Darker Days escrita por Emanuel Felix


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/427449/chapter/3

Num instante eu estava de pé, no meio do corredor, onde a iluminação fazia um círculo, deixando bordas sombrias à minha volta e meu corpo centralizado na luz. Meu mundo girando, meus reflexos prontos e meus sentidos aguçados. Eu estava armada com meu próprio corpo.

Algo escorre da minha bochecha, algo espesso e incomodante. Passo o dedo por sobre a pele, ciente do que estou por ver. Uma gota de sangue escorre do meu dedo e cai no chão. Eu estava machucada.

Ugh. Deve ter sido a pancada muito forte na parede...

Mas como era possível? Eu não conseguia sentir a presença do que quer tivesse me atingido... Ou mãos me agarrando. Era como se a pessoa não pudesse ser sentida, como se... Estivesse morta. Bonnie jamais faria isso. Ela jamais faria alguma coisa para me machucar.

— Seja lá o que você for, apareça! Saia da escuridão! — minha voz atravessa a névoa sombria e faz ecos, através dos corredores, adiante de mim.

Meus olhos cautelosos e ansiosos procuram formas e meus ouvidos estão atrás de qualquer ruído, mas não há nada! Meu coração na boca, o medo sombrio e gélido formando camadas maiores em volta dele, à medida que ele bombeia sangue para o meu corpo, para a ferida.

Permaneci, um momento, parada, ainda encarando a escuridão, esperando por mais um golpe vindo de uma direção diferente, mas não veio. Nada veio. Não havia mais ninguém ali, ou algo, além de mim.

Estabilizando minha respiração e tentando assimilar a situação eu me virei e havia algo à minha frente. Eu pulei com o susto e meus olhos se arregalaram.

Havia sangue escorrendo na parede, porém não estava simplesmente esparramado, ele estava estrategicamente formando palavras. Choque percorreu meus ossos, eletrizando cada canto de mim, queimando como ferro derretido.

O fim está próximo

As letras bestiais desenhadas com sangue estavam repletas de ameaça, mas também de aviso. Não, aquele não era o meu sangue, eu não havia batido naquela parede… Então como isto foi parar lá? O fim está próximo, um sopro poluiu minha mente com essa frase, novamente, enquanto eu encarava ainda, incrédula e intacta, o sangue jorrar na parede clara diante de mim.

O ar esvaindo-se de meus pulmões, a eletrizante onda de medo e adrenalina enviando diversas camadas de alerta para todo o meu corpo. Dou dois passos para trás, na esperança de achar o caminho de volta, enquanto eu tento me distanciar daquele momento sombrio.

Esbarro em algo atrás de mim, e equivocadamente já estou em cima do que quer que esteja ali. Agarro o que acho ser o pescoço, com força, e me ataco contra a parede, fortemente. Só então, eu posso olhar para o rosto de quem era.

Mas foi uma surpresa. Olhos estavam arregalados em minha direção, ondas de “você está louca” jorravam entre mim e ela. Seus cabelos bagunçados denunciavam que ela estava espantada, e que havia acabado de levantar da cama.

Caroline.

Sinto um incomodo, se alojando no lugar do medo. Solto meus braços do corpo dela, e passo a palma da minha mão direita no lado machucado do rosto. Não, não pode ser! O machucado não está lá! Como assim? Minha pele está lisa e macia. Cadê aquele estrago que me lembraria desse ataque?

Olho rapidamente para a outra parede, atrás de mim, e não há nenhuma frase estranha escrita com sangue. Pelo contrário, ela permanece limpa como nunca esteve antes. Que irônico, eu jurava que...

— Elena! — grita Caroline, eu pulo. Finalmente ela se deu conta de que estava acordada. Olho para ela, intimidada, ciente de que estou definitivamente louca — O que está havendo?

Olho para o chão, e me sinto envergonhada ainda mais. O que diabos eu estava, então, fazendo ali? Será mesmo que fui atacada, ou tudo aquilo foi alucinação, como aparentava ter sido também meu machucado e toda a parede manchada?

— Eu posso te perguntar a mesma coisa — digo tentando, de um modo falho, desviar o foco da conversa.

Ela ergueu uma sobrancelha e fez aquela carinha, aquela de mais cedo de quem vai gritar mil coisas para mim e depois se arrepender. Aquela carinha de quem merecia saber toda a verdade.

