quer que eu te apague de novo?! – Breu ainda tentava apelar, gritando a plenos pulmões, chamando a razão da garota.

Porém, a gota d’água veio quando o lobo acertou uma patada em cheio no rosto do Rei dos Pesadelos. Ele tivera paciência com a garota, mas agora era seu orgulho que tinia nos seu olhar de raiva. Ele ergueu os braços e uma barreira de sombras subiu em volta de Royena, que tentava ataca-las. As sombras formaram um turbilhão e ergueram o lobo alto no céu, para em seguida jogá-lo no chão com todas as forças. Royena cambaleou ainda com forças para querer atacar Breu, que começou uma chuva de ataques sobre ela, com sombras que a atingiam de cima como meteoros. Ela caiu no chão e foi jogada por uma onda de penumbras de costas contra uma árvore. O lobo ficou sentando apoiado no tronco, lutando para recuperar a consciência, mas assim que tentou levantar-se, Breu a agarrou pelo pescoço e forçou contra o tronco, levantando-a acima de seu próprio rosto e olhando nos olhos do animal, alucinado de fúria.

– Royena! Pode me ouvir? Royena? – dizia ele, tentando manter a calma.

O lobo em resposta apenas tentava morder o rosto de Breu e se debatia com todas as forças, tentando se libertar, suas patas arranhando o corpo do Rei dos Pesadelos . Breu perdeu definitivamente sua paciência com a situação e puxou o corpo do lobo contra si mesmo, em seguida bateu a cabeça e costas do animal na árvore com tanta força que fez o tronco rachar e muitas folhas caírem. O lobo ganiu repetidamente de dor e parou todos os movimentos, como se tivesse sido paralisado pelo golpe.

– ME ESCUTE, SUA DESGRAÇADA! – Breu gritava na cara do lobo e continuava a batê-lo contra o tronco, o animal gania a cada novo golpe e se encolhia cada vez mais. – PARE JÁ COM ESSA PALHAÇADA DE SER TOMADA PELOS PRÓPRIOS PODERES! Isso é ridículo, sua fraca maldita! Espera mesmo vencer o Lucien no estado que está?! Vai acabar morrendo se lutar contra ele desse jeito, sua babaca! Está me ouvindo? VOCÊ VAI MOR-

Breu parou de gritar e de bater o lobo quando sentiu que a garota estava voltando á forma humana. Ele continuou segurando ela pelo colarinho da capa até ela abrir os olhos, que estavam normais.

– Me... Descul... pe... – disse ela, numa voz engasgada de quem está sem ar.

Breu a soltou e ela caiu encostada ao tronco com as pernas flexionadas, tossindo e se esforçando para ficar de pé. O Rei dos Pesadelos apenas colocou a mão nos rosto e suspirou aliviado, virando-se de costas para Royena.

– Dessa vez não precisei te apagar, pelo menos...

– Obrigada, Breu. Mas... Acho que não vamos mais treinar... – Royena se agarrava ao tronco tentando ficar completamente de pé.

– Como assim?! – disse ele, voltando para a garota, com cara de surpresa.

– Toda vez isso acontece, eu perco a noção do que estou fazendo e quase arranco a sua cabeça à dentadas... Não quero que você acabe se machucando de forma grave por querer me ajudar.

– Exatamente por isso! Você já quase arrancou minha cabeça umas 7 vezes, não ache que mais 2 ou 5 vezes vão fazer eu mudar de idéia.

– Eu ainda não entendo por que quer me ajudar, de verdade...

– Eu tenho meus motivos.

– Quais motivos? Você é sempre todo cheio de mistério, de ‘não posso contar isso’, ‘não posso contar aquilo’... É mais um motivo pra eu desconfiar e não querer mais treinar.

– Não se atreva. – disse Breu, se virando para ela com o indicador apontado diretamente para o rosto da garota. – Não se atreva a usar isso como motivo! Quer saber por que te ajudo? Por que eu sei o quanto é uma droga não ser acreditado! Estar fraco por que fez o seu maldito trabalho certo a vida inteira e do nada aparece algum idiota pra te dizer que estava fazendo errado e tomar o seu poder!

– Mas o que eu fiz pra do nada receber toda essa caridade do Rei dos Pesadelos? Uma possibilidade de parceria é o suficiente pra te fazer correr o risco de morrer?

– Inicialmente, era só isso mesmo que eu tinha em mente. – disse ele, virando as costas para a garota, indo na direção da floresta. – Mas com o passar do tempo, eu parei de te ver como uma simples arma destrutiva. Você é um fruto da minha própria filha. Além disso, você é um espírito, pensa e tem aspirações, quer e precisa ser acreditada... E eu jamais poderia abandonar alguém que me compreende tão bem, que não me teme e, acima de tudo... Alguém que eu posso compreender e não temer.

Royena ficou em silêncio, observando-o caminhar calmamente. Não conseguia sequer pensar em uma resposta para tudo que ele dissera. Ele a via como... Como... Alguém. Não era só o respeitoso Espírito da Floresta, uma besta desenfreada de sangue frio, um espírito mal formado, uma híbrida... Ele a via como uma pessoa, e não a temia. Breu ficou por algum tempo observando a orla da floresta.

– Haha, que coisa ridícula, eu te falando isso tudo... Bom, acho que por hoje chega. Adeus Royena, até o próximo treino.

Breu se preparava para mergulhar nas sombras ao mesmo tempo Royena erguia o braço para pedir que ele não fosse, mas ambas as ações foram cortadas por um riso agudo e labaredas, que cercaram Breu repentinamente. Era o início do ataque de Lucien, a partir desse ponto Fada sabia o que acontecera. Ela fechou os olhos e voltou ao seu Palácio, pálida e tremendo.

– Por todos os molares, isso é pior do que eu imaginava! – sussurrou ela.

Sua mente era um turbilhão de idéias, ela vira muita coisa em tão pouco tempo... Breu estava extremamente poderoso, conseguira dominar Royena na forma mais poderosa e agressiva apenas com as mãos! Não poderiam deixa-lo livre enquanto estivesse poderoso dessa forma... E se Royena se juntasse à ele, o que aconteceria? Jamais conseguiriam parar os dois unidos naquela situação. Tinha que falar com os outros guardiões, urgente!


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Notas finais do capítulo

Eu pretendia deixar esse capítulo para depois da luta final contra o Lucien, mas achei que deixaria toda a ação da história concentrada num único trecho - além disso, a Royena ta toda quebrada lol Seria meio ridículo ela levantar curada do além e ir chutar a bunda do Lucien como se nada tivesse acontecido.

Espero que tenham gostado! ^^ Críticas, dúvidas e comentários gerais, comentem por favor! o/ É muito bom receber o feedback de vocês! 83~