Darker Days escrita por Emanuel Felix


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

A vingança, não somente, corrompe a alma do ser humano, ela também a aprisiona.



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Um cheiro estranho e amargo me faz despertar. A primeira coisa que vejo é sol se pondo, e um azul celeste, misturado a um tom de laranja forte, começando a tomar conta do céu.

Meus olhos ainda estão um pouco marejados, e minha cabeça ainda dá algumas voltas. Mexo minhas mãos, mas de algum modo, elas estão presas, e percebo imediatamente que meus braços estão nas minhas costas.

Estou na floresta, sentada no chão, com as mãos amarradas em minhas costas, e sinto que há uma árvore atrás de mim. Tento, instintivamente, me arquear para frente, mas algo queima minha barriga, enviando milhares de espinhos de dor para dentro da minha pele.

É a mesma dor de antes, eu sei.

Olho para baixo, e os galhos que queimam estão apertados em volta da minha cintura, e eu sei o nome deles: Verbena. À medida que tento me mover, os galhos parecem pressionar mais minha cintura e eu grito de dor. O sangue jorra.

Olho para o lado desesperada, e Damon está acordando. Possivelmente meu grito funcionou como despertador. Mexo-me, desesperada, e os galhos pressionam novamente minha cintura me fazendo gemer.

Ele desperta e olha para mim com espanto. Seus olhos percorrem minhas roupas manchadas de sangue e depois ele olha para seu próprio corpo. Suas mãos também estão amarradas e há dois galhos de verbena entrelaçados em sua cintura.

Damon se mexe, e geme logo em seguida. Possivelmente, agora, ele já se ligou que se mexer é proibido no momento.

Meu corpo dói tanto, que não consigo falar. Posso ver o desespero no rosto de Damon, ele sacode as mãos na esperança delas se soltarem e ele vir me salvar, como os heróis. Mas Damon nunca foi o herói, ele foi mais que isso.

Não, Damon, não se mova, por favor... Eu ficarei bem.

Damon hesita, sua testa está franzida, e sei que ele está frustrado. Frustrado por não poder pôr-me em seus braços e cuidar das minhas feridas. Ele está frustrado por não poder usar suas habilidades de anos, e por não poder me beijar e dizer que ficará tudo bem…

Ele está frustrado porque ele está submisso ao que quer que tenha feito isso com nós dois. Damon se sente inútil. Ele encosta a cabeça no tronco atrás de nós e encara o céu, derrotado.

— Ficaremos bem — sussurro.

Então, com certa dificuldade, eu giro a cabeça para ver especificadamente onde estamos, e se estamos sozinhos. E eu me arrependo imediatamente. Porém, ao mesmo tempo em que estou triste eu estou feliz por vê-lo, depois de tanto tempo.

Stefan está a uns metros de mim. Ele está desacordado, com os braços, envolta de uma árvore, amarrados com galhos de verbena. Seus pés também estão amarrados, e eu acho que está sentindo dor.

Ele está sem camisa, mas com uma calça meio rasgada, e está mais magro do que a última vez em que eu o vi. Seu rosto está pálido e seus ossos estão marcando ainda mais o rosto, denunciando que ele não tem comido direito.

Seus olhos estão com uma aparência de quem, também não tem dormido. Ele parece estar sofrendo, aos poucos. Tortura. Percebo, então, que há uma listra de sangue fina escorrendo de sua barriga. Alguém o feriu — o mesmo alguém que me prendeu.

Stefan, por favor... Eu imploro, sem poder falar. Stefan, por favor, não esteja sofrendo...

E, como se escutasse meus pensamentos, ele ergue o rosto e percebo que ele não estava desacordado. Seus olhos, cansados e baixos, encaram diretamente os meus, e atrás de todo o seu sofrimento, eu vejo um vislumbre de esperança e de felicidade. Seus lábios estão brancos, e trêmulos. Ele está tentando falar, mas está fraco.

Eu ofego, mexo minhas mãos e meu corpo. Eu quero sair dali, e correr para abraça-lo, para desatar aqueles nós que o estão prendendo, colocá-lo no meu colo e cuidar de seus ferimentos. Eu sinto que estou prestes a chorar. A resposta dolorida dos galhos não são nada perto do que sinto, do que Stefan está sentindo.

Percebo que estou tão frustrada quanto Damon, eu não posso salvar Stefan da dor, e isso aumenta ainda mais a minha dor, que já se espalhou pelo corpo.

O rosto de Stefan cai novamente e ele fecha os olhos, provavelmente, para tentar esquecer a dor. Por um momento imploro para que ele desligue, seria muito mais fácil para ele. Ele não se machucaria tanto.

Olho para Damon e percebo que ele está bem mais fraco que antes, rumo à inconsciência, e tento falar. Os gritos dentro de mim saem como sussurros, tão frios quanto minhas lágrimas, que agora escorrem pelas minhas bochechas.

— Damon, Stefan... — e aceno fraca, com a cabeça.