Espero ansiosa, com os ouvidos preparados, os gritos. Sua sobrancelha é erguida, seus olhos congelam logo abaixo, e eu sei que é agora. Espero, espero e espero, mas nada vem, nem sequer um ruído. Olho, impassível, para ela, que está com o rosto bem relaxado e me fitando docemente.

— Eu sei que tem alguma coisa de muito errado acontecendo, Elena — tento manter a atenção nela, tentando esquecer os sons, o sangue e todo aquele assunto de ataque — Eu levantei porque vi que você não estava na cama, e não sei... — Ela pausou e tomou ar profundamente antes de continuar. — Você está estranha.

Os dedos dela estão acariciando meu cotovelo. Faço que sim com a cabeça, sem poder negar.

— Mas não vamos discutir isso agora, está bem tarde. Mas quando amanhecer, você já sabe. — Ela lança um sorriso sem dentes em minha direção e, por um momento, me sinto confortável, sinto nossos laços de amizade nos envolvendo no meio de toda aquela escuridão. É tão forte, quase palpável.

Eu sorrio para ela, e Caroline me puxa para seu corpo. Seu braço fecha meu corpo no seu, e isso me dá uma sensação de maior segurança, de que não estou sozinha — como mamãe fazia e como Damon faz. Ah, como eu queria que esses dois estivessem aqui agora!

Antes de seguirmos, olho para trás. E lá está a parede encharcada de sangue, e O fim está próximo, escorrendo pela cor branca, volta a me assombrar. Sinto um arrepio que percorre do meu corpo até os abismos mais profundos da minha alma. Quando amanhecer, lembro as palavras de Caroline, eu penso nisso tudo.

E virando o rosto, deixo que a loira me leve para a cama, deixando toda aquele sangue ameaçador atrás de mim.

Deve ser hora do almoço, pois o sol está no meio do céu, lançando fortes raios dourados através das janelas do meu quarto.

Caroline está no meu colo, chorando. Meus braços estão envolvendo seu corpo, tentando sustenta-la. Ela teve uma reação tão horrível quanto a minha. Ela está soluçando, soluçando muito, as lágrimas não a deixam falar.

Levanto seu corpo, e a abraço. Ela está precisando tanto quanto eu, como eu precisei, como eu estou precisando. Não aguento ver minha amiga desse jeito, e percebo que também não consigo suportar essa ferida não cicatrizada dentro de mim.

— Bonnie não pode estar morta, Elena — ela disse nos meus cabelos, e eu a apertei forte, me entregando também à dor.

E lá estávamos nós duas, sentadas na cama, mais necessitadas uma da outra do que nunca, enquanto tudo o que conseguíamos fazer era nos abraçar e chorar cada vez mais pela dor da perda. A dor estava tão profunda, fazendo parte de nós duas.

— Vai ficar tudo bem, Caroline — minha voz saiu fraca. Sim, era definitivamente mentira. Bonnie jamais poderia ser esquecida, e essa dor, aqui dentro do meu peito, jamais seria curada. Iria doer todas as vezes que eu lembrasse o rostinho moreno, das bobeiras que contávamos e das nossas conversas.

— É tudo o que mais quero agora, Elena, ficar bem. — ela me apertou forte.

— É tudo o que mais queremos. — afundei meu rosto em seu ombro e deixei que a tristeza nos conduzisse.

É sábado. Minhas malas estão prontas e já no porta-malas.

Estou encostada no carro, e Caroline está se despedindo de mim. Ela ainda está abatida e abruptamente pálida, os olhos manchados de roxo. Ela tem chorado muito, e mesmo que em silêncio, eu consegui escuta-la, todas as noites, enquanto ela pensava que eu, finalmente, já havia dormido.

— Espero que fique bem, Caroline. — digo antes de solta-la, meus dedos ainda escorrendo pelos seus, enquanto a última lembrança de seus choros cruza minha mente.

— Eu vou ficar bem, e você também. — ela me olha impassível e tenta erguer um sorriso. — Aproveita bastante, namore bastante, beije bastante… Viva bastante. — e sei que a última frase é referente à Bonnie.

Faço que sim com a cabeça e ergo meu rosto para abrir um sorriso. Tento sentir a brisa batendo no meu rosto, tento sentir os raios de sol atravessando meus poros, tento fortalecer meus ossos depois dessa semana dolorosa e estranha. A vida continua.

— Depois vou ver minha mãe — ela diz com um sorriso, mas uma névoa tensa atravessa seu rosto — Contar as notícias. — outra vez Bonnie.

— Ei — aperto seus dedos. Ela olha para mim. — Vai ficar tudo bem, ok?

