Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 7
Ansiedade


Notas iniciais do capítulo

Simplesmente, boa leitura ;*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/426973/chapter/7

Acordei no meio da madrugada. Me sentei na cama, enrolada na toalha. Me levantei, deixando a toalha cair aos meus pés. Peguei uma camiseta azul escura e uma calça cáqui. Não era bem o que eu gostaria de usar, mas não era nada tão espalhafatoso quanto Charol queria.

Saí do meu quarto. Por um instante eu imaginei que a porta estaria trancada, mas a maçaneta girou normalmente. Fui até a sala de estar, indo na direção da varanda.

A varanda era imensa, basicamente do tamanho da sala de estar, só que ao ar livre. Só que o ar da Capital não me acalmava. Aquele ar não carregava o perfume de madeira e de folhas amassadas.

– Esse é meu lugar. – Me virei, me desencostando da balaustrada. Loner carregava uma garrafa numa mão e um copo pela metade na outra. – Por que está de pé?

– Simplesmente acordei. – Dei de ombros. – Não está esperando eu ir embora, está? Eu não vou.

– Claro que não. Charol vai ficar feliz quando te ver nessas roupas. – Ele deu um sorriso e tomou o resto do conteúdo do copo.

– Bem, elas até são bem normais. – Dei de ombros, me apoiando na balaustrada de novo. – E você? Não deveria estar dormindo?

– Eu estava dormindo, até sonhar com aquela bendita flecha vindo na minha direção. – Ele encheu o copo.

– Por que não toma direto na garrafa? Aposto que só vai parar quando acabar com o conteúdo mesmo. – Peguei a garrafa. Uísque.

– Tem razão, mas gosto de segurar o copo. – Ele deu de ombros. – Achei que fosse me perguntar da flecha.

– Não preciso. Já ouvi histórias sobre os pesadelos que os Jogos causam. – Dei de ombros. – Desde que eu saia daquela Arena...

– Bem, apenas se concentre em sobreviver. Pense no resto depois. – Ele tomou outro copo.

– Loner, como você ganhou? – Ele me encarou, como se esperasse que eu dissesse mais algo. Ergui as sobrancelhas, fazendo-o suspirar.

– O último tributo? Esmaguei o peito dele com uma maça. Ele sufocou no próprio sangue. – Ele encarava a cidade enquanto falava. – Ele tinha atirado em mim com o arco antes.

– Hum, por isso a flecha. – Conclui. Ele concordou com a cabeça, sem muito ânimo. – Você se culpa? Pelo garoto?

– Jojo, era eu ou ele. Adivinha quem eu escolhi. – Ele se serviu mais um copo. – Não gostei da situação, ele mal tinha 14 anos. Posso te fazer uma pergunta agora?

– Por que você está agindo como se não se importasse se vai vencer ou não? Algum outro plano?

– Não me importo se vou ou não vencer, Loner. Claro que a primeira opção é mais agradável, mas não tenho medo de morrer. Só não quero deixar Shiranui e minha avó para trás.

– Não tem medo da morte? Por que não? – Ele já estava quase na metade da garrafa.

– Porque na morte eu ao menos decido o que quero. Não sou uma bonequinha de pano.

– Sabe, Jojo, você sabe qual a coisa mais importante que você pode ter? Mais importante do que sua avó, seu amigo, seja lá quem for? Até mais que amor? – Loner me olhava agora, com um dedo apontado para meu peito.

– Achei que amor estivesse no topo da lista. – Cruzei meus braços, com o cenho franzido.

– Amor é o segundo na lista. O primeiro item é sua liberdade. – Ele terminou mais um copo antes de continuar. – Acredite, depois que você perde sua liberdade, mais nada interessa. E eu já perdi a minha há muito tempo.

Não respondi. Apenas fiquei observando a cidade, com suas luzes, mesmo durante a noite. Liberdade. Fazia sentido. Dei um sorriso. Eu ainda estava lutando pela minha.

Deixei a varanda e voltei para meu quarto. Dessa vez, depois de fechar a porta tive certeza de que não a abriria de novo nessa madrugada. Me deitei e fiquei olhando o teto.

Eu não ia desistir da minha liberdade. Nunca. Fechei os olhos e dormi mais um pouco.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Acordei com uma leve batida na porta. Pisquei, clareando minha visão e me levantei. Abri a porta tentando arrumar um pouco meu cabelo com uma mão.

– Bom dia. – Neville usava uma calça azul clara e uma camiseta verde limão fluorescente. Não ficava tão ruim, mas era mais chamativo do que eu aceitaria usar.

– Bom dia. – Respondi, bocejando logo em seguida. – Dormiu bem?

– Mais ou menos. Confesso que fiquei um pouco ansioso. – Ele colocou a mão na nuca, olhando para o chão.

– É, eu também. – Saí do quarto e fechei a porta atrás de mim. Neville deu um passo tímido para trás. Percebi que eu tinha me aproximado demais para fechar a porta.

– Bem, Charol me pediu para te acordar. Café da manhã. – Ele ergueu a cabeça, deixando a mão pendendo ao lado do corpo.

– Vamos.

Tomamos um café rápido, só chá com alguns biscoitos. Loner nos lembrava do que já tinha dito, nos dando dicas.

– Jojo, controle sua língua. – Ele me olhava sério. – E não se meta em confusão, principalmente com Niliria.

– A garota do 4? – Dei de ombros. – Não tenho a menor preocupação com ela.

– Confiante, ótimo. Não se cegue, no entanto.

– Tudo sob controle, não se preocupe. – Dei um sorriso torto. – Mais algum nome que eu deveria guardar?

– O garoto do 2, Aron. – Loner pensou por um instante. – Se aproxime dele. Eu sei que é estranho, mas só faça, ok?

– Por que um Carreirista se juntaria a nós? – Neville deu voz à minha pergunta. – Não faz sentido.

– Porque, ele não é como o resto. Acredite em mim, faça o que eu mando. – Ele pensou mais um pouco. – Jojo, converse com o garoto do 5. Neville, converse com a garota.

– Eu... – Neville parecia realmente aterrorizado com a ideia de conversar com uma garota. Segurei minha vontade de rir.

– Alguém que Neville deveria evitar? Ou só eu sou odiada? – Terminei meu chá e deixei a xícara sobre a mesa.

– Os dois tem que evitar a garota do 10. Jenna, eu acho. – Ele deu de ombros. – Por agora, é isso.

– Só garotas me odeiam? – Comi mais um biscoito.

– Não espere que o garoto do 1 te esqueça. Rillion. – Ele falou sério. Concordei, me levantando.

Me vesti com a roupa sobre minha cama. Era uma bermuda cinza colada ao meu corpo e uma camiseta azul com o número 7 em branco. Voltei para a sala. Neville estava com as mesmas roupas, porém menos coladas.

Entramos no elevador em silêncio. Descemos rapidamente, ainda em silêncio. No último instante, Neville ergueu a mão ao lado de seu rosto, entre nós, como tinha feito no trem.

A apertei, dando um sorriso fraco para ele. Soltamos nossas mãos assim que o elevador parou.

– Boa sorte com a garota do 5. – Ele percebeu meu tom de voz, segurando o riso, e riu também.

– Para com isso. – A porta do elevador se abriu. Ficamos sérios de novo. Era hora de trabalhar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Burning Torch" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.