Darker Days escrita por Emanuel Felix


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

"O que é estar feliz? Sorrir quando, na verdade, seu coração está triste? Talvez, ser feliz, seja um termo inadequado para o nosso conceito pequeno de alegria"



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— Elena, está sentindo?

A voz entusiasmada de Caroline arrancou-me de meu devaneio. Eu virei o rosto para olha-la. Ela fitava a estrada concentrada, dirigindo como ninguém. Ela realmente estava entusiasmada para o nosso primeiro dia.

— Ãn? O quê?

Ela arfou e revirou os olhos.

— O que está acontecendo, Elena? — ela fez um biquinho. Havia preocupação em seu tom.

Silêncio.

— Eu só estou…

— Preocupada? — ela sugeriu e eu sabia que era isso. Muita preocupação. Eu abaixei os olhos para olhar para minhas mãos pálidas. — Com Stefan?

Preocupada com Stefan, essas palavras cortaram tão profundamente dentro de mim que, meu coração pulou. Só então eu percebi que havia uma ferida, não cicatrizada, dentro do peito. Isso me lembrou, também, que Stefan não havia mandado notícias durante todos esses dias e o porquê ele estava nessa de ignorar.

Sua culpa, algo dentro de mim sussurrou friamente.

— Bom… — as palavras não saíam da forma com que eu queria. Eu não queria dar a entender que estava com aquele tipo de saudade de Stefan, eu não queria ter que cometer o erro de deixar algo mal entendido e estragar tudo com meu… namorado. — Também.

Caroline me encarou mais uma vez antes de voltar a fitar a estrada. Por um momento, ficamos caladas, e a única coisa que podíamos escutar era os pneus do carro no asfalto. Eu voltei a encarar a janela, percebendo como esses dias em Mystic Falls têm sido calmos… Calmos demais.

— E como você está? — ela perguntou. — Com Damon?

— Ah, você sabe… estou feliz com ele. — Eu disse e a vi revirar os olhos.

— Olha só, Elena, não vou dizer que acho Damon a melhor pessoa para você — ela disse secamente, mas respirou antes que eu pudesse falar e continuou. — Mas se é ele que te faz feliz, tudo bem, eu a apoio.

Eu olhei para frente, enquanto ela olhava para mim. Eu não queria ter que encarar seus olhos. Eu balancei a cabeça assentindo suas palavras e voltei a fitar meus dedos. Mas por que eu estava tão… para baixo? Eu devia estar feliz — estou indo para a faculdade, é um dia lindo e em paz em Mystic Falls, tenho um namorado que me completa e Jeremy voltou, mas… Bonnie está morta e eu sei que não contei a Caroline ainda, eu não sei se é o certo a fazer. Tomara que ela não toque no assunto. Eu tento no nível máximo permanecer calada para não chamar mais atenção.

— Mas então, como está Bonnie? Tem falado com ela? Eu ligo para ela e só cai na Caixa Postal, aquele aparelho velho que ela chama de celular deve estar com defeito.

Droga. Permaneço em silêncio e Caroline chama meu nome. Suspeito que ela está começando a desconfiar de alguma coisa. Olho para ela, e sua testa franze, assim como fazem as sobrancelhas.

— Bem, Caroline — eu suspiro colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha. Como dizer Sua melhor amiga morreu? Eu olho para frente e encaro a estrada diante de nós. — Sobre Bonnie… Caroline, cuidado! — eu grito.

Algo aparece na frente do carro como um relâmpago. Uma pessoa com o rosto furioso e um pouco preocupado, com os olhos sombrios e brilhando em minha direção, como se querendo me fulminar ou… comunicar alguma coisa, mas foi tão de repente, e agora já havia desparecido. Era ela, era mesmo ela.

Bonnie.

O carro girou. Os pneus chiando alto e queimando o asfalto. Caroline respirou fundo, tentando se estabilizar, enquanto o carro também se estabilizava e ficava parado. Meu coração na boca, meu sangue latejando forte nos meus ouvidos, enquanto a lembrança da imagem de Bonnie ainda estava presa nos meus olhos.

Minha boca aberta, buscando fôlego, assim como a de Caroline. Oh, Meu Deus. Será que Caroline também viu Bonnie? Também viu a forma como ela me encarava? Viu aquele tom mais escuro em seu olhar?

Olhei para ela, que estava empalidecida, esperando uma reação.

