Elouise escrita por Twelve


Capítulo 13
Capítulo 13




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–Ela está mentindo, Dona Candinha! Nós estamos namorando faz um bom tempo. -disse Isadora me contradizendo sem hesitar. Eu a olhei como se tivesse o dom de fuzilar com os olhos, então ela percebeu tamanho ódio que eu estava sentindo dela e se conteve.

–Filha, eu não tô acreditando nisto. Como que tu me faz uma coisa desta, Júlia? O teu pai vai te matar quando chegar de viagem. Por que tu nunca me contastes um absurdo destes? -disse minha mãe tentando ao máximo ser compreensiva, segurando lágrimas que insistiam em jorrar de seus olhos cansados. Eu não poderia continuar mentindo pra ela. Isso só iria magoa-la ainda mais. Então eu finalmente decidi contar a verdade.

–Mãe, me desculpa, por favor! Eu queria te contar, mas não tive coragem. Me perdoa!

Percebi olhando suas faces que o que ela realmente queria, era que eu continuasse negando e assim ela iria acreditar em mim e por Isadora pra fora de casa, mas eu contei a verdade e ela não estava esperando por isto. Com muito esforço ela tentou segurar suas lágrimas por mais alguns segundos, mas foi inútil. Ela caiu no chão com as mãos sobre o rosto e chorando como um bebê desesperado disse:

–Então é mesmo verdade?! Por que fizestes isto comigo, Júlia? -disse ela chorando em total desespero.

–Me desculpa, mãe! Eu não queria te magoar. Eu simplesmente gosto de garotas. A senhora tem que entender... -Eu me acocorei e tentei abraça-la, mas ela me empurrou com uma força desconhecida que jamais pensei que ela fosse capaz de ter, e pior ainda, usa-la contra mim, sua própria filha.

–Não me toque, sua vadia! Tu sabes que vai pagar pelo erro que tu anda fazendo com esta aí. Deus vai te punir por ir contra as leis divinas. Eu não quero tu em minha casa até desistir desta ideia absurda de viver na perdição. Fora daqui!

–Mas mãe, desde quando tu és tão religiosa, e pior, preconceituosa? Eu não tô mais namorando com a Isadora. Tu não pode me por pra fora. Pra onde que eu vou? -disse eu já me debulhando em lágrimas.

–Eu não quero saber. Eu quero tu saia da minha frente, antes que eu faça algo pior.

–Mas eu não tenho pra onde ir, mãe!

–Júlia! Eu vou dizer só mais esta vez. Saia daqui e não volte até tu tirar esta ideia da cabeça de ser sapatão.

–Eu não sou sapatão. mãe. Eu não vou mais fazer isso, eu prometo! -disse eu me agarrando a ela desesperada.

–Tu estás mentindo pra mim mais uma vez. E me larga! Eu quero que tu sofra pra tu aprender a lição. Vai embora agora, Júlia!

–Não, mãe. Eu não vou...

Eu continuei insistindo pra ficar, porém isso só a irritou mais, então ela segurou o meu pescoço e saiu me levando porta a fora. Ela me empurrou pra calçada e disse pra eu ir pra igreja e pedir perdão a Deus e voltar só quando ele tiver me perdoado. Ela fechou a porta na minha cara e lá de fora eu pude ouvir seus gritos e objetos quebrando.

Sentei na calçada e comecei a chorar. E depois de alguns segundos notei a presença de Isadora assustada no canto na parede. Ela tentou se aproximar de mim, mas eu a olhei fixamente em seus olhos e perguntei:

–Por que tu fez isto comigo? -Ela assustada com seus olhos lacrimejando e seus lábios tremendo, disse titubeando:

–Júlia... Meu Deus, me perdoa!

Ela não respondeu a minha pergunta. Instantaneamente me veio um ódio inexplicável dela e vendo seu belo rosto delicado e assustado e seu corpo frágil, me veio uma terrível vontade de machuca-la, de faze-la sofrer, de descontar todo o ódio que eu estava sentindo dela e daquela situação. Eu logo me levantei da calçada e fiquei a olhando esperando que ela implorasse pra não machuca-la, mas ao contrário disso, ela me abraçou chorando pedindo perdão inúmeras vezes.

Isso, de alguma forma, aumentou ainda mais o meu ódio por ela. Eu queria que ela sentisse medo de mim, talvez assim o meu ódio diminuiria e eu sentira pena dela, mas isso não aconteceu, então eu segurei seus braços tênues e tirei-os de minha cintura e apertei até ficarem roxos. Com isso, eu pude ver em seus olhos o medo que ela teve de mim e isso me deu um certo prazer.

–Júlia, para com isso, por favor. Tá me machucando! -disse ela com uma voz diferente, como se fosse chorar.

–Responda a minha pergunta.

–Q-que pergunta?

–Tu é surda? Por que tu contou tudo sobre nós pra minha mãe?

–E-eu pensei que se eu contasse p-pra ela, ela entenderia e daí nosso namoro se tornaria mais s-sério e tu não me trocaria pela Elouise. Me perdoa, Júlia! Eu te amo muito. Eu não quero te perder! Quando eu te vi na escola com ciúmes daquela idiota, eu pensei que tu não me quisesse mais. Eu não quero te perder...

Quando ela mencionou Elouise, rapidamente meu coração tornou-se sereno e a minha cólera se dissipou. Só em ouvi seu lindo nome, me veio uma tranquilidade e uma força extraordinária. Eu larguei os braços de Isadora e fiquei parada olhando pro chão pensando no que fazer. Enquanto Isadora, aliviada por eu ter largado seus braços, tocava em seus pulsos pra ver se estavam machucados.

–Eu te amo, Júlia! -disse Isadora segurando na ponta da minha camisa.

–Cala a boca! -disse eu tirando sua mão e indo em direção à casa de Elouise.

Meu verdadeiro amor! Ela iria me acolher, com certeza.

Caminhando eu pude escutar Isadora, que deixei pra trás, chorando e chamando meu nome. Confesso que senti pena dela. Pensei em voltar e lhe pedir desculpas por ter sido rude, mas se eu fizesse isso, só tornaria mais difícil fugir dela. Continuei caminhando pelas ruas. Devia ser umas 21:00h da noite. Algumas pessoas que passavam por mim, me olhavam como se estivessem me julgando, me acusando ser o motivo pelo qual minha mãe e Isadora choravam. E eu realmente era.

Na verdade, as pessoas não estavam me julgando, porque elas nem me conheciam, muito menos sabiam do que havia ocorrido comigo. Era o meu "eu" que estava me atormentando. Era eu mesma que me sentia culpada, me sentia um peso na vida de todo mundo. Eu quis voltar e implorar perdão pra duas. Quis deixar Elouise fora disso tudo, já que eu a tinha magoado hoje cedo. Deixa-la em paz seria o mínimo a se fazer. Entretanto eu estava fraca pra reagir, fraca pra encarar de frente e sozinha o caminho mais difícil a se tomar. Eu só queria abraçar Elouise e chorar. Eu só queria me sentir segura e que alguém me dissesse que iria ficar tudo bem.

Então mesmo sabendo que eu poderia magoar Elouise mais uma vez, eu não hesitei e continuei indo ao seu encontro.

Por puro egoísmo!


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