— Claro, vai sim. — sua voz é um sussurro esperançoso.

Ela me dá mais um abraço. Eu gemo com o aperto forte.

— Bem, acho que as Barbies já tiveram tempo o suficiente para se despedirem. — escuto a voz de Damon, e o olho por sobre o ombro de Caroline, com uma carranca. Esses são modos de tratar damas tristes e abatidas, que estão passando por uma fase de luto?

Damon está vindo em nossa direção, as chaves do carro girando em seus dedos, com o sorriso mais largo do mundo. Os olhos de leopardo estão fixos em mim, apertados, e seus cabelos escuros estão caindo em ondas em volta do rosto magro.

Ele está com uma blusa de um azul vivo, que fica definindo seu corpo não tão musculoso. As calças jeans, como sempre, caindo num tom clássico, seguidas dos sapatos, igualmente, clássicos.

Caroline me solta, e Damon se põe do meu lado.

— Tchau, Elena. — ela diz sorrindo. Então, olha para Damon e sua expressão se torna gélida. — Tchau, Damon — ela diz secamente e se retira.

Ele balança os dedos no ar e depois fica de frente para mim. Olho para ele, ele está me encarando com um rosto intrigado. Um arrepio percorre minha coluna, quando suas mãos marcam minha cintura e ele me puxa para si.

Ele me dá um beijinho rápido nos lábios.

— Está tudo bem? — ele pergunta, mordendo meu lábio inferior. Ele me envolve em seus braços, me embalando, como um bebê.

— Caroline tem reagido de uma forma pior do que eu imaginava em relação à morte de Bonnie. Eu estou realmente preocupada com ela.

— Relaxa, ela vai ficar bem.

Olho para ele, erguendo uma sobrancelha.

— Damon, estamos falando de Bonnie, ela é realmente importante.

— Eu sei meu amor, eu sei. — ele coloca uma mecha de cabelo meu atrás da minha orelha. — Mas vai ficar tudo bem, eu tenho certeza. E tenho certeza, também, que a bruxinha não ia querer vocês desse jeito, tão para baixo.

Faço beicinho, com um sorriso se emoldurando logo abaixo dos lábios. Posso, também, sentir o sorriso dele logo abaixo de seus lábios, que cobrem os meus.

— Eu te amo. Ok? — eu digo e minhas mãos estão envoltas em seu rosto pálido. Estou olhando profundamente em seus olhos azuis, e posso ver que ele está profundamente preocupado com alguma coisa, que não sei o que é. Sei que ele tenta disfarçar.

Ele faz que sim com a cabeça.

— Damon, tem alguma coisa errada? — pergunto. Ah Meu Deus, será que é algo com Jeremy? Como ele foi recebido na escola depois de ter sido considerado morto?

Ele respira fundo por um momento, e depois ergue meus dedos, beijando cada um deles. A cada beijo eu sinto meu corpo se arqueando. Mesmo com os lábios ocupados, seus olhos permanecem fixos em mim, atentos. Ai, ele é tão sexy...

— Não tem nada errado, Elena — ele diz depois de acabar a atividade tentadora — Mas vai ficar se não entramos nesse carro agora e formos para nossa casa.

Nossa casa! Uau! Nem me acostumei ainda com essa ideia. Deveria ser ainda considerada a mansão Salvatore, não é? Ergo uma sobrancelha para ele, e, como sempre, um sorriso nesse momento é inevitável.

Entro no carro, e ele permanece me olhando, enquanto ainda me ajeito no banco do carona e coloco o cinto. Ele se arqueia em minha direção, ainda com as mãos no volante, e me dá outro beijo rápido.

— Então, aí vamos nós. — Ele diz e gira a chave. O motor ronca forte, e o carro se movimenta. Aí vamos nós Mansão Salvatore, ou devo dizer, Lar Elena e Damon!

Damon está concentrado, seus olhos mal piscam. Desde que iniciamos o trajeto ele não disse uma palavra e nem eu. Eu devia puxar algum assunto? Eu tenho tanta coisa para contar, acho estranho ele não ter perguntado como havia sido minha primeira semana. Lembro-me, então, de seu rosto preocupado minutos atrás. Será que Damon está escondendo algo de mim?

Depois de encarar seu perfil, olho para a janela. Os pinheiros, correndo a toda velocidade diante de mim, são borrões esverdeados. O sol está brilhando em Mystic Falls, mas nuvens parecem estar se aproximando a Leste.