— Elena, o que foi? — sua voz ainda estava se estabilizando do meu grito. Ufa, ela não viu…

Eu busquei mais ar, e procurei o corpo minúsculo na estrada, mas não estava mais lá. Será mesmo que ela apareceu para mim? Ou eu apenas chorei muito ontem à noite que agora estava tão perturbada a esse ponto? Nossa, devia mesmo ser…

Eu engoli em seco antes de encarar os olhos espantados de Caroline novamente. Eu rolei meus olhos para seu corpo — para sua jaqueta branca cobrindo a blusinha fina verde de alcinha, para sua calça jeans seguida de suas botas marrons e sem salto — antes de voltar para o rosto assustado.

— Caroline, — ainda faltava um pouco de ar nos meus pulmões — nós precisamos conversar. Sobre Bonnie. Mas por favor, não agora.

Vi ela franzir a testa novamente. Ela não ia concordar e eu fechei as mãos num gesto de imploração — Por favor. Por favor. Por favor.

Ela fez uma cara séria e preocupada para mim enquanto colocava o pé no acelerador novamente. — Olha só, Elena. Você está estranha, e com certeza tem alguma coisa acontecendo. Mas tudo bem, eu vou esperar. Você sabe o que faz.

Nossa, que alívio.

— Obrigada.

Caroline fez beicinho, e eu tinha certeza de que seus pensamentos insistiam para ela continuar o interrogatório, mas eu estava segura de que ela não voltaria atrás em suas palavras. Pelo menos eu teria um bom início de aula na faculdade, sem choros ou tristezas além do meu choro e da minha tristeza.

Afinal, se Bonnie estivesse aqui ela ia querer nos ver sorrindo. Jeremy mesmo disse que ela queria que ele inventasse uma mentira para encobrir sua morte. Bom, Caroline teria que esperar mais um dia, isso seria desejo de Bonnie.

Mas por que ela quase causou um acidente agorinha? Por que ela estava com aquelas feições? Com aqueles olhos? Porra, não era ela, é tudo sua imaginação! Eu tento convencer meus pensamentos disso, mas eu sei que, no fundo, eu vou pensar nisso o dia todo. Adeus primeiro dia de aula feliz!

Pinheiros cercam todo o território da Whitmore, e os raios de sol bailam em volta deles projetando sombras em diversas direções. Meu corpo vai para frente, quando o carro desacelera totalmente e para.

Olho pela janela direita. Pessoas estão felizes, com seus fones de ouvido, com seus montes de cadernos nas mãos, com seus namorados e sorrisos, com seus pulos e seus amigos. Eu devia estar assim também, ainda lembro o primeiro dia de colegial, eu era uma dessas pessoas felizes e empolgadas, mas hoje…

Abro a porta e desço do carro tentando afastar os momentos do passado. Tenho certeza que estou bem vestida no meu suéter rosa-vinho, na minha calça jeans esbranquiçada e nas minhas botas claras de cano baixo. Os olhares dos meninos à minha volta me seguem confirmando, mais ainda, que eu estou bem preparada. Então percebo, também, que eles sabem assobiar. Onde está aquela Elena de All Star e lesada? Está morta.

Inspiro fundo quando Caroline para de frente para mim e sorri.

— Preparada? Vamos recomeçar Elena. A vida a partir daqui vai ser diferente, eu sinto isso. — ela pula e respira fundo. — Vamos lá?

Eu faço que sim com a cabeça e num instante não estamos mais paradas. Estamos desfilando do estacionamento da Whitmore para o pátio central, os cabelos esvoaçando expostos ao dia ensolarado, porém, não quente. Mantenho meus olhos fixos no prédio principal à distância, enquanto mais olhos masculinos me seguem e lábios se franzem num assobio.

Tudo isso é para mim ou para Caroline? Eles não sabem como meu namorado é furioso, eu rio com o pensamento oportuno.

Depois da longa passarela que parece ter sido formada sob nossos pés, eu e Caroline chegamos, estamos de frente ao pátio principal, onde ficamos paradas. Caroline sorri. Há uma fonte bem em nossa frente, jorrando uma água bem cristalina, pessoas estão sentadas nas beiradas de pedra, conversando freneticamente, com os olhos em nós duas.

Do lado direito, há um jardim lindo, apesar de não ter muitas flores. O gramado é realmente uma tentação para descansar. Há diversos prédios para mais adiante de nós espalhados, estrategicamente, pelo campus. Qual a extensão dessa faculdade?

