Lembre: Nada É Verdade. escrita por Yagah


Capítulo 12
Traz a bebida que pisca!


Notas iniciais do capítulo

Bem está aí. Sugestões e críticas são bem-vindas :3



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Os três Assassinos pegaram um ônibus, Annie colocou um lenço no rosto com o desenho de uma boca aberta gritando. Connor foi o caminho todo calado, cético, porém esperançoso. Ezio foi olhando para seu reflexo na janela fazendo caretas. E Annie estava com um péssimo pressentimento, ela sentia que aquele ato não seria como os outros. Os garotos perceberam sua tensão, mas não se atreveram a perguntar.

Eles desceram com outros manifestantes em frente à prefeitura, o lugar estava lotado. No dia anterior haviam no máximo 100 pessoas, agora estava lotado, deviam ter mais de 300 naquele ato.

A maior parte do tempo o ato foi pacífico, estavam todos com faixas gritando, alguns entregavam flores aos policiais e foi daí que começou o primeiro tumulto. Um dos policiais se sentiu ofendido quando uma flor lhe foi entregue e ameaçou o manifestante de morte, uma mulher gritou “Eu filmei isso!”. O policial quis prendê-la, a multidão logo fez um círculo em volta dela impedindo-o até que outro PM interferiu tirando o amigo dali.

—São uns desgraçados mesmo. Você está bem? — Annie pergunta à mulher que quase teve sua câmera quebrada.

— Estou. Obrigada a todos.

— Não por isso. — Annie se afasta do local, ela age como se estivesse patrulhando a manifestação, cuidando de cada movimento da PM, sempre seguida de perto pelos garotos. Ela estava séria demais, Ezio e Connor não faziam perguntas apenas seguiam a menina, tentando entender o que se passava na cabeça dela.

— Vocês gostam mesmo de vir nessas coisas? — Pergunta Connor não aguentando o tédio e tem a leve impressão de que iria se arrepender de ter falado, por isso tranca a respiração quando a garota lança um olhar nada simpático por cima do ombro.

— Claro que sim. — Responde Ezio animado, evitando que o amigo levasse um corte daqueles que só garotas sabem dar. Annie volta a olhar para frente e Ezio não consegue conter a curiosidade. — Você está bem?

— Sim. — Annie responde seca sem olhar para trás.

— Está quieta.

— Só estou com um péssimo pressen... — Uma bomba de gás lacrimogêneo cai à três metros deles. A reação de Annie é imediata e inusitada, ela corre em direção a bomba a chuta de volta.

— Vai, vai, vai! — Annie volta correndo empurrando os garotos para longe da PM. A multidão começa a se dispersar, dando a brecha que os policiais precisavam para avançar.

Os manifestantes começam a gritar, às vezes abafados pelo som das bombas de gás, ‘junta’ como um telefone sem fio até que a maioria estivesse reagrupada. Eles permaneceram ali, até que outra saraivada de bombas é lançada. Desta vez alguns Black Blocs se colocara na linha de frente para repelir as bombas.

A Tropa de Choque, até então encoberta pelo cordão da PM, surge correndo como a guarda pretoriana, avançando contra a multidão. Eles não tinham escolha, era correr ou enfrentá-los, o que estava fora de cogitação. Annie percebeu algo errado naquele ataque, não parecia verdadeiro, parecia algo para intimidar os manifestantes, para fazê-los correr.

— Parem! — Annie grita e para de correr, mas sua voz não é nada em comparação ao som dos cassetetes batendo contra os escudos. Ela entendeu a intenção da Tropa: cercá-los. Estava tudo muito confuso para que parassem de correr, estavam todos indo como um bando desgovernado e apavorado de animais para um rio cheio de crocodilos famintos.

Percebendo que ninguém ia parar a garota sai correndo o mais rápido que suas pequenas pernas permitem, passando entre as pessoas completamente desnorteadas, empurrando várias no caminho. Annie tinha de chegar à Tropa de Choque antes que fosse tarde. Ela escutava Ezio e Connor fazendo perguntas e gritando seu nome, mas ignorava.

Finalmente ela toma à dianteira, saindo do meio da confusão. E lá estava a Tropa de Choque, esperando os manifestantes cair em sua armadilha. Annie continua avançando cegamente, Ezio e Connor começam a perguntar: “O que você vai fazer?”, “Annie, para, você está louca?”, mas suas vozes ficavam cada vez mais distantes a medida que ela corria com a rua livre a sua frente. Os policiais olhavam aquela pequena figura correndo em sua direção a toda com um misto de comédia e preocupação, eles prepararam seus escudos para o impacto do corpo dela, mas ele não veio.

Annie saltou por cima dos escudos acertando a cabeça de um policial com uma voadora, o homem caiu inconsciente, fazendo alguns de seus parceiros darem um passo para trás dando espaço suficiente para ela derrubar mais dois, eles estavam surpresos demais para reagir com velocidade suficiente contra a Assassina. Ela estava no meio da Tropa de Choque, cercada por mais de 60 policiais, Annie sabia que não conseguiria sair dali ilesa, precisaria de ajuda. Só esperava que aquela atitude insana desse a coragem necessária para que a multidão avançasse com a mesma fúria.

Depois de três minutos de briga já havia nove policiais no chão, os outros pararam de lutar por um momento e encararam a garota, visivelmente amedrontados.

— Cai dentro! Tá com medo de uma menininha indefesa, porco? — Annie abre os braços incitando os policiais a atacá-la.

