Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 5
Sunday Mornings


Notas iniciais do capítulo

Então, mil desculpas minha demora -q De verdade, é porque eu viajei, depois o Nyah deu aquela bagunça, depois eu não sabia como escrever o início do capítulo .-. Foi osso :p
Enfim, a música do capítulo é essa : http://www.youtube.com/watch?v=0AGhf4n8SzI
Meio devagar quase parando, mas é tão gostosinha que eu amo



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POV Claire

~ Flashback On

Respirei fundo, fechando meus olhos. Uma brisa agradável soprava naquela manhã de domingo. O sol brilhava entre as folhas das copas das árvores mais altas.

Acompanhei meus pais até a igreja, como em todos os domingos. Basicamente todas as famílias vizinhas vinham à missa de domingo com seus filhos. Para mim era como uma tortura. Ficar sorrindo e cumprimentando os outros com um movimento de cabeça, como se eu adorasse todos eles e tudo aquilo.

Meus pais se sentaram mais a frente, me deixando nos bancos do fundo. Assim que o padre começou seu sermão, eu fiz como em todos os outros domingos e saí da igreja, sem chamar atenção.

Em frente a igreja havia uma praça redonda, com uma fonte branca, que quase sempre ficava desligada. Nesse domingo, entretanto, havia água escorrendo pelas duas bacias interligadas.

À direita ficava meu lugar favorito: O bosque. Um emaranhado de árvores e arbustos cobria uma vasta área próxima à igreja, com algumas trilhas marcadas nunca usadas.

Me sentei nas raízes de uma das árvores, me recostando em seu tronco. A sombra estava agradável, assim como a brisa. Coloquei meus fones de ouvido, dando play na lista aleatória. A primeira música foi Evening Kitchen, do Band Of Horses. Suspirei, fechando os olhos.

Cantei a letra baixinho, como eu fazia sempre. Me fazia me sentir tão leve. Era como tirar o peso do céu de cima dos meus ombros.

Drive out with the Sun in your eyes,

You wasted my time,

It’s true, it’s true

Keane. Keane tinha me feito desperdiçar meu tempo. Eu achara que tinha sua amizade, mas assim que Carlotta surgiu, ele se tornou outro. Não tinha raiva dele, só tristeza. Não só pela forma como ele me fez enxergar a verdade, mas também por não ter sequer tentado conciliar seu namoro e nossa amizade.

My God, don’t you hold out your hand,

I called off my plans,

I counted on you, on you

Deus. Era a única coisa que ainda me deixava viva. Por mais que eu não ouvisse os sermões nos domingos, eu sempre rezava. Pedia para tudo aquilo passar logo, aquela tristeza me deixar. Aquela guerra interna da minha mente se resolver. Até hoje, nada.

And if you’re ever left with any doubt,

What you live with and what you’ll do without,

I’m only sorry that it took so long to figure out

Meus pais. Eu tinha tantas dúvidas quanto a eles. Se eles me amavam, se eu era apenas um estorvo, se a vida deles seria melhor se eu nunca tivesse existido. Eles viviam em um campo minado por minha causa, nem precisariam mais se ver se eu não existisse. Eu era a corda que os amarrava juntos. Eu me sentia tão devastada por perceber que eu arruinara a vida deles.

Got lost in the places I’ve been,

I should go out with my friends,

I’d go tonight but I know you’ll be there too, there too

Eu devia sair mais com meus amigos. Com Derek, principalmente. Ele sempre me chamava para fazer algo divertido quando sabia que eu precisava de um apoio, mas eu sempre rejeitava. Eu nunca sabia quando ele estava realmente feliz ou não. Sempre fui o pior tipo de amiga que poderia ter sido para ele, e mesmo assim ele ainda cuidava de mim.

For me, this bottle of wine,

Is to slow down my mind,

And forget the things that I knew, I knew

Nunca tomei nada com álcool, mas ainda assim afogava minhas mágoas, meu pessimismo, tudo que me matava por dentro, com chá e refrigerante. Horas e mais horas durante tardes chuvosas, sentada na bancada da cozinha, com uma caneca cheia de chá entre as mãos, olhando a janela e tomando goles da bebida.