— Elena, todos estão nos olhando — diz Caroline sorrindo e satisfeita. Ah, como se eu não soubesse! Eu olho por sobre seu ombro e um menino bem bonitinho sorri para mim. Ele lembra-me Damon, mas não é ele. Eu bem queria que Damon viesse aqui me visitar nesse primeiro dia.

— Sim, já percebi. — eu sorrio de volta tentando fingir que também estou empolgada e feliz com os olhares de cobiça demasiados sobre nós, e ah, os olhares furiosos de inveja das meninas também.

A testa de Caroline franze e eu tenho certeza de que ela percebeu minha empolgação falsa e minha contínua preocupação interna. Lembro-me que não posso conta-la agora sobre Bonnie e tento tomar algum assunto para desviar uma conversa propícia a lágrimas.

— Bem, vamos entrar agora? — Eu dou um pulo, tentando por, novamente, a felicidade no rosto.

— Deve ter uns gatinhos lá dentro. Vamos pega-los! — Ela pisca e sorri. Seus dentes brancos lindos brilham na luz. Ela segura minha mão e eu sei, pela primeira vez no dia, que ela está tentando, também, esconder uma tristeza: A partida de Klaus.

Barulho, gargalhadas e tudo o que traduz a felicidade de alguém, define o que eu escutei assim que saí de minha primeira aula. As pessoas realmente estavam felizes, estão felizes. Elas chegaram onde, um dia, sonharam em estar.

E eu também...

Porém, eu não podia compartilhar mais de um sorriso. Eu estava tão preocupada com alguma coisa que eu não sabia o que era. A princípio eu pensei que estava atormentada demais com a suposta aparição de Bonnie, mas, depois, isso desapareceu do meu peito e a dor permaneceu.

Preocupada com Stefan, as palavras se iluminaram dentro de mim e um lado do meu coração desfaleceu com essa possibilidade importuna. Eu respirei fundo para me manter de pé ao lado de Caroline, enquanto estávamos andando de um dos corredores até a saída. Ela acompanhada de umas patricinhas bajuladoras.

Não, não era isso... Não era preocupação com Stefan... Não exatamente. Não era amor, mas também não eram saudades dele. Era algo estranha e intensamente mais forte, mas sem sentimento ou sentido algum. Era como se faltasse uma parte de mim, como se a todo o momento eu estivesse perdendo minha outra metade.

Caroline estava conversando aos montes com as outras alunas de nossa turma do primeiro tempo, enquanto eu estava distraída. Bem, fazer colegas, se socializar. Eu devia estar fazendo isso, mas agora estou estranhamente triste demais para fazê-lo. Eu sabia que não ia conseguir fingir estar bem.

Ai!

Caroline me beliscou e eu voltei à terra firme, e só então percebi que ela não estava mais com as prováveis futuras colegas. Eu não ia escapar dessa vez. Ela estava com os olhos arregalados, a testa franzida e seu pé direito batia constantemente no chão.

— Elena, o que foi? — sua voz não parecia tão assustadora quanto sua expressão.

— Caroline, — eu arfei. Meus olhos procurando algum ponto fixo em seu rosto — É complicado.

Ela piscou forte e seus lábios se apertaram numa linha rígida. Eu conheço esse jeitinho... Ouvidos, vocês estão preparados?

— Como é complicado? O que é complicado? Hoje é nosso primeiro dia na faculdade, devíamos estar felizes, mas você veio toda estranha no carro, deu aquele grito, e permaneceu desse jeito o dia todo! Preciso saber o que é Elena, se não quiser causar uma intriga comigo, como quase fez com o assunto “Bonnie”!

Engoli em seco e permaneci em silêncio por um momento. Percebi ela inspirar fortemente, o ar de raiva se esvaindo de seus pulmões. Sua mão segurou meus dedos e os apertaram num gesto delicado de desculpa. Ela se arrependeu de como me tratou.

— Bem, Caroline... — eu disse, mas me interrompi imediatamente, quando braços envolveram minha cintura por trás e lábios beijaram minha orelha direita, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo. Minha mão escorreu da de Caroline e ele virou meu corpo e o colocou dentro do seu. Os braços me protegendo.

Damon. Salvou-me de Caroline!