Encarando, ainda, a pista cercada pelos pinheiros, sinto algo dentro de mim — uma pontada, forte, que me faz ficar arrepiada. É uma sensação estranha, de perda, a mesma sensação que eu estava na manhã do meu primeiro dia na Whitmore, a mesma sensação que me perseguiu durante toda a semana.

Por um momento, penso que foi tudo aquilo que aconteceu em minha primeira noite, aquele suposto ataque. Acho que eu estava meio que acordada, meio que dormindo. Pensei nisso a semana toda e não vejo outra resposta. Não contei nada a Caroline sobre, e nem a Damon. E não vou contar! Que bobeira! Eu estava dormindo e pronto!

Mas também... Há Stefan. Ele não mandou notícias. Será que devo perguntar algo a Damon?

— Algo errado? — a voz de Damon me traz de volta de meus pensamentos. Olho para ele, e aprecio sua grande habilidade de me conhecer, e conhecer minha inquietude.

Bem, Damon, tem sim. Mas como posso te perguntar onde está Stefan, ou se tem notícias dele, sem te machucar?

— Damon, tem algo errado? Você está em silêncio desde que esse carro está rodando e está estranho.

Ele respira fundo e faz uma carranca, torcendo os lábios. Mas ele não me engana. Faço beicinho e estreito os olhos. É melhor você contar Damon Salvatore!

Ele respira mais uma vez e seus olhos parecem inquietos, como a ansiedade que está saltando nas minhas veias. Logo depois, as palavras junto com o ar de seus pulmões, saem calmas e serenas, mas cheias de preocupação.

— Estou preocupado com o Stefan, ele simplesmente desapareceu, não mandou notícias durante todo esse tempo... — ele parece sufocado e se interrompe. Há um lampejo de lágrimas em seus olhos — Não atende os telefonemas.

Ah, Damon! Por um momento, lágrimas enchem meus olhos. Apesar de todo o ódio que os dois pensam sentir um do outro, os laços familiares ainda os envolvem, e define o contraste da capacidade mais doce do ser humano: amar. Eles se amam.

Não sei o que falar, eu não tenho o que falar. Só sei que também estou preocupada. Algo, de repente, atinge meus pensamentos — meus sonhos, esquisitos, que tive durante toda a semana e que nunca lembro quando acordo.

— Damon, eu tenho tido sonhos tão estranhos.

Ele ergue uma sobrancelha.

— E com o que?

— Eu não sei — tento buscar lembranças no fundo dos abismos mais profundos dos meus pensamentos, mas não encontro nada. — Eu não consigo me lembrar. Eu só consigo lembrar o medo, angústia e pavor...

— Vamos parar aqui para abastecer. — Damon diz e me sinto ignorada. Sinto o carro parar e Damon sai do carro logo em seguida. Sei que não preciso sair.

Olho pela janela, e Damon está conversando com uma mulher. Ela é de estatura mediana, morena, e está de uniforme e boné. Provavelmente é funcionária do posto de gasolina. Relaxo meu corpo no banco do carona e fecho os olhos. Bem, o jeito é esperar.

Damon está demorando. Não escuto ruído nenhum lá fora. Olho pela janela mas, pelo retângulo, não consigo ver ninguém.

— Damon! — eu chamo e não ouço uma resposta — Damon! — chamo e não há uma resposta. Sinto uma pontada ruim atravessando meu peito como uma estaca. Há algo de muito errado acontecendo!

Abro a porta do carro. Olho em volta, ainda com os braços repousando na porta aberta, mas meus olhos não encontram ninguém, nem carros transitando na rua. Fecho a porta e decido dar a volta.

De repente, minhas botas esbarram em algo... Oh! Meu Deus! Damon está caído de bruços, desacordado, ao lado da roda traseira esquerda. Lágrimas embrulham meu estômago, porém, antes que eu possa chamar seu nome, sinto uma pontada forte, porém, dessa vez, é uma pontada física, na minha pele.

Algo está penetrando arduamente minhas veias, está queimando, latejando, e transmitindo ondas de dor a todo o meu corpo. Eu reconheço esta dor que me faz arquejar, eu reconheço essa queimação tão profunda — Verbena — E eu tenho certeza de que fizeram a mesma coisa com meu namorado desacordado.

Meus olhos estão fechando aos poucos, eu não posso lutar, não tenho forças para permanecer de pé. E, então, a única coisa da qual eu consigo lembrar antes da inconsciência me dominar completamente, é de que estou desfalecendo, caindo, em cima do corpo de Damon.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Darker Days" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.