Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 4
Keane's Reaction


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoas, olá :3 Demorei um pouco por causa da semana de provas na escola... Tentei descrever um pouquinho mais, mas foi pouca coisa -q Maiores detalhes mais para o meio/fim da fic ^.^ Boa leitura *-*



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POV Keane

A professora se sentou em sua mesa, deixando a bolsa ao seu lado no chão. Eu tremia, ofegando. Por mais que eu tentasse, não conseguia interpretar as palavras de Claire de uma boa forma. Não tinha como.

Ela me culpou. Ela escreveu me dizendo que a ajudei a tomar aquela decisão, a de se matar. Será que ela não pensou que aquelas palavras teriam um peso em mim? Que se eu a fiz algum mal foi tentando ajudá-la?

Não, claro que não. Eu nunca consegui ajudá-la. Quando Carlotta e eu começamos a namorar, Claire me dissera que Carly não gostava dela. Não dei ouvidos. E a única vez que decidi me meter no desentendimento delas, chamei Claire de covarde, sem pensar duas vezes. Eu devia ter falado de outro jeito, ter sido mais gentil. Eu devia tê-la defendido, não acusado.

Me levantei lentamente da carteira, notando que não conseguiria me acalmar tão cedo. A professora, uma senhora de uns 60 anos com óculos fundo de garrafa, me encarou quando fiquei de pé.

— Pois não, Keane? – Ela parecia impaciente hoje. Mais do que normalmente era.

— Não estou me sentindo muito bem, senhora Stein. Se importa se eu sair da sala?

— O que você tem? – Ela perguntou, com a testa franzida. Não sabia se eu queria responder aquilo. – Você realmente está um pouco trêmulo, Keane. E pálido também.

Virei o rosto, tentando me decidir. Eu achava que era muito pessoal a questão, mas afinal, ela também estudou com eles. Carlotta me encarava preocupada, com uma mecha do cabelo dourado entre os dedos.

— É só que...acabei de receber uma notícia. – Minha garganta começou a se fechar com um nó. – Claire...Claire se matou.

— A senhorita Cooper se matou? – O canetão caiu da mão trêmula de sra. Stein. – Mas...mas...

— Eu também não sei, senhora. – Respirei fundo, segurando minhas lágrimas. – Ela me deixou uma carta.

— Oh, meu bem. – Sra. Stein sacudia a cabeça, como se negar fosse desfazer o fato. – Liberados. Vou conversar com o diretor. Oh, meu Deus, Claire me parecia tão bem.

— Obrigado, senhora. – Peguei minha mochila e saí correndo da sala. Bem? Ela estava tudo, menos bem.

O corredor estava vazio, fazendo cada passo meu ecoar pela escola. Eu sentia como se cada eco fosse um passo dela atrás de mim. O nó em minha garganta se apertou ainda mais, permitindo que as primeiras lágrimas caíssem pelo meu rosto.

Fui para o pátio. A área retangular de concreto estava vazia. Me sentei no chão, colocando a mochila entre as pernas. Respirei fundo de novo. Por que ela tinha feito aquilo?

Olhei para o telhado do pátio, mas não o enxerguei. As lágrimas embaçavam minha visão. Ela tinha dito que não se arrependia. Será que ela conseguiria ser feliz, viva? Suicídio fora mesmo a única solução?

Coloquei minha cabeça entre as pernas, enterrando meu rosto na mochila. Senti braços delicados me rodeando. Carlotta.

— O que ela te disse? – A voz dela era tão doce, mas eu sabia que ela estava disfarçando a curiosidade.

— Que eu a ajudei a se decidir, Carly. – Solucei. – Ela me culpou.

— Mas ela disse que te odeia?

— Não, ela disse que me agradecia. – Tentei parar as lágrimas. – Que não se arrependia. Carly, eu a chamei de covarde sem sequer considerar como ela se sentiria. 

— Ela chegou ao extremo dela, Keane. Não foi você. – Ela me apertou de leve. – Se ela não se arrepende, talvez tenha sido o único jeito que ela encontrou de alcançar paz.

— Por que ela escreveria aquilo então?

— Ela realmente escreveu o que achava. Não te culpa, te agradece. – Me deu um beijo na testa. – Acalmou?

Só quando ela me perguntou percebi que não estava mais dando os soluços altos de antes. Ainda chorava, mas agora calado. Sorri para Carly, confirmando com a cabeça. Ela sorriu de volta.

— Muito bem. Vai pra casa, descansa. Tenta ligar pros pais dela, eles devem estar arrasados. Eu acho.

— É, vou fazer isso. – Funguei, sentindo o rastro das lágrimas deixando meu rosto grudento. – Posso te ligar mais tarde se conseguir falar com eles? Eles eram monstros, mas agora devem ter se tocado do mal que faziam.

— Claro que pode. – Ela me deu um beijo na testa e se levantou. – Vem, eu te ajudo.

Peguei a mão dela, me levantando também. Peguei minha mochila, me sentindo mais leve. As palavras de Carly me fizeram me sentir mais calmo, mais tranquilo. 