Eu sorri, e era só isso que eu conseguia fazer. Eu queria, naquela mesma hora, taca-lo numa cama. Seu cabelo estava despenteado, a blusa vinho de manga dando um contraste ainda maior à sua pele e modelando seu corpo. As calças jeans dando o tom impecável, seguidas dos sapatos clássicos.

Ele beijou meus lábios fortemente e eu fiquei envergonhada por Caroline bem atrás de mim.

— Não se preocupe, ela não está mais aqui — disse Damon nos meus lábios sorrindo e eu virei o rosto para checar e ele estava certo. Sorri nos seus lábios em resposta. Ele me conhece tanto.

— Eu te amo. — fitei seus olhos azuis apaixonantes e fiquei em silêncio antes de continuar. — O que faz aqui?

Tentei me afastar, mas sua mão ainda na minha cintura não me deixou fugir, e ele me puxou para mais perto.

— Acha mesmo que eu ia faltar no seu primeiro dia? — trilhei com meus dedos uma linha em seu lábio inferior enquanto ele falava. — Também trouxe algumas coisas que acho que vai precisar... Se é que me entende? — ele piscou.

Bolsas de sangue roubadas. Sorrio.

— Parabéns, você conseguiu. Está onde sempre sonhou estar — Damon me prendeu em seu corpo, seus braços as melhores algemas. Minhas mãos, dessa vez, subiram para seus cabelos, que eu puxei, enrolei e acariciei.

— E estou com a pessoa que sempre sonhei estar. Com a pessoa que me transformou em alguém mais viva, deixando a sombra de quem eu era para trás. A pessoa que me faz feliz todos os dias, e com todos os defeitos... A pessoa que eu não deixo de amar.

Ele me beijou e eu fiquei na ponta dos pés.

— Não temos um quarto aqui, mocinha? Preciso hipnotizar uns coordenadores.

— Damon! — eu disse antes de dar uma gargalhada e em seguida ele colocou os braços em volta de mim e me levou até Caroline, nos jardins. E enquanto eu vi sua imagem deixar o campus, uma dor, carregada de uma lembrança, rasgou profundamente dentro do meu peito: Stefan.

Acordo num sobressalto. Meu coração na boca, enquanto meu sangue lateja fortemente na minha cabeça. Meus lábios secos, enquanto meus pulmões anseiam loucamente por ar. Meu mundo está ainda voltando ao normal depois do... Pesadelo? Sonho? Por que exatamente estou tão assustada?

Olho em volta, percorrendo os dedos pelos meus cabelos. Estou na cama, no quarto, na faculdade, e Caroline está dormindo como um anjo bem à minha frente. Tento ainda me estabilizar, enquanto continuo mexendo no cabelo.

De repente, ouço um barulho. É como uma pancada na porta, que parece estar aumentando cada vez mais. Os solavancos parecem socos. Será que estão brigando?

Caroline está ainda dormindo, e por trás dos solavancos está uma paz acolhedora. E paz é o que não temos em Mystic Falls. São nesses climas de madrugada misturados à paz que as piores coisas acontecem. Algo dentro de mim palpita — é algo estranho, sombrio e sobrenatural atrás de você.

Estou de pé e decidida a abrir a porta. Aproximo-me calmamente, com cuidado para não acordar Caroline. Minha audição muito aguçada procura alguma mancha de que minhas desconfianças estejam certas, porém, a cada passo que dou, os solavancos parecem mais distantes.

Abro a porta, ciente de que os solavancos se distanciam à medida que me movo. Saio do quarto, e, num instante, estou em um dos corredores. Está tudo escuro, exceto pelas luzes no teto que ao invés de ajudarem, põe mais medo.

As batidas parecem se concentrar em um só ponto dessa vez, como se aquilo houvesse cansado de correr e estivesse parado à esquerda no final do corredor, de onde não estou tão longe, sozinha.

Decido seguir os sons, algo dentro de mim anseia por saber o que é. Era para ser uma noite boa, a primeira, como desejaria Caroline, mas não seria agora que alguma criatura me deixaria em paz. Os sons estão cada vez mais próximos de mim, tão próximos, e eu estou mais próxima deles também. A cada passo mais próxima do desconhecido.

Eu viro à esquerda no corredor e é a hora da verdade. Meu coração está pulando, e eu posso sentir a adrenalina percorrendo minhas veias e pulsando forte dentro de mim, minha garganta está inteiramente seca.

Algo se move rapidamente na escuridão e me lança contra a parede.


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