Verão - 2011

Querido diário,

Adivinha quem está mais uma vez escrevendo diretamente do banheiro? Siiim, sou eu! Banheiros parecem muito convidativos para mim, principalmente quando se está nervosa e precisando de privacidade.

"Mia, quer beber uma água antes de entrar?", Tina falou, preocupada. Acho que minha cara não devia estar tão atraente como de costume. Ótimo, agora eu posso revê-lo com uma aparência mais de Mia e menos de Lana.

"Eu estou bem", respondi simplesmente.

Respirei fundo, puxei a mão dela e entramos nos portões. Entreguei meu ingresso, as mãos suando. Tina, por ter pais influentes em Nova York, conseguiu entradas Vip's; isso quer dizer que estávamos na melhor pista e tínhamos passagem para os bastidores.

"E se ele não se lembrar de mim? E se ele errar a música por minha causa?", gritei não somente por estar nervosa, mas também por estar muito barulho.

"Calma, Mia", Tina riu tentando me acalmar, "Vai dar tudo certo e..."

"AI MEU DEUS!"

Segundos depois de ouvir a platéia gritando, virei meu rosto e o vi. Entrando com seu andar desleixado como costumava ser, dando tchauzinho para o público. Comecei a chorar e abraçar minha amiga.

"Um... dois, um, dois, três, VAI!", escutei ele gritar para os colegas.

Michael preservou o nome Skinner Box, embora de só tivesse ele e o baterista de veterano na banda. Os outros são pessoas novas... E é estranho vê-las tocando com ele, sei lá...

Tentei realmente não me centrar só nele. Resolvi deixar isso para os bastidores e naquela hora aproveitar o show. Dancei como se não houvesse amanhã; ali ninguém poderia me impedir de me soltar com normas bobas de realeza. Ali eu era apenas a Mia. Apenas a Mia Thermopolis, não princesa.

E então, eu me senti como se eu ainda fosse a garotinha completando 15 anos e recebendo um show como presente de aniversário. O show dessa mesma banda, cujo vocalista era seu namorado.

Em meio aos meus pensamentos, levantei a cabeça e senti como se nossos olhos enfim se encontrassem. Só agora ele me notou aqui. Mas como o ótimo músico que ele era, isso não mudou em nada.

"Vamos dar uma pausa, pessoal", ouvi ele dizer ao microfone, completamente suado, "Volto num minuto. Enquanto isso, aproveitem o solo do meu amigo Andy"

Aproveitei a deixa e cutuquei Tina.

"Vamos?"

"Como??"

"Isso mesmo, vamos lá falar com ele!"

Empurramos algumas pessoas à nossa frente e fomos barradas por dois seguranças.

"Credencial?"

"Aqui", mostramos e nos deixaram entrar.

Ansiosa como jamais estive em minha vida, cruzei aquele corredor às pressas. Bati uma vez na porta. Nenhum sinal. Bati mais uma vez e uma garota ruiva de farmácia abriu, a sobrancelha erguida.

"Que vocês querem aqui?"

"Temos crachás VIP, sabe, somos fãs mesmo do Skinner Box", Tina piscou pra mim e olhou seriamente para a garota.

"Por que não esperaram o final?"

"No final estaria cheio de menininhas histéricas, achei melhor virmos logo"

A garota amarrou a cara e nos deu permissão para entrar. Sentamos numa poltrona e esperamos Michael aparecer. Mas parece que foi tarde demais: só deu tempo de ver a ruiva de farmácia beijá-lo nas coxias e ele voltar ao palco.

"E então?" , ela pôs as mãos na cintura, "Vão ficar o show TODO aqui? Sério?"

"Olha aqui, sua roqueira convencida", levantei e ao olhar direito para ela, percebi os olhos puxados. Era mesmo japonesa, eu sabia!, "Não somos meras tietes, conhecemos o Mike desde à época da escola, posso ouvi-lo a hora que eu quiser"

"Mesmo?", ela chegou mais perto, "Se o conhecesse mesmo, saberia que ele NÃO se mudou para Nova York"

"Eu sei"

Então o olhar dela caiu para minha bolsa com estampa de pêra. Pêras genovianas.

"AH... Eu já devia ter imaginado. É a princesinha que ele tanto me falou"

"Sério? Ele falou?", tentei inultimente esconder um sorriso.

"Oh, sim. A princesinha metida a besta que após subir de status o tratou como lixo, hum, sei agora quem é"

"Ou será a princesinha mais bonita e mais inteligente que ele amou mais do que a você?", Tina interviu a meu favor, "Se liga, tá óbvio que é inveja"

"Nós dois estamos felizes juntos, não existe mais Mia pra ele. Faz anos que Michael não fala mais nela. E bom, se for por isso que vieram, melhor irem embora e curtirem um pouquinho o resto do show", ela sorriu um sorriso sínico e foi sentar-se num banquinho nas coxias.

E agora eu estou aqui no banheiro do camarim, chorando porque ainda sou Mia Thermopolis embaixo de toda essa maquiagem e cabelo da realeza. Talvez fosse melhor ter vindo com J.P, ele teria me defendido também... Mas ainda tinha o Mike, não seria certo trazê-lo a um show à essa hora da noite.

"Hey", ouvi uma voz seguida de batidas na porta do banheiro, a mesma voz que ansiei anos por ouvir, "Posso entrar?"

"Claro que pode", respondi hesitante.