Os homens se olham confusos e sem confiança, esperando que um tome a dianteira do ataque. Annie vê que se depender deles ela vai ficar parada ali, mas quando a garota resolve avançar ouve-se um barulho de garrafa quebrando, em seguida um forte clarão. A garota não contém um sorriso ao ver os Black Blocs lançando coquetéis molotov, apesar de achar muito cedo para uma ofensiva como esta.

Os policiais se dispersam sob uma chuva de garrafas em chamas, tentando levar seus companheiros desmaiados, dando o espaço que Annie precisava para sair dali ilesa. Ela corre de volta para a multidão.

— Traz a bebida que pisca! Traz a bebida que pisca, pisca, pisca, pisca! — Grita ela sorrindo ao passar por alguns Black Blocs que a olhavam perplexos com o punho erguido. Estava distraída demais para ver o homem a sua frente, esbarrando nele.

— Você está bem? — Pergunta ele segurando os dois ombros de Annie, não por ter batido nele, mas pelo ataque à Tropa de Choque.

— Melhor impossível, mas suspende o ataque, tem PMerda apagado lá.

A notícia de que havia policiais desmaiados espalhou-se rápido e logo a ofensiva foi suspendida. Agora os manifestantes apenas corriam gritando em direção aos policiais para espantá-los, alguns coquetéis molotov foram jogados contra as viaturas para ter certeza de que eles não voltariam.

— Porcos fardados seus dias estão contados! — Alguém grita no meio da multidão, e logo a massa repete.

— Você está louca? Sabe o quão arriscado foi isso? — Diz Connor enfurecido o mais alto que consegue, mesmo assim sua voz forte é abafada pelo grito da massa.

— Eles iam espancar todo mundo! Eu não podia deixar aqueles porcos fazerem isso!

— Annie, você não pode continuar com seus ataques impulsivos. Pense nas consequências!

— Alguma consequência pior do que um monte de gente inocente sendo espancada?

— E se eles te pegarem? — Diz Connor ignorando o argumento bem colocado da garota.

— Tenho minhas manhas.

Connor e Annie não puderam deixar de notar que o italiano estava mais quieto que o normal (o que não significa que estava quieto) e cabisbaixo. O mohawk sabia o motivo e olhou para Annie pedindo para que não fizesse perguntas.

— Acho que a gente pode até se retirar depois dessa vitória e... — Uma garrafa em chamas passa voando entre eles. — Ei! Toma cuidado com isso!

Annie olha na direção em que o objeto havia sido lançado e vê o motivo: duas câmeras que não pertenciam a mídia alternativa. Em um delas o símbolo da Band e em outra a Rede Globo, a equipe toda foi forçada a sair dali às pressas, com a ajuda da PM.

Depois de expulsarem os policiais e a mídia os manifestantes provaram, a si mesmos e à cidade, que não precisavam de ninguém para fazer a ‘segurança’. Ficaram apenas gritando em frente à prefeitura. No final, quando todos iam se retirar o prefeito apareceu com alguns funcionários que carregavam as caixas de som e seu microfone. As pessoas olhavam curiosas, ninguém esperava por aquilo.

— Boa noite a todos. — Iniciou o prefeito. — Eu só queria dizer que o que vocês fizeram hoje foi INADMISSÍVEL! — Ele falou girando o dedo indicador no ar. — Isso não ficará impune! Vocês acham que são algum tipo de autoridade para fazer isso com os policiais? Seus arruaceiros!

Todos vaiaram o homem, que não pareceu se intimidar ou perder a confiança com a desaprovação da massa. Annie aproveitou os cinco minutos de vaia para pegar o alto-falante de um dos manifestantes.

— Seu prefeito! — Ela grita no equipamento, todos param a vaia ao perceber que aquela voz veio de dentro da massa. — Inadmissível é o estado da nossa saúde, do nosso transporte, das escolas públicas! A gente está aqui para lutar pelos nossos diretos básicos, que você deveria garantir pra gente! A nossa paciência esgotou! E trate de colocar uma mordaça em seus porcos, porque quem começou a violência hoje e ontem não fomos nós! A gente não vai mais abaixar a cabeça pra esses caras, ninguém aqui vai aceitar violência gratuita desses merdas! Tá todo mundo esgotado de abuso de autoridade todo dia!

A massa aplaudiu e começou a gritar “Ei José, vai tomar no cu!”.

— Só o que me faltava levar sermão de pirralha agora. — Ele fala rindo e se retira.

— Vamos ver até quando Vossa Senhoria vai ficar nesse pedestal!

O homem volta com passos pesados à janela.

— Está me ameaçando? Eu posso mandar te prender agora!

— Você acabou de nos ameaçar! Qual a diferença?

— Ora... insolente... — Ele resmunga baixinho no microfone enquanto um secretário o conduz para dentro.

Novamente a massa aplaude e manda o prefeito longe. Annie devolve o alto-falante para o dono que a olha sorrindo.

— Você tem que chamar tanta atenção assim? — Connor pergunta quando entram no ônibus.

— Sim, pra encorajar o pessoal. E foi um desabafo também. Aliás, depois que eu tomar um banho acho que vou fazer uma visitinha ao prefeito.

— O que? — Ezio a olha com os olhos arregalados.

— Ele merece, você vai ver como as coisas vão mudar mais rápido.


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Notas finais do capítulo

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