And if you’re ever left with any doubt,

What you live with and what you’ll do without,

I’m only sorry that it took so long to figure out

Cantei o último verso quase num sussurro, abrindo os olhos. A música acabou, me deixando no silêncio por alguns segundos, antes da próxima da lista começar. Não prestei atenção em qual era.

Olhei para o alto das árvores, parando o olhar em uma há poucos metros de distância de onde eu estava. Um rapaz estava sentado em um dos galhos, recostado no tronco. Ele segurava consigo um caderno e uma caneta.

Fiquei o observando por alguns minutos, por pura curiosidade. Os cabelos dele chegavam até seus ombros, escondendo seu rosto, já que ele estava curvado sobre o caderno, escrevendo alguma coisa.

— Seria adorável se você se apresentasse antes de ficar me encarando como um animal de zoológico. – A voz do garoto soou calma, como se ele sorrisse ao falar aquilo.

— O que? – Fiquei um pouco atordoada com a frase repentina. Ele fechou o caderno com a caneta no meio e o jogou no chão. Logo depois, se sentou no galho, com as pernas pendendo livremente ao ar.

— Vou começar, depois é sua vez, ok? – O rosto dele era tão sereno, como se nada que acontecesse ao redor dele pudesse afetá-lo. – Sou Michael Jehra, fugi da missa para ficar escrevendo. Você?

— Claire Cooper. Também fugi da missa, mas só pra ficar ouvindo música. – Dei de ombros, olhando para ele. Ele quase sorria, como se sem querer.

— Eu sei, você estava cantando. – Franzi o cenho. Como ele podia ter me ouvido se eu mesma quase não me escutava? Ele pareceu ler minha mente e me respondeu. – Bem, não te ouvi, só vi você de olhos fechados, movendo os lábios. Me pareceu uma música.

— Era uma. – Me desencostei do tronco, apertando os olhos por causa da claridade. Era incômodo. – E você? O que escreve? Poemas?

— Varia. – Ele começou a descer da árvore, agarrando pequenas irregularidades no tronco. – Hoje por exemplo, eu estava escrevendo cartas.

— Cartas? – Dei uma risada fraca, vazia. Ele se sentou ao meu lado, deixando uma raiz entre nós.

— Ótima maneira de dizer tudo que está entalado na sua garganta mas não quer sair. – Ele deu de ombros, sorrindo para valer agora. – Já tentou?

— Não. Não sei se quero mesmo falar o que penso. – Abracei meus joelhos, apoiando meu queixo sobre eles.

— Bem, ai está o outro lado bom da coisa. – Michael ergueu um dedo e sorriu de novo. – Você não precisa entregá-las se não quiser.

— Hum, talvez seja mesmo bom. – Suspirei, enquanto ele folheava o caderno, que pegou assim que desceu da árvore onde estava antes.

— Você estuda na mesma escola que eu, não? – Ele me estudava agora, como se pensasse de onde me conhecia. – Sim, da turma do primeiro ano. Que anda com um cara com uma mecha rosa do cabelo.

— Nunca te vi por lá. Também mata as aulas para escrever cartas? – Perguntei com um sorriso fraco estampado em meu rosto.

— Acho mais que eu mato o recreio. De vez em quando escrevo durante as aulas também.

— Ah... – Virei minha cabeça, olhando a igreja. A missa já estava terminando, eu precisava voltar.

— Sabe, por que não faz isso? Agora que sabe das cartas, poderia escrever algumas. Ou me procurar, se quiser.

— Por que eu te procuraria? Sem ofensas, mas nem amigos somos.

— Exatamente. Não somos amigos. Eu vou ser o maior poço de honestidade que vai encontrar para seus problemas. Vou te dizer se achar que errou, vou te ouvir se achar que devo. Vou falar o que você precisar ouvir, não o que quiser. – Ele olhava a igreja também, como se estivesse falando com o vazio e não comigo.

