Elouise escrita por Twelve


Capítulo 19
Capítulo 19




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–Ora não se meta, Júlia! Achas que sou idiota? Eu vi absolutamente tudo! E olha que te permiti entrar em minha casa... E pra quê? Pra influenciar a minha filha a essa... Essa falta de vergonha! Essa... promiscuidade! Não sei nem como definir um absurdo destes. Meus Deus, Elouise, está fora de si?

–Pai... Eu posso explicar... -disse Elouise se afogando nas próprias lágrimas.

–Tu vai é voltar para casa agora ou te arrasto, se for preciso. Vamos Elouise!

–Mas pai... Eu tenho que ir para o colégio...

–Não vai mais! Com essa daí tu não vai mesmo! -disse o Sr. Paulo apontando pra mim com desdém. Elouise permaneceu parada ao meu lado enxugando as lágrimas com as mãos, titubeando cumprir as ordens do pai, quando ele desistindo de usar as palavras, usou a agressão física, pegando Elouise com bastante força pelo braço e a puxando-a para dentro de casa.

–Vá, Elouise. É melhor... -disse eu tentando amenizar a situação.

–NÃO. EU QUERO IR PRO O COLÉGIO. ME LARGA, PAI!

–Elouise, eu estou mandando! Venha para casa agora!

Descontrolada, Elouise conseguiu soltar-se de seu pai e saiu correndo sem pensar duas vezes. E eu vendo-a fugir, corri atrás para alcança-la. Corremos como se estivéssemos fugindo da morte ou do fim do nosso amor, por isso, não hesitamos e continuamos correndo a mil de mãos dadas. E já longe, ouvimos a voz do Sr. Paulo gritando pra quem quisesse ouvir:

–MEUS, DEUS! A MINHA FILHA ENLOUQUECEU! A MINHA FILHINHA!

Após fugirmos daquele sufoco, ela parou em uma esquina com as mãos no joelho e logo o cabelo negro e liso caiu sobre o rosto.

–Por que tu fizestes isto, Elouise? Teu vai vai te mantar. -disse eu.

–Eu não sei! Se eu fosse com ele naquele momento, seria capaz de eu nunca mais te ver. Eu não poderia ir! Eu não queria...

–Por que tu acha isto?

–O meu pai é muito rigoroso quando está enfurecido. De certo, ele me tiraria da escola e não me deixaria sair, apenas pra não te ver. Ele seria capaz até de fazermos mudar de cidade. Eu não posso deixar isto acontecer, Júlia.

Elouise não suportou dizer tais atitudes tão radicais, porém possíveis de se acontecer, e tornou a chorar nos meus braços. Eu fiquei completamente arrasada. Foi eu que causei tudo aquilo. Eu que fiz Elouise chorar mais uma vez! Eu era um monstro! Por que a beijei? Por que não me controlei? Fiquei tão sem chão, quanto a própria Elouise.

Decidimos não ir para a escola, pois o Sr. Paulo poderia ir procura-la por lá e seria mil vezes pior passar por outro vexame como aquele, na escola na frente de todos. Andamos sem rumo pelas ruas, pensando em alguma maneira de sobrevivermos àquilo. Paramos em uma cafeteria, apenas para sentar, pois estávamos exaustas. Após escolher uma mesa, sentamos e ficamos lá por alguns instantes até que veio uma garçonete:

–Vocês não deveriam está na escola? -disse ela à nós, vendo que estávamos com o uniforme do colégio.

–Deveríamos, mas...

–Passamos aqui para tomar café, porque... esquecemos de tomar em casa... é! -disse Elouise interrompendo-me.

–Ah... E o que vão querer?

Ela anotou nossos pedidos e quando saiu, eu disse sussurrando no ouvido de Elouise:

–Eu não tenho dinheiro...

Logo, ela sussurrou no meu ouvido, dizendo:

–Eu também não!

–E por que tu fizestes o pedido, sua maluca?

–Eu estou cansada... Ela iria nos por para fora.

–Ela irá nos matar se descobrir que não temos dinheiro...

A garçonete, logo veio trazendo nossos pedidos e após vê-la por tudo na mesa, veio-me uma fome devastadora, que até esqueci que não tínhamos dinheiro. Comemos bem devagar para passar o tempo até a cafeteria lotar e a garçonete ir nos esquecendo aos poucos. Quando, finalmente, tínhamos terminado de comer tudo, ficamos conversando por alguns instantes tentando resolver o que iríamos fazer, e decidimos que uma deveria sair primeiro que a outra pra não chamar a atenção da mulher. Elouise disse que iria sair depois de mim e eu não concordei de jeito nenhum! Se a garçonete me visse saindo, iria sobrar pra Elouise. Eu insisti que ela deveria sair primeiro, e então ela concordou.