Deixei a escola, caminhando calmamente até a praça. Algumas viaturas estavam no lugar. Dois sacos pretos, daqueles de carregar cadáveres estavam sendo carregados até uma ambulância.

— Com licença. – Me aproximei de um dos policias, cauteloso. Estava curioso sobre os corpos, afinal, estavam perto da minha casa. Podia ser perigoso.

— Pois não, garoto? – Ele me olhou tristemente. – Como posso ajudá-lo?

— Poderia me informar o que está acontecendo?

— Ah, um casal foi encontrado aqui na praça. Foram assassinados, mas não aqui. Estamos vasculhando a área. – Ele cruzou os braços. – Você os conhecia? Os Cooper, de acordo um vizinho.

— Não acredito nisso. – Neguei com a cabeça, encarando o chão. – Não. Não!

Ouvi o policial me chamando, mas o ignorei e saí correndo. Parei quando alcancei a casa amarela. A porta ainda estava aberta, mas dois oficias da perícia estavam lá. Os pais de Claire foram assassinados em casa.

Percebi que eu tinha voltado a soluçar quando um dos oficiais me olhou. Antes que ele se aproximasse eu corri para minha própria casa, dois quarteirões abaixo da rua dela. A verdade me alcançava feito um cão raivoso me perseguindo pela rua.

Claire assassinara os próprios pais. Os deixara numa praça, sem dó. E logo depois se matara.

O que poderia ter acontecido com aquela garota tímida, doce e sonhadora? Me lembrei que ela sempre entrava em pânico com as brigas da escola, tinha vergonha de apresentar trabalhos, que queria ser escritora...

E agora nada mais seria verdade. Ela não era mais uma verdade. Claire se tornou só aquilo, só uma memória, um pensamento. Só uma tristeza.

POV Derek

Agarrei a lateral da pia do banheiro. Consegui tirar um pouco do sangue nos joelhos da calça, mas ainda podia ver uma mancha meio amarronzada. Me senti enjoado.

Olhei o reflexo no espelho. Meu cabelo loiro, um pouco arrepiado pela falta de corte, com apenas uma mecha rosa que fiz por Claire. Claire...

Respirei fundo, jogando minha cabeça para trás. O teto estava cheio de bolinhas de papel molhadas que foram coladas lá por alguém, há muito tempo. Tudo que eu pensava nesse momento me fazia pensar nela.

— Se ao menos ela tivesse escrito mais alguma coisa. – Eu ainda não tinha assumido em voz alta, mas a carta dela tinha me magoado. Ela quase não escreveu nada.

Senti vontade de gritar. Não só de gritar, mas de quebrar alguma coisa, de socar um muro ou chutar algo. Só a vontade de colocar aquilo pra fora. Aquela culpa, aquela dor, aquela solidão. Aquela angustia que as poucas palavras me deram.

Comecei a soluçar. Ainda olhava pro teto, sentindo as lágrimas escorrendo pelos cantos do meu rosto. Comecei a pensar o que Claire diria se me visse ali, daquele jeito.

— Ela provavelmente me diria tchau. – Sorri entre os soluços. – Me diria quem são os donos das cartas, me chamaria de estranho por não ter corrido para casa com o que vi e sim ter vindo para a escola...

Alguém entrou no banheiro. O garoto pareceu um pouco sem reação quando percebeu que eu estava chorando, mas logo relaxou um pouco.

Era um garoto alto, magricela, com o cabelo castanho na altura dos ombros, o rosto tranquilo, quase risonho, sem querer. Eu já tinha o visto antes, com Claire. Olhei minha mochila.

— Ei, cara, você tá bem?

— To. – Passei a mão no rosto para tirar as lágrimas. – Só um pouco...

— É a garota do primeiro ano, né? – Ele sabia de Claire? – A escola toda ficou chocada. Ela era sua amiga? Derek, sim?

— Era. Você? – Coloquei a mão na caixa, ainda dentro da mochila.

— Ela te deixou isso. – Peguei a carta dentro da mochila, pensando quão maior que a minha seria. Ele parecia um pouco abalado por estar recebendo uma carta, mas assim que a pegou, rasgou o envelope.

— Pra mim?

A calma dele era admirável, ainda assim. Mesmo com a notícia de uma colega de sala suicida, uma amiga, ele ainda aceitava uma última carta sem medo. Devia ser a calma de consciência limpa.

— Preciso ir. – Guardei a caixa de novo na mochila.

— Continue chorando cara, mas não por ela. – O olhei, de cenho franzido. – Lágrimas não vão deixá-la em paz, mas vão te acalmar.

Concordei com a cabeça, ainda com o cenho franzido. Saí do banheiro, sentindo o calor do sol no meu rosto. A mecha rosa passou em frente meus olhos com uma brisa que soprou. Sorri, sentindo as lágrimas voltando.

— Vou acabar logo com isso, garota. Confie em mim. – Atravessei o pátio, aproveitando a brisa que deixava minhas lágrimas geladas em meu rosto.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Me digam sem medo de ser feliz ^.^ Bjs