— Gostei da ideia. – Dei um sorriso um pouco maior. – Gostei de você.

— Foi um prazer, senhorita Cooper. Acho que temos que ir agora, entretanto. – O sino que indicava o fim da missa tocou, ecoando pela cidade. Me levantei, limpando a parte de trás da calça. Ele me seguiu.

~Flashback Off

POV Michael

Se eu dissesse que fiquei chocado com o suicídio seria mentira. Em todas as vezes que ela me procurou, parecia cada vez mais frágil. Mas quando o garoto da mecha rosa me estendeu o envelope com uma carta dela para mim, senti um certo peso dentro de mim.

Ele pareceu um pouco chocado com minha calma ao pegar a carta, mas não me importei. Nem se eu quisesse poderia fazer como ele, chorar. Eu só conseguia me expressar direito por cartas. Como as que eu passei a mandar para Claire depois do segundo domingo em que fugimos da missa para irmos ao bosque.

A letra dela estava tão delicada no envelope que eu estremeci, assim que o outro saiu do banheiro. Deixei minha mochila no chão e peguei a carta. Uma folha de caderno dobrada estava no envelope, com a mesma letra delicada.

Michael,

Não sei bem se esse era o tipo de carta que você queria, haha.

Não sei bem o que dizer...Obrigada, talvez? Por me dar choques de realidade de vez em quando. Precisei de cada uma das suas palavras frias quando conversávamos.

Sabe, você me fez ver tanta coisa dentro de mim que eu já não podia mais afogar...nem com uma xícara de chá. Sabia que você era o único que sabia da mania de afogar mágoas em chá? Sim, você era.

Jehra, vou te pedir um favor, do fundo do meu coração. Sabe Derek, o cara da mecha rosa? Pois é. Ele era meu melhor amigo. Foi minha tábua de salvação por muito tempo, mas acabei de soltando e me afoguei. Literalmente, não sei se você já sabe, mas eu morri.

Chega de humor negro, de volta ao pedido. Quando tudo isso acabar, diga para ele que a menor carta foi a dele. Mas foi por fraqueza minha. Não consegui escrever mais do que aquilo sem chorar. Acredite, eu tentei.

E por fim, obrigada, de novo. E me desculpe, por não poder mais responder suas cartas.

Claire Cooper.

Dobrei a carta de novo e a guardei no envelope, colocando-o com cuidado na mochila. O peso dentro de mim se tornou um vazio. Uma antiga dúvida minha desapareceu. Agora era uma certeza.

Eu acabei me apaixonando por aquela garota. Aguardei um domingo atrás do outro, só para vê-la, sempre a ouvia, mandei cartas só para me certificar de que ela estava bem...Sabia que a perderia logo, por isso neguei aquele sentimento dentro de mim.

Agora eu estava inundado com aquela paixão e aquele vazio, se mesclando dentro de mim. Eu a perdi, sem sequer lutar. Só aceitei que ela partiria e continuei minha vida.

Saí do banheiro, triste, mas ainda assim, otimista. Eu era um daqueles caras que acreditava que a morte era só um novo começo. Poderia demorar, mas eu ainda poderia vê-la, pedir desculpa por deixá-la ir daquele jeito.

Uma brisa agradável, como aquela dos domingos de manhã no bosque, fez meus cabelos voarem um pouco. Eu quase podia ouvir a risada fraca dela naquele vento.

Me sentei numa carteira de uma sala vazia e peguei meu caderno. Uma carta que eu entregaria logo. A caneta começou a correr pelo papel, preenchendo a sala silenciosa com seu chiado.


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Notas finais do capítulo

A ideia era acabar parecido com o anterior mesmo, tipo o Derek -q
O que acharam da música? Fofa, né? E tocante, ao menos para a Claire :p
E do capítulo em geral? Gostaram?
Bjs :3



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