Damon olha para o lado e fica imóvel. Percebo que um manto de dor e preocupação envolve seu corpo, e o aperta na solidão, na dor de ter que ver o irmão morrendo, lenta e dolorosamente.

— As ervas já estão prontas — é uma voz feminina, e está vindo em nossa direção. A mulher branca vira à direita à nossa frente, e segue um curto caminho até nós e passa por mim e por Damon sem nos olhar.

Eu nunca a vi antes. Seus cabelos são ondulados e ruivos, à altura do ombro. Ela está com uma regata branca sob uma jaqueta de um vinho escuro e vivo. Calças pretas e botas, também, pretas de cano baixo. Ela segura um pote escuro de barro, cheio de ervas, nas mãos.

Sigo-a com os olhos e ela coloca o pote sobre uma pedra, perto de Stefan, e por acidente, seus olhos de um verde ameaçador, encontram os meus. Um sorriso se emoldura em seus lábios vermelhos.

— Olha… Bem-vinda Elena.

Tento falar, e a dor provocada pela verbena está ficando cada vez mais fraca — fraca como meu corpo, que está mole como geleia.

— Quem é você, e bem-vinda...?

Ela sorri.

— Meu nome é Carl. Eu sou uma bruxa. — percebo enquanto ela fala que Damon está tomando mais consciência. Ele encara Carl com espanto. — Seja bem-vindo, Damon.

— Você? O que quer aqui? Desde quando voltou ao mundo dos vivos?

— É um prazer revê-lo, Damon, e antes que me pergunte o que eu quero, eu vou ser bem clara. Eu nuca estive no mundo dos mortos.

Mais rápida que a brisa, ela está de frente para Damon, o encarando profundamente. Seus narizes quase se tocam, e posso ver a fúria em seus olhos.

— Eu vou matar cada um de vocês — ela diz e sorri. Percebo que os galhos apertam mais a cintura de Damon, fazendo-o gemer. Ela está usando algum Poder. — Mas bem, acho que não me apresentei devidamente a vocês, e vou fazer isso melhor, já que é a única coisa que terão antes de morrer.

— Vocês se conhecem? — digo.

— Éramos namorados, há muito tempo atrás... — ela sorri, olhando nos olhos de Damon, e percebo que à medida que ela mergulha nas lembranças, um sentimento bom a toma por inteiro.

Mystic Falls, Virginia 1862.

Carl sorria inocente e feliz. Seu vestido volumoso rosa e brilhante, mal a deixava correr. Mas isso tão pouco importava, quando ela sabia quais os braços que a pegariam.

Ela estava correndo por todo o território da casa dos dois irmãos mais cobiçados da cidade. Os irmãos mais bonitos e que faziam as moças dali ficarem vermelhas: Damon e Stefan Salvatore.

Mas ela só se importava com um, aquele que roubou seu coração e que a deixava sem chão com o sorriso que tinha no rosto: Damon. E ele estava atrás dela, bobo, querendo cair no chão e rolar com ela quando ela tropeçasse no vestido e caísse na grama.

— Eu vou te pegar! — disse Damon, com seu sorriso rasgado.

— Não, não vou deixar! Você não vai me pegar! — ela gritou, mas sabia que estava mentindo para si mesma. Eles sempre fizeram esse joguinho, e o final era sempre os beijos e amasso.

E como Damon previa, e como sempre acontecia, Carl tropeçou no vestido e caiu na grama, e ele caiu logo atrás, em cima dela. O coração de Carl parou, por mais que eles repetissem esse joguinho, ela nunca se acostumaria com o modo com que Damon é capaz de tira-la o ar.

Ela sentia o coração dele sobre o seu, mas não podia sentir o próprio. Ela encarava, derrotada, o rosto de Damon, aqueles olhos azuis ternos seguindo os seus. E mais abaixo, estava os lábios, aqueles lábios rosados que a faziam ofegar.

Ela estava sob o corpo de Damon agora, como um passarinho preso. E ela só se estabilizou novamente, quando os lábios dele tocaram os seus, transmitindo um calor e amor incomparáveis. Ela amava mesmo esse menino, com todas as forças que tinha, com sua própria alma.

— Eu quero ser para sempre seu, assim como você é minha, para sempre. — ele sussurrou nos lábios dela — E eu prometo nunca, nunca, amar outra mulher.

— Ele era realmente meu verdadeiro amor. Estávamos apaixonados. Damon fez milhares de promessas. Prometeu me amar para sempre, sem limites. — de repente seus olhos congelaram — Mas então, ele conheceu Katherine Pierce, e me abandonou... Deixando-me sozinha, com meu amor reprimido, e com minha dor. Então, pode me chamar de lunática, louca, ou qualquer outra coisa que se adapte...

— Você quer vingança. — eu disse seguindo sua linha de raciocínio.

Damon a encarava com uma cara irônica.

— Não é de agora, Elena. Eu tentei me vingar durante todos esses anos. Ninguém nunca soube que eu era uma bruxa, minha família não me permitia contar na época. Mas eu estava furiosa, eu tomei ódio por Damon, e por Katherine Pierce. Ela foi culpada.