Após a minha contagem, Elouise saiu porta à fora da cafeteria bem rápido, ela não parou pra olhar para trás e se mandou. A garçonete estava distraída lendo um jornal e com uma xícara de café na mão. Aquela era a hora certa pra eu sair, então não hesitei e me levantei e indo bem rápido em direção a porta de saída. Na mesma hora em que eu ia sair, um homem gordo entrou, fechando a porta com a própria barriga. Aquilo foi o suficiente para tirar a concentração da mulher no jornal e direciona-la diretamente à mim e o homem, cuja barriga era maior que a largura da porta. Ela me viu saindo sem pagar e gritou:

–Ei, volte aqui! Tu não pagaste a conta!

Ignorei-a tentando empurrar o homem, a fim de que saísse do meio da porta. Ele era tão alto e gordo que mal me notara ali empurrando sua barriga. A garçonete tornou a chamar-me a atenção.

–Ei, não saia sem pagar! Segurem esta jovem!

Quando o homem finalmente entendeu o que estava acontecendo, olhou para baixo com dificuldades e lá me viu, desesperada, tentando empurra-lo. Eu olhei para cima e o encarei dizendo-lhe:

–Por favor, senhor! Deixe-me passar!

O homem era tão lento que demorou demais para sair da frente, a garçonete segurou-me pelo braço e não me largou até eu desistir de fugir.

–Dona, eu vou pagar! Eu ia buscar o dinheiro, pois esqueci em casa.

–Sei. Tu ia sair sem pagar! Cadê a aquela japonesinha?

–Ela é chinesa, dona.

–Não importa! É tudo a mesma coisa. Olha, ou tu paga ou chamo a policia. Decida-se.

–Mas dona, eu não tenho dinheiro aqui comigo.

–Deu azar, queridinha. Vou ligar pra policia.

–Ei, espere! Eu pago! -disse o Sr. Gordo.

A garçonete aceitou o dinheiro do Sr. Gordo e me pôs para fora resmungando. E então eu me dirigi a ele dizendo:

–Muito obrigada, Senhor. De verdade!

Ele bagunçou o meu cabelo e disse que já havia feito bastante isso na juventude e que era pra eu tomar mais cuidado. Despedi-me dele e saí em busca de Elouise que desaparecera do nada. Não vendo-a em lugar algum, sentei, pois cansada em uma árvore em frente a uma casa. De repente, senti algo pequeno cair em minha cabeça. Pensei que fosse um besouro e quase enfartei com o susto e nojo do bicho, mas ao constatar que era apenas uma semente da árvore, tranquilizei-me.

Novamente, senti outra semente cair em minha cabeça, e depois mais duas. Aborrecida com aquilo, olhei para árvore e uma semente caiu bem nos meus olhos, fazendo-me fecha-los sem ver o que era. Quando ouvi umas risadas tentando ser controladas, porém inutilmente. Olhei mais uma vez para cima, e pude ver Elouise, lá no alto trepada em galhos. Levantei-me admirada por ela está lá em cima e disse:

–O que tu estás fazendo aí? Enlouqueceu?

Ela, finalmente, soltou a gargalhada e quando conseguiu parar de rir, disse-me:

–Eu estava aqui há um tempão e nada de tu perceber.

–É. E enquanto eu estava te procurando desesperadamente, não é? Não faça mais isso!

–Certo! Me desculpa!

–Tudo bem! Agora desce daí, por gentileza!

–Ah, Não! Está tão legal aqui em cima! Sobe aqui, Júlia! Tem umas frutinhas ótimas!

Hesitei por uns instantes, mas depois subi e ficamos juntas sentadas na árvore, comendo essas tais frutinhas desconhecidas, porém realmente ótimas! Ficamos lá até o sol ficar mais quente e a dona da árvore mandar a gente descer pra não ficarmos doente. Descemos. E novamente ficamos atormentadas por não sabermos para onde ir. Seguimos andando de mãos dadas até o parque Adão&Eva e exaustas, deitamos na relva. O lugar era magnifico! Bem preservado e muito verde. Haviam pessoas fazendo yoga, como também haviam crianças brincando e tudo mais! Era o lugar mais tranquilo e agradável do mundo! Eu olhei para Elouise deitada e a vi contemplar de olhos fechados e sorrindo, a brisa que beijava-lhes o rosto. Estávamos numa sombra de uma árvore gigantesca, e os raios de sol que atravessavam as brechas das folhas, iluminavam o seu rosto, destacando sua beleza!

Contente por tal momento, criei coragem para declarar-me:

–Ei... -disse eu com o braço apoiando a cabeça.

–Hum? -disse Elouise ainda de olhos fechados.

–Eu te amo!

Elouise permaneceu em silêncio e de olhos fechados. Eu esperei que ela me desse alguma resposta, mas nada disse. Pus a cabeça na relva e também fechei os olhos, a fim de sentir também o que ela estava sentindo. Aquilo era realmente bom! Parecia que estávamos nas nuvens de tão relaxante que era. Continuei de olhos fechados, quando fui surpreendida pelos lábios de Elouise tocando os meus. Abri os olhos e vi seu rosto bem próximo ao meu. Seus olhos puxados, sua pele clara e sua franja encostando na minha testa. Me apaixonei de novo ao vê-la. Então, ela sorriu lindamente e disse:

–Eu também te amo! Muito!


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