“Então, eu resolvi tirar dela o que ela mais amava, assim como ela tirou o que era meu.” Mas, ela amava os dois, e eu precisei levar, consequentemente, o outro junto: Stefan. — ela pausou e olhou para o Stefan fraco por um momento — Eu liguei os três, num feitiço forte. Os três iam morrer. Essa era a minha vingança.

Encarei-a, incrédula.

— Mas eu não dominava meus poderes muito bem. Ao invés de liga-los de modo que se apenas um morresse, consequentemente os outros também morressem, eu os liguei de modo que os três tinham que morrer. Se um sobrevivesse, os outros dois também sobreviveriam. — ela sorriu. — Mas eu não resisti, e num dia qualquer, eu pedi a Katherine que se afastasse de Damon… E ela recusou, comprou uma briga… E venceu.

— O que ela fez?

— Me transformou numa de vocês: Uma vampira suja, que precisa beber sangue de gente inocente para sobreviver. — É claro, a velocidade… E é assim que ela se mantém viva durante todos esses anos. — E isso me fez tomar mais ódio dela ainda. Katherine foi capturada, e eu pensava que seria dessa vez que eu veria minha vingança cumprida…

— Mas ela conseguiu escapar. — eu continuei, imersa, também, na história.

Carl sorri, e é um sorriso sem humor.

— Katherine sempre consegue escapar, é uma fugitiva profissional, tanto é que nestes meus anos de jornada, eu nunca consegui encontra-la. E os irmãos Salvatore, viraram vampiros, e se uniram ainda mais, o que dificultou ainda mais as coisas.

Eu apertei os olhos. Alguma coisa não estava se encaixando.

— Mas então eu percebi que não havia ligado somente Katherine. O feitiço cairia por toda a sua geração, os seja, suas cópias. O que nos traz, a você Elena. Eu precisei refazer o feitiço para conectar você aos Salvatore… O que nos leva ao acidente de seus pais.

Algo clareia minha mente e eu me assusto.

— Não foi somente um acidente, Elena. Foi um sacrífico, para concretizar o feitiço. Seus pais simbolizando os irmãos Salvatore, e você, Katherine. Mas você foi salva, o que novamente, assim como aconteceu com Katherine, atrapalhou a ordem das coisas.

— Então por que você está aqui agora? — digo com uma entonação de raiva na voz.

— Porque eu quero paz, Elena. Minha família me rejeitou durante todos esses anos. Os espíritos me abandonaram. Eu sou um monstro Elena, que precisa completar a vingança que iniciou minha própria destruição… Para ter paz.

Sinto o medo percorrer meus pelos eriçados.

— E então, eu vi uma oportunidade, que finalmente separou os Salvatore. E se cada um está de um lado, e não mais unidos, eu posso pega-los um de cada vez. Silas prendeu Stefan dentro de um cofre. Nesse dia, eu estava lá, vendo tudo. E acredite Elena, eu senti pena. Stefan não merecia isso, ele nunca mereceu tudo isso que criei…

Meus olhos se arregalam e eu tento me mexer. Silas… ele está vivo, novamente.

— Então, eu consegui retirar Stefan do cofre, e o capturei. Desde então, tive que ser um pouco má com ele — vejo um galho de verbena, vindo do chão ordenado pelo Poder dela, enlaçar a barriga de Stefan e ele geme alto. É claro, isso explica a listra de sangue… — E agora, estamos aqui… finalmente para cumprir o sacrifício.

— Não pode fazer isso — eu digo, com a voz tomada por lágrimas, enquanto vejo-a ir até o pote de barro, e pegá-lo. Ela caminha até o centro de onde estamos, e coloca o pote de ervas no chão.

Então ela olha para mim, os olhos estão com um vislumbre de dor.

— Eu preciso Elena, preciso finalmente ser feliz. Eu lamento. Você não merecia isso. Mas os vilões também precisam de um final feliz, Elena.

Ela vira o rosto e ergue os braços.

Inicia-se uma ventania forte. Um círculo de fogo se forma em volta de mim e de Damon, rasgando a terra com força, e percebo que há uma linha de fogo, que liga o círculo onde está Stefan, ao meu.

Relâmpagos intensos iluminam meu rosto. Não, ela não pode…

Ela tira uma faca do bolso de trás da calça e corta a palma da mão. O sangue escorre e goteja, em cima das ervas. Palavras estranhas saem de seus lábios, enquanto de olhos fechados ela se concentra cada vez mais.

Sinto um soco dentro de mim, como se estivessem batendo em minha alma. Escuto Damon gritar e Stefan berra ainda mais alto. Está acontecendo o mesmo com eles. À medida que as chamas e a ventania se tornam mais intensas, percebo que nossas dores vão se agravando.

E eu sei que ela está iniciando o sacrífico.

— Elena, — diz Damon com dificuldade, por sobre o barulho do vento. Seu rosto denuncia todo seu sofrimento — seja qual for o final de toda essa loucura, saiba que eu a amo.


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